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Devido à multidimensionalidade da imagem corporal, é possível encontrar na literatura diversas formas de avaliação desse construto. Em geral, os instrumentos que avaliam a imagem corporal podem ser classificados ou como medidas perceptivas, ou como medidas de atitudes (DAMASCENO, 2004).

As medidas perceptivas tentam medir como o indivíduo avalia o tamanho do seu próprio corpo ou partes de seu corpo dentro dos contextos “ideal” e “real”. Já as medidas de atitude (dimensão comportamental e afetiva) avaliam os sentimentos, atitudes e comportamentos em relação ao próprio corpo. Ambas (medidas perceptivas e afetivas) tentam dimensionar a insatisfação corporal (GARDNER, 2002).

Segundo Hart (2003), as medidas perceptivas da imagem corporal mais utilizadas compreendem as técnicas de distorção da imagem e as silhuetas. As técnicas de distorção da imagem envolvem a manipulação do tamanho do corpo na TV-vídeo, no espelho ou na fotografia (FARRELL, 2003 ; DAMASCENO, 2004). As silhuetas consistem de uma série de figuras de corpos, representando vários tamanhos corporais (GARDNER, 2002; HILDEBRANDT ; LANGENBUCHER ; SCHLUNDT, 2004).

O quadro 1 mostra dois exemplos de medidas perceptivas da imagem corporal para homens: o Body Image VogueSoftware, desenvolvido por Stewart et

al. (2003) e as silhuetas propostas por Hildebrandt, Langenbucher e Schlundt (2004).

Na metodologia perceptiva intitulada Body Image VogueSoftware, desenvolvido por Stewart et al. (2003), o indivíduo é solicitado a manipular com o “mouse” sua imagem previamente fotografada com uma câmera digital e exposta na tela do monitor de um computador. Nove diferentes partes do corpo podem ser modificadas tanto para aumentar como para diminuir seu tamanho. O registro da imagem real, da imagem de como o indivíduo se vê e da imagem de como ele gostaria de ser (ideal) é realizado, e a estimativa da distorção e insatisfação do indivíduo com relação a sua imagem corporal é medida.

Para Gardner (2002) uma limitação das técnicas de distorções é a representação bizarra do corpo quando a distorção é superior a 20%.

A técnica de silhuetas consiste na identificação pelo indivíduo da silhueta que mais se aproxima da sua imagem (silhueta) real e ideal. A diferença entre a silhueta atual e ideal indica o grau de insatisfação corporal do indivíduo avaliado (HILDEBRANDT; LANGENBUCHER; SCHLUNDT, 2004; DAMASCENO, 2004). O conjunto de silhuetas desenvolvido e validado por Hildebrandt, Langenbucher e Schlundt (2004) avalia tanto a dimensão perceptiva da imagem corporal como o nível da musculatura e gordura corporal. Segundo os autores, altos níveis de musculatura estão associados à dismorfia muscular.

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Quadro 1. Exemplos de duas diferentes medidas perceptivas da imagem corporal: distorção da imagem e silhuetas.

Body Image VogueSoftware, UK, version 0.409 (STEWART et al., 2003). Silhuetas propostas por HILDEBRANT, LANGENBUCHER ; SCHLUNDT (2004).

De acordo com Farrell (2003), as medidas perceptivas da imagem corporal podem ser fortemente influenciadas por fatores metodológicos. As técnicas de silhuetas apresentam também a limitação de serem bidimencionais, não permitindo a representação do indivíduo como um todo (GARDNER, 2002). Para Hart (2003) as medidas perceptivas, por não incluírem os componentes da atitude do indivíduo em relação ao seu corpo, não podem ser consideradas uma medida abrangente de distúrbios de imagem corporal. No máximo, elas identificam a distorção da imagem corporal, mas não geram informações adicionais que podem posteriormente ser associadas a problemas de desordem alimentar, dismorfia muscular ou outros de natureza psicológica.

Segundo Damasceno (2004), as medidas de atitude avaliam os sentimentos sobre a forma e tamanho corporal (dimensão afetiva) e os comportamentos em relação ao próprio corpo (dimensão comportamental). A maioria das técnicas de medidas de atitude é realizada por meio de escalas ou questionários de auto-resposta, o que favorece a não influência do entrevistador.

Entre os principais instrumentos existentes para avaliação da imagem corporal (Quadro 2) destaca-se a “Escala da Catexe Corporal” (TUCKER, 1981 ; STEWART, 2002 ; BARBOSA, 2003).

A “Escala da Catexe Corporal” de Secord e Jourard (1953) avalia o grau de satisfação/insatisfação com partes do corpo e funções corporais. Por ser considerada flexível, podendo adequar-se às necessidades específicas de cada

pesquisa, ela foi modificada, e as várias versões desenvolvidas a partir dela foram validadas e utilizadas por vários pesquisadores conforme apresentado no Quadro 2.

Além dos estudos apresentados no Quadro 2, destacam-se ainda os trabalhos de Tucker, considerado o pesquisador que mais se envolveu no estudo da catexe corporal em homens, notadamente, estudos relacionados aos exercícios físicos com peso e imagem corporal (BARBOSA, 2003). Tucker (1981) também verificou que a “Escala da Catexe Corporal” é um instrumento multidimensional, estável e consistente.

Segundo Barbosa (2003) o termo “catexe” utilizado originalmente por Freud advém da palavra alemã Besetzung e foi traduzido e difundido por psicanalistas norte americanos como Cathexis e em português é traduzido como catexis, catexia e catexe. O termo “catexe” reporta a uma “energia psíquica” fixada numa idéia, pessoa ou objeto. “Para Freud a energia psíquica poderia investir-se numa representação, num órgão ou num objeto, mas também poderia ser retirada deles a fim de ligar-se a outras representações, ou a outros objetos” (BARBOSA, 2003).

Quadro 2. Principais medidas de atitude da imagem corporal.

Instrumentos Autores* Descrição Confiabilidade Padronização da amostra “Escala da Catexe Corporal” Secord & Jourard (1953) Os indivíduos indicam o grau de satisfação com várias partes/aspectos do corpo.

CI: Split-half confiabilidade (homens: 0,78) (mulheres: 0,83) TR: não informado 43 mulheres 45 homens alunos de graduação “Escala da Catexe Corporal Revisada” Ward, McKeown, Mayhew, Jackson & Piper (1990) Os indivíduos indicam o grau de satisfação com 22 itens da “Escala da Catexe Corpora” original.

CI: (0,90 para escala inteira) TR: 2 semanas (0,73)

403 mulheres alunas de graduação

Body Esteem Scale Franzoi & Shields (1984)

Modificação da “Escala da Catexe Corporal” com 16 novos itens.

CI: mulher (0,78-0,87) Homem (0,81-0,86) TR: não informado 366 mulheres e 257 homens alunos de graduação Body Satisfaction Scale (BSS) Slade, Dewey, Newton, Brodie, & Kiemle (1990) Os indivíduos indicam o grau de satisfação com 16 partes do corpo (3 subescalas: geral, cabeça e corpo). CI: intervalo (0,78 – 0,89) TR: não informado mulheres: estudantes de graduação em enfermagem, voluntárias, com sobrepeso, anoréxicas e bulímicas Body Self-Relation Questionnaire (BSRQ) Thompson (1990) Os indivíduos indicam o grau de concordância com 140 frases afirmativas (itens). CI: (0,68-0,91) (Homem: 0,91) (Mulher: 0,87) para a subescala que avalia aparência TR: (0,65-0,91) alunos de graduação Body Shape Questionnaire Cooper et al. (1987)

34 itens que determinam a preocupação com a forma do corpo.

CI: não dado TR: não informado

bulímicos e vários grupos controles

Color-A-Person Dissatisfaction Scale

Wooley & Roll (1991)

Os indivíduos usam 5 cores para indicar o nível de satisfação com partes do corpo pintando uma figura esquemática. CI: 0,74-0,85 TR: 2 semanas (0,72-0,84) 4 semanas (0,75-0,89) homens e mulheres, alunos de graduação (n = 102); bulímicos (n = 103) Eating Disorder Inventory - 2: Body Dissatisfaction Scale 1- Garner, Olmsted & Polivy (1983) 2- Shore & Porter (1990) 3- Allison (1995) Os indivíduos indicam seu grau de concordância com 9 frases afirmativas sobre partes do corpo (7itens).

1- CI: (anoréxicos, 0,90) (controle, 0,91) 2- CI: adolescentes (11-18) (mulheres: 0,91) (homens: 0,86) 3- CI: crianças (8-10) (meninas: 0,84) (meninos: 0,72) 1- 113 mulheres anoréxicas e 37 mulheres controle 2- 196 meninos, 414 meninas 3- 109 meninos e 95 meninas Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire: Body Areas Satisfaction Scale 1- Cash, Winstead & janda (1986) 2- Brown, Cash & Mikulka (1990) 3- Cash (1990) Determinar a satisfação com oito áreas específicas do corpo, incluindo peso e áreas não relacionadas com peso.

CI: (0,75 – 0, 91) TR: não informado

2000 adultos responderam a pesquisa para uma revista

Physical Appearance State and Traid

Anxiety Scale (PASTAS)

Reed et al. (1991)

Avalia a ansiedade dos indivíduos associada com 16 partes do corpo (8 relacionadas com o peso, 8 não

relacionadas com peso)

CI: (traços: 0,88 – 0,82) (estabelecida: 0,82 – 0,92) TR: 2 semanas (0,87)

alunos de graduação

CI: Consistência Interna; TR: teste-reteste confiabilidade. * constam nas referências bibliográficas. Fonte: STEWART, 2002