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Pinheiro-bravo

5.3.3. Método III – Estimativa Bottom-up

Na última abordagem consistiu em quantificar o total de óleos alimentares usados recolhidos dos oleões, em cada um dos Municípios da Região, assumindo que toda a quantidade recolhida no oleão representa apenas o setor doméstico. De referir, que a informação das quantidades recolhidas foi gentilmente fornecidas pelos responsáveis da área do ambiente de cada Município. A Tabela 33, indica a informação das quantidades de OAU fornecidas pelos diversos Municípios.

108 De acordo com os dados apresentados na Tabela 33, com as quantidades de OAU recolhidas em cada município, verifica-se que as quantidades estimadas pelos métodos I e II, diferem muito das verificadas através da abordagem bottom-up. Se tivermos por base de que cada pessoa em média consome cerca de 23 kg de óleos vegetais por ano e que desses, 45%, se torna resíduo, através deste método, pode-se constatar que tem de existir uma maior sensibilização à população e aos municípios para a valorização deste resíduo. A diferença é muito significativa entre os cerca de 9 ton/ano recolhidos para os 2 202,7 ton/ano no método II e 2 956,6 ton/ano do método I. No setor HORECA, não foi possível fazer esta abordagem devido ao universo enorme de estabelecimentos.

Tabela 33 - Determinação da quantidade de resíduos de OAU na Região de Leiria pelo método III

Âmbito Geográfico OAU recolhido [kg] 2011 OAU recolhido [kg] 2012 OAU recolhido [kg] 2013 OAU recolhido [kg] 2014 OAU recolhido [kg] 2015 Município Alvaiázere a 1 835 2 296,6 1 936 b Município Ansião a a a a 1 249,9 Município Batalha a a a a 155

Município Castanheira de Pera a 480,5 b b b

Município Figueiró dos Vinhos

a 1 024 667 627 b

Município Leiria a a 1 010 3 034 7 411

Município Marinha Grande c c c c c

Município Pedrógão Grande 1 779 345 881 339 231,4d

Município Pombal a a a 3 381 a

Município Porto de Mós a a a a a

NUTS III Região de Leiria 1 779 3 684,5 4 854,6 9 317 9 047,32

Nota: a O Município não tem dados referentes ao ano; b A empresa de recolha não forneceu dados ao Município; c Município não tem recolha, d Dados referentes aos primeiros 4 meses do ano.

5.4. Análise de resultados

Através dos dados obtidos, é possível criar um método para analisar se a Região é autossuficiente em termos de produção de biocombustíveis, de modo a poderem ser incorporados nos combustíveis tradicionais da região. Como biocombustíveis, apenas se

109 considerou o bioetanol a partir da BFR, para incorporação na gasolina e o biodiesel a partir de OAU, para a incorporação no diesel.

A conversão de biomassa florestal em bioetanol foi baseada no método proposto por Demirbas (2005). Este método utiliza valores típicos dos processos de hidrólise química com ácido concentrado seguido de fermentação em separado. A Tabela 34 apresenta as composições típicas de hemicelulose e celulose em eucalipto e pinheiro.

Tabela 34 - Composição de hemicelulose e celulose de eucalipto e pinheiro (adaptado de (Hamelinck et al.,

2005)). Eucalipto Pinheiro Celulose Glicose [%] 49,5 44,5 Hemicelulose Xilose [%] 10,73 6,3 Arabinose [%] 0,31 1,6 Galactose [%] 0,76 2,56 Manose [%] 1,27 11,43

Através da composição da biomassa, foi elaborada a Tabela 35, onde é efetuada a conversão de biomassa em bioetanol, segundo Demirbas (2005) e Hamelinck et al. (2005). Verifica-se que seria possível obter uma quantidade de 4 785,53 toneladas por ano de bioetanol a partir de BFR.

No sentido de determinar as quantidades de biocombustíveis a serem incorporados, consultou-se novamente a base de dados do INE, de forma a obter o consumo estimado de combustíveis na região. Os últimos dados obtidos, fazem referência ao ano de 2014, como tal, utilizou-se o ano de 2014, como o ano de referência para a incorporação de biocombustíveis. O decreto-lei nº 117/2010, de 25 de Outubro define como obrigatório a incorporação de 7 %, de biocombustíveis, em teor energético. Sendo que no caso da gasolina existe a obrigatoriedade de incorporar 2,5%, em teor energético, de biocombustíveis substitutos de gasolina, a partir de 2015. A Norma Europeia EN 590, delimita o valor de biodiesel no diesel, em volume de 7% e de acordo com a Entidade Nacional para os Mercados Combustíveis (ENMC), existe uma margem de segurança, em que o seu valor limite é de 6,75%, em volume.

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Tabela 35 - Conversão de BFR em bioetanol, a partir de eucalipto e pinheiro-bravo na Região de Leiria.

Eucalipto Pinheiro Bravo

Quantidade BFR [ton] 12 154,05 15 935,53

Conteúdo de celulose [ton] 6 016,29a 7 091,31a

Conversão celulose e eficiência recuperação [%]

76b 76b

Rendimento estequiométrico do etanol [%]

51b 51b

Rendimento da fermentação [%] 75b 75b

Quantidade de etanol convertido da celulose [ton]

1 748,92 2 061,14

Conteúdo de xilose [ton] 1 304,13a 765,70a

Conteúdo de arabinose [ton] 37,68a 194,46a

Conteúdo de galactose [ton] 92,37a 311,14a

Conteúdo de manose [ton] 154,36a 1 389,21a

Conteúdo de hemicelulose [ton] 1 588,53 2 660,52

Conversão hemicelulose e eficiência recuperação [%]

90b 90b

Rendimento estequiométrico do etanol [%]

51b 51b

Rendimento da fermentação [%] 50b 50b

Quantidade de etanol convertido da hemicelulose [ton]

364,57 610,59

Quantidade total etanol convertido [ton] 2 113,49 2 672,03

Quantidade total etanol Região de Leiria [ton]

4 785,53 -

Nota: a Resultado obtido da conversão de BFR em celulose e hemicelulose, segundo Hamelinck et al. (2005), b Valores de referência, segundo Demirbas (2005).

De acordo com a legislação em vigor e normas de qualidade relativas a combustíveis, os valores utilizados para a determinação dos volumes a serem incorporados de biocombustíveis foram, de 6,75% (V/V) para o biodiesel e de 3,76 % (V/V) para o bioetanol. Para a conversão da quantidade em volume em bioetanol necessário, foram utilizados os dados dos teores energéticos de combustíveis do anexo II, do decreto-lei nº 117/2010, de 25 de Outubro. Considerou-se a quantidade de biodiesel suscetível de ser incorporada, como a soma das quantidades obtidas no método Bottom-up, para o setor doméstico e as quantidades teóricas do setor HORECA, ou seja, de 9,047 toneladas para doméstico e 1 016,5 para o HORECA. O rendimento da reação de transesterificação considerado foi de 96% e a massa volúmica de biodiesel como sendo de 0,900 kg/l. Os resultados finais da incorporação de biodiesel e bioetanol em combustíveis, na Região de Leiria, estão descritos na Tabela 36.

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Tabela 36 - Resultados da incorporação de biocombustíveis na Região de Leiria.

Consumo gasolina 32 869,31 [m3] Consumo gasóleo

rodoviário 206 064,47 [m3] Bioetanol necessário para cumprimento legal [Procura] 1 234,50 [m3] Biodiesel necessário para cumprimento legal [Procura] 13 909,35 [m3] Bioetanol teórico produzido [Oferta] 4 785,53 [m3] Biodiesel teórico produzido [Oferta] 886,07 [m3]

Autossuficiência Sim Oferta> Procura Autossuficiência Não Procura> Oferta

Verifica-se que para o bioetanol, a Região de Leiria, seria autossuficiente caso tivesse uma unidade de produção com a capacidade instalada para a produção definida, com a oferta a ser superior à procura em 4 vezes. Sendo que para o biodiesel, a região apenas conseguiria satisfazer cerca de 6% do consumo estimado de biodiesel incorporado. Caso houvesse a valorização total de OAU, tendo em conta os pressupostos adotados dos métodos I e II, de quantificação dos OAU, a oferta corresponderia a cerca de 25 e 20%, respetivamente da procura na região.

5.5. Discussão

A Região de Leiria é composta por uma área de floresta muito extensa, onde podem ser aproveitadas as matérias-primas que constituem essa área. De facto, verifica-se que é possível utilizar os recursos da área de floresta, sem colocar em causa a sua sustentabilidade e múltiplos usos. Através da análise do recurso, verifica-se que a procura excede em 4 vezes a oferta, que neste caso é a quantidade de combustível, comercializado na região. No entanto, os valores de BFR são muito conservadores pois só foram quantificadas as áreas onde o Pinheiro-bravo e o Eucalipto são dominantes, as restantes áreas que não foram quantificadas também são passíveis de ser utilizadas para a produção de biocombustíveis, bem como para outros fins energéticos.

Para o caso dos óleos alimentares usados, verifica-se que existe uma grande carência deste recurso, pois o recurso só satisfaz aproximadamente 6% do consumo. Também se verifica uma grande discrepância do que era teoricamente possível de ser considerado resíduo para o que é realmente verificado através da recolha dos oleões. Caso se tivesse em conta os valores teóricos, 20 a 25% da oferta de biodiesel poderia ser proveniente desta fonte.

112 Contudo, é expectável que com a implementação de medidas mais rígidas no âmbito dos resíduos e com uma maior sensibilização das pessoas, que estes valores se aproximem dos valores teóricos e assim ir de encontro para a autossuficiência da região.

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