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Segundo Santaella (2001, p. 148), o método de pesquisa inclui procedimentos, técnicas e instrumentos, mas não se confunde com eles, pois estes são partes do método. O método é “(...) a elaboração consciente e organizada dos diversos procedimentos que nos orientam para realizar o ato reflexivo, isto é, a operação discursiva de nossa mente” (RUDIO, 1992 apud SANTAELLA, 2001, p. 133).

Amparando-nos em BASTOS (1999) apud LAKATOS e MARCONI (1992), entendemos que este trabalho baseia-se nos métodos dedutivo (parte de premissas gerais para predizer fenômenos particulares) e dialético (problematiza o conhecimento “dentro de um contínuo em constantes mudanças” e de inacabamento, “que contém um todo que abarca contrários em incessantes conflitos”), buscando uma aproximação de cunho construcionista49, isto é, ampla, situando o objeto como cultural e historicamente situado; focada nos sujeitos sem perder de vista seu contexto, seu entorno. Já em termos de técnica, lançou-se mão das entrevistas em profundidade, de modo a visar uma abordagem qualitativa.

Em se tratando de midiatização e consumo, as técnicas que são utilizadas pelos pesquisadores variam. Não se pode dizer que há um método ou técnica “consagrada” para esta temática (JACKS e ESCOSTEGUY, 2005), isto é, que a tradição da pesquisa focada neste recorte já tenha consolidado alguma técnica. Inclusive, essa é uma das críticas comumente dirigidas a quem escolhe pousar empiricamente nestas paragens.

Os mesmos críticos, contudo, não têm resposta para tal problema. Há que se ponderar neste particular: por um lado, é bem verdade que se torna mais difícil aproximar-se e/ou tentar aferir algum tipo de tangibilidade a fenômenos cujo desenvolvimento e “produto final” se encontram prioritariamente no indivíduo, no âmbito dos seus processos mentais, mesmo que ele os materialize socialmente e isso se torne mais visível na coletividade. Santaella (2001) recorda-nos que o grau de precisão das teorias é maior nas ciências naturais do que nas sociais e psicológicas, sendo menor ainda nas Humanidades e chegando ao ápice da imprecisão nas Artes. Por outro lado, os

49 O construcionismo é fundado por Scheler e Manheim; tem encontrado espaço nos estudos da comunicação desde a segunda metade do século XX (SANTAELLA, 2001).

desafios específicos presentes no percurso metodológico de cada área – e nas suas subdivisões internas - não devem ser encarados como barreiras instransponíveis. Já se tem registro de intentos bem-sucedidos (CANCLÍNI, 1999; BACCEGA, 2008; ROCHA e SILVA, 2007; BORELLI et al, 2009; SILVA e PAVAN, 2010; dentre outros), os quais nos fornecem estímulo e referências para também nos aventurarmos neste sentido. Retomando o itinerário conduzido neste trabalho, pontuamos que a entrevista em profundidade é:

Técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá- las e apresentá-las de forma estruturada. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística. (DUARTE, 2006, p. 62)

Esta técnica trata de uma conversação orientada, isto é, com objetivos. Por isso, exige elaboração e explicitação de procedimentos metodológicos específicos tais como definição do marco conceitual na qual se origina, critério de seleção de fontes, aspectos de realização e o uso adequado das informações (DUARTE, 2006, p. 64).

As entrevistas são classificadas como aberta, semi-aberta e fechada. As primeiras são aquelas onde o entrevistador parte de uma questão ampla, um tema central, e deixa a conversa fluir livremente. Nas semi-abertas, o entrevistador tem um roteiro de questões para guiá-lo, as quais geralmente estão apoiadas no referencial teórico e/ou na problemática de pesquisa. Este roteiro geralmente tem entre quatro e sete pontos, os quais são tratados individualmente como perguntas abertas, de maneira que só se passa à questão seguinte quando o entrevistado esgota sua fala. Isso permite o surgimento de novas questões no decorrer da entrevista. Já nas do tipo fechadas, o entrevistador tem questionários estruturados com as mesmas perguntas para todos os entrevistados. Aqui, o entrevistador apenas capta as respostas, sem discutir sobre elas com seu respondente.

Nesta pesquisa, foi utilizada a modalidade semi-aberta. Consideramos oportuno utilizar um roteiro de tópicos para evitar digressões fora do tema abordado, privilegiando a discussão de cada um desses pontos com o entrevistado até exaurir sua elaboração acerca do que lhe fora perguntado.

Por seu caráter eminentemente qualitativo, na entrevista em profundidade é preferível ter poucas fontes, mas que propiciem material importante ao estudo, que muitos entrevistados sem grande contribuição. Segundo DUARTE (2006, p. 68), a amostra aqui não tem o significado usual de representatividade estatística de um determinado universo, mas adquire a noção da capacidade que as fontes têm para dar informações confiáveis e relevantes sobre o tema da pesquisa. Desta maneira, mediante os direcionamentos de orientação, foi definido para este trabalho um total de dez entrevistados.

Definiu-se um perfil: de ambos os sexos, cujas idades estivessem entre 18 e 35 anos. Entendemos que dentro desta faixa etária conseguiríamos alcançar um público jovem, em princípio mais familiarizado com os segmentos de mídia disponíveis no contexto sociocultural brasileiro e potiguar (veículos impressos, rádio, televisão e Internet); logo, seriam usuários mais prováveis destas mídias. Além disso, estariam situados em um estágio de vida no qual boa parte da educação formal (nível médio completo ou incompleto; nível superior em andamento ou concluído) já teria sido cumprida, em tese; esse dado nos sinalizava que os entrevistados já seriam, em algum grau, iniciados no tema que tomamos como recorte (“ciência”). Por fim, preferimos optar por indivíduos legalmente responsáveis, isto é, maiores de dezoito anos, para eliminar a questão da autorização de pais ou tutores, o que certamente se tornaria um complicador para nossa gestão de tempo e de informações na pesquisa.

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