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LOCALIZAÇÃO DO ALDEAMENTO DO FUNIL DO RIO DE CONTAS FINAL DO SEC X

Barra do Rio de Contas

Base Cartográfica: SEI-BA

Mapa compilado a partir de dados obtidos da pesquisa em documentos do século XIX

Produção do mapa: Jacson Tavares de Oliveira - Agosto/2012.

Vilas

Localização do Aldeamento do Funil do Rio de Contas

LEGENDA

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Depois de criada a povoação do Funil e aldeados os índios, o governador encarregou o ouvidor de Ilhéus de prestar auxílio a João Gonçalves, com cinquenta índios para “a conquista do gentio Nongoió (sic), que jazendo nas cabeceiras do mesmo rio, infesta e afugenta os povoadores e descobridores daqueles férteis e ricos sertões.” Além de receber os cinquenta índios, o Capitão-mor foi municiado com setenta armas de fogo, doze barris de pólvora, dezesseis quintais de chumbo e quinhentas pederneiras.109

No ano de 1783, logo após o sertanista e sua tropa, formada também por índios, chegarem ao Rio Pardo, iniciaram-se as investidas contra as povoações nativas.110 A primeira delas foi mal sucedida por causa dos índios guias que levaram a tropa para fora do rumo das aldeias. A situação dessa primeira expedição adquiriu contornos de maior dramaticidade à medida que os índios, recebidos por Gonçalves da Costa fugiram e levaram consigo armamentos, pólvoras e rações, deixando o sertanista desguarnecido.111

Mesmo diante da falta de soldados, o Capitão-mor prosseguiu na sua campanha. Doenças entre membros de sua tropa, falta de alimento e munição não o intimidaram, mas o fizeram retroceder dessa primeira investida. Dois meses após, o Capitão-mor iniciou a segunda entrada nas aldeias contando, dessa vez, com 70 soldados. Desses, fugiram primeiramente vinte e cinco depois mais dois, que fizeram “grandes furtos na pólvora e chumbo”, o que deixou o capitão em desespero.112

Quando João Gonçalves encontrou os primeiros vestígios dos indígenas do Rio Pardo, fugiram mais nove soldados, restando apenas trinta e quatro, entre os quais alguns ainda meninos. Apesar de depender apenas “dessa gente fraca”, o sertanista encontrou uma aldeia pequena, cujos moradores, logo que o pressentiram, se puseram a fugir. Ao reencontrar a trilha dos indígenas, o Capitão-mor capturou duas índias, levando um nativo a disparar flechadas contra a tropa, sendo afugentado por tiros.

O sertanista fez as índias, “que já se mostravam mais mansas”, de guias. Dessa forma, seguiram procurando as aldeias a partir das explicações do “língua”.113

Durante o caminho, João Gonçalves capturou outro índio “bastante-mente robusto o qual entregou as flechas e

109 Ofício do Ouvidor da Comarca dos Ilhéus Francisco Nunes da Costa de 06 de agosto de 1783. Anais da Biblioteca Nacional, op. cit. p. 541

110 João Gonçalves da Costa descreve com vários detalhes as entradas nas aldeias Mongoyó do Rio Pardo, bem como, as relações travadas com os indígenas de sua tropa e das aldeias nativas. Cópia da Carta ao Desembargador e Ouvidor de Ilhéus Francisco Nunes da Costa escrita no ano de 1783 op. cit.

111 O termo soldado designa não somente portugueses que compunham a força, mas também os índios que João Gonçalves da Costa adquiriu no aldeamento do Funil. Ver: Cópia da Carta ao Desembargador de Ilhéus e Governo Interino. op. cit.

7 Os desvios de pólvoras e armas podem ser entendidos como a representação da necessidade dos índios de também se municiarem.

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arco em sinal de paz.” O nativo optou por permanecer durante a noite com a tropa, dizendo ao sertanista que logo pela manhã mostraria a sua maior aldeia, mas, conforme relata o Capitão- mor, “pela manhã, ou antes dela, o índio fugiu.”

Apesar dos empecilhos impostos pelas condutas indígenas, João Gonçalves alcançou as aldeias. Uma das índias capturada disse ao capitão que existiam outras grandes povoações “onde estavam juntos todos os seus parentes”. Nesse intervalo, um índio contou ao português que a sua tropa era muito pequena e que o capitão da aldeia grande, chamado Capivara, havia de ir atrás dele. Mas, o esperto sertanista respondeu ao índio que a gente dele não era pouca e que para brigar com o chefe indígena ele não carecia de muita, pois esse já o conhecia de outra ocasião em que lutaram, estando João Gonçalves com pouca gente.

Passados sete dias após esse episódio, o índio retornou ao Capitão-mor para lhe dizer que o seu chefe “queria meter-se a paz” e que o português podia entrar nas aldeias ao lado de sua tropa para irem juntos combater os Aimorés, “porque eles fazem muita guerra e os comem.” Porém, o sertanista tinha consciência dos riscos que corria, pois conhecia as “traições” dos índios e a facilidade com que mudavam de opinião.

Por esse motivo, mandou dizer ao líder indígena que precisava buscar facões e outros objetos para presentear-lhe, fato que o deixou muito descontente. Apesar disso, o índio permitiu que o sertanista levasse as duas índias capturadas e um filho seu transformado em “língua” na última entrada.

Para continuar a redução dos índios dessa aldeia, João Gonçalves, primeiro elaborou um documento solicitando ao governo os reforços necessários para suprir os instrumentos levados pelos índios.114 Porém, a documentação consultada não revela a data da última entrada do sertanista à aldeia de Capivara.115

Anos mais tarde, o Capitão-mor da conquista do Sertão da Ressaca foi escolhido pelo governador da capitania da Bahia para uma expedição juntamente com os índios do “seu partido”, para averiguar a navegabilidade do Rio Pardo. O projeto, mesmo não alcançando os objetivos previstos, foi importante porque colocou João Gonçalves da Costa novamente diante das populações indígenas que habitavam as imediações daquele rio.116

114 Reduzir índios significa aldeá-los

115 Essa é uma lacuna ainda por ser preenchida.

52 Rio Gavião Rio Jequitinhonha Rio Pardo Rio Catolé Grande Riacho da Ressaca Rio de Contas Rio Almada Rio Cachoeira -4 3 -4 2 -4 1 -4 1 -4 0 -3 9 -18 -18 -17 -17 -16 -16 -15 -15 -14 -14 -13 -13 Aldeamento do Funil do Rio de Contas Valença

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ROTEIRO DE JOÃO GONÇALVES DA COSTA