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Mata

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Comentário II ao Enunciado 17

152 definição inicial do perfil do candidato em sua forma de

abordar ou criticar seus adversários, intensifica ou atenua o uso das denominadas “mensagens negativas”, medin-do-lhes a temperatura conforme a resposta de sua audi-ência, dado o subjetivismo elástico dos tipos desenhados no texto legal (“conceito”, “imagem”, “afirmação sabida-mente inverídica” e a própria interpretação que será dada a suposta ofensa à honra terreno da política); sem contar a incerteza de saber como serão moldados pelo intérprete julgador, sempre sofrendo variações a cada pleito.

É a régua processual de “bombardeio” da campanha. O candidato iniciou atacando seus oponentes com ataques verbais duros, que em tese desbordam para o campo pessoal? Por certo será alvo de pedidos de direito de res-posta na mesma proporção do ataque – ou até mais. E vice-versa. Ao longo da campanha, a dinâmica jurídica vai impondo uma subida de tom na abordagem de temas sen-síveis, conforme a resposta apresentada pelas pesquisas qualitativas, quantitativas e o tracking da campanha – pela análise dos “focus groups”, aponta.

Essa ambiência exige ajustes por vezes diários, que trazem aumento ou diminuição no volume de processos.

Quanto mais o candidato sobe o tom e flerta com o ofen-sivo ou o fato inverídico visando criticar ou desconstruir o adversário e conquistar o voto do eleitor, mais correrá riscos na eventual perda de tempo acaso sobrevenham cortes na propaganda de campanha.

Há casos em que a assessoria jurídica do candidato opta por acionar o direito de resposta em larga escala – quando menos, para ocupar seu equivalente adversário –, mas visando também avaliar os limites que serão ado-tados pelo julgador, servindo ao valioso mister de verifi-car a celeridade nos julgamentos pelo juiz eleitoral e até mesmo dos recursos, de modo a projetar – e evitar – a possibilidade de um congestionamento de processos ao final da contenda. Aposta, talvez, na ideia de obter suces-sos que lhes assegure respostas em série às vésperas da eleição, criando uma imagem positiva de vitórias judiciais

153 que repercutirá entre os times e repassando, por meio do

marketing, tal sensação junto ao eleitorado.

São inúmeras as nuances, comportamentos e táticas que o direito de resposta apresenta. Mas, no fim das con-tas, a conta processual pode não fechar. É que, mesmo seu trâmite possuindo os prazos mais céleres e sumários do processo eleitoral e sem prejuízo da eficiência dos juí-zes da propaganda, quando a intensidade do entrevero da campanha se mantém até o limite temporal da lei fixado para o julgamento dos direitos de resposta (em regra até a véspera do certame), pode ocorrer um significativo volume de litígios apinhando as estantes virtuais do julga-dor. Em casos assim, algumas possibilidades se afiguram.

A primeira delas passa por um acordo entre os conten-dores, formando um grande pacote de desistência recí-proca desses direitos de resposta e limpando o acúmulo.

A segunda hipótese é arriscar as fichas na possibilidade de obter um bom volume de decisões favoráveis nesse fim de jogo. A terceira delas é buscar a obtenção de tutelas jurisdicionais que contemplem, em sede recursal, anteci-pações ou suspensões liminares (para permitir obstar ou liberar determinada veiculação). Uma quarta situação – a mais comum – é a não finalização dos processos até o dia das eleições (ou do segundo turno, onde houver).

Mesmo com toda essa ampla gama de variações – que, em verdade, é bem maior –, é necessário prever que, se ainda restarem processos em trâmite sem qual-quer decisão, o limite para a jurisdição deve ser a data do certame. E, se isso ocorrer, todo o acervo pendente estará prejudicado.

O Enunciado 17 veio justamente para conferir melhor contorno de efetividade ao art. 58, § 8º da Lei nº 9.504/1997, fixando um corte racional apto a limpar a pauta remanes-cente de demandas que, por diversos motivos, venham a envelhecer sem julgamento (na celeridade do processo eleitoral, o envelhecimento é precoce). O bem jurídico protegido é o direito do candidato em não ser ofendido durante a campanha. Encerrada esta e realizada a eleição,

154 nenhum sentido subsiste em seguir a jurisdição eleitoral

apreciando querelas cujo prazo de validade expirou.

Após o pleito, não há mais interesse jurídico no julga-mento dessa espécie processual, dado que sua causa de pedir girava em torno da proteção à honra do candidato.

Realizada a eleição, não há mais candidatos. Apenas vencedores e vencidos. Daí a fórmula consolidar como prejudicadas as lides que ficaram pendentes de julga-mento ou veiculação.

Entretanto, a melhor compreensão do Enunciado 17 não conduz à ideia de que a declaração de prejudicialidade do saldo pendente redunde na ausência de interesse da jurisdição em algumas questões subjacentes. Uma delas é quando a parte beneficiada por direito de resposta que é veiculado no período posterior à propaganda (antevés-pera do pleito) de algum modo exacerba no teor do rebate (mesmo que tenha havido prévia análise da resposta). Ou quando se dá o cumprimento parcial na veiculação da res-posta, que sofre cortes ou algum outro tipo de restrição – ou mesmo deixa de ser veiculada (nesse caso, em ato de desobediência de veículo de comunicação).

Nesse caso, é imperativo impor ao responsável o ônus da sanção pecuniária, para que não prevaleça a máxima de que “o castigo saiu barato”. De modo algum pode-se cogitar deixar sem punição aquele candidato (ou agente responsável pela veiculação das últimas decisões de direito de resposta) que desbordou do limite temporal onde já estava encerrada a possibilidade de reversão pro-cessual para o excesso.

A importância do Enunciado 17 transcende o mero cas-tigo na esfera administrativa; também sedimenta o meio de reprimir situação mais corriqueira do que recomenda a celeridade do processo eleitoral, remetendo à esfera cri-minal a análise de haver crime de desobediência (art. 347 do Código Eleitoral).

O enunciado em análise, determinando a linha de corte para o encerramento da jurisdição, ainda adverte

155 os contendores da campanha para os efeitos colaterais

do excesso de demandas por direito de resposta, colap-sando a resposta tempestiva da Justiça Eleitoral e tor-nando imprevisível mensurar o prejuízo de cada um. É também de seu desdobramento lógico a compreensão de que, ocorrendo a declaração de prejudicialidade da temá-tica supostamente ofensiva sem apreciação no âmbito do processo eleitoral, o legitimado poderá acionar as esferas penal e civil, guarnecendo o reparo a questões pessoais que entende transcender ao universo da campanha. Afi-nal, numa eleição, vale muita coisa, mas não vale tudo.

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A distribuição de recursos do