• Nenhum resultado encontrado

3.1 Cultura na Moda

4.3. O Luxo e o Género

Através do luxo lêem-se não apenas estratégias de distinção social, mas também a maneira pela qual é construída e pensada a diferença sexual. Reinterpretar a questão do luxo implica hoje a reavaliação do papel e da importância da divisão social dos gêneros (LIPOVETSKY & ROUX, 2012, p. 65).

O luxo foi signo da singularidade masculina, todavia, somente os homens detinham o poder, em grande parte impulsionado pela guerra que concedia poder absoluto ao homem. O luxo no contexto feminino era entendido como agente de menosprezo (LIPOVETSKY & ROUX, 2012, p. 66-67). A ideia de que a mulher detém o lugar predominante no que respeita á moda e ao luxo, é um fenómeno moderno. É no século XVIII e XIX, que esta tendência emerge, em contraproducência com a vigência tradicional, em que o homem detinha poder hegemónico (LIPOVETSKY & ROUX, 2012). Somente no século XVIII, existe uma subversão que passa a fazer parte da representação da moda. A moda tornara-se cada vez mais feminina e extravagante, e a alta-costura foi o fator disseminador para a conexão desses conceitos, tornando-se a moda uma indústria destinada às mulheres (LIPOVETSKY & ROUX, 2012). O vestuário feminino passou a ser objeto de culto, e símbolo de aparência e de efemerizarão. Segundo Lipovestksy e Roux (2012), o traje masculino perdeu o brilho, invocando novos valores de igualdade, e de

poupança, de racionalidade e de disciplina, as vestes femininas passaram a ser símbolo de aparência e sedução, contrastantes com a austeridade emergente no vestuário masculino (LIPOVETSKY & ROUX, 2012).

A ideia da soberania masculina atenua-se à medida que a mulher incita ao trabalho, conquistando autonomia e poder, a assimetria entre géneros fora atenuada, mas a mulher continua predominantemente a exercer o papel de domínio sobre o setor da moda dado o período contemporâneo, é clarividente a predominância de oferta de mercado, no que concerne à moda feminina tudo se apresenta com soberba expressão (LIPOVETSKY & ROUX, 2012). Vemos também que Coco Chanel assume um papel crucial no que reporta à individualização e libertação do feminino, enaltecendo peças de unicidade estritamente masculina, como as calças, o boné, colete, a boina, entre outros, em peças ditadoras de um significado no feminino (LIPOVETSKY & ROUX, 2012).

No que diz respeito ao imaginário do vestuário masculino, foi o criador Jean-Paul Gaultier que libertou o homem do signo da austeridade e da rigidez que o caracterizava. Assim como a emergente tendência do sportswear (inspiração na roupa de desporto), que libertara a seriedade e o conservadorismo da vestimenta masculina (LIPOVETSKY, 1989). “Apesar das múltiplas formas de democratização, a moda, pelo menos na base dos sexos, permanece essencialmente desigualitária, o polo masculino continua a ocupar a posição inferior, estável, ante a mobilidade livre e proteiforme do feminino” (LIPOVETSKY, 1989, p. 179). Em virtude, ao observarmos a oferta presente no mercado, entendemos de forma clara e inequívoca o modo como é disposta a oferta para homens e para mulheres. Na sua maioria a parte destinada às mulheres é quase sempre maior em comparação ao setor masculino, assim sendo perante todas as noções e mudanças no que diz respeito a um setor mais igualitário e democrático, a moda ainda continua a representar um setor em evidente desigualdade.

A divergência entre géneros fora atenuada, é reflexiva uma maior uniformização da moda no que concerne aos dois géneros, o masculino e o feminino, o vestuário masculino tornara-se mais descontraído e liberto de padrões conservadores, ao passo que a moda feminina apresentara um domínio cada vez mais expressivo e de influencia masculina (LIPOVETSKY, 1989). Segundo Lipovetsky (1989), se às mulheres é concedido o direito quase absoluto de adorno com recurso a peças de influência masculina, aos homens o mesmo não é concordante, o setor masculino apresentara-se sobre um signo de total intransigência.

5. Tendências

Podemos entender uma tendência como uma direção, ou uma mudança no comportamento ou nas mentalidades coletivas, tendo como resultado uma manifestação física e tangível, como por exemplo os objetos de consumo. Para Vejlgaard (2008), uma tendência não é algo que já aconteceu; trata-se de uma previsão de algo que vai ocorrer de uma dada forma e que será aceite pela grande parte da população (VEJLGAARD, 2008). As tendências têm um papel no processo de criação, de design, marketing, entre outras áreas, podendo-se alastrar aos mais diversos escopos da camada social e suas representações como bens de consumo e de serviços. As tendências podem ser igualmente influenciadas por alterações tecnológicas, políticas, económicas e culturais, manifestando possíveis mudanças de paradigma nas sociedades em que ocorrem. Na sua maioria, as tendências vão de encontro à ideia de algo momentâneo ou de uma mudança que tem início em indivíduos a que Vejgaard (2008) denomina por trend creators. Vejgaard (2008) também refere que estes têm um relevância criativa e influenciam mudança comportamentais. É importante mencionar que os mesmos não estão numa camada muito visível da sociedade. Henrik Vejlgaard (2008), propõe um estudo de tendências desde da sua origem (trendsetters) até a sua adoção por parte de um todo (mainstream), o autor entende a tendência com um sistema de mudança (VEJLGAARD, 2008).

Identificar, entender e fazer uma previsão de tendências é pertinente para uma pluralidade de setores económicos. As tendências têm a finalidade de exploração de correntes de pensamento, de sentimentos e do foro comportamental. Com o desenvolvimento dos Estudo de Tendências, as empresas são crescentemente mais aptas a capitalizar e direcionar a mudança de estilos e gostos num percurso temporal (VEJLGAARD, 2008). Por sua vez, o autor Guillaume Erner (2016) designa o conceito de tendência como algo que advém do meio sociológico, e como sendo um reflexo não só de modas mas igualmente de modos de vida (ERNER, 2016). À semelhança Henrik Vejlgaard, Els Dragt (2017) entende uma tendência como um mecanismo de mudança que exerce influência sobre grupos sociais e compreende a necessidade de análise de todo o processo de disseminação, que é crucial para perceber a direção das alterações relacionadas com a origem e propagação de tendências (DRAGT, 2017). Higham (2009) é um dos autores que apresenta uma categorização de vários tipos de tendências, que se pode manifestar num sentido menos abrangente (microtendências), ao contrário das macrotendências que figuram de forma mais profunda nos diversos grupos sociais (HIGHAM, 2009, p. 87). As macrotendências em norma são as que se sentem de forma menos visível na sociedade, com influência sobre vários setores, mercados e demografias. Estas tendências influenciam a atitude e as necessidades dos consumidores. As micro tendências caracterizam-se pela sua expressão mais reduzida, são na sua maioria mais regionais, também habitualmente direcionadas para um setor específico ou comportamento (GOMES, 2015). As tendências visam a análise de manifestações a nível sociocultural que influencia os grupos sociais (RECH & GOMES, 2016).