• Nenhum resultado encontrado

Localização geográfica do município de Sorocaba

Seção II O fator Renda

Mapa 2 Localização geográfica do município de Sorocaba

Com uma área de 450,2 km² e densidade demográfica de 1.098,7 habitantes / km², com taxa de urbanização de 98,7% (2000) a população sorocabana representa 1,33% da do estado de São Paulo e 0,29% do país que é de 22 hab/km².

No período 1991-2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do município de Sorocaba cresceu 6,56%, passando de 0,777 em 1991 para 0,828 em 2000. A dimensão que mais contribuiu para este crescimento foi a Educação, com 37,51%, seguida pela Longevidade, com 37,49% e pela Renda, com 25,0%. Neste

período, o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do município e o limite máximo do IDH, ou seja, 1) foi reduzido em 22,9%.

Se mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria 14,2 anos para alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919).

Observa-se que no município de Sorocaba, pela tabela a seguir, que o acesso aos bens de consumo apresentou um aumento percentual no período de 1991 a 2000.

Esses bens são considerados de interesse particular e de classificação para definição de status social que detém a função de propiciar o acesso as informações na sociedade. A maior expressão se dá para o acesso ao telefone (fixo) e o advento do computador no cotidiano das pessoas.

Tabela 16: acesso a bens de consumo – Município de Sorocaba

Acesso a Bens de Consumo, 1991 e 2000 (%)

1991 2000 Geladeira 92,8 97,7 Televisão 89,8 95,1 Telefone 20,8 50,5 Computador ND 20,3 ND - não disponível

Indicadores socioeconômicos do município.

Para o município de Sorocaba, os dados disponíveis denunciam a realidade da apropriação da riqueza nos diversos estratos da população, conforme demonstrado na tabela seguinte:

Tabela 17 - Porcentagem da renda apropriada por estratos da População, 1991 e 2000.

1991

2000

20% mais pobres 3,90 3,10 40% mais pobres 12,00 10,20 60% mais pobres 24,50 21,40 80% mais pobres 44,10 39,90 20% mais ricos 55,90 60,10

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD 2000, Perfil do Município de Sorocaba

O PIB per capita que expressa a renda média do município cresceu 38,60%, passando de R$ 7.638,40 em 1995 para R$ 13.857,00 em 2003 e R$ 22.667,30 em 2007. A pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000) aumentou 4,24%, passando de 10,2% em 1991 para 14,4% em 2000. A desigualdade aumentou, medida pelo Índice de Ginixxxvi passou de 0,51 em 1991 para 0,55 em 2000, em 2006 alcança 0,49. No estado o índice é de 0,45 em 2007.

Tabela 18 : IDHm – Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal - Sorocaba

1991 2000

IDHm Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal 0,777 0,828

Educação 0,858 0,915

Longevidade 0,72 0,777

%

Renda 0,754 0,792

Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipalxxxvii de Sorocaba foi de 0,828. Segundo a classificação do PNUD, o município está entre as regiões consideradas de alto desenvolvimento humano (IDH maior que 0,8). Em relação aos outros municípios do Brasil, Sorocaba apresenta uma boa situação, ocupa a 145ª posição, sendo que 144 municípios (2,6%) estão em situação melhor e 5.362 municípios (97,4%) estão em situação pior ou igual. Em relação aos outros municípios do Estado, Sorocaba apresenta uma situação considerada boa, ocupa a 38ª posição, sendo que 37 municípios (5,7%) estão em situação melhor e 607 municípios (94,3%) estão em situação pior ou igual.

Um pouco de história sobre Sorocaba.

Focando o olhar sobre o Estado de São Paulo, como maior produtor de bens na nação, que registra pólos de riqueza, de pobreza e exclusão, encontramos em Sorocaba uma região que historicamente se desenvolveu pela impulsão do comércio e da prestação de serviços e registros de concentração de pobreza.

Nessa região as atividades econômicas evidenciaram a formação de riquezas, inicialmente através da mineração acompanhando o ciclo brasileiro em busca do metal. Em 1599, Don Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, ainda acreditando na existência de ouro, esteve na região e levantou o pelourinho - símbolo do poder real na Nova Vila de Nossa Senhora da Ponte de Mont Serrat. Em 1654, o capitão Baltazar Fernandes mudou-se para a região com a família, edificou uma casa à beira do rio Sorocaba e na colina a capela de Nossa Senhora da Ponte, doada em 1660 com terras, plantações e escravatura indígena, aos beneditinos.

Outro ciclo acontece, com o comércio de muaresxxxviii que eram trazidos dos

criadouros do sul para serem comercializados em Sorocaba. A vila que se desenvolve na convergência dos caminhos do sul com a região das “gerais”xxxix

serviu de entreposto fiscal para a coroa portuguesa tributar os “produtos” que transitavam entre as regiões.

A descoberta de novas minas de ouro nas proximidades do Rio de Janeiro demandou maiores quantidades de alimentos que eram transportados no “lombo dos escravos” e que retornavam com a carga do metal. A substituição dos escravos por animais foi a solução pela crescente demanda por alimentos e por “meios” de transporte com mais capacidade de carga e mais resistentes.

Os “muares” foram por longo tempo “produtos” de comercialização importante para fornecer a força motriz, a época, necessária para o transporte e movimentação de cargas e pessoas. Inicialmente, foram trazidos do sul por navios costeiros, o que encarecia o “produto”. “Surge a iniciativa de” trazer por terra “vencendo as barreiras geográficas” abrindo picadas, construindo pontes e atravessando matas até chegar à Curitiba e daí para Sorocaba e São Paulo”.66

“Era na cidade que acontecia, todo ano, a Feira de Muares. Era mais ou menos nesta época, entre os meses de maio e julho, que as tropas vinham do Rio Grande do Sul para Sorocaba. As pastagens estão melhores nesta época do ano, favorecem a engorda dos animais e a viagem se tornava menos cansativa para as mulas. As mulas, eram criadas no Sul, e com a necessidade de escoar a produção, elas eram trazidas para cá para serem vendidas... a maioria dos tropeiros era paulista, muitos, inclusive, sorocabanos. A viagem demorava cerca de três meses, dependendo do tamanho da tropa. Chegavam a circular até 150 mil mulas em Sorocaba por ano". (....) “O primeiro registro de Feira de Muares em Sorocaba data de 1750. A prática começou a declinar em 1897, com a primeira epidemia de febre amarela e também a chegada do trem. Mesmo com o fim da Feira de Muares, tropas ainda chegavam a Sorocaba até 1960. Além de animais, eram vendidos também artesanatos, como os conhecidos facão e rede sorocabanos” (Padre Castanho, Historiador - Museu Aluisio de Almeida, História contada de Sorocaba)

A mudança do hábito do sorocabano de minerador para comerciante inicia-se com “a passagem das tropas de animais que encontraram na região dos Campos Largos de Sorocaba grandes pastagens e aguadas para as tropas descansarem”. xl

Esta característica imprimiu na região uma identificação com as relações comerciais que estão estampadas em gravuras e monumentos em muitas localidades no município com a figura do comerciante, do animal de carga e dos serviços necessários à manutenção e funcionamento para cerca de 50 dias da “anual feira” de muares.

66

Esses “serviços” de manutenção incluíam diversas atividades que garantiam o “bom funcionamento” da feira e consistiam, desde serviços para hospedagem e acomodações para os “tropeiros” e suas comitivas, serviços de costuras, manutenção das “tralhas”xli, das selas dos animais, alimentação e cuidados para a

saúde, tanto, dos animais quanto dos tropeiros. A cultura permanece até a atualidade nas tradicionais “Festas dos Tropeiros” onde se reúnem anualmente no mês de maio, antecedendo a “invernada”xlii, milhares de comitivas de diversos

municípios brasileiros que para Sorocaba se dirigem relembrando os antepassados.

Noutros tempos, com a chegada da Estrada de Ferro em 1875, que rasgou a “terra rasgada”xliii para trazer do interior distante os produtos da agricultura, os minérios, as

madeiras, o gado e os passageiros para a capital e os destinados à exportação pelo Porto de Santos. A substituição do meio de transporte mais rápido e com maior capacidade de carga não encerrou as atividades tropeiras, mantendo um contingente de pessoas que sobreviveram por muito tempo dos serviços prestados aos “proprietários de animais”, atividade econômica que permanece presente com muitos “serviços” e alguns mais especializados tendo como sede na região de Sorocaba uma Universidade do Cavalo, local que se destina aos estudos da procriação, melhoria das raças, criação e comercialização de animais. Diversos serviços continuam a existir em função da atividade “tropeira”.

“... o comércio, juntamente com o mercado interno formado pelas atividades artesanais e produção caseira de artigos ligados ao tropeirismo (redes, arreios, armazéns, hospedarias, fábrica de facas, facões, ourivesaria e etc.) iriam ser os elementos únicos de sua economia até meados do século XIX.”67

Tempos anteriores, também foi a extração do minério de ferro com a Real Fundição de Ferro São João de Ipanema (1884), a produção e estampagem com a implantação de dezenas de tecelagens e estamparias de tecidos (1890) que imprimiram ao município uma identidade que se associa aos muitos momentos de influência britânica na formação econômica brasileira, e também a produção de frutas cítricas para exportação para a Europa e Estados Unidos,(1931).

67

In: Arquitetura Industrial e inserção urbana : o caso da fábrica Santa Rosália em Sorocaba, Marco Antonio Leite Massari e Ricardo Hernán Medrano, III Fórum de Pesquisa FAU Mackenzie, 2007

Essas influências, também se materializaram através da arquitetura, estando presente nos prédios da “estação e oficina ferroviária”, nos prédios das estamparias, nas chaminés das fábricas de tecidos, no calçamento e iluminação de ruas. A fábrica de tecidos e a estamparia com investimentos e transferência de maquinários diretamente de Manchester na Inglaterra renderam o titulo de “Manchester Paulista”xliv ao município, pela quantidade e diversidade de produtos que de lá

saiam.

Da esquerda para a direita, o antigo prédio da estação ferroviária que atualmente abriga o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba e Museu da Estrada de Ferro Sorocabana E.F.S.

A mão de obra foi “preparada” para operar os equipamentos dentro das novas normas produtivas e a presença da força de trabalho feminina se estabelece competindo com os homens nos espaços das grandes fábricas. No final da década de 1920, a indústria sorocabana abrigava a segunda maior concentração operária paulista e seu setor têxtil, com 19 grandes fábricas, empregava 82% da mão-de-obra operária regional68. Era, também, marcante o dinamismo agroindustrial do

beneficiamento do algodão, seguido de laticínios e frigoríficos.

Nesta época, a atividade têxtil se estabelece como principal fator econômico e, em paralelo, novamente inúmeras outras atividades de serviços foram se implantando, modificando o perfil dos trabalhadores, pelos treinamentos dos novos métodos de

68 BONADIO, Geraldo. Sorocaba: a cidade industrial (espaço urbano e vida social sob o impacto

produção recebidos dos ingleses, mantendo grupos bem definidos na sociedade e influenciados pelas “levas de imigrantes, espanhóis e italianos”, para mão de obra na agricultura e fabril em diversos momentos da formação da mão de obra da região.

A fundição de ferro no morro de Ipanema, o comércio de animais de carga, as estamparias e fábricas de tecidos, a implantação da estrada de ferro, as oficinas de serviços dos profissionais e alunos da “Sorocabana”xlv, definiram o perfil industrial e

a formação da mão de obra local e regional.

No final da década de 1970, por muitas cidades brasileiras, alguns hábitos de consumo foram ganhando força e mostrando as mudanças significativas que estavam em formação na vida das populações pobres.

Atualmente são as grandes empresas “montadoras” que “trabalham” para as grandes marcas mundiais é que se mantêm no parque industrial e fabril da cidade, alimentando várias outras atividades, inclusive nos municípios vizinhos, fomentando a grande participação das “prestações de serviços” que atuam nas periferias das empresas formando um potencial de micro e pequenas empresas fornecedores de serviços atuando “nas bordas do grande sistema” 69 operado e gerenciado pelas grandes empresas. Aliado a estes segmentos da economia criaram-se inúmeros pontos de atividades informais que se instalam nos patamares inferiores agregados aos pequenos e médios setores da economia.

Ricardo Antunes em “Adeus ao Trabalho” nos alerta através de uma pesquisa realizada por Anunzziato nos Estados Unidos referindo-se a partir da década de 1980, sobre a aceleração na instalação, no mundo do trabalho, das atividades de prestação de serviços. Modelo que, também, se reproduziu com muita intensidade no Brasil.

69

BONADIO, Geraldo. Sorocaba: a cidade industrial (espaço urbano e vida social sob o impacto da atividade fabril). Sorocaba, SP: Geraldo Bonadio, 2004.

“.. de um lado evidencia-se a retração dos trabalhadores da indústria manufatureira (e também da mineração e dos trabalhadores agrícolas). De outro lado, tem-se o crescimento explosivo do setor de serviços que, segundo o autor, inclui tanto a “indústria de serviços” quanto o pequeno e grande comércio, as finanças, os seguros, o setor de bens imóveis, a hotelaria, os restaurantes, os serviços pessoais, de negócios, de divertimentos, da saúde, os serviços legais e gerais. (Annunziato, 1989; 107 in: ANTUNES, 2000, p 34)”

Fixando o olhar sobre este cenário dos “prestadores de serviços”, observamos que muitos encontraram as formas de sobrevivência nas mais adversas situações de privações materiais, com conseqüentes restrições de acesso aos aparelhos públicos de educação e manutenção de uma cultura, denunciando a ausência de condições mínimas de vida.

O Consumo de novos produtos e o pertencimento

Ao longo do tempo foram sendo introduzidos hábitos e costumes e novos produtos que, se tornando acessíveis a determinados grupos, passam a rechear o cotidiano dos outros grupos que desenvolvem atividades “menos valorizadas” 70 ou sem

nenhuma remuneração.

Esses grupos pobres, subsistentes dos serviços que possam prestar à comunidade, agregados aos demais, outros, migrantes de outras regiões, principalmente do Paraná e do nordeste brasileiro, passam a rechear as periferias das cidades com quantidade e diversidade de mão de obra que outrora tiveram sua importância. Passam a conviver com atividades sem maior expressão, de menor valor agregado, garantindo-lhes a sobrevivência.

Um universo de atividades diversas e de consumo de bens industrializados numa escala sem precedentes se insere no cotidiano das pessoas, contribuindo para a comercialização de produtos, muitos em sua maioria vindos das fronteiras do sul do Brasil, mais propriamente do vizinho Paraguai. Este comércio se fortalece e estabelece novos padrões de consumo de bens e serviços, muitos produzidos fora da região e que iniciam um processo de produção de necessidades humanas.

70

Com a convergência de duas ordens no processo de formação sócio histórico brasileiro, que de um lado, na origem e na formação de um setor de subsistência nas periferias das regiões desde os tempos da colonização brasileira tem confinando um grande contingente populacional para se utilizar um limitado conjunto de recursos. Noutro ponto, a população formada por aqueles que sobreviveram das atividades que podemos classificar como prestação de serviços pela movimentação mercantil. Esta população, concentrada do contexto urbano, passa a ser tocada (começam a perceber o novo) pelo novo ciclo de expansão capitalista no Brasil a partir da segunda metade do século XX.

Este novo ciclo é responsável pela industrialização interna, pela aceleração na urbanização e pela formação de uma indústria que abarcariam muitas das atividades que outrora eram praticadas isoladamente nos vilarejos e vilas.

A história da formação da vila de Sorocaba, que data de 1654, nos trás registros de formação de uma população pobre, dependente da “atenção caridosa e carente de emancipação pela restrição de oportunidades”, convivendo com abundantes recursos concentrados pelos comerciantes e pelos representantes dos governos. Como ambiente empírico pesquisado, o município de Sorocaba está inserido no contexto formativo da economia da população brasileira.

O censo do IBGE 200071 indicava para o município de Sorocaba uma população residente de 493.468 habitantes, sendo classificada de municípios de médio para grande porte no contexto brasileiro. Apesar de sua proximidade aos grandes centros urbanos a cidade mantém características “interioranas” que identificam aqueles que detém o poder, as “famílias proprietárias”xlvi de terras e outros imóveis no município, condição muito semelhante as demais regiões brasileiras de formação colonial.

71 A projeção do IBGE para 2009 é de 584.313 habitantes

A professora Guiomar Inez Germani72 abordando a questão das condições históricas e sociais, que regulam o acesso a terra, nos apresenta que:

“o modelo de distribuição de terras em grandes propriedades não foi exclusivo da atividade açucareira. Outras atividades econômicas como as fazendas de gado, implantadas desde o século XVII em Pernambuco e Bahia, acentuaram a tendência à formação de imensos latifúndios e sua concentração em mãos de poucos privilegiados. Para ter uma idéia, já em 1663, tinha sido concedido o direito de propriedade de toda a região do São Francisco a quase exclusivamente duas famílias – os Garcia D’Ávila e os Guedes de Brito. A incorporação da região Sul a esta atividade de apropriação se deu mais tarde, na segunda metade do século XVIII, mas o modelo adotado seria o mesmo”.

As condições e formas de vida presente, e outras, anteriores ao processo de desenvolvimento urbano industrial do capitalismo no Brasil, imprimiu em muitos municípios, em especial em Sorocaba, formas de vida confinadas nas atividades de pequena relevância econômica e de pouca expressão. Numa análise isolada do computo econômico financeiro que sustentaram a vida dos prestadores de serviços observa-se que muitas destas atividades se aproximam à condição de subsistência inserida ao movimento mercantil que, historicamente esteve presente na formação da população sorocabana.

O movimento da economia nos patamares inferiores da sociedade, passa pelo tempo histórico com alguns registros que relegam à “condição de problema” para as autoridades os segmentos mais empobrecidos da sociedade, com a ausência da importância pelas vidas que representam. Mesmo considerando o porte destas atividades praticadas cotidianamente e o número de operações que são realizadas é interessante, também, observar que o processo de formação social influenciou, em muito, as características de definição de locais onde se concentrou a pobreza.

Ao abordar a questão espacial de distribuição da população pobre no município de Sorocaba, focamos os dados estatísticos das zonas periféricas que imprimem uma identificação local da exclusão e da pobreza. Essa identificação aponta “locais” de concentração de prestadores de serviços com baixa renda e que movimentam a

72

Coordenadora do Projeto GeografAR do Instituto de Geografia IGEO/UFBA in: Tese de Doutorado apresentada na Faculdade de Geografia e História da Universidade de Barcelona, em junho de 1993. Foi publicado em Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. 1993.

“pequena” economia em vários pontos da cidade, e são nas tradicionais periferias que se avolumam, incidindo a estampa de pobreza aos grupos que lá movimentam pequenos valores em grandes quantidades de atividades. Atividades de subsistência expressas de diversas formas e maneiras que possam ser imaginadas.73

A permanência de uma cultura de concentração espacial da pobreza nas periferias, não impediu que através de algumas das ferramentas de mercado, como a publicidade veiculada pela televisão e a amplitude de penetração deste meio de comunicação, proporcionassem o conhecimento de muitos “produtos e serviços” anteriormente restritos ao “acesso” para reservados grupos.

Iniciam-se novos meios de criação de consumo e alternativas à possibilidade de possuir um bem ou produto que se aproxime dos modelos apresentados pela publicidade - mesmo que similares mais baratos - que “substituem” o ideal apresentado.

O contato, a aproximação com os produtos, que anteriormente não eram conhecidos, levou grandes excursões de “compras” ao um “país vizinho”. Um grande contingente de pessoas de Sorocaba e região se destinavam para o Paraguai e este número se mantém elevado apesar da ilegalidade das ações e das repressões policiais.

Movimentos de mercadorias trazidos do sul, reproduzindo um processo que se firmou como maneira de se, “tomar conhecimento”, do que se “produzia” fora das nossas fronteiras. Mesmo que ilegal este movimento confirmou-se crescente e abrangente, inclusive com o envolvimento de muitas entidades filantrópicas que se utilizavam deste recurso da venda desses produtos para angariar fundos. Esse movimento serviu para confirmar o lugar da pobreza com a constituição de ilegalidade para quem “comerciassem produtos contrabandeados” e reprimidos pela ação policial convivendo com a “legalidade instituída para as entidades filantrópicas para a venda dos produtos apreendidos dos contrabandistas”

73

Citamos estas características para facilitar a interpretação da origem e formação do município e

Documentos relacionados