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MÉTODO

O presente estudo intitulado “Homofobia Intra grupal: a reprodução de discursos e práticas heteronormativos nos grupos gays” busca explorar a homofobia entre e dentro dos grupos gays. Investigar-se-á a reprodução de discursos e práticas heternormativos de homens gays com relação a outros homens gays.

Trata-se de um estudo quantitativo transversal e exploratório.

2.1 Participantes

O estudo foi realizado com 254 participantes maiores de 18 (dezoito) anos de idade, residentes no Brasil, auto identificados homens homossexuais.

2.2 Procedimentos e Considerações Éticas

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário de Aracaju da Universidade Federal de Sergipe através do parecer consubstanciado Nº 1.365.345 conforme Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Após a aprovação, foi construído seu formulário On-line através da plataforma Google Docs, que foi disponibilizado virtualmente anexado à autorização prévia do participante que não constou com sua identificação. Para a participação da pesquisa, o candidato à participante da amostra teve que concordar em participar da pesquisa através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para recrutar os participantes da pesquisa, esta foi divulgada amplamente nas redes sociais através de

links disponíveis com um texto-convite. O texto conteve a informação da duração da pesquisa, que é de 20 minutos (Ver anexo I).

Para ser considerado participante da pesquisa, o candidato teve que corresponder aos critérios de inclusão, sendo estes: ser maiores de 18 (dezoito) anos de idade, residentes no Brasil, auto identificados homossexuais. Considerando a impossibilidade de realizar cálculo amostral por indeterminação do total da população estudada, foi utilizado o critério item/sujeito (número de itens da maior escala por 10). Calculou-se que era necessário obter 270 participantes com todas as respostas válidas. Responderam ao formulário da pesquisa 312 participantes entre os dias 21 de dezembro de 2015 e 13 de janeiro de 2016. Do total de respondentes, 258 correspondiam aos critérios de inclusão, sendo que houve 3 participantes com respostas duplicadas, por tanto, a pesquisa contou com 255 participantes. Porém, ao analisar a idade dos participantes, foi necessário excluir um participantes cuja idade – 65 anos – estava distante dos demais participantes, podendo comprometer a análise dos resultados.

2.3 Instrumentos

Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário que avaliou cinco dimensões referentes aos participantes da pesquisa (Ver anexo II):

1) Características psicossociais: mapear-se-á o perfil sociodemográfico, aspectos sexuais e afetivos como comportamento sexual (Ativo, passivo, versátil/flexível), histórico de relacionamento, dentre outros.

2) Representação acerca das identidades gays: foram apresentadas 8 categorias de identidades gays e foram solicitadas cinco primeiras palavras que vêm a mente do participante quando pensam estas categorias.

3) Relacionamento Intragrupal. Para isso, foi construída uma tabela contendo diversas características de gays (fenótipo, nível de instrução, beleza, tipologia grupal, comportamento sexual) que foram correlacionadas com o interesse do participante quanto ao tipo de relacionamento (amizade, relacionamento sério, sexo) que se estabelece com outros gays que possuem tais características. O participante podia não marcar nenhum item ou marcar mais de um item.

4) Análise psicométrica da experiência da homossexualidade. Para isso, foram utilizados dois instrumentos de escalas:

a) Escala de Mensuração da Necessidade Individual de Identificação “Need for identification”: esta escala procura investigar as diferenças individuais na propensão para se identificar com grupos sociais, por meio das crenças dos indivíduos sobre um grupo se tornar autoreferencial e autodefinidor das características dos sujeitos que o integra. É uma escala Likert composta pelos pontos “Concordo totalmente”, “Concordo na maior parte”, “Nem concordo, nem discordo”, “Discordo na maior parte”, “Discordo totalmente”, sendo o Alpha de Cronbach de 0.76, composto por uma estrutura bifatorial de 6 itens que avaliam a autodefinição do sujeito e 5 itens que acessam questões relativas ao pertencimento em grupos (Mayhew, Gardner & Achkanasy, 2010).

b) Escala de Mensuração da Homofobia Internalizada de Ross e Rosser (1996): esta escala procura medir a homofobia internalizada de gays por meio de quatro dimensões: identificação pública como sendo gay, percepção do estigma associado ao ser gay, grau de conforto social com outros gays, crenças em relação à aceitação religiosa ou moral da homossexualidade. Trata-se de uma escala de tipo Likert composta por 26 itens. Cada item é avaliado pelos pontos “Discordo totalmente”, “Discordo”, “Concordo”, “Concordo totalmente”, sendo o Alpha de Cronbach de 0,74,

composto por uma estrutura bifatorial de 19 itens que avaliam a percepção interna do estigma associado à homossexualidade e 7 itens que avaliam a percepção externa do estigma associado à homossexualidade (Pereira & Leal, 2005).

Para a amostra desse estudo, o Alpha de Cronbach foi de 0,81, sendo que por subescala 0,79 de interno e 0,84 de externo.

5) Pertencimento ao grupo gay: foi questionado com qual grupo o participante se identifica e se sente pertencido.

Por fim, foi dado espaço para que os participantes escrevam abertamente sobre a vivência da homofobia e o pertencimento ao grupo gay. Tal espaço era incentivado pela seguinte pergunta disparadora: “Como é ser gay na ‘comunidade’ gay?”

2.4 Procedimentos de Análise dos Dados

Os dados coletados foram analisados através do Software SPSS Versão 20. Foram construídas inicialmente 6 (seis) variáveis de acordo com itens do formulário, sendo eles: dois índices de Homofobia internalizada – homofobia interna e homofobia externa; dois índices da necessidade de identificação – pertencimento e autodefinição; o nível de masculinidade/feminilidade, construído através da escala de masculinidade/feminilidade a qual tinha os índices entre 0 (masculino) e 10 (feminino), sendo que de 0 a 4, o participante foi considerado masculino, 5 foi considerado neutro e de 6 a 10 foi considerado feminino. Por fim, foi construída a variável nível de abertura da sexualidade.

Após a construção das variáveis acima mencionadas, foi construído um mapa dos perfis dos participantes a partir das informações sociodemográficas, que consiste na

primeira parte da análise descritiva deste estudo. A segunda parte dessa análise foi realizada com a descrição das representações acerca das identidades gays. A fim de compreender as formas de construção dos grupos gays a partir de estereótipos e os discursos que operam na hierarquização desses grupos sociais, as palavras evocadas nesta sessão do formulário foram avaliadas quanto suas frequências e foi construído um quadro das palavras com maiores frequências e a partir do sentido destas palavras foi construído uma descrição para cada identidade. O conjunto das palavras evocadas também foi categorizado entre evocações positivas, negativas e neutras. Para isso, utilizou-se de dois juizes para a qualificação das 5 palavras evocadas para cada variável. Por fim, para investigar as conseqüências da hierarquização para os grupos gays no que se refere às relações sociais, como amizade, relações sexuais casuais e relacionamentos estáveis, foi construído a analise descritiva dos tipos de relacionamento para cada identidade gay e também para as variáveis afeminado e discreto.

Posteriormente, foram feitas as análises bivariáveis. Inicialmente, as análises trataram-se das comparações de médias entre os grupos das variáveis desta pesquisa. Para isso, foram usados dois testes: t-students para amostras independentes e ANOVA one-way com o teste post-hoc de Tukey. O primeiro foi utilizado quando objetivava-se comparar a média entre dois grupos para os fatores de cada Escala utilizada nesta pesquisa – Escala da Necessidade Individual de Identificação e Escala de Homofobia Internalizada, enquanto que o segundo teste foi utilizado quando objetivava-se comparar a média de três ou mais grupos para os fatores de cada escala. Ambos testes possibilitaram avaliar a relação entre o nível de pertencimento e reconhecimento da identidade gay bem como a internalização da homofobia com o discurso acerca das identidades gays bem como os relacionamentos estabelecidos entre gays.

A fim de compreender que aspectos da experiência da homossexualidade estão relacionados com a reprodução do preconceito homofóbico entre gays tanto no discurso quanto nas práticas, utilizou-se do Teste de Associação Qui-Quadrado e o Correlação de Pearson. O primeiro buscou avaliar a existência da associação entre as variáveis que compõem a experiência da homossexualidade – nível de abertura da sexualidade, nível de masculinidade/feminilidade, posição sexual e identificação com grupos gays – e as evocações acerca das identidades gays bem como os tipos de relacionamentos estabelecidos com cada identidade gay. O segundo buscou avaliar a correlação – se positiva ou negativa – entre estas mesmas variáveis.

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