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“A nossa organização não é essa. E a forma, às vezes, se sobrepõem ao conteúdo. Então, eu espero, porque eu falo por Roms e falo pelos meus irmãos Calons. E por quê? Porque transito pelos dois mundos. A minha filha é casada com um Calon.”

(Nota Técnica "Direitos Humanos Calon, Rom e Sinti", p. 4)

“Toda aposta na pureza produz sujeira, toda aposta na ordem, cria monstros”.

(Zygmunt Bauman)

A audiência pública32 é uma das estratégias cunhadas visando a passagem de uma democracia representativa para um modelo de democracia participativa e deliberativa, onde haveria uma maior participação da sociedade civil nos debates e por consêquencia nas tomadas de decisão envolvendo os planejamentos do Estado (Cabral, 2008, p.1). No plano ideal se espera muito das audiências, mas no plano prático as audiências não possuem caráter deliberativo e “em muitos casos a legislação está ultrapassada ou é omissa ou insuficiente em relação à realização de audiências públicas” (Ferraz, 2013, p.9) com resultados efetivos no cotidiano dos solicitantes dela. Em outros casos, encontra-se uma banalização do uso desse instrumento, servindo meramente como álibi na justificativa do cumprimento de uma obrigação de consulta popular para a realização de grandes projetos, intervenções urbanas, e outros planejamentos feitos de forma vertical. A nota técnica PFDC/CAM/EB NO 01/2013, sobre os “Direitos Humanos Calon, Rom e Sinti (“ciganos”),

afirma por exemplo que “Nos espaços em que se tecem políticas públicas dá-se o nome de empoderamento” (Nota Técnica, p.2), ao mesmo que afirma não conhecer “os canais de interlocução entre instituições governamentais e os „ciganos‟ que têm recorrido a estas instituições com demandas relacionadas à promoção e proteção dos direitos” (Nota Técnica, p.3).

32 Alguns pesquisadores acham que a melhor opção da consultas a sociedade não seja a audiência pública, e sim um processo continuo de deliberação que pode ter vários formatos, como por exemplos as oficinas, onde as pessoas dialoguem com o poder público visando o entendimento da situação vivida pela comunidade. Já a audiência pública tem sua funcionalidade para cobrar do Estado algumas demandas e expor alguns casos específicos, por exemplo, nela se descobriu quais os direitos estão sendo violados, e assim coagir os órgãos públicos atuarem em prol da população. Agora para consentir na aplicação de uma política pública precisa de melhores mecanismos de escuta, pois muitas vezes apesar das explicações têm pessoas que não sabem muito bem sobre a proposta, devido inabilidade do Estado em entrar em contato com aqueles alvos das políticas. Precisa-se avançar no sentido de dar poder decisório e deliberativo, e não consultivos, nas audiências públicas.

A primeira audiência pública33 sobre as comunidades ciganas de Minas Gerais, com ênfase no grupo Calon, que reside no bairro São Gabriel, acompanhada por mim, foi solicitada por um procurador Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/MG), e teve realização no dia 26 de maio de 2014, no acampamento do grupo cigano Guiemos Kalon, na Rua Jornalista Abrahão Sadi, bairro São Gabriel. Segundo o proponente daquele momento de consulta e debate sobre as “questões ciganas”, os objetivos centrais da realização do evento seriam:

“(i) debater as violações a direitos humanos dos povos assim chamados ciganos no Estado de Minas Gerais; (ii) mapear dificuldades enfrentadas pelas etnias

Rom, Sinti e Calon no Estado; (iii) definir estratégias e promover

conscientização, com o escopo de amenizar e encaminhar soluções a tais questões; (iv) discutir formas de implementar políticas públicas em prol das comunidades ciganas em Minas Gerais, bem como universalizar, de modo a nelas incluí-los, as políticas públicas gerais que não vêm atingindo e beneficiando os assim chamados ciganos ” [Negrito meu] (Ata 26/05/2014, p. 1).

A preferência na utilização desses termos (negrito), não só nesse trecho da Ata da audiência, mas ao longo de toda sua realização (Ata 26/05/2014, p.2) pelo proponente dela, revela não uma mera escolha arbitrária dos termos utilizados para se referir a essa minoria, e sim uma preocupação em não tratar de forma generalizada as diferentes etnias ciganas34. Não afirmo que existe plena consciência das demandas e realidades ciganas por esse representante do Ministério Público, na verdade estou ressaltando que quando um promotor, notadamente posicionado em um lugar assimétrico de poder, faz uma afirmação, durante uma audiência pública, que repensa as formas de nomeação de determinados grupos, existiram implicações práticas sobre como esses sujeitos são vistos e consequentemente abre-se uma disputa pelo sentido dessas classificações identitárias.

Para analisar esse discurso35 e seus efeitos simbólicos, não se pode focar apenas no conteúdo, somente nas palavras em si do enunciado desse agente, mas só se capta seu real efeito na medida em que se considera quem o pronuncia, como coloca Bourdieu (1982) devemos procurar o poder simbólico além da linguística, porque não podemos procurar o

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A minha estratégia foi a partir das audiências públicas tentar situar o leito sobre o panorama da relação de alguns agentes da prefeitura com o grupo Calon já referido. Partindo dela, tentar analisar as representações contida nos enunciados de cada participante, e complementá-las com falas de servidores públicos que foram entrevistados durante a pesquisa.

34 Lembrando que o “termo „cigano‟ é, na realidade, um estereótipo elaborado com base em representações coletivas, experimentadas por indivíduos de diferentes tradições culturais ao longo de séculos de contato” (Fazito, 2006, p. 13).

35 Compreender a linguagem, código escrito ou falado, no seu contexto de produção e circulação. O enunciado precisa ser tratado conjuntamente com os fenômenos sócio-histórico que o envolvem.

poder das palavras aonde elas não se encontram, elaborado pelo autor no texto “A economia das trocas linguísticas”:

“Todos os esforços para encontrar na lógica propriamente linguística das diferentes formas de argumentação, de retórica e de estilística, o principio de sua eficácia simbólica, estão condenadas ao fracasso quando não logram estabelecer a relação entre propriedade do discurso, as propriedades daquele que o pronuncia e as propriedades da instituição que o autoriza a pronunciá-lo. (BOURDIEU, 1982, p. 89)

O discurso só possui efeito simbólico ou eficácia simbólica na medida em que ele se apresenta e também seja concebido como legitimo pelo outros sujeitos, pois o “O simbolismo estereotipado contribui exatamente para evidenciar que o agente age na qualidade de depositário provido de um mandato e não em seu próprio nome ou da sua própria autoridade”. (BOURDIEU, 1982 p. 93). À palavra de um procurador só tem poder simbólico na medida de sua legitimação e reconhecimento do campo jurídico e de outros campos, por isso a palavra só é autorizada no interior de um campo de relações de poder.

Nesse caso seria aplicado no universo jurídico, por isso podemos colocar o campo jurídico. Para Bourdieu, o campo seria um sistema estruturado das relações sociais que direcionam as ações dos sujeitos e instituições, como também o contrário, a ação desses indivíduos são estruturantes desse campo. São estruturas estruturantes, porque foram estruturadas na ação dos sujeitos que os constituem, ou seja, “um sistema de disposições que inclinam os autores a agir, pensar e sentir de maneiras consistentes com os limites das estruturas” (Thiry-Cherques, 2011, p. 34). Ainda segundo Bourdieu (1996), o campo seria “[...] tanto um campo de forças, um estrutura que constrange os agentes neles envolvidos, quanto um campo de lutas, em que os agentes atuam conforme suas posições relativas no campo de forças, conservando ou transformando a sua estrutura” (Thiry-Cherques, 2011, p. 39).

Esses campos são regidos por doxas que possuem consensos estruturados – ortodoxia- e assegurados por aqueles que possuem posições privilegiadas no interior desses campos e lutam para manter e decidi - lá36. Nos embates entre posições diferentes, conquistadas em lutas anteriores, busca-se o monopólio da autoridade do poder simbólico, e aqueles que fogem da doxa, são vistos como heterodoxos – posições divergentes da ortodoxia.

Se formos considerar estritamente a teoria dos campos de Bourdieu e aplicá-la naquela audiência pública não haveria somente envolvido o campo jurídico, compreendido por uma

36 Para o Bourdieu, o conceito de doxa seria “um ponto de vista particular, um ponto de vista dos dominantes, que se apresenta e se impõem como ponto de vista universal; o ponto de vista daqueles que dominam ao dominar o Estado e que contribuíram seu ponto de vista como ponto de vista universal fazendo o Estado (Bourdieu, 1994, p.129)

Juíza Federal da 7a Vara de Belo Horizonte, de uma Defensora Pública da União em Minas Gerais, e um Procurador Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/MG), e sim com pelo menos mais cinco campos participes daquele espaço, sendo eles o campo da política, composto por um representante da Superintendência do Patrimônio da União em Minas Gerais (SPU/MG); uma inspetora da Polícia Civil de Minas Gerais; uma Secretária Adjunta de Direitos e Cidadania da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH); uma Secretaria Municipal de Educação da PBH; uma Coordenadora de Promoção da Igualdade Racial da PBH; uma gerente da Secretaria Estadual de Educação do Estado de Minas Gerais; uma funcionária da Administração Municipal Regional Nordeste; Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (URBEL); um campo empresarial, possuindo um representante da COPASA; um campo acadêmico, com duas professoras doutoras; um campo das lideranças ciganas, composto por um representante da Associação Guiemos Kalons, e uma representante da Associação Internacional Maylê Sara Kali (ASMK) 37.

Voltando ao discurso inicial do proponente do evento, ressalto o caráter de heterodoxia de sua apresentação sobre os grupos ciganos, que insistiu em reforçar a diversidade cultural das etnias e a situação de invisibilidade desses povos no Brasil pelo poder público em sua apresentação. Ser contrário à ortodoxia não significa romper com a doxa, porque ela se constitui justamente no embate dos agentes dentro do campo, por isso romper com a ortodoxia exige acabar com a doxa, assim gerando outros pensamentos hegemônicos e lutas para sua manutenção. A enunciação desse procurador é um avanço diante "de um campo jurídico" que majoritariamente desconhece a situação das comunidades ciganas (visto no capitulo anterior), entretanto, não afirmo o rompimento desse agente do direito com a ortodoxia, justamente por as disposições do seu habitus 38, mas friso o tencionamento da hortodoxia – ethos- do campo jurídico sobre as questões étnicas causado por ele.

Os sujeitos não estão fadados as estruturas mentais ou estruturas sociais fixas que levam a determinados comportamentos naturais e percepções inatas sobre as relações sociais, mas é no embate entre estrutura e sujeito que acontecem as renovações, tensões, relaborações, e as atualizações dessas estruturas, isso também se da no campo jurídico. Da mesma forma

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Essa associação tem um papel importante dentro do movimento cigano dentro do país, e ganhará do Ministério da cultura o premio “Ordem do Mérito Cultural”, como organização não governamental, pelos serviços prestados na visibilidade dos grupos ciganos no Brasil.

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Existiriam dois tipos de habitus, ambos formadores das predisposições criadas pelos sujeitos dentro do

campo, sendo o primeiro inculcado pela socialização das classes, e o segundo pela educação feita pela

que existe uma ortodoxia jurídica normativa que têm dificuldade de considerar as minorias étnicas como sujeitos coletivos39 de direitos, existem operadores do Direito dispostos em buscar40 mecanismos jurídicos – suas execuções – que possa garantir acesso de direitos básicos à grupos étnicos que foram historicamente marginalizados. Sobre esse embate Bourdieu afirma que:

“[...] de um lado, as estruturas objetivas que o sociólogo constrói no momento objetivista, descartando as representações subjetivistas dos agentes, são o fundamento das representações subjetivas e constituem as coações estruturais que pesam nas interações; mas, de outros lado, essas representações também devem ser retidas, sobretudo, se quisermos explicar as lutas cotidianas, individuais ou coletivas, que visam transformar ou conservar essas estruturas. Isso significa que os dois momentos, o objetivista e o subjetivista , estão numa relação dialética” (Bourdieu, x, .152).

Reafirmar o desconhecimento das demandas e pleitos das comunidades ciganas de forma recorrente no âmbito do judiciário não é exagero, já que o próprio “Relatório Executivo: Brasil Cigano”, redigido pela SEPPIR – Secretária de Políticas de promoção de Igualdade Racial - confirma a necessidade de maior conhecimento da realidade dessas comunidades pelas três esferas de poder, executivo, legislativo e judiciário. Infelizmente, muitas vezes, indo na contra mão das conquistas dos povos ciganos, vê-se um disposição contrária de alguns servidores públicos na efetivação dos direitos coletivos e individuais dos grupos ciganos, como fica nítido nesses dois casos, o primeiro uma decisão judicial41 do Tribunal do Rio Grande do Sul e a outra do Tribunal São Paulo, abaixo apresentados por Mariz :

“Habeas corpus. Paciente acusado de homicídio. Cigano sem endereço fixo ou trabalho regular. [...] Habeas corpus. Indiciado primário, incurso nas penas do art. 121, § 2o. Pretendido o relaxamento do flagrante. Inadmissibilidade. Hipótese de existência de perigo na demora, o que justifica a prisão cautelar. A hipótese não é de se examinar as condições da vítima pelo fato de ser filho de político e o réu ser cigano, mas, sim, de se ver o clamor público provocado no local do delito com tal ocorrência, aliado à condição errante do paciente.” (Mariz, 2003, p.28).

39 Há dificuldades no reconhecimento dos sujeitos coletivos de direito, isso porque, muitas vezes pela dinâmica social dos grupos étnicos alguns traços culturais, vistos como identificadores dos grupos, não estão presentes, e dentro de um direito positivista essas comunidades “misturadas” não se enquadram nos parâmetros, por exemplo, do que seriam grupos ciganos. Logicamente essas premissas são pautadas por uma visão determinista e reificadora dos grupos sociais. Outra causa seria a própria dificuldade do Direito se livrar de um paradigma centrado no sujeito jurídico enquanto individuo (Rothenburg, 2008).

40 Ainda são mais raros aqueles que operadores que consideram a diversidade como diferença, e não como traços culturais reificados e cristalizados e aplicáveis a todos os contextos. Ainda é comum, apesar do ordenamento jurídico brasileiro prevê garantias à essas comunidades, alguns operadores do direito obstarem seus direitos.

41 Não se pode esperar que o Direito, principalmente o penal, resolva as questões relacionadas ao preconceito, pois a sanção que ele imprime ajuda a evitar formas mais explicitas de preconceito, e não acabar com uma teia complexa na qual ele se sustenta.

Por isso, não é exagero reinteirar esse ponto, já que a própria defensora pública presente na mesa da audiência, e que participa do processo de regularização fundiária na qual a comunidade pleiteou, admitiu que “não sabia que havia uma comunidade cigana em Belo Horizonte, quando foi procurada, em 2011” (Ata 26/05/2014, p.6) pela liderança do grupo. Na fala da Defensora Pública está presente a problemática da disputa entre PBH – Prefeitura de Belo Horizonte - em torno da posse do terreno presente no bairro São Gabriel, e antes de continuar a desenvolver em direção das limitações dos operadores do Direito envolvidos nessa audiência, e componentes do que eu chamaria de uma rede pró-ciganos, em romper com um ethos jurídico, apresentarei brevemente as origens dos conflitos relacionados à disputa pela posse do território.

Na realidade, não é só na fala dessa Defensora Pública, e nem só na audiência do dia 26/05/2014, que existe centralidade da discussão em torno da manutenção daquele território tradicionalmente ocupado, mas todas as audiências públicas42 realizadas em Belo Horizonte para tratar das demandas e discutir sobre a realidade social e cultural dos povos ciganos, aqui ou do Estado de Minas Gerais, partiram da situação de eminente despejo do território tradicional vivenciado pela comunidade Guiemos Kalon43 e busca de efetivação do direito de propriedade coletiva daquele território. Por exemplo, a primeira audiência pública realizada foi em 21/03/2013, pela comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Câmara Municipal de Belo Horizonte, proposta pelo vereador Pedro Patrus (PT), teve como intuito justamente tratar da temática:

“dos direitos de cerca de 70 famílias ciganas que vivem em área de domínio da União [...] além dos riscos de despejo e reassentamento, a comunidade, que ocupa o terreno há mais de 30 anos, enfrenta a ausência dos serviços de água, luz e saneamento. Os problemas das famílias ainda são agravados por tratar-se de uma minoria étnico-cultural vítima de preconceito, que luta para manter vivas suas tradições e, ao mesmo tempo, se inserir na sociedade.

Existiram diversas outras demandas em pauta naquela sessão, mas de certa maneira são circunscritas a abordagem da delimitação e garantias em torno da regularização da área do

42 Estou me referindo especificamente às audiências públicas e aquelas com a pauta exclusivamente sobre as comunidades ciganas, porque existiram outras audiências em que as lideranças desse grupo Calon foram chamadas, presenciei uma no Ministério Público Federal sobre a vulnerabilidade das comunidades tradicionais em Minas Gerais, além de haverem outros espaços como o Conselho de Promoção da Igualdade Racial.

43 Apesar das audiências públicas serem sobre as diferentes realidades enfrentadas pelos grupos ciganos em Minas Gerais, majoritariamente, para não afirmar exclusivamente, o caso trazido à luz como exemplo era justamente do grupo Guiemos Kalon, que reside no bairro São Gabriel. Não se sabe se o caso vivenciado por esse grupo cigano é excepcional, talvez um diferencial seja pela conquista da pose da terra pleiteado pelo grupo ( “primeiro acampamento cigano contemplado com uma concessão de direito real de uso coletivo no País”[ata 09/07/2013]) mas precisa-se de mais investigação em comunidades residentes em Belo Horizonte, e Minas Gerais, pois obter uma gama mais vasta de casos particulares pode ajudar na criação de parâmetros de comparação entre grupos.

acampamento daquele grupo Calon. Por exemplo, a questão da educação escolar formal só apareceu no Ministério Público Federal como direito fundamental não assistido a partir do desdobramento da ação principal que possibilitou um canal de aproximação com essa comunidade em específico. Um trecho de um dos servidores do Ministério Público Federal entrevistao44 na pesquisa exemplifica como o reconhecimento da propriedade está ligado a outros direitos fundamentais:

“A demanda chegou até nós com esse pedido de reconhecimento de regularização fundiária. O pedido pela terra era o principal, porque na verdade ela é base de todas as outras políticas. Você não vai ter educação no lugar se você não direito de ficar no lugar, por isso a demanda mais premente era essa pelo território. Foi a partir desse caso que a gente teve contato com os grupos ciganos, alias com o grupo cigano, porque o contato principal que a gente tem aqui é com os ciganos Calons, do bairro São Gabriel, e a partir deles que vem essa tentativa do MP de tentar melhorar o contato com os ciganos” (Fala de um dos entrevistados do MPF).

Segundo um procurador Regional dos Direitos do Cidadão, na audiência pública do dia 09/07/2013, realizada na assembléia legislativa de Minas Gerais, a comunidade da etnia Calon, especificamente o grupo Guiemos Kalon, reside há mais de 30 anos no Bairro São Gabriel, na cidade de Belo Horizonte, e cerca 80 famílias compõem essa coletividade (Ata 09/07/2014). Durante todo o período que moraram na região, o grupo sofreu várias expulsões compulsórias pelo poder Público e foram obrigados a se realocarem em diferentes lugares do bairro (Laudo Nuq, 2011, p.7), até pararem em um terreno de competência da União, sendo ela a antiga Rede Ferroviária Federal. Houve novamente, em 2011, uma tentativa de desterritorialização daquele território tradicionalmente ocupado, novamente pelo pode Público, e por ventura desse episódio ocorreu uma mobilização interna no grupo, através da Associação Guiemos Kalons, na busca de salvaguardar aquela área para o referido povo cigano (Ata 09/07/2014).

Através do presidente da associação, entra-se, em 2011, com uma ação na Defensoria Pública da União em busca de auxilio na manutenção e salvaguarda daquela área (Ata 26/05/2014, p. 6), e a Defensoria Pública encaminha um processo administrativo de regularização fundiária à Secretaria do Patrimônio da União (Ata 09/07/2014). Em 19/12/2013, o Superintendente do Patrimônio da União, concede um documento garantindo a posse da área aos Calon residentes naquela propriedade de competência

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Essa entrevista foi feita em 07 de maio de 2014, em decorrência dos apontamentos feitos pelo Ministério Publico Federal para o comprimento de alguns ponto em relação a educação formal aos "povos ciganos" (anexo 6). Fui tentar esclarecer quais foram os pressupostos usados na feitura dessas recomendações e quais os casos usados na argumentação do documento.

Federal, salvaguardando 21.745m2 (Ata 09/07/2014). O procurador ressalta, que desde o início do processo o MPF se valeu “do estudo que havia sido feito pela UFMG por meio do

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