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4.2.1 O Estudo de Caso enquanto possibilidade de análise de uma realidade singular

A opção por um determinado método de pesquisa demanda a realização do levantamento de diferentes informações e conhecimentos que possam fornecer as bases necessárias à sua clara compreensão, para que, assim, torne-se viável a execução adequada da atividade investigativa a que se propõe. Ao decidirmos por trabalhar com apenas um curso de um campus da IES, e que esta seria a UFPE-CAA, consideramos alguns aspectos importantes que constituem a sua caracterização e que lhes são próprios e exclusivos, como os fatos de a instituição ser de caráter público e proveniente da elaboração e implementação de políticas públicas educacionais que garantem aos estudantes que dela dependem, uma série de benefícios, entre eles a gratuidade do ensino, a instalação da instituição no interior do estado e a oportunidade de ter acesso a diferentes tipos de auxílio financeiro, na forma de bolsas de manutenção acadêmica que colaboram com o ingresso, a permanência e a conclusão dos cursos pelos/as estudantes25. Elementos estes que só são possíveis de serem vistos, da maneira como se configuram e se materializam, em IES públicas e federais.

Diante destas questões, o Estudo de Caso se apresenta enquanto possibilidade de pesquisa que melhor se insere em nossa proposta investigativa, uma vez que sua intenção é estar voltada ao estudo de um fenômeno que assim se caracteriza por ser dotado de singularidades que possibilitam que este se destaque diante de seus semelhantes, como nos explica Stake (1982, p. 11):

Antes de mais nada, o pesquisador necessita especificar o caso a ser estudado, o que geralmente é uma tarefa difícil. O caso pode ser – um programa federal adaptado a certo local; um festival de música da escola-comunidade; um sindicato de professores. O que é e o que não é incluído no caso? Não me refiro ao que não é incluído na pesquisa, mas qual o limite que circunscreve o próprio caso? [...] Os limites, mais, talvez, do que as tendências centrais, na minha opinião merecem maior atenção, pois muito do significado do caso é encontrado em suas extremidades, tendo em vista a influência especialmente exercida por elementos circundantes, por seu contexto. Os limites são frequentemente variáveis e indistintos. O leitor precisa conhecê-los. A reflexão sobre os limites auxilia-nos a progredir na compreensão do caso.

25 Para conhecer as políticas de apoio acadêmico aos estudantes da UFPE-CAA, acessar o site:

Este método tem sido útil há tempos às diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, a Educação, “a Psicologia, a Psicanálise, a Sociologia, a Ciência Política, o Direito, a Administração, entre outras” (MAZZOTTI, 2006, p. 640) tanto para fins exclusivos de pesquisa, produção de conhecimentos e compartilhamento de experiências, quanto para desenvolver atividades de ensino e consultoria. No entanto, tem se fixado uma confusão, no que concerne ao modo como identificar os momentos e as situações em que se tem uma possibilidade de caso como objeto de estudo. O referido autor explica que o estudo de caso vai além da escolha por uma unidade ou poucas unidades de investigação, um grupo de pessoas ou uma instituição, como únicos fatores indicadores da opção pelo método, sendo preciso levar em consideração outras variáveis. Ele também pode ser de uso qualitativo ou quantitativo e independe de seus instrumentos, sendo repleto deles.

Sendo assim, o que determina se um estudo vem a ser de caso ou não é o fato de o objeto de estudo dispor de acontecimentos, fenômenos, elementos, sejam advindos de questões de ordem burocrática que fazem parte do contexto pesquisado ou referente a um grupo de pessoas ou, ainda, de apenas um sujeito. Estes elementos se configuram na realidade do campo de pesquisa como marcas próprias. É preciso que o/a pesquisador/a tenha contato com estas particularidades para identificá-las, conhecê-las, compará-las com outras realidades de outros contextos e casos, para, a partir de então, debruçar-se sobre o detalhamento dos pontos que a concebem, de seus motivos, dos fatores de influência e interferência que incidem sobre elas, num trabalho que o autor considera exaustivo e rico em detalhes e informações relevantes.

Para Mazzotti (2006), “um caso é uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas”, deste modo, a análise de todas as partes que constituem o caso, é que vai fazer com que se sobressaia o alvo da pesquisa, aquilo que desperta a atenção e a curiosidade do pesquisador. O autor afirma que o método do estudo de caso pode ter três classificações distintas, que vão variar de acordo com a natureza de cada caso, sendo eles intrínseco, instrumental e coletivo. Além destes, existem outros, como o estudo de caso descritivo e o explanatório (YIN, 2001)26.

26 Para mais informações, realizar leitura do texto “Estudo de caso: planejamento e métodos”, de Robert K.

Yin (2001). Disponível em:

http://www.fkb.br/biblioteca/livrosadm/Estudo%20de%20Caso%20Planejamento%20e%20M%20- %20Robert%20K.%20Yin.pdf

Sobre as finalidades de cada tipo de caso citado, Mazzotti (2006, p. 641 e 642) descreve que:

No estudo de caso intrínseco busca-se melhor compreensão de um caso apenas pelo interesse despertado por aquele caso particular. [...] No estudo de caso instrumental, ao contrário, o interesse no caso deve-se à crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode servir para fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização amplamente aceita, apresentando um caso que nela não se encaixa. No estudo de caso coletivo o pesquisador estuda conjuntamente alguns casos para investigar um dado fenômeno, podendo ser visto como um estudo instrumental estendido a vários casos. Os casos individuais que se incluem no conjunto estudado podem ou não ser selecionados por manifestar alguma característica comum. Eles são escolhidos porque se acredita que seu estudo permitirá melhor compreensão, ou mesmo melhor teorização, sobre um conjunto ainda maior de casos.

Trazendo estas explicações para o nosso contexto de investigação, entendemos que a nossa pesquisa circunscreve-se ao estudo de caso do tipo instrumental, uma vez que partimos do pressuposto de que, a partir do estudo sobre o modo como se dão as repercussões do ENADE no interior da UFPE-CAA, poderemos dar início a identificação das questões que apontam as debilidades da política do ENADE ou que conduzem a sua não materialização ou, ainda, a materialização incompleta/dificultosa, conduzindo ao insucesso da política na sua função de contribuir com a manutenção ou a melhoria da qualidade do ensino superior. É bom deixar claro que não pretendemos com isto promover generalizações ou apontar “verdades”27, mas propor possibilidades de reflexão que possam servir de subsídio para estudos posteriores e transformações políticas/da política. É considerado pequeno, ainda, o número de pesquisas que se voltam ao levantamento de informações sobre o que acontece no interior das IES com os dados gerados a partir da participação dos estudantes no ENADE, para saber em que patamar se encontra o nível de consideração das políticas de avaliação de larga escala pelas

27 Sobre o conceito de verdade na ciência, Ghedin (2008, p. 38) nos explica que: “A ciência moderna sempre

pretendeu arvora-se em portadora da verdade, aspirando a ser a guardiã do caminho da salvação humana, a redentora do homem como senhor do universo. As ciências humanas, por sua vez, estiveram sempre impregnadas da racionalidade que serviu de base aos fundadores da ciência moderna, os quais apoiados em métodos e lógicas decorrentes das ciências da natureza, avalizaram epistemologias que pressupõem a crença na realidade exterior, separada do olhar e sentir humanos, acessível pelo bom uso da razão, pela neutralidade científica, pela objetividade, pelos cálculos e análises quantitativos, na busca de postulados verificáveis, de relações causais previsíveis. Assim, a ciência teria o poder de, com maior ou menor rigor, dotar o homem da possibilidade de descobrir a verdade do mundo.”

instituições formadoras. Neste sentido, o nosso estudo de caso é visto por nós como uma oportunidade de dar os primeiros passos na elaboração e propagação de discussões que trazem à tona a temática dos efeitos da implantação de políticas de avaliação global da educação superior, de maneira especial, no contexto do agreste pernambucano. Nesta tentativa, Mazzotti (2006, p. 644) nos dá as bases para o fortalecimento da nossa opção metodológica quando nos explica que:

[...] os estudos de caso são também usados como etapas exploratórias na pesquisa de fenômenos pouco investigados ou como estudos-piloto para orientar o design de estudos múltiplos. Note-se que, aqui, aparece um outro critério que justifica a escolha do estudo de caso como abordagem adequada de um problema de pesquisa: tratar-se de fenômeno pouco investigado, o qual exige estudo aprofundado de poucos casos, que leve à identificação de categorias de observação ou à geração de hipóteses para estudos posteriores.

Concordando com o que vem sendo descrito, Yin (2001, p. 22) traz mais esclarecimentos sobre o que, de fato, representa o estudo de caso, quando afirma que este método de pesquisa não se encerra apenas no procedimento para coleta de dados, mas é “uma estratégia de pesquisa abrangente”, dotada de um planejamento específico, próprio, que envolve desde a organização dos procedimentos iniciais que fazem parte do princípio da pesquisa, os procedimentos de coletas de dados e a análise destes dados.