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3.2. O Movimento Muralista Mexicano

3.2.1. Los Tres Grandes

Diego Rivera, José Clemente Orozco, e David Alfaro Siqueiros, artistas plásticos conhecidos como “Los Três Grandes” formaram a primeira geração de muralistas. (ADES, 1997).

Reunidos no Sindicato de Operários, Técnicos, Pintores e Escultores lançaram, no ano de 1923, uma “Declaração Social, Política e Estética” na qual se propunham a socializar a arte, produzir apenas obras monumentais de domínio público, criar uma beleza que sugerisse a luta e repudiar as manifestações individuais e burguesas da “pintura de cavalete”. (ADES, 1997).

Embora tenha havido outros pintores envolvidos no projeto dos murais, tais como: Fernando Leal, Ramón Alva de la Canal, Fermín Revueltas, Jean Charlot e Emilio García Cahero, foram Rivera, Orozco e Siqueiros que receberam os locais de grande prestígio e acabaram por dominar a cena artística no país, marcando, assim, o início da institucionalização do movimento muralista mexicano. (ADES, 1997).

Assim como o governo pós-revolucionário mexicano, esses artistas acreditavam que a arte tinha uma função social e ideológica. A presidência do General Álvaro Obregón ajudou a estabelecer um ambiente político e social favorável ao surgimento do muralismo, o qual incluiu muitos ideais revolucionários, como a reforma agrária, os direitos civis, bem-estar e saúde pública, educação pública para todos, e outras reformas liberais, ideais que permearam as imagens e obras criadas pelos artistas e que são essenciais para a interpretação dos murais, possibilitando a compreensão do seu papel na sociedade mexicana e americana. (ADES, 1997).

Foi decidido pelas lideranças políticas que as obras públicas de arte poderiam desempenhar um papel importante na restauração de uma nação em frangalhos devido à longa guerra civil. Como parte de um ambicioso plano cultural, artistas mexicanos expatriados, como Rivera e Siqueiros, foram convocados para retornar do exterior para colaborar com um programa de

decoração mural de prédios públicos e, assim, como os astecas e os maias de épocas anteriores, que pintaram nas paredes dos seus templos e túmulos, os muralistas mexicanos deixaram seus edifícios públicos repletos de imagens. (ADES, 1997).

Entretanto, os artistas enfrentam dois grandes desafios: a introdução de uma nova arte pública monumental que requeria habilidades técnicas especiais e a criação de uma linguagem visual eficaz para fins de propaganda. (ADES, 1997).

Os primeiros murais não tiveram necessariamente um conteúdo político, eram mais alegorias da história cultural do México. O principal objetivo do governo foi similar ao dos frades do século XVI: educar uma ampla população, em grande parte analfabeta. (ADES, 1997).

Mesmo que não mantivessem os mesmos – ainda que similares - pontos de vista ideológicos, Los Tres Grandes, numa tentativa de reescrever a história de seu país, tomaram os temas nativos como inspiração. Em vez de criar retratos de aristocratas espanhóis, glorificavam a vida cotidiana da população ameríndia contemporânea e os camponeses mexicanos que cultivavam o solo. (ADES, 1997).

Abordaram questões sociais e políticas, resgataram aspectos da sociedade pré- colombiana, criticaram a devastação imposta pelos colonizadores, discutiram questões políticas e culturais contemporâneas, fizeram previsões e expressaram suas esperanças para o futuro do país, tudo a fim de fomentar um ideal comum de identidade nacional (ou pan-americana) no povo mexicano. (ADES, 1997).

O artista mais reconhecido dos três principais muralistas foi Diego Rivera (1886- 1957), (Fig. 30). Após ter estudado na prestigiada Academia de Arte San Carlos, no México, Rivera fez a sua primeira exposição em 1907, o que resultou em uma bolsa que o

Figura 30 - Diego Rivera. Autorretrato

dedicado a Irene Rich, 1941.

Óleo sobre tela, 61 x 43 cm. Fundação Diego Rivera, México.

https://benigngirl.wordpress.com/tag/dieg o-rivera/

levou para a Europa. (THE VIRTUAL DIEGO RIVERA WEB MUSEUM, 2010).

Após temporadas em Madrid e Paris, voltou para o México no outono de 1910 e, em julho do ano seguinte, partiu novamente para Paris. Lá, entre 1912 e 1917, foi adepto da escola cubista, então considerada a melhor expressão artística avant-

garde do mundo. Ao voltar para o México, se envolveu com a revolução e pintou seu

primeiro importante mural em 1922. Dos três muralistas, Rivera foi o que mais retratou os costumes e tipos populares mexicanos e frequentemente demonstrou em suas composições o contraste entre o México industrial e o México rural (ver pg. 77, fig. 45-46; p. 78, fig. 47; p. 79, fig. 48). (THE VIRTUAL DIEGO RIVERA WEB

MUSEUM, 2010).

O pintor declarava-se ateu e revolucionário marxista. Em fevereiro de 1938, Rivera e o poeta surrealista francês André Breton, assinaram um manifesto exigindo a criação de uma Federação Internacional de Escritores e Artistas Revolucionários - para resistir à dominação cultural stalinista nas artes. (THE VIRTUAL DIEGO

RIVERA WEB MUSEUM, 2010).

A vida de José Clemente Orozco (1883-1949) (Fig. 31) foi repleta de drama, adversidade e triunfo. É também uma das grandes histórias da era moderna, uma história formada por conflitos, tanto internos quanto externos, por fronteiras sociais e políticas, e por questões de engajamento artístico e político. Ele experimentou a carnificina e dubiedade da

Revolução Mexicana, as

dificuldades após o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em

1929, e o surgimento do fascismo na Europa, durante a sua única viagem para lá, em 1932, emergindo de tudo isso com uma visão estética e moral sem paralelo na pintura do século XX, segundo Jaquelynn Baas (2005).

Figura 31 - José Clemente Orozco. Autorretrato, 1940. Tempera sobre papelão, 51,4 x 60,3 cm.

Inter-American Foundation. Arlington.

<http://www.moma.org/modernteachers/large_image.ph p?id=43>

O início da carreira de Orozco foi moldado pela sua experiência em 10 anos da guerra civil que tomou conta do México entre 1910 e 1920. Assombrado pela crueldade e traição desse período, o idealista Orozco tomou uma posição resolutamente crítica: ele viu os conceitos de raça e nacionalidade e dogmas da salvação política e religiosa como ídolos que corrompiam o entendimento e impediam a emancipação do espírito humano. (BAAS, 2005).

As realizações de Orozco nos Estados Unidos, onde morou e trabalhou por 10 anos, deram-lhe um status que lhe rendeu frutos quando voltou para o México em 1934. Na década seguinte, criou grandes afrescos em importantes edifícios públicos do México, incluindo o ciclo magnífico com o qual cobriu as paredes interiores do

Hospicio Cabañas, em Guadalajara. (ver p. 80, fig. 49; p. 81, fig. 50-51). (BAAS,

2005).

Nas décadas de 1960 e 1970, o trabalho de Orozco ajudou a inspirar uma nova geração de muralistas norte-americanos, de descendência hispânica e africana, que reinventaram a arte pública dentro de suas comunidades. (BAAS, 2005).

David Alfaro

Siqueiros (1826-1974) (Fig. 32) foi, dentre os muralistas

mexicanos, o mais

politicamente ativo. Sua ideologia o levou a lutar

como soldado na

Revolução Mexicana e, mais tarde, a se alistar como voluntário na Guerra Civil na Espanha, contra as tropas de Franco. Suas radicais crenças políticas o levaram, inclusive, a ser expulso do México e viver no

exílio. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA ONLINE, 2011)

Figura 32 - David Alfaro Siqueiros.

El Coronelazo (autorretrato), 1945.

Piroxilina sobre celotex. Museo

Nacional de Arte. Cidade do México. <http://encontrarte.aporrea.org/expo/e6.html>

Siqueiros fez pintura de cavalete, mas distinguiu-se, principalmente, pela pintura mural, na qual foi um inovador em termos técnicos. Tinha grande preocupação em experimentar novos materiais e novas técnicas, e suas investigações nesta área foram uma importante contribuição para a pintura mural. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA ONLINE, 2011).

Ele também frequentou a academia de San Carlos, onde foi surpreendente- mente admitido com a tenra idade de 15 anos. Suas viagens para a Europa lhe proporcionaram o contato com a obra de Goya; inclusive, os temas e as imagens da guerra em suas obras são muito semelhantes às desse pintor. A arte clássica, a

renascentista italiana e o futurismo italiano também o

influencienciaram sobremaneira. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA ONLINE, 2011). Dentre os Muralistas, David Siqueiros era o que tinha maior comprometimento com o mundo moderno, no que diz respeito tanto à temática quanto às técnicas. Diferentemente de Orozco e Rivera, raramente pintou temas ligados à história mexicana. Seus murais são distinguidos por ostentar, em sua composição, grande dinamismo e movimento, vigor e dimensões monumentais, tratamento escultural das formas e uma gama de cores ilimitada, subordinadas a efeitos dramáticos de luz e sombra (ver p. 82, fig. 52-53; p. 83, fig. 54). (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA

ONLINE, 2011).

3.2.2. A visão dos três muralistas sobre a participação do povo na Revolução

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