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6.1 Desenvolvimento da metodologia baseada em SIG e otimização linear

6.2.2 Lodo de ETE

O uso da terra da bacia PCJ é dividido entre plantações de cana de açúcar, pastagem, uso urbano, reflorestamento, culturas anuais e perenes. Entretanto, deve-se observar que nem todos os usos da terra são indicados para receber o lodo. Andreoli et al. (2007) indicam que culturas de contato primário não deverão ser efetuadas em um período de 12 meses após a aplicação do lodo de esgoto. Isso acaba inviabilizando a aplicação nas culturas anuais ou mesmo nas perenes.

Ainda conforme Andreoli et al. (2007) a aplicação de lodo de esgoto é indicada em grandes culturas, com produtos que não são consumidos in natura. Da área das Bacias PCJ, o solo ocupado por cana de açúcar e reflorestamento atende os requisitos (URBAN e ISAAC, 2016). Portanto, para a seleção dos locais aptos à recepção de lodo, foram consideradas apenas as áreas cobertas com plantação de cana de açúcar ou reflorestamento (Figura 6-7).

Figura 6-7. Mapa de produção de lodo de ETE e classes de restrição à aplicação de lodo de ETE em uso do solo de plantação de cana de açúcar e

Em uma primeira análise visual do mapa da Figura 6-7 pode-se notar que as ETE com maior geração de lodo estão próximas das ETA com maiores produções (Figura 6-3). Isso era esperado devido às características regionais já apresentadas: área metropolitana, grande população, um importante parque industrial, comércio variado e consequente consumo de água e geração de esgoto. É importante citar que, apesar de todos os municípios das bacias terem coleta e afastamento de esgoto, apenas 59% dos domicílios dentro da área de estudo são atendidos pelo serviço de tratamento de esgoto (AGÊNCIA PCJ, 2012), sugerindo que a produção de lodo deve crescer conforme esse déficit é superado. Para avaliação de locais para instalação de novas ETE pode-se utilizar a metodologia baseada em análise multicriterial e SIG, apresentada por Zhao et al. (2009).

Ainda conforme o mapa da Figura 6-7 percebe-se que a área de cana de açúcar cobre boa parte da região oeste da bacia PCJ, enquanto o reflorestamento ocupa pequenos fragmentos espalhados pela área da bacia. A maior parte das ETE está concentrada nas proximidades das áreas cobertas por plantação de cana de açúcar.

Para analisar os possíveis locais de envio de lodo de ETE foram considerados apenas os solos aptos (graus 1 e 2), conforme o capítulo 5, e uma capacidade de recepção anual do lodo de 15 toneladas de massa seca por hectare, conforme mencionado na metodologia.

A partir dos critérios estabelecidos afirma-se que a plantação de cana de açúcar apta à recepção do lodo ocupa apenas 11,25% da área da bacia PCJ. Apesar disso, tem capacidade de recepção de 2582,7.103 t ST ano-1. Apesar de ocupar menos de 0,08% da área da bacia PCJ, a aplicação em reflorestamento também pode ser considerada, pois é uma opção de destino para as ETE que se encontram na região leste da bacia, mais distantes das áreas de cana de açúcar. Dessa forma, as áreas aptas ocupam 11,33% da área da bacia PCJ e tem capacidade de recepção de 2600,8.103 t ST ano-1.

Os valores apresentados foram considerados na resolução do problema de otimização linear, para a seleção dos melhores locais para a recepção do lodo. Em um primeiro cenário foi considerado que todas as áreas aptas aceitariam receber o lodo de ETE, portanto 100% da capacidade de recepção estaria disponível. No mapa da Figura 6-8 é apresentado esse cenário, ilustrando a porcentagem de capacidade de recepção não utilizada das áreas aptas. Quanto maior a porcentagem apresentada, menor a utilização da capacidade de recepção da área.

No mapa da Figura 6-8 pode-se observar que a maior parte das áreas aptas à recepção de lodo teria mais de 90% da sua capacidade ainda disponível. Algumas áreas mais centrais encontram-se no limite de uso, pela proximidade com as ETE que tem maior geração. Entretanto, pode-se afirmar que, neste cenário, o lodo de esgoto é completamente absorvido

pelas áreas aptas, e existe uma boa folga para o aumento do tratamento de esgotos das cidades da bacia PCJ no que se refere à destinação final do lodo.

Cenários menos otimistas foram elaborados, considerando que nem todos os produtores aceitariam o lodo de ETE. Muitos fatores podem fazer com que os produtores agrícolas recusem o uso de biossólido, desde a rejeição dos clientes às safras usuárias de lodo de esgoto ou mesmo uma preocupação com a segurança sanitária das suas terras e produtos (EUROPEAN COMMUNITIES, 2001). A fim de superar a rejeição do uso do lodo de esgoto, o uso da cana de açúcar para produção de álcool combustível pode ser um facilitador, por não haver consumo direto do produto agrícola. Apesar desta ser uma característica específica do sudeste brasileiro, outro locais, em diferentes Estados ou países, podem usar a mesma metodologia, considerando suas próprias características regionais.

Considerando as situações menos otimistas, foi elaborado um cenário onde metade da capacidade total da bacia PCJ seria usada (Figura 6-9) e outro cenário onde seriam usados apenas 10% da capacidade das áreas aptas (Figura 6-10). Os cenários são importantes para verificar os limites da solução proposta para o lodo de ETE.

Apesar de contar com mais áreas com a capacidade de recepção próxima do limite, o cenário apresentado no mapa da Figura 6-9 ainda demonstra boa capacidade para a recepção do lodo de ETE proveniente do esperado crescimento do tratamento de esgoto da bacia PCJ.

Já o cenário considerando 10% de uso da capacidade total, apresentado no mapa da Figura 6-10, mostra sinais de saturação. A área central seria praticamente toda utilizada, restando maior deslocamento do lodo de ETE da região para outras áreas. As áreas de cana de açúcar mais distantes também teriam diminuição da capacidade de recepção do lodo de ETE, com valores entre 70 e 90% da capacidade não utilizada. Apesar disso, ainda há um bom espaço para o crescimento da geração de lodo de ETE na bacia. Isso evidencia que o uso do lodo de ETE em solo agrícolas é uma solução viável e com boa capacidade de recepção na área de estudo, ou mesmo outras áreas. Fica a necessidade das ETE adequarem seus resíduos para atender os requisitos para a aplicação no solo, e garantir a aceitação da população aos produtos cultivados com o auxílio do lodo de esgoto.

Figura 6-8. Localização das ETE das bacias PCJ e capacidade de recepção disponível das áreas aptas à recepção de lodo, considerando aceitação de até 100%

Figura 6-9. Localização das ETE das bacias PCJ e capacidade de recepção disponível das áreas aptas à recepção de lodo, considerando aceitação de até 50%

Figura 6-10. Localização das ETE das bacias PCJ e capacidade de recepção disponível das áreas aptas à recepção de lodo, considerando aceitação de até 10%

6.3 Considerações finais da metodologia baseada em SIG e otimização linear