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LUTA PELA ANISTIA E PELA REDEMOCRATIZAÇÃO: 1978/

O ATOR IDOSO E ENVELHESCENTE EM SÀO PAULO 1948 A

POLÍTICA

5. LUTA PELA ANISTIA E PELA REDEMOCRATIZAÇÃO: 1978/

Em 1978, durante o governo Geisel, eclodiu o Movimento pela Anistia, que já vinha sendo desenvolvido desde 1975. A participação dos atores no movimento foi significativa; entre os exilados estavam, entre outros, Augusto Boal e Zé Celso Martinez Correia.

Em novembro de 1978, de acordo com o site www.perseuabramo.org.br, é encerrado, no Teatro Ruth Escobar, o I Congresso Nacional pela Anistia e, em 28 de agosto de 1979, é assinada a Lei 6683, que estabelece anistia ampla, geral e

irrestrita a todos os envolvidos em processos políticos relativos ao período de regime militar, até então.

A grande dama do teatro era Lélia Abramo que, por conta de sua atuação política, fora demitida da TV Globo, o que não poderia ter acontecido já que era dirigente sindical. Sua atuação não deixou de ser alvo de críticas isoladas já que a tão sonhada regulamentação da profissão ocorreu em um período de exceção47.

Luta pela liberação das peças, filmes e novelas ainda proibidos e a Campanha Diretas Já

A censura ao teatro, cinema e televisão foi arrefecida pelo governo militar graças, sobretudo, à resistência exercida pelos artistas e pela sociedade civil. Assim foi, por exemplo, com Barrela, de Plínio Marcos, que estava proibida desde meados dos anos 60. Participante ativo do movimento pela liberação desta e de outras peças, o ator Renato Consorte conta, em sua biografia escrita por Eliana Pace, que foi co-diretor e que também atuou na peça, ao lado de Francisco Milani, Thanah Corrêa e João Acaiabe.

Montamos ( a peça) assim mesmo, às escondidas no TBC, a polícia e o Exército de olho em nós, saiamos pelos fundos, vendemos ingressos só para conhecidos. Na estréia anunciei que tínhamos feito o espetáculo como desobediência civil. (...) (Pace, 2005:140)

Rasga Coração, última obra escrita por Oduvaldo Vianna Filho, estava proibida desde 1974 e estreou em São Paulo em 1979, com Raul Cortez e Celso Frateschi no elenco.

Calabar, de Chico Buarque de Holanda, que havia sido proibida no dia da estréia, em 1973, no Rio de Janeiro, chegou aos palcos em 1980, em São Paulo.

47 A regulamentação da profissão de ator não resolveu a situação dos atores, sobretudo os

anônimos. Atropelados pelos interesses de uma indústria cultural, os direitos trabalhistas arduamente conquistados, como piso salarial, contrato mínimo de trabalho, direitos de imagem, passaram a ser constantemente burlados por produtores de teatro, cinema e televisão.

O cineasta João Batista de Andrade filma o documentário a respeito de Tancredo Neves e o que foram os dias de agonia do primeiro presidente eleito (ainda que indiretamente) após o regime militar.

Roque Santeiro, de Dias Gomes, baseada na peça em O Berço do Herói, é finalmente levada ao ar.

Em apoio ao movimento pela Anistia, Gianfrancesco Guarnieri escreveu a peça Ponto de Partida; Augusto Boal escreveu Murro em ponta de faca.

No início da década de 80 aconteceu a campanha das “Diretas Já”. Entre janeiro e abril de 1984 acontecem as grandes concentrações em São Paulo, com a participação de cerca de 300 mil pessoas.

Participaram artistas de todas as gerações: jovens como Regina Duarte, e Bruna Lombardi, envelhescentes como Fernanda Montenegro e idosos como Paulo Autran e Tonia Carrero. No dia 16 de abril, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas exigindo a aprovação da emenda que restabeleceria as eleições diretas, o que infelizmente não aconteceu.

As pornochanchadas e o Cinema da “Boca do Lixo”

Durante a fase final da ditadura militar e da censura ao conteúdo ideológico de filmes e peças teatrais e novelas, surgiu um cinema de apelo erótico que é tolerado pelo regime. Era o Cinema da “Boca do Lixo”, assim chamado porque era produzido por cineastas que tinham seus escritórios em torno das estações ferroviárias Luz e Júlio Prestes, local que se deteriorara muito, socialmente falando, naquele período. Centenas de filmes nesse estilo são feitos em São Paulo durante o período mais agudo da censura aos meios de comunicação.

As estrelas das pornochanchadas em São Paulo –gênero focado principalmente na mulher – foram Aldine Muller, Helena Ramos, Zaíra Bueno. Matilde Mastringi e Patrícia Scalvi (nascidas em 1953). Entre os homens destacam-se o ator/produtor David Cardoso (nascido em 1945) e os diretores Silvio de Abreu – que depois vai se tornar autor de telenovelas – e Jean Garret. Outros diretores, como Carlos Reichenbach e Guilherme de Almeida Prado,

passaram pelo gênero como forma de denunciar a questão política. Atores considerados “sérios“, como Antonio Fagundes, Nuno Leal Maia, Luis Gustavo , Renata Sorrah e Ênio Gonçalves, também tiveram alguma participação nesse ciclo. Havia também espaço para atrizes como Vanda Kosmo e Liana Duval, mas em papéis secundários.

A televisão em São Paulo

O quadro das emissoras de televisão alterou-se nesse período.

Abatida pelas dívidas e pela má administração, a TV Tupi tem suas transmissões encerradas em 18 de julho de 1980. Neste mesmo ano começa a funcionar o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Em 1983 surgiu a TV Manchete, ocupando o espaço que até 1970 pertencera à TV Excelsior. Em 1991 é instalada a sede paulista da emissora.

Em 1979, Paulo Autran, que até então se recusava a fazer telenovela, interpretou o personagem Baldaracci, em Pai Herói, de Janete Clair, com grande sucesso. Em 1980 mais um ator paulistano vai para a Globo: Raul Cortez, que protagoniza a novela Água Viva.

Em 1983 a Bandeirantes busca um salto de qualidade com a novela Os Imigrantes, dirigida por Walter Avancini.

Em 1986 a rede Manchete lança a novela Dona Beja e, em 1987, O Pantanal, dirigida por Jaime Monjardim, lançando um novo estilo de teledramaturgia.

Em 1987, o ex-ator Sílvio de Abreu escreve Sassaricando e estabelece o costume de ambientar suas novelas em São Paulo.

Os atores idosos e envelhescentes de destaque

Este é o período em que os principais atores da primeira fase do TBC – entre eles Paulo Autran, Tonia Carrero, Cleide Yaconis - começaram a se tornar idosos. É também quando a liderança de Paulo e Tônia no cenário brasileiro

chega ao auge. Nesse período eles são considerados os principais expoentes do teatro brasileiro, sem grandes contestações.

Já Henriette Morineau, anteriormente querida e respeitada, vê sua carreira entrar em declínio. Ainda faz um espetáculo em 1981, Ensina-me a viver, de Collin Higgins, no Rio de Janeiro, ao lado do então jovem talento Diogo Vilela. A partir daí afasta-se do palco.

No cinema, um grande êxito do período foi a filmagem de Eles não usam black tié. Em sua biografia Um grito solto no ar, de Roveri, (2004), Gianfrancesco Guarnieri fala da sua emoção por ter interpretado o jovem Tião, no espetáculo teatral, em 1958, e o envelhescente Otávio, na versão cinematográfica, dirigida por Leon Hirszman em 1981.

As grandes perdas do período

Entre os idosos da geração anterior, Ziembinski morre em 1978, depois de haver aperfeiçoado a direção de espetáculos no teatro brasileiro e de ter desenvolvido brilhante carreira de ator.

Procópio Ferreira morre em 1979, ainda atuante (estava em cartaz com o espetáculo O vendedor de Gargalhadas), após ter completado 62 anos de carreira.

O carioca Jardel Filho, que tinha uma ligação muito forte com São Paulo, morre em 1983, durante as gravações de uma novela de televisão.

Entre os atores e atrizes que desistiram da carreira neste período, antes de chegar à envelhescência, estão as estrelas das pornochanchadas. Matilde Mastrangi casou-se com o ator Oscar Magrini; hoje faz parte de uma comunidade evangélica. Helena Ramos e Aldine Muller fizeram pequenas participações em TV, o que é muito pouco comparado ao período áureo da pornochanchada, em que estrelavam vários filmes por ano. David Cardoso tentou, mas não conseguiu, firmar-se nas novelas de televisão.

Em entrevista ao Canal Brasil, em setembro de 2006, os três atribuíram à passagem do tempo, o ostracismo no qual hoje vivem. Mastrangi disse que parou

enquanto ainda estava bem, fisicamente: “Envelhecer é um problema para todo artista, principalmente quando se é mulher e uma das rainhas da pornochanchada”

Matilde diz ainda que sofreu grande discriminação quando quis fazer teatro e cinema “sérios”, mas ninguém deu espaço.