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Capítulo II – CAT-Tools e tarefas desenvolvidas

2.3. Localização

Ao longo do estágio, tive a oportunidade de desenvolver alguns projetos que se prendiam com a tradução de páginas web, inserindo-se no âmbito da localização.

Reinhard Schäler define a localização como processo de adaptação cultural e linguística ao contexto de chegada: “the linguistic and cultural adaptation of digital content to the requirements and the locale of a foreign market” (2010: 209). Embora inclua a atividade de tradução, a localização abrange ainda uma grande diversidade de atividades relacionadas, nomeadamente, com a tecnologia e a informática, uma vez que os projetos de localização se prendem com a tradução de páginas web, software informático e videojogos:

Translation is only one of the activities in localization; […] a localization project includes many other tasks such as project management, software engineering, testing and desktop publishing. (Esselink, 2000: 4)

18 Desta forma, é comum que num projeto de tradução estejam envolvidas diferentes equipas, desde tradutores a engenheiros informáticos, podendo, por vezes, trabalhar em conjunto. A localização exige ainda a adaptação de formatos numéricos, de data e hora, de moeda, de símbolos, ícones, cores e de textos e gráficos. Muitas vezes apontada como “mais do que tradução”, a verdade é que a fronteira entre tradução e localização se torna cada vez mais ténue, já que o conteúdo digital e a tecnologia na tradução se cruzam frequentemente.

A indústria da localização como a conhecemos hoje remonta a meados dos anos 80 do século XX com aparecimento do computador pessoal. Nos EUA, há uma procura por mercados internacionais que distribuíssem software e produtos que já tinham tido êxito neste país. Na Europa, encontram um mercado para tal, sobretudo junto dos países mais ricos (os chamados FIGS: França, Itália, Alemanha e Espanha). Consequentemente, a indústria da localização dividiu-se entre LSP (Language Service Providers) e MLV (Multi Language Vendors). No primeiro grupo inserem-se as empresas de tradução e os tradutores, sendo que trabalham maioritariamente com um idioma, não possuem equipas de engenheiros e gerem projetos de dimensões mais pequenas, procurando realizá-los por si mesmos ou recorrendo a freelancers. Por outro lado, as MLV trabalham com vários idiomas, incluem equipas de engenheiros, gerem projetos de grandes dimensões e recorrem frequentemente a subcontratação de LSP.

Esta evolução rápida da indústria da localização leva a que, em meados dos anos 90, haja também um desenvolvimento das ferramentas de tradução utilizadas no âmbito da localização. De facto, Schäler (2010: 209) argumenta que os tradutores que trabalham na indústria da tradução geralmente acompanham de perto as inovações tecnológicas na área. Nos anos 90, por exemplo, foram o primeiro grupo de tradutores a utilizar as CAT-Tools que então começavam a surgir. A utilização destas ferramentas justifica-se na medida em que o material a ser traduzido nos projetos de localização em grande escala tende a ser bastante repetitivo e, muitas vezes, de natureza técnica, levando à progressiva introdução de memórias de tradução e de bases de dados terminológicas.

O desenvolvimento da indústria de localização e tradução prolonga-se até aos dias de hoje. Em 2016, foi a quarta indústria com um crescimento mais rápido nos EUA, sendo que as empresas que produzem para o mercado global traduzem materiais escritos para cerca de dez a trinta línguas por produto. O português europeu encontra-se entre as quinze línguas com maior volume de trabalho a ser localizado. Nos dias de hoje, os projetos de

19 localização abrangem vários tipos de projetos, desde sistemas de bases de dados, aplicações, conteúdo em páginas web e videojogos. Além disso podem apresentar um conteúdo multimodal com elementos como texto, gráficos, áudio e vídeo que, por sua vez, podem ser armazenados numa variedade de formatos de ficheiros. Este conteúdo pode, ainda, ser repetitivo e/ou retirado de outras versões do mesmo produto.

Numa fase inicial, a localização de um produto não era a prioridade no lançamento do mesmo, já que, por norma, passavam cerca de nove meses entre o lançamento de um produto original e a distribuição das suas versões localizadas. Todavia, assim como os conteúdos digitais se foram alterando, o mesmo aconteceu com a sua distribuição, já que há uma maior exigência por parte dos consumidores para terem acesso ao produto na sua língua ao mesmo tempo que o produto original é lançado. Tal leva a duas novas abordagens na indústria. A primeira, geralmente referida como “internacionalização” (“internationalization”), prende-se com a preparação do conteúdo digital de forma a facilitar a localização do mesmo para diferentes línguas. Desta forma, são eliminados ou evitados problemas comuns na localização. A segunda abordagem prende-se com a reutilização de traduções anteriores recorrendo a memórias de tradução, sendo a estratégia principal para reduzir os custos e o tempo dedicado à localização.

Ainda assim, os projetos de localização, ainda que diferentes entre si, podem suscitar alguns desafios ao tradutor. Por exemplo, um projeto de grandes dimensões na qual estão vários participantes envolvidos (tradutores e não só) pode resultar em inconsistências ou situações nas quais a comunicação é fundamental. Outros desafios incluem a adaptação de novas ferramentas (se forem utilizadas e fornecidas pelo cliente, por exemplo), a falta de contexto e os prazos de execução curtos.

Do ponto de vista linguístico, acresce-se a limitação de caracteres, bastante comum nos projetos de localização, principalmente quando de trata de localização de software, e a necessidade de manter a estrutura e a formatação originais.

No caso particular das páginas web, convém salientar que o local e a cultura para a qual o conteúdo será localizado pode, muitas vezes, incluir a adaptação de imagens, cores e outros elementos visuais de acordo com os padrões ou valores dessa cultura de chegada. Assim, há páginas cujo nível de localização não se resume à tradução, no sentido mais estrito do termo.

20 Nos projetos de localização realizados no estágio, não houve nenhuma situação em que fosse imposto um limite de caracteres, no entanto, a falta de contexto muitas vezes suscitou dúvidas. Porém, em alguns destes projetos, a comunicação com o cliente para colocar dúvidas era facilitada através do preenchimento de folhas de “query” posteriormente partilhadas entres os vários tradutores de diferentes línguas intervenientes no projeto.

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