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3. PROPOSTA DE ABORDAGEM PARA OUTORGA DE USO DA ÁGUA

3.3 MÉTODOS DE ANÁLISE MULTICRITÉRIO

Geralmente, a pesquisa operacional tradicional utiliza métodos de avaliação de alternativas com um único critério, na maioria das vezes, uma medida quantitativa de eficiência econômica. Métodos deste tipo, como a programação linear, consideram a melhor alternativa a que otimiza uma determinada função, a qual avalia a performance das alternativas segundo o critério considerado. Esse tipo de metodologia deixa de considerar diversos aspectos considerados importantes pelos atores do processo decisório, em se tratando de decisões em situações complexas (ENSSLIN et al., 2001).

Problemas que envolvem um grau significativo de complexidade normalmente estão associados a uma análise multicritério. Processos de planejamento público contemplando a inclusão de multiobjetivos, superando os processos de planejamento baseados em um único critério, via de regra o critério econômico, está se tornando uma prática comum nas esferas federal estadual e municipal. A abordagem de múltiplos critérios tem ajudado tomadores de decisão em todos os níveis a melhorar a qualidade de vida no planeta (GONÇALVES et al., 2003). Segundo esses autores, os elementos fundamentais que estão presentes nos processos de decisão seriam: 1) Obter respostas às perguntas submetidas ao decisor em um processo de tomada de decisão; 2) tornar transparente toda potencial decisão; 3) Aumentar a coerência entre a evolução de um processo de decisão, os objetivos, e o sistema de valor do processo.

Os métodos multicritério avaliam as alternativas utilizando um conjunto de critérios; cada um deles sendo uma função matemática que mede o desempenho das alternativas com relação a um determinado aspecto. O objetivo é a otimização dessas funções de forma simultânea (ENSSLIN et al., 2001).

O modelo criado através de uma abordagem multicritério de ajuda reflete, de maneira suficientemente estável, o juízo de valores dos decisores sobre determinado problema. Esse

modelo pode servir de base para discussão, principalmente nos casos de conflitos entre os decisores, ou ainda, em situações onde os atores envolvidos ainda não possuem uma percepção clara do problema (Bouyssou, 1989, apud NORONHA, 2003).

Os métodos de análise multicritério tiveram o seu desenvolvimento mais significativo na década de 60, de onde surgiram várias escolas de pesquisadores com diferentes técnicas e modos de apoio à decisão (GONÇALVES et al., 2003).

Para Ensslin et al. (2001), os métodos multicritério avaliam as ações considerando um conjunto de critérios, sendo cada um uma função matemática que mede o desempenho das ações em relação a um determinado aspecto. Sannemann (2001), considera os modelos multicriteriais como metodologias de auxílio ao decisor na construção ou estruturação do entendimento do seu problema.

Segundo Lima (2003) e Ensslin (2002), duas correntes de pensamento direcionaram o desenvolvimento das metodologias multicritério: 1) A escola americana, desenvolvendo as metodologias denominadas Multicritério de Tomada de Decisão (MCDM) e 2) A escola européia, com as metodologias denominadas Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA). Ensslin (2002, p. 141) cita três aspectos que distinguem essas duas correntes: “ i) a postura quanto ao reconhecimento ou não dos limites da objetividade nos processos decisórios; ii) a

atitude do facilitador ao conduzir o processo; e, iii) o enfoque para o qual o processo é

encaminhado”.

Para Dutra (1998), segundo escola americana, o consultor ou facilitador desenvolve um modelo matemático para a situação de decisão de forma independente dos atores envolvidos, considerando apenas a objetividade, procurando identificar uma solução ótima, considerada pré-existente, centralizando o enfoque apenas na tomada de decisão. Na escola européia, por sua vez, é levado em consideração que a decisão humana é realizada com base na noção de valor do indivíduo. Nessa abordagem, o facilitador passa a atuar auxiliando os

atores no entendimento e aprendizagem sobre o problema em questão, bem como modelando o contexto de decisão incorporando os valores e objetivos dos atores envolvidos. Nesse caso, é dado enfoque ao auxílio do aprendizado dos atores sobre a situação problemática, para que decidam, com base em seu juízo de valor, entre as ações potenciais a que atenda melhor aos seus objetivos.

Na análise de contextos que envolvam decisão, podem ser seguidos o caminho realista axiomático e o construtivista. Ao adotar o modelo construtivista, consideram-se conceitos, procedimentos, modelos e resultados como elementos de auxílio aos decisores para organizar o contexto decisório e melhorar o entendimento da situação (ROY, 1993). Ao invés de definir uma solução (a exemplo do caminho axiomático), o processo decisório estrutura recomendações aos decisores, para que possam tem mais segurança na tomada de decisão (ROY, 1993). No modelo construtivista, podem existir várias soluções para um mesmo problema, de acordo com os valores dos decisores na interpretação de determinado contexto decisório (SANNEMANN, 2001).

Uma metodologia bastante utilizada para análise multicritério é o ELECTRE (Elimination and Choice Translating Algorithm). Essa metodologia sustenta-se nos conceitos de concordância, discordância e valores-limite (“outranking”), utilizando um intervalo de escala nas relações-de-troca na comparação de alternativas em pares (GONÇALVES et al., 2003).

Outra abordagem multicritério é o método da programação de compromisso, que é baseado em um processo iterativo com o estabelecimento progressivo das preferências do decisor, até que uma solução satisfatória seja encontrada. O método classifica as alternativas através da medida da sua distância em relação à solução considerada a melhor (GONÇALVES et al., 2003).

O método PROMETHEE (Preference Ranking Organization Method for Enrichment Evaluations) é semelhante ao ELECTRE, e consiste de uma relação de desclassificação. No entanto, o método procura envolver conceitos e parâmetros que possuam alguma interpretação física ou econômica, de mais fácil entendimento pelo decisor. Nesse método, o decisor define diferentes funções de preferência para cada critério dentre um grupo de seis possibilidades de funções (BARCELLOS et al., 2003).

Os métodos ELECTRE TRI, UTADIS e MHDIS (Multi-group Hierarchical Discrimination) também são utilizados para apoio à decisão na resolução de problemas. Esses métodos são baseados em julgamentos absolutos entre as alternativas e perfis de referência que distinguem as classes (DOUMPOS & ZOPOUNIDIS, 2003).

O método AHP (Analytical Hierarchy Process) caracteriza-se por fazer uma descrição do problema hierarquizando atributos e utiliza uma escala de razão, usando comparações par a par (HOLZ, 1999). Esse método realiza a seleção, ordenamento e avaliação subjetiva de várias alternativas em relação a um ou mais objetivos. Por meio do estabelecimento de classes para as alternativas, para a comparação par a par, os objetivos são comparados entre si por uma equipe multidisciplinar, resultando dessa comparação uma matriz onde é representado o grau de superioridade de um critério em relação a outro. Esse método é comparável aos métodos que tomam por base a teoria multiatributo (MAUT- Multi-atribute Utility Theory), pois apresenta uma estrutura semelhante a uma função de valor aditiva (ZUFFO et al., 2002).

Outra abordagem multicritério é a MCDA (Multicriteria Decision Aiding). A sigla em inglês é mantida nos trabalhos publicados na literatura em português, sendo traduzida como metodologia Multicritério de Apoio à Decisão. Essa abordagem orienta-se a partir de uma visão construtivista do conhecimento, considerando conceitos, procedimentos, modelos e resultados, para auxiliar os decisores a organizar o contexto decisório e melhorar o seu entendimento a respeito da situação. Busca refletir o juízo de valores dos decisores sobre

determinado problema, não com o objetivo de prescrever uma solução, mas, sim, apoiar o processo de decisão. Nesse sentido, segue a linha da escola européia de abordagem multicritério, diferenciando-se da escola americana, que, por sua vez, busca prescrever uma solução para o problema, adotando uma abordagem de tomada de decisão (MCDM – Multicriteria Decision Making).

A presente tese propõe a abordagem questão da outorga de uso da água através da metodologia MCDA, que busca apoiar a decisão de problemas complexos, considerando tanto elementos subjetivos como objetivos inerentes ao processo de decisão, influenciados pelo sistema de valor dos decisores. A operacionalização dessa metodologia é realizada através de três fases seqüenciais e interdependentes: estruturação (identificação e caracterização do contexto decisório), avaliação (mensuração do desempeno das ações potenciais) e recomendações (aborda as possíveis melhorias de desempenho das alternativas avaliadas).

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