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Método de Monte Carlo Reverso - MCR

Um dos maiores obstáculos em se trabalhar com materiais amorfos é a falta de um modelo estrutural para os mesmos, o que é importante pois as propriedades físicas do material estão relacionadas com sua estrutura atômica. Para o caso de materiais cristalinos existem técnicas que refinam modelos estruturais baseadas em dados experimentais, como o método de Rietveld [57, 58, 59]. Para materiais não cristalinos, como vidros, polímeros e líquidos, alguns métodos de modelagem estrutural vêm sendo desenvolvidos [31, 32]. Um desses métodos é a modelagem pelo método de Monte Carlo Reverso (MCR) [31, 32, 60, 61], em que é possível testar modelos estruturais tridimensionais para materiais não cristalinos utilizando dados experimentais ligados às estruturas destes (dados de difração de nêutrons, raios x ou XAFS como dados de entrada para as simulações). Estes dados podem ser usados de forma combinada nas simulações afim de melhorar o ajuste do modelo estrutural com os dados experimentais. A ideia central de MCR é criar uma estrutura tridimensional, geralmente cúbica (com lado L), dentro da qual estão contidos N pontos matemáticos, representando as posições atômicas de N "átomos", em quantidade tal que reproduzem a composição química da liga que se pretende modelar. A densidade corresponde à densidade da liga e outras informações podem ser usadas nas simulações, tais como números de coordenação já conhecidos, ângulos entre ligações, distâncias interatômicas, e qualquer outra informação estrutural já disponível. Esses dados experimentais são utilizados afim de gerar vínculos nas simulações, contribuindo para que as mesmas tenham realidade física.

Portanto, o objetivo do método de MCR é ajustar a posição dos N pontos de forma que estes se aproximem da configuração atômica real do material em estudo. Para a realização deste ajuste são feitas simulações em que são comparados os dados teóricos (calculados na simulação) e os dados experimentais.

A seguir é feita uma descrição do algoritmo utilizado no método de Monte Carlo Reverso para o caso em que se usa dados de difração de raios x (o fator de estrutura total S(K)) e EXAFS (função χij(k), proveniente de uma medida na borda de absorção do átomo do tipoi).

1. As simulações iniciam criando uma configuração inicial com condições de contorno periódicas, onde é gerada uma estrutura tridimensional (caixa cúbica de lado L) com N pontos matemáticos em seu interior, que representam as posições dos N átomos determinadas aleatoriamente. A composição corresponde, no nosso caso, a 80% de átomos de Se e 20% de átomos de P. Uma densidade ρ é utilizada nesse ponto, e ela

será refinada durante o processo, conforme discutido depois. Outro ponto importante é que os N átomos devem ser separados de modo a haver distâncias mínimas rminij entre eles por razões físicas. Após isso ser feito, passamos ao próximo passo.

2. Calcula-se as funções de distribuição radial parciais da configuração da caixa de simulação mediante intervalo de distância radiais entrer er+∆r, como desenhado na figura 2.1, a partir de um átomo central do tipoi.

3. Por meio de transformada de Fourier calcula-se os fatores de estrutura parciaisSij,velhoMCR (K), ou seja, 5. Por meio da função χij, apresentada na equação 2.15, é possível obter o sinal EXAFS

χij,velhoMCR (k)da configuração do modelo, mediante

χi,velhoMCR (k) = S

6. Calculam-se os parâmetrosψS,velha2 eψχ,velha2 , mediante

ψ2S,velha =

onde a soma é realizada sobre os m e q pontos experimentais de S(K) e χi(k), res-pectivamente. Os parâmetros ΛS e Λχ estão relacionados ao erro experimental e à qualidade da medida experimental. Após isso calcula-seψ2velha, da seguinte maneira:

ψ2velha =ψ2S,velha+ψχ,velha2 . (2.28)

O fatorψ2χ,velha só é calculado quando os dados EXAFS são inclusos na simulação.

7. De forma aleatória é sorteado um átomo da estrutura tridimensional criada. Este átomo é movido para uma nova posição, escolhida também de forma aleatória. São calculados as novas funções de distribuição radial parciais gij,novaMCR (r), o novo fator de estrutura total SnovoMCR(K) e também o novo sinal EXAFS χi,novoMCR(k), de modo a obter os parâmetrosψ2S,nova eψ2χ,nova que correspondem a essa nova configuração. Eles são calculados por

Por fim, determina-seψnova2 para a nova configuração, mediante

ψnova2 =ψ2S,nova+ψ2χ,nova. (2.31)

8. Se ψ2nova < ψ2velha, o movimento é aceito, então a ”nova” configuração substitui a ”ve-lha” configuração. Seψ2nova > ψ2velha o movimento é aceito seguindo a probabilidade determinada pore[−(ψnova2 ψ2velha)/2]. Para isso será sorteado um número ξ no intervalo 0≤ξ <1. Caso o númeroξ sorteado seja maior quee[−(ψnova2 ψ2velha)/2], o movimento é recusado, caso o númeroξ seja menor ou igual o movimento é aceito. Com isso, faz-se gij,velha(r) = gij,nova(r).

9. Repete-se o procedimento desde o passo 7, até que um valor estacionário de ψ2 seja atingido.

Ao se obter uma simulação aceitável as funçõesgijMCR(r)são conhecidas para uma estrutura tridimensional que simula o materíal em estudo. A partir destas funções pode-se obter os números médios de coordenação, as distâncias interatômicas médias, as funções de distribuição de ângulos entre ligaçõesΘijk(cosθ), e outros dados relevantes.

Capítulo 3

Procedimento Experimental

Neste capítulo é apresentada uma descrição dos procedimentos experimentais utili-zados durante este trabalho.

3.1 Síntese do Material

Para o desenvolvimento deste trabalho a liga amorfa de Se8P2 foi produzida pela técnica de Moagem Mecânica. Para isso utilizou-se pós dos reagentes de Se (Aldrich, pureza maior que 99,99%) e P (Vetec, pureza maior que 99,95%). Os reagentes em pó foram depositados em vasos de aço com mais 11 esferas de aço com diâmetro de 10 mm, e a razão entre as massas das esferas e a massa dos reagentes utilizados foi de 8:1. Em seguida os vasos foram lacrados em atmosfera de argônio, para evitar contaminação por oxigênio ou nitrogênio e, então, foram colocados em um moinho planetário Fritsch Pulverisette 7 Premium Line (vide figura 3.1(a)). A amostra foi mantida no moinho durante 15 horas, sendo que eram feitos 20 minutos de moagem e 15 minutos de repouso, utilizando a velocidade de 400 rpm. As ligas foram formadas devido à transferência de energia cinética da esferas de aço para os reagentes em pó durante as colisões que ocorrem entre elas (vide figura 3.1(b)). Para verificar a evolução da formação da liga foram feitas medidas de difração de raios x convencionais, como é descrito na seção 3.2.

(a) (b)

Reagentes em pó

Figura 3.1: (a) Foto do moinho planetário Fritsch Pulverisette 7 Premium e (b) esquema de moagem dos reagentes em pó.

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