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Existem diferentes formas de avaliar o sucesso da inibição do sabor de determinados fármacos, de modo a comprovar a total ou parcial subtração do gosto a partir da estratégia proposta. Uma destas técnicas é a avaliação sensorial em humanos. Entretanto, gosto é uma percepção muito subjetiva e, dependendo dos indivíduos, o sabor percebido pode variar em diferentes graus. Se tiver um controle do experimento bem estabelecido é possível medir com precisão e repetibilidade os limiares de sabor (DEEPAK et al., 2012).

3.6.1 Painéis humanos

Uma das formas de avaliar o sucesso no mascaramento do sabor de determinada substância é através da realização de painéis humanos, que empregam uma classificação psicofísica dos estímulos gustativos. Neste método, um grupo de 5 a 10 voluntários são treinados para avaliar o sabor através do uso de amostras de referência, com variações de insípido a muito amargo. Assim, valores numéricos são então atribuídos a estes níveis de amargura (ex. 0 a 5). Subsequentemente, a solução a ser testada é avaliada na mesma escala para avaliar o seu nível de amargor (SWARBRIK & BOYLAN, 1990). Painéis humanos são preferidos e habitualmente aplicados como um método de avaliação do sabor de medicamentos ou formulações durante o processo de desenvolvimento farmacêutico. No entanto, a alta variabilidade e subjetividade dos sentidos humanos com relação ao sabor, bem como as preocupações éticas e de segurança devido à possível toxicidade do fármaco são fatores limitantes ao uso de painéis humano (BARTOSHUK, 2000).

3.6.2 Estímulo nervoso em rãs

Uma segunda técnica proposta trata da avaliação do sabor através da resposta obtida ao estímulo nervoso utilizando rãs. Neste método, rãs adultas são anestesiadas intraperitonealmente e o nervo glossofaríngeo é localizado e dissecado a partir do tecido circundante e cortado proximalmente. Um AC-amplificador e um integrador eletrônico são utilizados para amplificar e integrar os impulsos nervosos,

respectivamente. A altura do pico da resposta integrado é então considerada como a magnitude da resposta (KATSURAGI & KASHIWAYANAGI, 1997).

3.6.3 Língua eletrônica

Um interesse particular para a predição do sabor de formulações farmacêuticas levou ao desenvolvimento de métodos alternativos que atendam às dificuldades associadas com a análise sensorial humana. Nesta área, além de testes de dissolução, dispositivos analíticos sensoriais de sabor ganharam maior atenção e representam instrumentos-chave para rastrear intensidades de sabor e qualidades de substâncias medicamentosas (WOERTZ et al., 2011a).

Língua eletrônica, ou sensor gustativo, é a designação dada para um conjunto de sensores capazes de distinguir amostras líquidas, e foi inspirado nas características da língua humana para a discriminação de sabores (CIOSEK & WROBLEWSKI, 2007; DANTAS et al., 2009; RIUL, 2010). No sistema biológico, a língua possui diferentes tipos de papilas gustativas distribuídas na boca, as quais possuem habilidades específicas de detecção. Na língua eletrônica, as unidades sensoriais são equivalentes às papilas gustativas.

O uso de conjuntos de sensores com a seletividade parcialmente sobreposta de padrões combinada com a análise multivariada de dados são sistemas muitas vezes referidos como sentidos artificiais porque operam numa forma semelhante aos sentidos humanos. Tais sistemas que analisam soluções aquosas foram denominados sensores de sabor, porque eles estão relacionados com os sentidos humanos do sabor (WINQUIST et al., 2004).

Quando temos um conjunto de unidades sensoriais formadas por diferentes filmes, então forma-se o sensor do tipo língua eletrônica. Para tanto, é empregado o conceito de seletividade global, no qual diferenças na resposta elétrica de diversos materiais servem como uma impressão digital da amostra analisada (DANTAS et al., 2009; RIUL, 2010).

Este conjunto de unidades sensoriais é imerso na solução a ser analisada, e então são realizadas medidas elétricas em cada uma das unidades sensoriais (aquisição de dados). Esta parte de aquisição de dados é análoga às transmissões

de informações feitas pelos neurotransmissores desde as papilas até o cérebro. As repostas obtidas pelas medidas elétricas na língua eletrônica são processadas por técnicas estatísticas ou computacionais, e então é formada a resposta discriminativa, semelhante ao trabalho desenvolvido pelo cérebro humano no reconhecimento dos sabores.

Três níveis semelhantes estão envolvidos para o mecanismo de reconhecimento gosto em seres humanos e línguas eletrônicas: o nível do receptor (papilas gustativas em humanos, membrana lipídica de sensores em línguas eletrônicas), o nível do circuito (transmissão neural em seres humanos, transdutores em línguas eletrônicas) e o nível de percepção (cognição no tálamo em humanos, análise estatística pelo software em línguas eletrônicas) (WINQUIST et al., 2004). Usando transdutores compostos por vários tipos de membranas lipídicas e poliméricas, informações de gosto fornecidas por amostras líquidas são convertidas em padrões eletrônicos. Afirma-se que a saída do sensor exibe padrões diferentes para as substâncias que produzem diferentes qualidades de sabor, enquanto ele fornece padrões semelhantes para as substâncias químicas com gostos semelhantes (ANAND et al., 2007).

Este é um dispositivo de detecção de sabor automatizado para detectar a magnitude do amargor de diversas substâncias, como por exemplo, os fármacos. O dispositivo tem um transdutor que é composto por vários tipos de membranas de lipídeo/ polímero com características diferentes que podem detectar o sabor de um modo semelhante à percepção do paladar humano. A resposta ao sabor é transferida na forma de um padrão composto por sinais elétricos a partir dos potenciais de membrana da parte do receptor. Respostas diferentes do padrão de potencial elétrico são obtidas para as substâncias que produzem diferentes características gustativas. Atualmente, a técnica tem sido aplicada, para a avaliação quantitativa da amargura de alguns medicamentos disponíveis comercialmente (TAKAGI & TOKA, 1998).

Geralmente, a tarefa destes dispositivos alterna entre reconhecer padrões de sabores, estimar quantidades de determinadas substâncias ou detectar moléculas específicas, todas executadas em meios líquidos. Há vários tipos de línguas eletrônicas descritas na literatura, diferentes principalmente pelos métodos empregados na aquisição de dados, como a potenciometria (TOKO, 1996;

WINQUIST, et al., 2000; WILSON, et al., 2012), voltametria cíclica (WINQUIST, et

al., 1997; WINQUIST, et al., 1998; WINQUIST, et al., 2000; CAMPOS, et al., 2012) e

espectroscopia de impedância (RIUL, et al., 2002; RIUL, et al., 2003; VOLPATI, et

al., 2012). Dentre estes, o método mais avançado em termos de produto acabado

para aplicação comercial é o potenciométrico, método base de alguns dispositivos disponíveis no mercado, como os produtos Tasting Sensing System da empresa

Isent (Japão), ASTREE da empresa Alpha MOS (França) e MultiArray da McScience

4 MATERIAIS E MÉTODOS