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1. Introdução

1.3. Revisão bibliográfica sobre obesidade e métodos de consenso

1.3.7 Abordagens terapêuticas para a obesidade

1.3.7.5 Métodos de construção de consenso

Muitas vezes, os profissionais de saúde enfrentam o problema de terem que tomar decisões em situações acerca das quais não existe informação suficiente, ou em que há informação inconsistente ou contraditória (116). Os métodos de construção de consenso são especialmente úteis nestes casos, em que não existe à partida unanimidade de opinião científica (116), tratando-se de métodos de síntese de informação, que aproveitam a experiência e os conhecimentos de especialistas numa determinada área de conhecimento.

Estes métodos, embora com um nível de evidência menor, têm como vantagens relativamente às revisões de literatura ou às meta-análises (outros métodos de resolução de inconsistências científicas) o facto de permitirem que se considere uma vasta gama de tipos de estudo, uma avaliação qualitativa das “provas” encontradas, chegando a estimativas quantitativas através de abordagens qualitativas (116). Estes métodos têm também vantagem relativamente a comités ou task forces, em que se assiste geralmente ao domínio por parte de um ou mais indivíduos, ou das coligações/organizações envolvidas. Não obstante estas diferenças, o objetivo dos métodos de consenso é determinar até que ponto os especialistas concordam em determinado assunto.

Na área da saúde, a investigação orientada para construção de consenso tem utilizado, de forma mais regular, um conjunto de métodos tidos como adequados para a construção de evidência científica (117), nomeadamente: os métodos dos Grupos Nominais, o método das conferências de consenso e o método Delphi.

1.3.7.5.1. Grupos nominais

O método dos Grupos Nominais foi desenvolvido nos Estados Unidos, na década de 60, e tem sido aplicado a problemas nos serviços sociais, educação, governação e indústria. No contexto da saúde, tem sido principalmente utilizado no debate sobre os métodos de tratamento mais apropriados, na educação e na formação, desenvolvimento de aptidões e identificação de medidas para ensaios clínicos (116).

Baseia-se na utilização de reuniões estruturadas, para obter opiniões de peritos sobre uma determinada questão. O processo envolve a identificação do problema, reflexão individual acerca da questão, partilha de ideias, discussão das ideias em grupo e votação individual. É um método que pode ser utilizado com grupos de várias dimensões, sendo a ideia que recebe pontuação mais alta considerada a decisão final do grupo.

Este método tem como principais vantagens o facto de conciliar a troca de ideias em grupo, o que potencia a geração de um grande número de novas ideias, permitindo, simultaneamente, evitar os problemas provenientes de eventuais constrangimentos, habituais em situações de grupo. Como desvantagens, pode-se salientar o facto de ser necessário investir muito tempo e rigor na organização da reunião e de esta poder não convergir para votação, podendo os peritos desviar a discussão do foco principal em análise, o que torna fundamental a escolha de um bom moderador (116).

1.3.7.5.2. Conferência de consenso

O objetivo das conferências de consenso é alargar o debate, normalmente restrito a peritos e cientistas, a um grupo mais alargado de cidadãos. Nos Estados Unidos, as conferências de consenso são utilizadas há mais de 30 anos como uma forma de avaliação de tecnologias aplicadas à medicina, envolvendo apenas peritos médicos. Na Europa, esta técnica começou por ser utilizada na Dinamarca, na década de 80, como uma forma de incluir na política a opinião de cidadãos sem cargos políticos.

Os participantes são selecionados por serem parte interessada na questão, independentemente do seu grau de conhecimento acerca da mesma. Todos recebem materiais informativos, assistem à apresentação do tema por peritos, de modo a obter o conhecimento básico acerca do tema e participam na conferência, que pode decorrer durante vários dias. No final, todos os participantes discutem os documentos (ou as ideias) que surgem da própria conferência com os peritos.

A principal vantagem deste método é permitir a troca de ideias e a auscultação de todas as partes interessadas no tema, mesmo leigos na matéria em estudo. Como desvantagem salienta-se a baixa taxa de adesão por parte dos participantes convidados (devido a ser um método por vezes prolongado no tempo), da conferência ser muitas vezes dominada por alguns participantes, assim como o encobrimento intencional de algumas opiniões, devido à pressão do grupo (118).

1.3.7.5.3. Método Delphi

O método Delphi foi desenvolvido por Olaf Helmer, Norman Dalkey e Nicholas Resher (investigadores da RAND Corporation, USA), na década de 1950 (início da guerra fria), para avaliar o impacto de armamento militar em cenários de guerra (119). Desde essa altura, tem sido utilizado em inúmeras áreas de conhecimento e apoiado a tomada de decisão em contextos políticos, de marketing, industriais e científicos (muito em particular na área da saúde), entre outros. Tem origem etimológica em “Delphus”, nome de um oráculo com capacidade de interpretação e de fazer previsões numa série de rondas (116).

Geralmente, o método Delphi é organizado em três ou mais rondas, sendo que, na primeira os participantes são convidados a dar opinião sobre uma questão específica, com base no seu conhecimento e experiência (abordagem qualitativa). Estas opiniões são depois agrupadas num número limitado de tópicos que possam ser transformados em questionário ou formulário de check-list para submissão a consenso. Em alternativa, a equipa de realização do Delphi constrói um questionário ou formulário inicial, com base em revisão de literatura ou noutros métodos de recolha de dados qualitativos (v.g., entrevistas, focus groups, etc.).

A abordagem quantitativa, orientada para a definição do consenso, é feita por rondas de apreciação de cada aspeto elencado no questionário ou formulário: nestas rondas, cada

participante classifica a sua concordância com cada afirmação do questionário, sendo anónimas as pontuações dadas a cada item e, por isso desconhecidas dos restantes elementos do painel de peritos. Os resultados obtidos em cada ronda são resumidos e integrados, pelo investigador, nas versões seguintes do questionário, acrescentando-se eventuais comentários espontâneos, que explicitem (de forma anonimizada) o pensamento subjacente às modificações introduzidas. Os participantes voltam então a pontuar cada (re)afirmação do questionário/formulário, tendo oportunidade de mudar a sua pontuação anterior (considerando a resposta média do grupo para cada item). As pontuações são por fim resumidas e avaliadas quanto ao grau de consenso e o processo termina se o grau de consenso inicialmente estabelecido tiver sido atingido. Caso contrário, repete-se o processo um número determinado (geralmente a priori) de rondas (116).

Uma das principais vantagens deste método é poder incluir um grande número de participantes, peritos na matéria em estudo, de várias origens e áreas de especialização (120), que expressam os seus pareceres, mantendo o anonimato. É um método que geralmente não exige grandes recursos financeiros ou grandes deslocações, pois a comunicação entre peritos e investigador pode fazer-se por e-mail ou site na internet. A maior desvantagem do método Delphi resulta da heterogeneidade de critérios e técnicas com que têm sido utilizados, nomeadamente quanto a aspetos como número de peritos a envolver, número de rondas a efetuar, formato das perguntas ou itens a apreciar pelos peritos, entre outros.