• Nenhum resultado encontrado

2.2 Conceitos metodológicos

2.2.2 Livro-reportagem: as páginas jornalístico-literárias

De um lado o livro, símbolo da literatura, do outro a reportagem, gênero nobre do jornalismo. A junção destes dois protagonistas resultara na criação do livro-reportagem. "O livro-reportagem não tem, a rigor, uma data de nascimento. [...] Mesmo assim é possível estabelecer um ponto de partida aproximado: a reportagem em livro começou a ganhar força como um subgênero da literatura na Europa do século XIX" (BELO, 2006, p.19).

A reportagem em livro deixa-se de pautar na construção da pirâmide invertida (as informações mais importantes são apresentadas primeiro) e passa a dar espaço a uma narrativa mais rica em detalhes e também em dramaticidade.

O jornalista americano Jhon Reed, com a publicação das obras México rebelde! (1914) e Dez dias que abalaram o mundo (1919), para diferentes pesquisadores de comunicação, marca o início do jornalismo literário em forma de livro (BELO, 2006, p.22).

O livro-reportagem cumpre um relevante papel, preenchendo vazios deixados pelo jornal, pela revista, pelas emissoras de rádio, pelos noticiários da televisão, até mesmo pela internet quando utilizada jornalisticamente nos mesmos moldes das normas vigentes da prática impressa convencional. Mais do que isso, avança para o aprofundamento do conhecimento do nosso tempo, eliminando, parcialmente que seja, os aspectos efêmero da mensagem da atualidade praticada pelos canais da informação jornalística (LIMA, 2009, p. 4).

Conceito semelhante apresenta Belo (2006) em sua obra Livro-reportagem.

É possível dizer que o livro-reportagem é um instrumento aperiódico de difusão de informações de caráter jornalístico. Por suas características, não substitui nenhum meio de comunicação, mas serve como complemento a todos. É o veículo no qual se pode reunir a maior massa de informação organizada e contextualizada sobre um assunto e representa também a mídia mais rica – com a exceção possível do documentário audiovisual – em possibilidades para a experimentação, uso da técnica jornalística, aprofundamento da abordagem e construção narrativa (BELO, 2006, p. 41).

O livro-reportagem está intrinsecamente ligado a fatos do cotidiano que são transformados em história. Por esta razão, o livro-reportagem pode ser construído de duas maneiras. A primeira refere-se ao fato do livro ser produzido a partir de matérias que foram publicadas em jornais. Já a segunda trata-se do fato que, desde o início, a ideia original é a elaboração do assunto em forma de um livro-reportagem (LIMA, 2009, p. 41).

Este presente trabalho enquadra-se na segunda visão, visto que o intuito foi trabalhar a temática escolhida na criação de um livro-reportagem, ou seja, os textos foram construídos especificamente para o livro.

O pesquisador Edvaldo Pereira Lima (2009) classifica diferentes grupos de livros- reportagem. Esta divisão acontece por causa do tema ou do tratamento narrativo. Os tipos de livros-reportagem apresentados são: "livro-reportagem-perfil", "livro-reportagem- depoimento", "livro-reportagem-retrato", "livro-reportagem-ciência", "livro-reportagem- ambiente", "livro-reportagem-história", "livro-reportagem nova consciência", "livro- reportagem-instantâneo", "livro-reportagem-atualidade", "livro-reportagem-antologia", 'livro- reportagem-denúncia", "livro-reportagem-ensaio" e "livro-reportagem-viagem".

O autor deixa claro que nem sempre haverá a presença de um único modelo de livro- reportagem em uma obra e que a classificação não é um modelo fechado. O presente trabalho apoiou-se nas características do livro-reportagem-perfil, visto que o objetivo foi a construção de perfis das para-atletas em Uberlândia.

2.2.2.1 Perfis: a narrativa jornalística

Os textos desenvolvidos para a construção do livro-reportagem tiveram como base o livro-reportagem-perfil, visto que o intuito do nosso produto foi destacar as histórias das para- atletas na cidade de Uberlândia.

Kotscho define perfil como o "filão mais rico das matérias chamadas humanas, o perfil dá ao repórter a chance de fazer um texto mais trabalhado – Seja sobre um personagem, um prédio ou uma cidade" (2003, p.42).

Definição semelhante apresenta Edvaldo Pereira Lima que apresenta o livro- reportagem-perfil como uma "obra que procura evidenciar o lado humano de uma personalidade pública ou de uma personagem anônima que, por algum motivo, torna-se de interesse (LIMA, 2009, p.50).

A regra básica para a construção de um perfil é a humanização, ou seja, mostrar o lado humano com os erros e acertos da personagem. Assim, o gênero perfil permite um texto mais detalhado, fazendo com que o leitor possa se identificar com a história contada.

O jornalista Sérgio Vilas Boas, autor de diversos perfis, defende que o papel mais importante deste gênero é gerar empatia. "Empatia é a preocupação com a existência do outro, a tendência a tentar sentir o que sentiria se estivesse nas mesmas situações e circunstâncias experimentadas pelo personagem. Significa compartilhar as alegrias e tristezas de seu semelhante, imaginar situações do ponto de vista do interlocutor" (2003, p.14).

O perfil mostra ao leitor como é a vida da personagem na realidade, pois ela é o centro da história. A construção do perfil concretiza-se pela narrativa, que é possível pela realização de entrevista, seja com o perfilado ou com as pessoas do círculo social dele.

Assim, perfil, jornalismo literário e livro-reportagem são três ingredientes de uma constelação diferenciada do universo jornalístico. Extendem o papel da mídia tradicional, complementam, noutra direção, as funções do jornalismo, enquanto sistema moderno de expressão pública do conhecimento contemporâneo. Permitem um aprofundamento impossível ou difícil de ser concretizado nas formas tradicionais (LIMA, 2002, s.p).

Contar histórias das quais o ponto central são as mulheres para-atletas. Assim, nasceu a ideia do presente projeto de mestrado. Páginas em que o jornalismo literário e o esportivo se entrelaçaram com um único objetivo: humanizar a mulher com deficiência em uma sociedade pautada pela luz da desigualdade. E o caminho escolhido foram as páginas do livro- reportagem Guerreiras.

Documentos relacionados