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a) Esta Tese propõe uma leitura comparada a ser conduzida em perspectiva sistêmica. O que isso quer dizer?

b) Primeiro de tudo: por leitura comparada, quero dizer que o estudo pretende fazer as obras e os períodos iluminarem-se e significarem-se mutuamente, sem querer, aqui, empreender uma busca pela continuidade de um momento no outro, nem pelas influências que o primeiro possa ter exercido no segundo, fornecendo “provas de parentesco”. Na verdade, o principal valor crítico considerado aqui será o da diferença. A investigação comparada possui a grande vantagem de ajudar na observação de um mesmo problema (neste caso, a modernização da cultura brasileira expressa principalmente em suas formas de articulação com a globalização e com as técnicas de massa) em diferentes contextos históricos e culturais. Cabe relembrar o que diz Tania Carvalhal em seu Literatura comparada (2006):

o exame dos modos de absorção ou transformação (como um texto ou um sistema incorpora elementos alheios ou os rejeita), permite que se observem os processos de assimilação criativa dos elementos, favorecendo não só o conhecimento da peculiaridade de cada texto, mas também o entendimento dos processos de produção literária. Entendido assim, o estudo comparado de literatura deixa de resumir-se em paralelismos binários movidos somente por “um ar de parecença” entre os elementos, mas compara com a finalidade de interpretar questões mais gerais das quais as obras ou procedimentos literários são manifestações concretas. Daí a necessidade de articular a investigação comparativista com o social, o político, o cultural, em suma, com a História num sentido abrangente. (2006, p. 85 - 86)

c) Para, no entanto, apostar na opção de articular o estudo de literatura com tantas esferas diferentes (o social, o político, o cultural, a História num sentido abrangente), isso só pode ser feito a partir de um método adequado de conjugação entre todas essas esferas. Qual a melhor maneira de proceder a essa articulação é uma questão comum entre os estudiosos da área, que passou a ser intensamente abordada a partir dos anos 1960, e especialmente pelos teóricos da História da Literatura. O interesse no assunto ganhou proeminência sobretudo a partir de Hans Robert Jauss e sua perspectiva baseada em uma “estética da recepção”. O

11 As reflexões deste capítulo são resultado de um artigo que produzi para a disciplina “Teorias da História da Literatura”, ministrada pela professora Maria Eunice Moreira, a quem agradeço muitíssimo. Esse mesmo artigo foi publicado no livro Escritas e leituras contemporâneas I - histórias da literatura, organizado pela própria professora, sob o título Historiografia literária: uma prática social sob o signo do historiador. O texto, aqui, apesar de em certas partes ser idêntico ao anterior, foi reformulado e atualizado e, em sua versão atual, considero-o mais organizado e adequado a cumprir as funções a que se propõe.

discurso de Jauss proferido na aula inaugural da Universidade de Constança, em 1967, com o título Literaturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft (A História da Literatura como Provocação à Ciência da Literatura), tornou-se um marco nos estudos literários ao intervir enfaticamente no debate entre a teoria formalista e a teoria marxista. Ao aceitar os avanços do formalismo, mas apontando suas deficiências (sobretudo no que diz respeito à falta de atenção dedicada à relação literatura-sociedade), e ao reprovar a teoria marxista por negar à arte uma história que lhe seja própria (o que a faz refém de uma noção de literatura enquanto reflexo dos estágios da organização social), Jauss começa a se preocupar com a forma de conhecimento histórico-literário que está sendo produzido pelos pressupostos tradicionais da historiografia literária e da crítica, apontando para a necessidade de reformular esses pressupostos, sobretudo a partir da consideração dos efeitos produzidos pelas obras nos leitores e nas sociedades. A estética da recepção, através de seu conceito central – os “horizontes de expectativa” (ou seja, as condições gerais de recepção de uma obra em determinado contexto, que ao pesquisador cabe tentar reconstruir) –, é a primeira teoria que irá se interessar de fato pelo papel dos leitores (e da circulação das obras) no processo de produção social do sentido.

No rastro dos caminhos abertos pelas novas abordagens a partir de Jauss, a proposta de pensar a literatura enquanto atividade humana, prática social, mas sem deixar de perceber suas formas próprias de funcionamento, ganhou ainda mais força nas ideias de alguns pensadores alemães – por exemplo: Hans Ulrich Gumbrecht e Siegfried Schmidt – que desenvolveram, a partir da década de 1980, as Teorias Construtivistas/Sistêmicas para o estudo da literatura. Pretendo, agora, debruçar-me um pouco sobre essas teorias, de maneira a desenvolver dois de seus aspectos principais:

1 – sua importância no sentido de pensar a sociedade como um todo composto de fragmentos heterogêneos, que não necessariamente respondem a uma espécie de “espírito histórico total” condicionante das partes;

2 – suas características, funcionamento e utilidade no sentido de construir modelos sistêmicos para o estudo de literatura.

c.1) No Brasil, uma das principais representantes da perspectiva sistêmica – e responsável por traduzir muitos dos autores alemães para o português – é a professora Heidrun Krieger Olinto, da PUC-Rio. Em seu texto Voracidade e velocidade (2003), a professora Olinto fala da possibilidade de usar os modelos sistêmicos que Niklas Luhmann elaborou para o estudo sociológico como ferramenta adequada para pensar também a

literatura: a novidade dos modelos de Luhmann, ela diz, “situa-se na radicalização de análises funcionais que dispensam pressupostos de estruturas globais subjacentes aos componentes sistêmicos parciais que as condicionam, ou seja, eles não comportam partes subordinadas a uma totalidade”. (OLINTO, 2003, p. 24).

Essa é a lógica das Teorias Sistêmicas. Mas o que isso quer dizer? O entendimento que me parece mais óbvio aponta na direção de uma conquista que considero importante: as diversas esferas da sociedade, os diversos sistemas que compõem uma sociedade em determinado momento não necessariamente apresentam estágios de “evolução” homogêneos que obedeçam a uma lógica histórica total – aquela que determina, através do todo, as características das partes. Para os estudos literários, essa passada teórica pode ajudar a libertar o olhar do pesquisador com inclinações sociológicas da tendência a ver a literatura como um espelho da sociedade, como um “reflexo dos estágios da organização social”. A literatura passa a ser, aqui, um sistema singular, com um esquema próprio de funcionamento e uma história também própria, sem que, no entanto, deixemos de pensá-la como um sistema articulado, em maior ou menor grau, a todos os outros e, portanto, integrando o sistema maior que se entende por “sociedade”.

Assim, um dos grandes avanços desse tipo de pensamento é justamente apontar as formas como os historiadores tendem a apresentar a História a partir de uma visão homogeneizadora, destruindo artificialmente a simultaneidade do heterogêneo (OLINTO, 2003, p. 25). Nas Teorias Sistêmicas, termos como multiplicidade, construção e contingência aparecem no debate como alternativas para superar olhares totalizantes sobre o fenômeno literário, já que a historiografia tradicional, ao tentar atribuir unidade à História, depende de uma noção de que “eventos de todas as esferas da vida que emergem em momentos cronológicos simultâneos representam processos consistentes e unitários, exibindo, portanto, marcas similares” (p. 25). O questionamento dessa concepção será um dos epicentros da proposta metodológica construtivista/sistêmica:

A ideia da coexistência do sincrônico e do dissincrônico (e não apenas a simultaneidade do diverso) invalida, por assim dizer, a ficção cronológica do momento histórico que deixava sua marca em todos os fenômenos simultâneos e que, segundo Jauss, estava presente no conceito de historicidade na literatura, e visível na ficção morfológica de uma série literária homogênea, em que todos os fenômenos sucessivos seguiam regularidades imanentes. (OLINTO, 2003, p. 26)

(...) um pequeno experimento realizado na universidade de Harvard. O historiador Sigmund Diamond tinha solicitado aos seus alunos a investigarem diferentes áreas da história americana e a periodizarem o curso dos eventos a partir de suas pesquisas. O resultado foi o seguinte: “One student specialized in political history,

another in history of literature, and so on (...), finally they came together and compared their notes. The result was that the periods which they had separately devised did not coincide12”. (KRACAUER, 1966, p. 68, apud OLINTO, 2003, p. 26)

Por isso, as relações estabelecidas neste trabalho entre a globalização, as mídias de massa e a cultura brasileira não pretendem buscar processos de espelhamento, dando a entender que todas avançam homogênea e simultaneamente de acordo com o curso único que a História propõe. Muito pelo contrário: estarão em questão também os descompassos, as dissonâncias, as heterogeneidades temporais entre cada um desses sistemas em cada momento – o que não exclui, no entanto, a constatação de que negociam entre eles, trocam possibilidades e influenciam-se, um no curso do outro, mutuamente.

c.2) O método sistêmico/construtivista tem consequências inclusive para a definição da tarefa da História Literária enquanto disciplina. Essa tarefa foi formulada por SCHMIDT (1996), um dos expoentes do método sistêmico/construtivista, como sendo a construção de “modelos da origem e da mudança de processos literários nos sistemas literários em sociedades em um momento particular pela especificação de condições de ação de sistemas de valores etc.”, tendo em vista que os “sistemas de valores” são pressupostos que validam a “ação dos agentes em papeis desenvolvidos pelo respectivo sistema literário” (p. 122). Cabe destacar que, ao usar o termo “agentes”, Schmidt não se refere apenas ao produtor de literatura, mas também ao leitor, ao crítico, ao editor e a todos os outros que assumam algum papel no funcionamento do sistema literário.

O que ocorre, portanto, na literatura, ao ser encarada com o olhar histórico da Teoria Sistêmica, são transformações nos sistemas de valores e normas e no sistema simbólico, dando movimentação ao consenso e à institucionalização através do processo de socialização dessas transformações (que às vezes ocorrem na forma de ruptura), levando-as (as transformações) a integrar os sistemas cognitivos dos indivíduos. É, portanto, o processo de socialização de valores e normas que não permite que o sistema seja “estável” – pelo contrário, ele é “dinâmico”. E, como todos os agentes (considerados aqui como indivíduos socializados em determinados papéis) e processos literários (incluindo-se os processos de valoração, normatização, canonização) são vistos nessa teoria como itens sócio-históricos, então o próprio sistema literário é entendido como um subsistema social e de relações sociais.

12

“Um estudante especializou-se em história política, outro em história da literatura, e assim por diante (…), até que se encontraram para comparar suas anotações. O resultado foi que as periodizações que conceberam separadamente não coincidiam”. (tradução minha)

Agentes funcionam em papéis sociais que podem ser vistos como instâncias que correlacionam indivíduo e sociedade. Por meio de papéis sociais, o indivíduo participa em vários sistemas sociais, como, por exemplo, na política, arte ou economia. Ações individuais são determinadas em sua preparação, em seu desempenho, em suas consequências e resultados por condições de ação culturais, econômicas, políticas e sociais, que são consciente e inconscientemente interpretadas e transformadas no domínio cognitivo do indivíduo. Ações são determinadas por sistemas de valores, normas e sistemas de normas (como, por exemplo, tradições), a mídia e o sistema simbólico (...), que são consensuais ou mesmo institucionalizados nos grupos sociais e internalizados nos sistemas cognitivos de indivíduos através de processos de socialização. Essas hipóteses implicam duas hipóteses adicionais de importância:

- atores (indivíduos), ações, cadeias de ações (processos) e sua organização em (sub)sistemas sociais são por definição itens sócio-históricos;

- subsistemas sociais, como, por exemplo, o sistema literário, estão integrados em um sistema abrangente chamado sociedade e estão interligados com todos os outros subsistemas sociais. (SCHMIDT, 1996, p. 122)

Essa mirada específica faz com que a literatura seja vista em relação direta com todos os outros subsistemas (das técnicas, da mídia, da política, da economia etc.). Além disso, permite observar que dentro do próprio subsistema social literatura opera um funcionamento sistematizado de várias dinâmicas, como a da produção, da crítica, dos eventos literários (saraus, feiras), da tradução, do consumo e difusão de cultura etc. Nesse sentido, assim como o grau maior ou menor de interligação e troca entre os subsistemas sociais faz com que transformações em outros subsistemas (mídia, economia, política) possam ecoar em grau maior ou menor no subsistema literatura (e vice-versa), assim também mudanças internas nos subsistemas que compõem o sistema literatura produzem ecos maiores ou menores entre si. É mais ou menos nesse sentido que nos aponta SCHMIDT (1996) ao referir-se às ideias de Claus-Michael Ort:

Ort defende um conceito de mudança literária como uma mudança social, isto é, como uma mudança nas estruturas e funções do sistema social literatura. Essa mudança deve ser descrita como um processo interativo multifacetado, com uma dimensão microssociológica, intermediária e macrossociológica. De acordo com essa concepção, história literária aparece como uma história complexa de relações entre sistemas. (1996, p. 109)

Ainda, julgo importante destacar que a Teoria Sistêmica para uma História da Literatura possui a grande qualidade de permitir uma abordagem que leve em conta as dinâmicas de forças sociais envolvidas nos processos de legitimação e socialização dos elementos que determinam ou condicionam a participação dos agentes no sistema literário (elementos como normas e valores, principalmente). Nesse sentido, um conceito que também é muito útil (quando se trata de pensar a dinâmica de forças no campo da cultura) é a ideia dos

“polissistemas” de cultura, do sociólogo, linguista e crítico literário israelense Itamar Even- Zohar.

d) A teoria de Even-Zohar, ao invés do construtivismo das Teorias Sistêmicas, é tributária direta do Formalismo e do Estruturalismo, voltando-se também para as relações entre culturas, o que inclui especialmente fenômenos de dominação, interferência e resistência (seja entre culturas nacionais, seja entre setores de uma mesma nação) – daí a atenção especial da Teoria Polissistêmica para a tradução e o sistema da literatura traduzida, que é considerado como um sistema ativo dentro do polissistema da cultura. Partindo de uma forma de pensamento que ele mesmo denomina “funcionalismo dinâmico”, podem-se entender os polissistemas de Even-Zohar como o esforço em perceber um sistema ao mesmo tempo sincrônica e diacronicamente, sem nunca considerá-lo completamente estático ou somente histórico.

Na visão polissistêmica, assim, a literatura (e o mesmo vale para a cultura como um todo) é concebida como um sistema que se constitui de outros sistemas – ou seja, “a system of various systems which intersect with each other and partly overlap, using concurrently different options, yet functioning as one structured whole, whose members are interdependent” (EVEN-ZOHAR, 1990, p. 11)13

. Mas é muito importante ter em vista que os polissistemas culturais são sistemas abertos: não há formas completamente estáveis que governem seu funcionamento. São redes dinâmicas formadas pelas relações estabelecidas interna e externamente. As fronteiras e limites, portanto, estão sempre sendo reestruturadas, num jogo de poder cultural em que (dentre outras coisas) a disputa pelo centro do sistema é o que o leva à constante transformação.

e) Ainda não é fácil, para mim, diferenciar com precisão a Teoria Construtivista/Sistêmica da Polissistêmica. Fiz uma pausa de dois dias nesta redação apenas para ler a respeito, mas minhas impressões iniciais não mudaram: apesar de suas influências imediatas serem diferentes (o Construtivismo e a Sociologia da Literatura, num caso; o Formalismo e o Estruturalismo, no outro) – o que lhes atribui pressupostos epistemológicos distintos –, as possibilidades metodológicas não diferem essencialmente, ao menos não na

13 “Um sistema de vários sistemas que se entrecruzam e sobrepõem em parte, usando opções concorrentemente diferentes, embora funcionando como um todo estruturado, cujos membros são interdependentes”.

perspectiva deste trabalho14. Mesmo assim, julgo bastante útil falar um pouco a respeito do que parecem ser as peculiaridades de cada uma, nem que seja para esclarecer melhor a própria natureza de minha pesquisa.

Tanto a Teoria Sistêmica/Construtivista (também conhecida por “Ciência Empírica da Literatura”, CEL) quanto a Teoria dos Polissistemas (TPS) se inserem no contexto maior das “teorias sistêmicas”, cujo propósito, como o nome já diz, é pensar a literatura como um sistema (uma instituição, um campo com regras próprias). As origens construtivistas da CEL fazem dela uma teoria preocupada com a constante construção e reconstrução de estruturas cognitivas através da interação dialética entre sujeito e objeto na aquisição do conhecimento, o que abre possibilidades para pensar a forma como os agentes no sistema literário se subjetivam e são subjetivados a partir da socialização das normas. Surge, assim, toda uma estrutura dominante de comportamento, partilhada socialmente, em relação à literatura, cujos movimentos de adesão e de recusa provocam dinamismo ao sistema. Além disso, como efeito, digamos assim, secundário – afora ajudar a esclarecer a existência de mecanismos de aquisição e produção de conhecimento literário pelos agentes no sistema literário –, as origens construtivistas da CEL me incitam a inserir esporadicamente em meu texto algumas reflexões sobre meu próprio processo de aquisição e produção de conhecimento neste trabalho.

Que é o construtivismo? Basicamente se pode dizer que é a ideia que sustenta que o indivíduo – tanto nos aspectos cognitivos e sociais do comportamento como nos afetivos – não é um mero produto do ambiente nem um simples resultado de suas disposições internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre esses dois fatores. Em consequência, segundo a posição construtivista, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mas, sim, uma construção do ser humano. Com que instrumentos a pessoa realiza tal

14 Fico mais tranquilo ao descobrir que, na tentativa de diferenciá-las, DIMIC (1993) não vai muito mais longe que eu: “they all define the area of their study and its specificity in homologous terms: they consider a similar range of phenomena as interrelated and therefore designated for description and interpretation (that is, the whole field of ‘literary life’ or of ‘the literary communication situation’); they postulate heuristic models (explicatory hypotheses) indebted to semiotics and the modern sociology of literature and are firmly based on concepts of dynamic and functional systems; and they profess a strong preference for empirical observation and verification, instead of speculation and metaphorical description. In the broadest sense they belong to those socially oriented schools which do not define literary and artistic works as aesthetic, free and unpredictable creations of inspired or gifted individuals, works which carry their permanent intrinsic values and meanings in themselves, but that accept them as products, with relative merits and functions which depend on many changing factors of social practices” (p. 151). Em português: “ambas definem sua área de estudos e sua especificidade de maneira homóloga: consideram uma gama similar de fenômenos como inter-relacionados e portanto destinados à descrição e interpretação (isto é, a totalidade do campo da ‘vida literária’, ou da ‘situação de comunicação literária’); postulam modelos heurísticos (hipóteses explicatórias) influenciados pela semiótica e pela moderna sociologia da literatura e são firmemente baseadas em conceitos de sistemas dinâmicos e funcionais; e professam forte preferência pela observação empírica e pela verificação, ao invés da especulação e descrição metafórica. No sentido geral, elas pertencem àquelas correntes sociologicamente orientadas que não definem a literatura e os trabalhos de arte como criações estéticas livres e imprevisíveis, produzidas por indivíduos talentosos, trabalhos que carregam em si seus valores e sentidos permanentes e intrínsecos, mas os aceitam como produtos, com méritos e funções relativas que dependem de uma série de fatores cambiantes de práticas sociais”.

construção? Fundamentalmente com os esquemas que já possui, isto é, com o que já construiu em sua relação com o meio que a rodeia. (CARRETERO, 2002, p. 10)

A Teoria dos Polissistemas, por sua vez, apareceu como proposta metodológica desde cedo, já na formulação inicial do projeto de execução desta pesquisa. Conheci os textos de Even-Zohar durante o meu curso de Mestrado (2014-2016), e acabaram funcionando como liga para uma série de ideias que eu vinha elaborando intuitiva e despretensiosamente a respeito do pop brasileiro. De fato, Even-Zohar presta bastante atenção ao contato entre culturas (não por acaso a TPS tornou-se popular nos estudos sobre literatura traduzida), e isso me soou bastante adequado para uma pesquisa que se propusesse a pensar os constantes posicionamentos e reposicionamentos da(s) cultura(s) brasileira(s) no contexto da integração/participação no esquema internacional da globalização e da cultura de massas. Conforme DIMIC (1993): “in a way which is very useful to comparative literature as a discipline, the PS deals with contacts and interferences with adjacent systems. These are either other literatures or cultures, or other symbolic representational systems, such as other

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