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Máxima eficiência dos meios probatórios

No documento Direito autônomo à prova (páginas 56-61)

2 DIREITO AUTÔNOMO À PROVA

2.4 A BUSCA PELO PROCESSO EFICIENTE

2.4.1 Máxima eficiência dos meios probatórios

A efetividade da tutela jurisdicional depende da coexistência de um sistema probatório eficiente, que sirva os atores processuais dos mecanismos necessários a demonstração da ocorrência ou não dos fatos jurídicos relevantes ao deslinde da causa. Assim, o procedimento de produção de provas deve ser dosado, conforme as necessidades que se apresentarem no curso do processo.

Nesse contexto, o princípio da máxima eficiência dos meios probatórios transmite, diretamente, a consecução de um fim, de que o meio de prova a ser empregado deve ser realizado de forma eficiente, com o escopo de oferecer o melhor acervo probatório capaz de influir na decisão de mérito.

Do exame dos fatos e da adequação destes ao direito objetivo, o julgador extrairá a solução do litígio que será revelada na decisão. Assim, não se pode almejar o

desenvolvimento válido de um processo desatrelado da necessidade de elucidação dos fatos. Oferecer às partes os meios de provas adequados é requisito essencial da prestação da tutela jurisdicional, que se coadune com os valores de justiça.

No contexto do presente estudo em que é dado enfoque na pré-constituição de prova, por iniciativa dos interessados, em momento anterior ao processo que visa à declaração do direito subjetivo, a prova assume papel relevante não somente como condição para um julgamento justo, mas também para atender a elucidação dos fatos, visando o convencimento dos próprios interessados.

De posse da prova antecipadamente produzida, os interessados poderão buscar um método de solução de conflito extrajudicial, atuar em conformidade com a prova produzida em juízo e até mesmo evitar o ajuizamento de uma ação, em que é patente a ausência do direito invocado.

A máxima eficiência dos meios de prova assume um papel de extrema relevância, em razão do momento histórico de ruptura com uma rigidez exagerada dos atos processuais relativos à prova, no processo civil, provocada, normalmente, pela quantidade excessiva de regramentos que, ao contrário de assegurar a eficiência dos serviços judiciários, tem sido fonte de inflexibilidades incompatíveis com as necessidades do tempo atual.107

O mestre Barbosa Moreira, nos idos de 1989, já asseverava quanto a necessidade de se primar pela eficiência probatória, afirmando que é necessário o aproveitamento tão completo quanto possível das fontes de prova, bem como o aumento da eficiência da colheita e no registro dos dados nos quais estas sejam capazes de ministrar, além do aprimoramento dos mecanismos de valoração destes elementos.108

Por conseguinte, restrições impostas ao direito à prova devem ser coerentes com o justo processo, balizando as provas necessárias à elucidação da matéria fática e afastando aqueles que se desviem desse objetivo.

107

FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Regista dos Tribunais, 2014, p.185.

108

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Alguns problemas atuais da prova civil. Temas de direito processual. Quarta série. São Paulo: Saraiva, 1989, p.159.

Na obra intitulada “Princípios Gerais da Prova Cível”, William Santos Ferreira traça as premissas fundantes, que devem nortear os partícipes da relação processual em matéria de prova, dentre os quais se destaca o princípio da máxima eficiência. Nas palavras do autor:

[...] Não basta o direito à prova e de meios que o assegurem e não obstem o contraditório e a ampla defesa.

É preciso um terceiro e último elemento: a qualidade de cada um dos instrumentos probatórios empregado, a busca de uma eficiência máxima no estabelecimento do thema probandum; um reconhecimento de que há um mandado de otimização, provocador de atitudes tanto legislativas, como dos intérpretes e dos operadores do direito, voltados a maximizar os resultados quando da utilização do ferramental instrutório, aqui estaremos no território do princípio da máxima eficiência dos meios probatórios.109

O aludido princípio baliza a atividade instrutória para que seja assegurado o meio de prova compatível com a necessidade da parte, em provar as alegações feitas, resguardando a utilização dos meios compatíveis, adequados e a utilização dos meios, até que o fato seja esclarecido, vedando-se diligências desnecessárias. Vê-se, portanto, que o princípio da máxima eficiência dos meios probatórios tem dupla implicação em relação às partes: um efeito positivo, segundo o qual “[...]as partes têm assegurados meios instrutórios dotados de potência suficiente (qualidade), para que se razão possuírem demonstrem o fato que lhes beneficia”;110

e o outro negativo, que se refere à hipótese em que a controvérsia diga respeito à questão, exclusivamente, de direito, independendo de dilação probatória ou quando o fato já se encontra devidamente provado, circunstâncias em que devem ser rechaçadas providências desnecessárias ao julgamento da causa.

No que diz respeito ao conteúdo negativo, o juiz possui o poder-dever de indeferir a diligência probatória pretendida, quando não se prestar a elucidação do fato alegado. A procedência da instrução objetivada fica condicionada à plausividade da postulação, no sentido de pertinência e adequação do meio em relação ao fato probando. 109 FERREIRA, 2014, p. 184. 110 Ibid., p. 185-194.

Decorrência do princípio em estudo na seara da produção antecipada de provas é que não devem ser julgados procedentes os pedidos de antecipação, que não revelem sequer, indiretamente, a potencial controvérsia envolvendo a prova ou quando a modalidade da prova não corresponder ao meio adequado.

No que se refere ao aspecto positivo, o princípio da máxima eficiência possui importante implicação para potencializar os resultados da produção de provas. O tempo atua sobre as fontes de prova de maneira negativa, sendo capaz de deteriorá-la e diminuir, significativamente, a aptidão desta para o esclarecimento do fato. Nesse diapasão, a admissão da ação autônoma de produção de provas contribui para expandir a eficiência e efetividade da instrução probatória, salutar por resguardar a qualidade do acervo.

A prova testemunhal é a modalidade mais afetada pelo transcurso do tempo.111 Em estudo acerca da produção de prova testemunhal, a doutrina salienta as diversas nuances que envolvem tal modalidade de prova, sendo uma delas a possibilidade de criação de “falsas memórias”, que podem ser agravadas na proporção da demora da inquirição da testemunha.112

Valendo-se do procedimento de antecipação de provas e com base no princípio da máxima eficiência dos meios probatórios, a parte interessada no esclarecimento do fato que levou à ocorrência de um acidente de trânsito pode, desde logo, ajuizar ação probatória autônoma com o exclusivo propósito de elucidar os fatos, já que mediante a produção é possível aumentar a qualidade do depoimento testemunhal.

111

Pesquisa empreendida por Catarina Gordiano, na qual foi realizado experimento com colheita de depoimento de testemunhas logo após a ocorrência dos fatos, observou que a reprodução dos fatos por meio da prova testemunhal possui múltiplas influências: as circunstâncias do fato ou até mesmo o estado emocional da testemunha; o que impõe reflexão pela necessidade de adoção de um procedimento de colheita da prova (inclusive com possibilidade de adoção de relatório livre) de maneira a minimizar sugestionamentos e extrair o relato mais fiel possível à realidade dos fatos. Na pesquisa, observou-se que, mesmo diante da colheita dos depoimentos em curto espaço de tempo, significativas distorções puderam ser observadas. Assim, afirmou a pesquisadora: “O fato das testemunhas terem prestado depoimento logo na sequência após o evento presenciado poderia gerar uma sensação de que deveriam se lembrar de quase tudo, mas diversos fatores podem influenciar a percepção e a reelaboração oral daquele evento presenciado” (HENRIQUES, 2016).

112 “O passado se faz presente com a ajuda da memória. A riqueza, a variedade e a liberdade que

existem em nossa imaginação tornam possível a reconstrução de fatos passados tanto conscientes como inconscientes” (ÁVILA, 2013).

Por ser mais célere a prática do ato processual, a produção antecipada é relevante não somente para evitar o perecimento da prova, mas também para dar robustez à prova no momento da valoração.

Muitas vezes, a prova testemunhal é o único meio de prova capaz de promover o adequado esclarecimento do fato. Desprestigiar tal utilização seria o mesmo que impedir o acesso à justiça. Assim, a produção da prova testemunhal, em prazo razoável, objetiva a diminuição da influência do tempo na memória, minimizando os efeitos e tornando a prova mais sólida e confiável.

Pelas considerações traçadas, entende-se que a produção antecipada de provas possui relevância, não apenas como ferramenta para esclarecer os fatos para que os interessados tenham consciência sobre o direito subjetivo e possam a partir deste balizar a atuação em juízo e fora dele, mas também atua em favor da qualidade de cada um dos meios probatórios empregados, em razão da eficiência e celeridade proporcionadas pela antecipação.

Nas controvérsias que envolvem fatos, os meios de prova são imprescindíveis e, por isso, o sistema deve permitir meios aptos ao respectivo esclarecimento ou demonstração. Nesse contexto, a previsão do direito autônomo à prova é ampliação necessária ao canal de acesso à prova e contribui para a intensificação da qualidade dos meios de prova.

Não se deve olvidar que a falta de conhecimento dos jurisdicionados sobre os fatos resulta em dúvida sobre o direito. Nesse sentido, o processo entendido como instituição democrática deve ser utilizado para cumprir a função de instrumento de garantia e efetividade dos direitos.

No documento Direito autônomo à prova (páginas 56-61)