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Fonte: USINA CORURIPE, 2014. Disponível em: www.usinacoruripe.com.br.

Boa parte das áreas onde é desenvolvida a atividade de pecuária é arrendada pelos produtores rurais não proprietários de terras, que estão vinculados aos condomínios de fornecedores de cana-de-açúcar. Em alguns casos específicos, essas terras são arrendadas pela usina, que extrai o lucro, e os fornecedores são mal remunerados, ou seja, o valor investido é maior do que o recebido. Mas, no caso de Iturama, o sistema de condomínio de fornecimento de cana não é viável para usina, uma vez que a mesma arrenda toda área em que produz, estabelecendo contratos de arrendamento diretamente com os proprietários de terras que duram em média de cinco a sete anos, sujeitos a renovação.

Segundo Faria (2011, p. 163):

O procedimento que estabelece o contrato como forma a tornar cativa, tanto a propriedade quanto o proprietário de terras para com a Usina, estrutura-se basicamente da seguinte forma: a usina arrenda a propriedade pelo período do ciclo produtivo da cana-de-açúcar, que varia entre 5 e 7 anos. O valor a ser pago pelo arrendamento da terra é calculado sobre a produtividade do solo, ou seja, pelo coeficiente calculado em relação ao que as características

do(s) solo(s) da propriedade proporcionariam para o desenvolvimento da planta.

As usinas sucroenergéticas arrendam terras no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba de acordo com a quantidade oferecida na região, e conforme as necessidades de incorporação das técnicas no espaço de produção. Mas, nem sempre as leis orgânicas municipais são devidamente respeitadas, às vezes as usinas ultrapassam os limites das áreas estipuladas para produção de cana. As propriedades são arrendadas para o plantio da cana-de-açúcar por atração econômica, atingindo diretamente os modos de vida das populações locais, principalmente no campo.

Sendo assim, os proprietários que arrendam suas terras são dependentes das usinas. Afinal, os rendimentos do negócio firmado com os usineiros e instituições financeiras dão garantias de que serão devidamente remunerados mensalmente e não precisam se preocupar com assuntos relacionados ao plantio, colheita, ou seja, o uso do solo em geral.

O pagamento é feito pela fertilidade da terra. Assim, no primeiro ano a usina deveria, por contrato, pagar apenas quando colhesse, diferente disso a remuneração é destinada ao proprietário da terra no plantio, corrigida na colheita, e no último ano, como o pagamento foi adiantado para o momento do plantio, já não há mais a parcela a ser paga pela terra utilizada (que foi adiantada e prevista em contrato). (FARIA, 2011, p. 165)

Em um primeiro momento esse adiantamento é interessante para os rentistas, uma vez que esses aproveitam o pagamento para investir em aquisição de bens. Em certas situações esses proprietários não reservam uma poupança em dinheiro como garantia, caso necessitem por questões de saúde e para atender possíveis despesas que surgirem. Quando chega ao fim dos cinco anos de contrato, a maioria dos proprietários já não tem mais renda e está de tal forma endividada que, submetida à ação da usina, renova o contrato de arrendamento.

A paisagem anterior, modificada pelo capital com as lavouras de cana, por intermédio do arrendamento de terras, praticamente foi destruída: as cercas, infraestruturas antigas, principalmente relacionadas às fazendas de gado e matas deram lugar aos canaviais. Limpou- se o terreno para aumentar a área de produção canavieira. Ao mesmo passo que a usina controla e se apropria das terras agricultáveis, cria uma situação de dependência por parte dos donos da terra ou rentistas.

A cerca, para o próprio capitalista, sempre foi sinônimo de posse, “se tem cerca tem dono”. Sempre se defendeu das ocupações de sem terras, alicerçado nessa questão da propriedade, simbolizada pela cerca. Agora é

esse mesmo capital que retira a cerca de propriedade de outras pessoas, apropriando-se das terras para, sem questionar a legalidade do direito de propriedade do outro, promover acumulação ampliada do capital. (SOUZA, 2013, p. 127)

A situação anunciada promove o aumento da pressão por aquisição de terras, subjugando os proprietários e produtores rurais à ação do capital, principalmente nas propriedades localizadas no entorno das usinas sucroenergéticas. Geralmente, os produtores que arrendaram suas terras tendem a migrar, juntamente com suas famílias, do campo para cidade. Em certos casos, esses sujeitos não têm condições de se manter na cidade, pois o valor recebido com a renda da terra é insuficiente e suas habilidades próprias às atividades do campo dificultam a obtenção de um emprego no meio urbano, sendo ainda que passam a ter custos antes minimizados com alimentação, porque produziam seus próprios alimentos.

3.2 AS IMPOSIÇÕES DO SETOR SUCROENERGÉTICO SOBRE O ESPAÇO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE ITURAMA-MG

A Usina Coruripe investe no arrendamento de terras em Iturama desde 1998, ano em que o Grupo Tércio Wanderley compra as ações do Grupo Alexandre Balbo de Ribeirão Preto, que atuava no município na condição de destilaria de álcool. Essa usina promoveu o desenvolvimento local, através da arrecadação da receita sobre o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e infraestrutura (SECRETARIA MUNICIPAL DE AGRICULTURA DE ITURAMA-MG).

As terras ocupadas por canaviais são todas arrendadas pela usina, pois a usina não detém a propriedade da terra. A quantidade de hectares plantados com cana em 2013 é de aproximadamente 31.000, em um município com uma área de 41.401 km2, aproximadamente 140.040 alqueires (IMA, 2013). Isso nos revela que a lei orgânica instituída pela Prefeitura Municipal não é cumprida, uma vez que os dados nos mostram que as lavouras avançaram para além da área determinada em apenas 25%.

Sendo assim, é possível que parte da área de pecuária esteja sendo ocupada pelas lavouras de cana-de-açúcar, visto que o rebanho está diminuindo. Os contratos de arrendamento facilitam a “vida” dos produtores, uma vez que esses não fazem a manutenção adequada de suas propriedades quando são ocupadas por pecuária, e geralmente são seduzidos pelo discurso do capital sucroenergético.

Nos anos de 2006, 2010 e 2012, houve diminuição nas áreas de pastagem, sendo que 80% das terras arrendadas para usina canavieira são de proprietários paulistas, e a maioria desses produtores são rentistas. Em 2003, a quantidade de cabeças era de 160.000 e (2013) diminuiu para oitenta mil cabeças, devido às facilidades que o arrendamento oferece ao proprietário (IMA, 2013).

Porém, a cana não desalojou toda a pecuária, embora tenha avançado sobre parte das terras ocupadas e principalmente em áreas de pastagens degradadas (Ver Foto 8). Houve, sim, uma diminuição significativa de efetivos de bovinos se compararmos os dados dos últimos dez anos. Conforme os dados de Produção Agrícola Municipal - SIDRA/ IBGE, 2012 (Ver Gráfico 5).