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Para compreendermos as relações estabelecidas e existentes no lugar, buscamos o contexto histórico sobre o lugar onde está inserida a comunidade Miracauera. Procuramos conhecer a história da formação do município denominado Careiro da Várzea e como ocorreu o processo de ocupação dese lugar onde predominam as características físicas do ambiente de várzea para realizar nossas interpretações a respeito das relações estabelecidas nas comunidades.

O município de Careiro da Várzea está localizado na região do Rio Negro-Solimões, na porção leste do Estado do Amazonas a 22 km de Manaus, todavia, para os comandantes de

embarcações o tempo de deslocamento depende da potência do motor e da quantidade de paradas durante o trajeto. O acesso ao município (figura 1) e à comunidade Miracauera se dá por meio do transporte fluvial que são realizados em pequenas embarcações ou barco regional que saem diariamente do porto de Manaus ou em lanchas que operam em duas cooperativas e saem do porto do Ceasa em direção ao município.

Essa modalidade é predominante Região Amazônica e muito utilizado pelos ribeirinhos para deslocamento e desenvolvimento de suas atividades diárias, tanto deslocamento como para manter contato com as comunidades próximas e com a cidade. Vale ressaltar que diariamente as lanchas expressos1 “sobem” para Manaus, cada uma no seu horário, retornando também nos seus respectivos horários.

Figura 1: Área territorial do Careiro da Várzea. Elaboração: DONALD, A.R. (2013).

O transporte fluvial é importante para as comunidades não apenas para o deslocamento, como também para abastecimento das mesmas, pois para a maior parte das comunidades é a única alternativa para chegar à maioria das comunidades sendo habitadas por populações que tem no rio uma das suas fontes principais de vida. A utilização do transporte fluvial no Amazonas revela a dependência dessa modalidade para a população ribeirinha, que

1 Modalidade de transporte fluvial no Amazonas, o expresso é construído com material em aço ou ferro, utiliza uma ou duas máquinas potentes capaz de desenvolver boa velocidade.

atende a necessidade da população que já está habituada com essa relação de tempo-distância. Os rios são como estradas, sendo eles indispensáveis para a manutenção do cotidiano das relações sociais e econômicas da região. Portanto, o rio tem significância na representação no cotidiano e na vida do ribeirinho, pois está intrinsecamente ligado à questão da reprodução social e o apego ao lugar.

No levantamento realizado sobre a origem do Careiro da Várzea, registra-se como um dos mais antigos moradores do Careiro, em 1870, conforme o trabalho de Nogueira (2007, p.88) o senhor Francisco Ferreira. Mas somente no ano de 1938, através do Decreto Lei nº. 176 cria-se no município de Manaus, o distrito do Careiro. Em 1955, é desmembrado do município de Manaus e o Careiro passa a ser município autônomo, no mesmo ato, a Vila do Careiro (sede do município) é elevada à categoria de cidade (IBGE, 2013).

O Careiro foi sendo construído ao longo de uma faixa marginal no trecho que compreende o Solimões-Amazonas, e conforme as características do ambiente recebeu posteriormente a denominação de Careiro da Várzea, pois 90% do município é constituído de ambiente de várzea. Entretanto, existem duas versões sobre essa denominação. Conforme Nogueira et al (2006, p.9) uma delas faz alusão aos relatos dos moradores que descreveram a existência de um comércio que pertencia ao Senhor Francisco, que por vender tudo muito caro, a população sempre reclamava que “tudo era careiro”.

Essa denominação de Careiro coincide com as informações obtidas durante entrevista com um morador da comunidade Miracauera, o senhor Santos, que afirma sobre a existência de um comércio na entrada do município via fluvial, conhecida como “boca do Careiro” pertencente ao senhor Francisco. O seu Santos descreve sobre a existência desse comércio localizada à montante da ilha do Careiro, por isso a denominação de “boca do Careiro”, onde havia um comércio flutuante:

“Lá na entrada do Careiro, na boca do Careiro, tinha há muito tempo o comércio do seu Francisco. Lá ele vendia as coisas tudo muito caro, quem comprava lá reclamava o tempo todo que aqui é “careiro”. Como todos os viajantes tinham que passar na entrada do Careiro, era preciso comprar nesse comércio onde tudo era caro, por isso chamaram o lugar de Careiro porque as coisas era tudo cara” (Seu Santos, 2013, morador do Miracauera, 2012).

“Tinha lá na boca do Careiro um comércio flutuante, lá na entrada do Careiro, era um comércio sortido, cheio de mercadorias, quem passava pro lá nas viagens precisava comprar, e tudo que era vendido era muito caro, as pessoas achavam que era caro, então começou a espalhar a conversa e o lugar ficou com esse nome, porque as coisas vendidas tiinah um preço alto. Quando as pessoas iam pra Manaus paravam lá pra comprar alguma coisa, e só tinha esse comércio, por isso ele vendia um pouco mais caro, ele foi uns dos premero morador do Careiro” (Entrevistado nº2, morador do Miracauera, informação oral, 2013).

Essa narrativa do seu Santos durante a entrevista relaciona as histórias que ficaram registradas na memória de quem viveu e passou essas experiências para os outros por meio de seus relatos orais, poi quase não há registros históricos documentados para que sejam utilizados como referências, assim recorremos à esses relatos que forneceram as informações para a construção deste trabalho, pois estes contém “experiências de quem vive, percebe e constrói os lugares” (NOGUEIRA, 2005, p.10), enfatizando que é “na relação intersubjetiva, social, que se constrói os lugares” (NOGUEIRA, 2005, p.17), desta forma as informações obtidas durantes as entrevistas sao consideradas fidedignas e serão fiundamentais na compreensão da relação ser-mundo que observa-se na comunidade.

O relato do seu Santos se assemelha à informação obtida por Nogueira (2001) com moradores mais antigos nesse município, que relataram a existência de um comércio que pertencia a Frascisco, que vendia tudo muito caro. Segundo Stradelli (1929) o nome vem da etimologia tupy carero, que significa cepyassuára, cepyassuuéra, tendo as seguintes variações: cepiasú = caro, preço grande, elevado, cepiasusáua = carestia. Isso justifica o nome do município, que está diretamente ligado às relações de toponímia que sao evidenciadas no município no contexto da formação das demais comunidades que compõem o referido município.

A outra versão dos moradores é do termo indígena “carero” que significa “caminho de índios”, sendo essa denominação atribuída pelos pilotos de aeronaves que sobrevoavam a região e confundiam o Paraná2 do Careiro com “caminhos de índios” devido à característica que o canal principal apresentava, estando vinculada ao rio que corta e circunda a ilha fluvial. A atual sede do município de Careiro da Várzea é o ex-povoado de Vila do Careiro como ainda é chamado pelos moradores. Os primeiros habitantes da região do Careiro eram indígenas da etnia Mura e que muito resistiram às investidas do homem branco, porém, após inúmeras tentativas, desistiram e fugiram, conforme Nogueira et al (2006, p.10) “os Muras foram contatados no primeiro momento pelo navegador Francisco Ribeiro Sampaio em 1774”. Os índios que sobreviveram posteriormente assinaram um acordo de paz com o governador da Província, onde os indígenas reivindicavam também suas terras de volta, sendo este último pedido ignorado, dessa forma, os invasores foram se apropriando cada vez mais das terras, mas desconheciam a dinâmica do lugar, o que fez com que essa ocupação nesse período tenha tido fracasso devido ao desconhecimento do ambiente e suas peculiaridades.

2 O extenso, largo e profundo braço de um grande rio, que na planície de inundação amazônica forma uma grande ilha (SOARES, 1977).

Outro período de ocupação do Careiro da Várzea está relacionado à migração nordestina em 1887, devido aos graves problemas sociais enfrentados em decorrência das secas no nordeste. Essa migração deu início ao “processo de repovoamento do lugar” (NOGUEIRA, et al, 2006, p.10). Em 1889 os primeiros grupos desembarcaram no Paraná do Careiro. O governador da província Joaquim Oliveira Machado deu origem a duas colônias, uma em Janauacá (Santa Maria) e a outra no Cambixe (13 de maio) com o propósito de produzir alimentos para suprir a demanda da capital. Posteriormente a colônia foi elevada a categoria de Vila devido ao crescimento da colônia, sendo denominada de Vila do Careiro, em 1º de dezembro de 1938 “pelo decreto de lei estadual nº 76 a Vila do Careiro passa a ser um Distrito de Manaus” (NOGUEIRA et al, 2006, p.10) e posteriormente foi desmembrado de Manaus em 1955 sendo elevado a categoria de município 29 de janeiro de 1956.

De acordo com Nogueira (2001, p.113) “este município conforme indica seu atual nome, Careiro da Várzea, foi sendo construído ao longo de um trecho de várzea do rio Solimões-Amazonas”, onde foram ocupados os furos, paranás e a própria ilha do Careiro. Segundo o SEBRAE (2000, p.17;19) as primeiras referências históricas do Careiro datam de 1870, quando se tem notícia de que naquela área existia apenas um morador, que se chamava Francisco Ferreira. Este era conhecido como Mucucu. A partir de 1877 chegam a Manaus grande levas de retirantes nordestinos principalmente do Ceará afugentados pela seca nordestina. Os retirantes recém-chegados distribuem-se em várias regiões do Estado do Amazonas. No ano de 1980, o governo do Amazonas, através da Lei nº 9, de 11 de janeiro cria as colônias de Santa Maria de Janauacá e a colônia 13 de maio no Cambixe, o objetivo era fixar o grande número de pessoas que chegavam ao Careiro.

Após a expansão do povoado formado e devido ao grande número de famílias, o governo decide então criar em 1938 o Distrito de Careiro, pelo Decreto-lei Estadual nº 176, de 1º de dezembro, data que se comemora o aniversário do município de Careiro da Várzea. Em 1955, o governador Dr. Plínio Ramos Coêlho por meio da Lei nº 99, de dezembro, desmembrou o Distrito de Careiro do município de Manaus, passando a ser município autônomo com sede localizada na Vila do Careiro, que foi elevada à categoria de Cidade. A sede do município em 1987 é transferida de forma definitiva para uma área de terra firme, localizada na BR-319, próximo às margens do lago do Castanho. No ano de 1987 o governador do Estado desmembra o município do Careiro através da Lei nº 1828, de 30 de dezembro de 1987 e foi criado o município de Careiro da Várzea, com sede na Vila do Careiro como foro da cidade. Na situação política, primeiramente o município foi administrado por prefeitos nomeados, sendo o primeiro prefeito nomeado o senhor João Diniz

de Carvalho pelo então governador do Estado Plínio Ramos Coelho, somente em 1959 houve eleição para o primeiro prefeito constitucional, que se chamava Tomé Ferreira Santiago.

Todavia o Careiro não existia enquanto município, de acordo com Nogueira et al (2006, p.10) sua “área estava incorporada ao atual Careiro Castanho”, onde era localizada a primeira sede municipal. Este fora desmembrado em 1987 dando origem ao Careiro da Várzea que foi criado pela lei 1.828 de 30 de dezembro de 1987 (IBGE, 2013), sendo realizada a primeira eleição direta para prefeita, sendo eleita Maria das Graças Alencar (1989-1992). Os prefeitos que se seguiram foram Pedro Duarte Guedes (1993-1996), José Teixeira da Costa (1997-2000), Pedro Duarte Guedes (2001-2004), Pedro Duarte Guedes (2005-2008), Raimundo Nonato da Silva (2009-2012) e Pedro Duarte Guedes (2013-2016).

Em 1877, grandes levas de retirantes do Nordeste, principalmente do Ceará, se dirigiram para Manaus, onde muitos foram fixar-se na região do Careiro, portanto, data daí o povoamento dessa região. As secas nordestinas determinaram outras levas de cearenses, piauienses, paraibanos e outros, no Careiro, Cambixe e Janauacá. Não somente a seca no nordeste, mas também planos de ocupação para essas áreas foram influenciadas por políticas governamentais, um desses períodos corresponde ao ciclo da borracha, que possibilitou a vinda de grandes levas de migrantes, e era grande o número de migrantes que aqui chegaram em 1890. Por conta disso o governo na época mandou distribuir espacialmente essas pessoas em duas colônias que foram instaladas no Careiro da Várzea: uma em Santa Maria do Janauacá, e outra com o nome de “13 de maio”, no Paraná do Cambixe. As pessoas que ali chegaram foram mantidas pelo governo do Estado durante alguns meses, tendo antes recebido, cada um, seu lote de terra para trabalhar, o que aconteceu com muitas dificuldades. Com o decorrer dos tempos, Careiro e Cambixe foram sendo ocupadas e encheram-se de habitantes, tornando-se a zona agropecuária do Amazonas, constituindo a bacia leiteira mais importante do Amazonas, embora hoje essa realidade esteja bem diferente da anterior, pois o município não produz atualmente a mesma quantidade de outrora.

Rapidamente as áreas de florestas foram transformadas em campos de criação e de diversos cultivos, construíram casas para suas residências, levantaram marombas3 para proteger o seu gado durante a cheia e articularam um modo de vida de acordo com a dinâmica do lugar, onde perceberam que essa dinâmica de certo modo limita suas atividades, devido a isso estabeleceram mecanismos que possibilitam suas atividades de modo peculiar nesse espaço dinâmico na várzea. Todavia, essa realidade hoje não é a mesma no que se refere à

3 Construções edificadas sobre palafitas cuja base é feita de madeiras, algumas eram dotadas de estrutura flutuante, quando eram construídas dentro da água, nesse caso, usava-se a estrutura da balsa do dono do gado.

construção de marombas, mas isso será tratado mais adiante neste trabalho. Sem recursos naquele momento, os nordestinos que chegaram à região do Careiro, ocuparam as margens dor rios, cultivando, criando áreas de campo para o gado, construíram uma história, ajudaram a construir o lugar denominado Careiro, onde o município tem como sede a antiga Vila do Careiro, área urbana do municipio (figura 2) sob a denominação de Careiro da Várzea.

Figura 2. Sede do município de Careiro da Várzea (Vila do Careiro). Autor: MATOS, J.A. (2013). Fonte: Google Earth.

Sternberg (1998) em seu estudo sobre “A água e o homem na várzea do Careiro” chama atenção para a dependência entre as populações ribeirinhas e os cursos d’água. Sternberg investigou também as consequências dessa relação para os rios, que se tornam graves quando o desmatamento aumenta o fluxo de água e reduz a calha dos rios por acúmulo de sedimentos, causando enchentes que afetam as comunidades que vivem às suas margens. Sternberg (1998) enfatiza ainda que para entender melhor a questão de povoamento na Várzea do Careiro, é preciso saber que foi habitado por sociedades diversas, que cada uma a seu tempo, deixando vestígios de sua passagem. Sternberg faz uma relação ao senhor Marcolino Carneiro da Rocha, o “Velho Lino”, que saiu do Ceará em princípios de 1889, indo residir no Paraná do Cambixe. Faleceu a 22 de maio de 1951, aos 86 anos de idade.

Quando Sternberg (1998) afirma que desde 1774 a região já era conhecida e chamada pelos seus primitivos habitantes de Uaquiri, ele menciona uma população nativa que habitava o lugar, e que posteriormente foram desterritorializados por meio da ocupação do chamado “homem branco”. Extensas áreas foram ocupadas em diversas localidades, uma das primeiras

foi o Cambixe, que deu origigem a colônia 13 de maio. De acordo com Sternberg (1998) a estrada Careiro-Cambixe é acompanhada pela margem esquerda do braço de rio, derivado do Paraná do Careiro, que foi construída sem oposição dos habitantes, em uma faixa de terra mais elevada e com boa qualidade. Segundo Diniz (2000) apud Maciel (2008, p.71) “a estrada do Cambixe foi projetada para, na seca, ser uma via normal destinada ao transporte de pessoas, animais, leite, verduras e toda a produção local [...]”. Entretanto, durante a enchente, tornava-se uma área de marombas coletivas, capaz de abrigar, nos seus 23 km e 860m, todo o rebanho bovino do Cambixe, realidade que hoje é diferente devido à aquisição de terrenos na “terra-firme”, sendo assim, o rebanho é conduzido para esses terrenos em épocas de cheia.

Esta estrada alaga em meados de abril para maio até meados de agosto, variando de acordo com a antecipação ou não do período da cheia, vale lembrar que o período da cheia pode ser prolongado ou não. Só existe essa estrada no local, interligando o Cambixe até a sede chegando ao porto do município (figura 3) que dá acesso à Manaus via fluvial. Para os moradores os benefícios desta estrada estão relacionados ao acesso dos produtores rurais à sede do município e à área de embarque e desembarque fluvial, além da função econômica existente no local, tais como o transporte de estudantes pela estrada bem como o transporte de aposentados no dia de pagamento.

Figura 3. Porto do Careiro da Várzea. Autor: MATOS, J.A. (Agosto de 2013).

As condições naturais do Careiro da Várzea e suas características de relevo conferem um modo de vida peculiar, pois a população que habita nesse município vivenciam as

limitações e potencialidades desse ambiente de várzea e se mantém no lugar observando a dinâmica existente e desenvolvendo mecanismos a partir da percepção para o desenvolvimento de suas atividades tanto no período das águas baixas ou durante a cheia. Essas características, com predominância de planícies de inundação, estabelecem uma dinâmica que com frequência muda os hábitos dos moradores das comunidades por um período que varia de 2 até 4 meses, compreendendo o período da enchente. Durante esse período, os moradores da comunidade estão sujeitos ao regime das águas, todavia essa relação demonstra que o morador tem relações com o lugar que os fortalecem, apesar das mudanças periódicas que essa dinâmica promove no ambiente durante a cheia e depois da mesma.

Essas mudanças ocasionam alterações no cotidiano dos moradores do município, que precisam construir pontes para possibilitar o acesso aos domicílios e o deslocamento das pessoas na área urbana do município e também na área rural nas comunidades. É comum para as pessoas o deslocamento em canoas, todavia, no período de inundação fluvial, as canoas se tornam indispensáveis na manutenção do cotidiano das pessoas e principalmente, as relações sociais dos moradores e o desenvolvimento das atividades econômicas, embora esta seja afetada de forma significativa, reduzindo o rendimento dos comerciantes e concomitante a geração de renda dos moradores nas comunidades, pois nesse período o cultivo reduz em 80%. O abastecimento de água durante a vazante e durante a cheia bem como o deslocamento via terrestre e o desenvolvimento de outras atividades também é comprometido, um exemplo disso são as aulas que são suspensas em todo o município e posteriormente são retomadas com calendário especial após o período de cheia, dessa forma evita-se a exposição dos alunos a riscos, pois os mesmos se deslocam de comunidades próximas e só chegam em suas casas no período da noite.

De acordo com a entrevista com a diretora da Escola Estadual Coronel Fiúza (fig.4) em 2012 foram registrados pequenos incidentes envolvendo alunos da escola, tais como: pontes que caiam com alunos, canoas que alagavam no trajeto de casa até o porto para aguardar a condução do barco escolar. Em 2013 a escola adotou medidas preventivas para evitar acidentes, os alunos eram liberados mais cedo, pois a área do município estava totalmente inundada, e na sede municipal foi necessária a construção de pontes (fig.5) para o deslocamento das pessoas, pois a situação do município do Careiro da Várzea era crítica, a sede do município (fig.6) estava completamente inundada. Conforme Nogueira (2001, p.13) “é interessante ver primeiramente os lugares com olhar de quem nele habita e a partir daí olhar o mundo, que é construído cotidianamente nesta relação com os lugares”. Por isso compreender essa relação do morador com o lugar é fundamental nas descrições das

realidades vividas pelos moradores, que possuem laços de afetividades com esse ambiente mesmo em momentos de dificuldades, como é mostrado nas fotos abaixo, mesmo sofrendo com as inundações, os moradores interagem com as manifestações da natureza e dela extraem um aprendizado e conseguem conviver com os fenômenos da natureza.

Figura 4: Ponte ao lado da Escola Estadual Coronel Fiúza. Autor: MATOS, J.A. (Junho de 2013).

Figura 6: Praça da Matriz em Careiro da Várzea. Autor: MATOS, J.A. (Junho de 2013).

Essas informações obtidas nos dão mais clareza para compreendermos as relações das pessoas que moram no Careiro e nas diversas comunidades existentes nas faixas marginais. A comunidade que iremos trabalhar é a comunidade Miracauera, onde trabalhamos a questão do lugar enquanto “essência do ser e fenômeno da experiência” como destaca Relph (2012,