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CAPÍTULO II: A GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO EM ANGOLA ATÉ O

1.3 A luta pela independência

Em função dos fatores externos e a própria vontade de emancipação do povo angolano, três grandes movimentos se destacaram no processo de libertação. A saber: Movimento Popular de Libertação de Angola (M.P.L.A); Frente Nacional de Libertação de Angola (F.N.L.A); e União Nacional para a Independência Total de Angola (U.N.I.T.A).

Segundo Filipe Zau (2009, pp.160-161), “por volta dos anos 50 surge no seio da pequena burguesia luandense, frequentadora dos convívios na Liga Nacional Africana e na Anangola, várias organizações políticas nacionalistas. A maioria dos seus militantes era predominantemente católico”. Porém, havia também elementos portadores de orientação

37 Os Capítulos XII e XIII da Declaração Relativa aos Territórios Não Autônomos são referentes ao Regime

Internacional de Tutela (Cap. XII) e ao Conselho de Tutela respectivamente (Cap. XIII) da Carta das Nações Unidas.

51 marxista, que formaram o Partido Comunista de Angola (P.C.A), o Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), o Movimento pela Independência de Angola (MIA) e o Movimento pela Independência Nacional de Angola (MINA), que pela extinção de umas e pela fusão de outras, deram origem ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA)38.

O M.P.L.A foi fundado a 10 de Dezembro de 1956, através da publicação do seu manifesto, inspirado nos intelectuais de esquerda como Mário Pinto de Andrade (primeiro presidente do M.P.L.A), Viriato da Cruz, Ilídio Machado, Agostinho Neto (que assumiu a presidência do M.P.L.A em 1962, e, em 1975, após a proclamação da independência da República Popular de Angola, passou a ser o primeiro presidente de Angola) e outros (IMBAMBA, 2003).

Em 1956 foi fundada a União das Populações do Norte de Angola (UPNA), por Álvaro Holden Roberto, que a partir de 1962 tornou-se Frente Nacional de Libertação de Angola (F.N.L.A):

No ano de 1956, foi fundada a União das Populações do Norte de Angola (UPNA), chefiada por Holden Roberto, que reinvindicava, incialmente, não a independência de Angola, mas do Norte de Angola, onde se situava a capital do antigo Reino do Congo. [...] Porém, em 1962, um ano depois do início da luta armada, opera-se no seio do movimento mais uma metamorfose, deixando a anterior sigla para assumir a nova: Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) (IMBAMBA, 2003, pp. 78- 79).

A União Nacional para a Independência Total de Angola (U.N.I.T.A) foi formada em 1966 por dissidentes da F.N.L.A, encabeçados por Jonas Savimbi:

Da FNLA surgiu, em 1966, um outro movimento formado por dissidentes deste, encabeçados por Jonas Savimbi, originário do sul de Angola e outrora encarregado das funções de relações exteriores da FNLA. O movimento formado por Jonas Savimbi foi chamado UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), e se constituiu como uma grande força contra o colonialismo na parte sul e Leste de Angola (NGULUVE, 2010, p. 27).

Esses movimentos tinham concepções étnicas e ideologias diferentes, com o apoio de forças externas: o M.P.L.A, marxista pró-URSS, com predomínio da etnia Kimbundu; a F.N.L.A, anticomunista, sustentada pelos EUA e pelo ex-Zaire, atual República Democrática do Congo, com suas bases na etnia Bacongo (norte do país); e a U.N.I.T.A, inicialmente de

52 orientação maoísta, mas que depois se tornou anticomunista e recebe o apoio da África do Sul, tem forte presença da etnia Ovimbundus (centro e sul).

O processo de libertação de Angola foi marcado por um clima de contradições e desconfianças entre os portugueses, que tinham a responsabilidade de entregar o poder, e os três grandes movimentos. Segundo Alberto Nguluve, “durante os catorze anos de luta contra o colonialismo (1961-1974), os movimentos, além de lutarem contra o colonialismo, inimigo comum, também procuraram separar-se, passando a ver no outro um segundo inimigo em potencial e que, portanto, “deveria” ser combatido e posto fora do poder” (NGULUVE, 2010, p. 29).

Para que os angolanos se tornassem independentes, foram assinados vários acordos, dentre eles o de Alvor de 197539, pelos representantes do Governo Português e os presidentes dos três movimentos de libertação de Angola. O próposito do Acordo de Alvor era a formação de um Governo provisório de coligação que integrariam um Gabinete em condições de igualdade com os representantes dos grupos étnicos mais significativos – M.P.L.A para os Kimbundus, U.N.I.T.A para os Ovimbumdus e F.N.L.A para os Bacongos –40. No prazo de dois anos, após um recenseamento, seriam realizadas eleições para uma Assembleia Constituinte, segundo o princípio de um homem, um voto, e, após a elaboração da Constituição, seriam realizadas eleições para o Parlamento e o Governo, cujos resultados Portugal se comprometia respeitar41. Mas, os movimentos políticos não foram fieis aos seus comprimissos no tratado de Alvor. O desentendimento entre os três partidos africanos, porém, viriam a redundar numa violenta e prolongada guerra civil que assolou o país de 1975 até 2002.

Para José Imbamba,

[...] depois do Acordo de Alvor, as condições reais em Angola eram impróprias para um tão importante ato que viria marcar a vida do povo, pois havia um vazio governativo, porque a Assembleia Constituinte nunca fora eleita e, sem ela, não se podia eleger o Presidente da República. O acordo de Alvor estava praticamente violado e posto no esquecimento pelos três movimentos que se combatiam com mais ferocidade ainda, sob incitação dos seus agentes externos (IMBAMBA, 2003. p. 90- 91).

39Acordo, assinado a 15 de janeiro de 1975, nos termos do qual Portugal reconhecia a independência de Angola,

transferindo o poder para o MPLA, a UNITA e a FNLA. Disponível na www: URL: http://www.infopedia.pt/$acordo-de-alvor. Acessdo em: 02.09.2011

40 Telémaco Pissarro, 2008. Disponível em: http://pissarro.home.sapo.pt/memorias0.htm. Acessado em:

02.09.2011

53 A ambição de ser o primeiro e único movimento a proclamar a independência de Angola e tomar o poder para formar o governo de transição, pairava no espirito dessas forças políticas. Sendo assim, a independência de Angola foi proclamada num ambiente de hostilidade e de desencontro de identidade, uma vez que a guerra civil entre irmãos tornou-se a expressão desse desencontro.

Todavia, foi na madrugada do dia 11 de Novembro de 1975 que o M.P.L.A, sob liderança de Agostinho Neto, que conquistando a capital de Angola, Luanda, anuncia solenimente a independência da República Popular de Angola e, no Huambo e Ambriz, respetivamente, a U.N.I.T.A com Jonas Savimbe e a F.N.L.A com Holden Roberto anunciavam, coligadamente, a República Democrática de Angola (IMBAMBA, 2003). Mas, o M.P.L.A que teve o reconhecimento de alguns país da comunidade internacional e Agostinho Neto passou a ser o primeiro Presidente de Angola. Dentre esses países, o Brasil que foi o primeiro a reconhecer a independência de Angola pelo M.P.L.A.