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3. METODOLOGIA

3.1 MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA

A definição do tipo de pesquisa a ser realizada foi consequência da necessidade de identificar se falhas em processos administrativos podem causar eventos adversos em terapia intensiva e como esses eventos são notificados. Ou seja, o tipo do estudo guiará aos objetivos da pesquisa.

A pesquisa utilizará o método indutivo, abordagem empírica com caráter exploratório- descritivo e estratégia de pesquisa-ação. Foi escolhido o método indutivo pela sua característica de partir de fatos particulares para fatos universais. Este método é definido por Marconi e Lakatos (2003, p. 86) como:

“um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida as partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam”.

O raciocínio indutivo, segundo Marconi e Lakatos (2003), é composto por três fases, observação dos fenômenos (observação dos fatos e fenômenos), no qual se descobre a causa de sua manifestação; descoberta da relação entre eles, por meio da comparação estipula-se a

27 relação entre fato e fenômeno; e generalização da relação, em que se generaliza a relação encontrada nas fases anteriores.

Podemos concluir que o método indutivo é designado para ampliar o alcance do conhecimento, utilizando para isso diferentes graus de força dentro de uma mesma premissa, desde esta tenha capacidade para sustentar a conclusão, que corresponde às expectativas desta pesquisa. Enquanto que o método dedutivo explica o conteúdo da premissa, colocando-a como verdadeira ou falsa, sem graduações intermediárias, mas com a “certeza” de ser ou não verdadeiro.

A abordagem será a empírica com base na sua principal característica de evidenciar as observações e percepções com o mesmo nível de importância. Martins e Theóphilo (2009, p.39) salientam que “nesta abordagem metodológica, considera-se que o fato existe independentemente de qualquer atribuição de valor ou posicionamento teórico, e possui um conteúdo evidente, livre de pressupostos subjetivos”. A descrição dos fatos por meio da observação e dos experimentos permite a construção da teoria científica, uma vez que o pesquisador precisa ir a campo, observar, conversar com pessoas e presenciar relações sociais para a formação da teoria científica (Zanella, 2009).

Martins e Theóphilo (2009) descrevem sete formas de abordagem para pesquisa, sendo o empirismo o mais adequado para este estudo.

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Metodológica Característica

Empirismo teórico, e possui um conteúdo evidente, livre de pressupostos subjetivos. Valoriza a capacidade dos Considera que o fato existe independentemente de qualquer atribuição de valor ou posicionamento sentidos de produzirem a evidência, a certeza e a objetividade do dado.

Positivismo

Apesar de ter suas raízes no empirismo, preocupa-se coma a expressão lógica do discurso científico do que com a ênfase nas realidades observáveis. Não aceita outra realidade que não seja a dos fatos que podem ser observados, rejeita a compreensão subjetiva dos fenômenos, a pesquisa intuitiva das essências. Sistêmica

Reconhece numa problemática de pesquisa a predominância do todo sobre as partes. Privilegia o estudo do seu objeto de forma globalizada. Considera inadequada a noção estrita de causalidade, baseada no estudo da realidade reduzida a unidades cada vez menores que, por conseguinte, se expressa em um sentido único.

Funcionalista

Admite que os fenômenos acontecem dentro de formas invariantes, devido à estrutura funcional básica geral e comum, na qual a causalidade é concebida como explicação da causa final, da intencionalidade das ações, a explicação pelas consequências, do para que?, dos fenômenos ou da lógica entre proposta e ação, teoria e prática, relação funcional entre o todo e as partes.

Estruturalismo

Confere um caráter formal à ciência, aplicando a mesma postura metodológica para as realidades social e natural.Um traço fundamental do estruturalismo é a concepção de que o conhecimento da realidade somente torna-se possível quando são identificadas suas formas subjacentes e invariantes, ou já dadas. Fenomenologia

Consiste na tentativa de apresentar os fenômenos livres dos elementos pessoais e culturais, a fim de alcançar a sua essência, na qual o objeto de estudo é o fenômeno, o instrumento é a intuição e o objetivo é entender a relação entre o fenômeno e sua essência, ou seja, busca o entendimento da essência dos fenômenos.

Crítico- Dialética

Entendida como a “arte da discussão” ou “arte do diálogo”, explicita-se como uma postura, um método de investigação e uma praxe, um movimento de superação e transformação. Esse processo tem seu ponto de partida nos fatos empíricos e busca superar as impressões primeiras, as representações fenomênicas dos fatos e ascender ao seu âmago, as suas leis fundamentais.

Figura 3 – Abordagens Metodológicas. Fonte: Adaptado de Martins & Theóphilo, 2009.

A pesquisa empírica faz uma investigação dentro de um cenário real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes utilizando múltiplas fontes de evidências para análise e conclusão (Zanella, 2009). O empirismo por ter como base a solução de problemas concretos, práticos e operacionais, consagrou a observação empírica, o teste experimental e a mensuração quantitativa, como critérios de cientificidade (Martins & Theóphilo, 2009).

O caráter exploratório possibilita ampliar os conhecimentos e a familiaridade de um determinado assunto, o que é de extrema relevância para o objetivo da pesquisa, que busca aprimorar ideias em relação a eventos adversos e suas relações com os processos administrativos, relação pouco explorada na literatura. Gil (2002, p. 41) afirma que pesquisas exploratórias “têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado”. Este tipo de pesquisa utiliza o levantamento bibliográfico, entrevistas com envolvidos com o problema pesquisado e análise dos dados.

29 As pesquisas descritivas objetivam descrever as características de uma determinada população ou fenômeno, ou ainda as relações entre variáveis. Ressalte-se que as pesquisas podem atender a necessidades intelectuais, pelas quais o pesquisador pretende atender sua satisfação própria, ampliando seus conhecimentos, sendo denominada de pesquisa pura. Quando a pesquisa tem a finalidade de desvendar problemas da prática, com possíveis soluções aplicáveis são denominadas pesquisa aplicada ou empírica (Gil, 2002). Um dos objetivos desta pesquisa é que seus resultados tenham uma aplicabilidade prática.

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Figura 4 – Principais atividades da pesquisa Fonte: Elaborada pelo Autor

31 A figura 4 reflete, de forma esquemática, o encadeamento das atividades que permite o desenvolvimento do estudo, iniciando com a questão de pesquisa e conclusão com a proposta de intervenção.

A estratégia de pesquisa será pesquisa-ação, definida por Thiollent (2008, p.16) como: “um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo”.

Martins e Theóphilo (2009, p. 72) consideram como um tipo de investigação participante com o objetivo de ação planejada sobre os problemas identificados. Os pesquisadores e envolvidos (atores) interagem para identificar e sanar os problemas. Os atores são pessoas com capacidade de ação coletiva consciente em um determinado contexto. “A aplicação da Pesquisa-ação nos estudos das organizações abrange particularmente a área de Administração de Pessoas e fatores relacionados com características culturais e sociais da tecnologia e da inovação técnica”.

É uma estratégia de pesquisa aplicada a questões complexas com particularidades de diagnóstico e de consultoria, favorável quando os pesquisadores desejam expandir a pesquisa além dos aspectos acadêmicos e burocráticos, ou seja, almejam “desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados” (Thiollent, 2008, p. 18). Este tipo de pesquisa possui como características:

“- ...ampla e explícita interação entre pesquisador e pessoas implicadas na situação investigada;

- desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta; - o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situação; - o objeto da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;

- a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados” (Thiollent, 2008, pp. 18-19).

32 Thiollent (2008) expõe que a configuração deste tipo de pesquisa depende dos objetivos e o contexto no qual será aplicada, porém a atitude do pesquisador será sempre de “escuta” e esclarecimento das situações apresentadas sem, contudo, impor suas próprias concepções. Esse autor observa ainda, a necessidade de se ter claro as diferenças entre pesquisa- ação e pesquisa “convencional”. Tripp (2005) apresenta uma tabela com onze características da pesquisa-ação:

Numa pesquisa convencional não há a interação pesquisador-ator, em que os atores são as pessoas ou usuários/situações observados. Os atores são informantes, do ponto de vista da pesquisa, enquanto que do lado da ação são meros executores.

Para pesquisa-ação os atores são participantes com ações efetivas. A prática rotineira é repetitiva, individual, não questionadora com o objetivo pontual, eficaz e imediata a eventos, já a pesquisa convencional (pesquisa científica) tende a ser ocasional, uma vez que as pesquisas científicas não são realizadas diariamente; e colaborativa, à medida que é realizada por equipes e é imperativo cumprir uma agenda rígida e fixa em prazos e em atividades. A pesquisa-ação possui uma característica contínua devido ao aspecto de trabalhar para melhoria da prática. Nesse sentido, as pessoas/usuários são participantes das ações para a resolução dos problemas, ampliação do conhecimento e disseminação dos resultados. Seu principal intuito é promover ao pesquisador melhores condições de compreensão, decifração, interpretação, análise e síntese dos dados qualitativos coletados na situação investigativa (Thiollent, 2008; Tripp, 2005).

Thiollent (2008) relata que não há um planejamento fixo do desenvolvimento da pesquisa-ação; ao contrário, é flexível, possibilitando um vaivém em função das preocupações do grupo (pesquisadores e atores) e da dinâmica das situações investigadas. Porém, é certo que se inicia com a fase exploratória e finaliza com a divulgação dos resultados, as demais fases intermediárias como: organizar seminário, escolher um tema, colocar um problema, coletar dados, relacionar o saber formal dos especialistas com o saber informal dos “usuários”, elaborar um plano de ação; não tem uma sequência necessariamente, os caminhos são variados em decorrência das circunstâncias identificadas.

Segundo Martins e Theóphilo (2009, p. 73) a fase exploratória compreende:

“discussões em grupos com membros da organização na identificação do problema proposto pelo pesquisador que possa ser cientificamente solucionado

33 pela ação do autor e atores envolvidos, podendo iniciar-se sob a forma de simples conversação e prolongar-se em entrevistas individuais, coletivas ou em seminários”.

É nesta fase, que se faz o diagnóstico dos problemas e dos meios adequados para solucioná-los.

O tema de pesquisa inclui o problema prático e a área de conhecimento a ser abordada e deve ser de interesse dos atores para ser considerada uma pesquisa participativa. É fundamental a pesquisa bibliográfica por parte do pesquisador, pois, compete a ele a mediação teórico-conceitual que permeará todas as fases da pesquisa. A colocação dos problemas pode ser considerada como a problematização de ordem prática, e deve ser discutida sua relevância científica e prática (Thiollent, 2008).

No que concerne ao presente estudo, pode-se dizer que a coleta de dados foi realizada por observação das visitas médicas e de enfermagem bem como relatos espontâneos. Os dados foram analisados e interpretados para divulgação dos resultados e elaboração de um plano de ação.

A natureza dos dados coletados nesta pesquisa é mista, com dados qualitativos e quantitativos. Martins e Theóphilo (2009) consideram uma pesquisa qualitativa quando o pesquisador entra em contato direto e prolongado com o ambiente da pesquisa, os dados são descritos e analisados de forma indutiva à medida que são coletados, atentando-se para as percepções dos participantes (atores). Trata-se de pesquisa quantitativa, pois há dados coletados que podem ser organizados, caracterizados e interpretados numericamente, por meio de métodos e técnicas estatísticas.

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