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Métodos baseados no estado hídrico do solo

No documento Kiwi: da produção à comercialização (páginas 89-93)

11. Rega da actinídea Manuel Oliveira e Rodolfo Silva

11.2. Métodos baseados no estado hídrico do solo

Os métodos para a gestão da rega baseados no estado hídrico do solo permitem controlar a rega através da medição da quantidade de água nele existente (teor de humidade) ou através da medição da força de retenção da água presente no solo (potencial hídrico).

Humidade do solo

O solo funciona como um reservatório de água, apesar de na generalidade dos solos a maior parte da água existente não estar disponível para as plantas. A quantidade máxima de água que um solo pode reter é denominada capacidade de campo (CC) e as plantas deixam de extrair água do solo quando este atinge o ponto de emurchecimento permanente (CE), que, como está subjacente, provoca a morte das plantas. Estes dois valores têm correspondência com os potenciais hídricos do solo de -1/3 bar e -15 bar, respectivamente. Na prática, pretende-se manter as plantas sempre em conforto hídrico (ou stress moderado), pelo que o CE nunca poderá ser atingido, e no caso da cultura da actinídea apenas se deverá permitir a utilização de 35% da água existente entre CC e CE.

A CC e o CE estão principalmente relacionados com a textura do solo, dependendo também da estrutura do mesmo (agregados de solo), matéria orgânica, etc. Ainda que com alguma variabilidade, no quadro 11.1 apresentam- se os valores médios para os diferentes tipos de solos.

Quadro 11.1. Valores médios da capacidade de retenção hídrica e limiares de rega para a actinídea, das principais classes de textura dos solos

Textura do solo

Porosidade (P)

Densidade

(R) CC CE RU RFU Limite de rega

% - % (v/v) % (v/v) mm/m mm/m % (v/v) Arenoso 38 1.65 15 7 83 29 12 Franco-arenoso 43 1.50 21 9 120 42 17 Franco 47 1.40 31 14 168 59 25 Franco-argiloso 49 1.33 36 16 200 70 29 Argilo-arenoso 51 1.30 40 20 208 73 33

A reserva utilizável (RU) corresponde ao volume de água existente no solo entre a CC e o CE; a reserva facilmente utilizável (RFU) é obtida com base na RU, considerando 35% de utilização; o limite de rega é o teor de humidade que corresponde ao limite mínimo da RFU. Os valores de RU e RFU são apresentados em altura equivalente de água (mm/m), sendo 1 mm equivalente a 10 m3/ha, considerando a água existente num perfil de solo com altura unitária de um metro.

Existem no mercado diversos equipamentos para a medição do teor de humidade do solo, devendo atender-se à precisão da medição e ao comportamento do sensor em função da temperatura e da salinidade do solo.

Potencial hídrico do solo

A quantidade total de água existente no solo não influencia directamente o estado hídrico das plantas, mas sim a forma como a água existente está retida. Desta forma, um meio bastante expedito de gestão da rega é medir a força de retenção da água no solo e desencadear a rega sempre que atinja determinados valores – oportunidade de rega.

Em relação aos instrumentos de medição, existem no mercado três tipos: tensiómetros, blocos de gesso e equitensiómetros. No entanto, os tensiómetros, apesar de algumas exigências de manutenção, pelo seu baixo custo são o instrumento mais utilizado para a gestão da rega em pomares.

Um tensiómetro consiste num tubo com uma cápsula cerâmica porosa, um manómetro de pressão e uma tampa (para enchimento). Quando cheio de água e inserido no solo (com a cápsula cerâmica à profundidade que se quer medir o estado hídrico), a água move-se através da cápsula até atingir um equilíbrio de pressão entre o interior do instrumento e o solo, lendo-se o valor no manómetro. A pressão é sempre negativa, geralmente expressa em cbar (centibar = um centésimo de bar) ou KPa (1 KPa = 1 cbar) e tem os seguintes valores:

Zero - Uma leitura de zero verifica-se quando o solo está completamente saturado. Ocorre após fortes chuvadas ou regas de grande dotação. Se estas leituras forem persistentes as plantas irão sofrer problemas de asfixia radicular, pelo que, deverá ser revisto o sistema de rega e/ou o sistema de drenagem. 0-10 cbar - quando estes valores são persistentes durante alguns dias, há excesso de água para o bom desenvolvimento das plantas. Nestas situações, deve ser revista a gestão da rega (duração ou frequência de regas) e/ou a drenagem do solo.

10-20 cbar - esta gama de tensão de humidade corresponde à gama óptima para o desenvolvimento das plantas, dado que o solo apresenta bastante disponibilidade hídrica e bom arejamento. No caso dos solos com pouca capacidade de retenção hídrica (solos arenosos) e em períodos de elevada evapotranspiração, a rega deverá ser desencadeada a 15-20 cbar porque a tensão de retenção nestes solos aumenta abruptamente para teores de humidade inferiores.

20-40 cbar - nesta gama de valores, a humidade do solo é ainda suficiente para o óptimo desenvolvimento das plantas e há um bom arejamento (gama ideal no caso dos solos franco-argilosos). No caso da actinídea, que é uma planta relativamente sensível ao deficit hídrico, a rega deverá ser desencadeada nesta gama de valores, no caso dos solos arenosos e nos restantes solos, em períodos de elevada evapotranspiração.

de tensão de humidade deverá desencadear a rega em condições normais de demanda evaporativa. No caso dos solos de textura grosseira, estes valores não deverão ser atingidos.

Em relação à instalação dos tensiómetros, no caso da actinídea, devem instalar-se quatro tensiómetros por pomar, ou por cada zona pedológica, dois a 25-30 cm e dois a 75-100 cm de profundidade, na zona abrangida pelo sistema de rega.

Bibliografia

Silva, R. M., M. I. Ferreira, T.A. Paço, A. Veloso & M. Oliveira. 2004. Determinação das necessidades de rega em kiwi na região do Entre Douro e Minho. 7º Congresso da Água, Laboratório de Engenharia Civil (LNEC), Lisboa, Portugal, 8-12 Março.

Judd, M.J., K.J. McAneney & K.S. Wilson. 1989. Influence of water stress on kiwifruit grouth.

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Xiloyannis, C., Natali, S., Fregni, G. & Botrini, L. 1986. Influenza dell’umiditá relative sulla transpirazione dell’actinidia e dell’olivo e sul disseccamento fogliare dell’actinidia. Rivista di frutticoltura 5: 43-49.

No documento Kiwi: da produção à comercialização (páginas 89-93)