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3 ITINERÁRIO METODOLÓGICO

3.2 MÉTODOS DE LEVANTAMENTO DO NÚCLEO CENTRAL: A ESCOLHA DA

Ao optar pela abordagem estrutural, passei a estudar essa abordagem da teoria das Representações Sociais para definir a metodologia de levantamento do núcleo central. Na opinião de Pereira (2009, p. 9), uma das dificuldades em trabalhar com as representações sociais como campo teórico para a realização de pesquisas se refere ao fato de que

[...] as ferramentas metodológicas disponíveis são de criação muito recente e, sob vários pontos de vista, ainda são experimentais, quer dizer, estão sendo criadas e submetidas à validação do campo científico. Em vista disso, o investigador está sujeito a passar pela sensação, desafiante, certamente, mas não muito agradável aos espíritos afeitos às certezas, de que está abrindo caminhos, dizendo coisas novas ou dizendo algo novo sobre coisas velhas.

Na obra de Sá (2002), conheci alguns desses métodos, apresentados didaticamente com exemplos de uso por outros pesquisadores e discutidos com base em algumas de suas vantagens e desvantagens.25 Também li vários artigos que se valeram de algumas dessas técnicas, com especial destaque para os estudos de Alves-Mazzotti (2007) e de Albuquerque e Machado (2009), que usaram um instrumento de pesquisa simples, muito parecido com o questionário, a Técnica de Livre Associação, também conhecida como Teste de Livre Evocação de Palavras.

25

Não entrarei em detalhes para explicar cada um desses métodos. Convém assinalar, entretanto, que, entre as técnicas de levantamento do núcleo central existentes, procurava uma que fosse simples, de fácil aplicação e com o maior grau de confiabilidade possível para iniciar a investigação.

Angela Maria de Oliveira Almeida (2005) e Albuquerque e Machado (2009) explicam que a Técnica de Livre Associação: consiste em apresentar um termo indutor (palavra ou frase) aos sujeitos representantes do objeto que está sendo estudado, os quais designarão os elementos que compõem a representação deles em relação àquele objeto, a partir das palavras ou frases que lhes ocorrerem.

Essa técnica tem a vantagem de identificar os conteúdos simbólicos das representações sociais (SARAIVA, 2007), visto que seu uso “[...] favorece a obtenção de um material mais espontâneo junto aos participantes da pesquisa [...]”, permitindo assim “[...] colocar, em evidência, os universos semânticos relacionados a determinado conteúdo [...]” (ALBUQUERQUE; MACHADO, 2009, p. 77), uma vez que, segundo Nóbrega e Coutinho (2003), ela possibilita ao pesquisador acessar os elementos que formam a representação social dos sujeitos, sem que aconteça uma filtragem por censura de suas evocações.

Um exemplo dessa censura, de acordo com a metodologia escolhida, é a utilização de questionários com respostas predeterminadas, pois, mesmo quando existem campos para que os colaboradores preencham itens que eles julguem faltar na lista original, as respostas podem ficar tendenciosas. Afinal, ao optarem pelas opções trazidas pelo pesquisador, sem refletir um pouco a respeito do assunto, os sujeitos investigados podem assinalar alguma resposta por se sentirem compelidos e, até mesmo, por não quererem confessar que ignoram determinados aspectos do assunto investigado (LAVILLE; DIONNE, 2008).

Na opinião de Castanha et al. (2006, p. 132), a Técnica de Livre Associação apresenta “[...] um instrumento que se apóia sobre um repertório conceitual, com isso, permite a unificação dos universos semânticos e a saliência de universos de palavras comuns face aos estímulos indutores utilizados no estudo”.

O interessante desse instrumento é que, por meio dele, posso compreender como se estrutura a representação de formação continuada dos educadores de Educação Física estudados, uma vez que, com ele, foi desenvolvido e amadurecido um método de análise que se apoia nos dados conseguidos por meio da Técnica de Livre Associação.

Vale destacar que a compreensão dessa estruturação é nevrálgica para a abordagem estrutural porque, de acordo com essa subteoria das representações sociais, para conhecer e descrever adequadamente uma representação social, não basta conhecer seu conteúdo, mas também sua estrutura (SÁ, 2002).

Sendo o grande objetivo de esta abordagem compreender como uma representação social é estruturada, é importante assinalar:

[...] Uma estrutura designa, aqui, mais que um sistema (conjunto de relações

menos estabilizado), um conjunto de elementos, cuja estabilidade não é frágil;

não é imutável, mas não se dissolve diante de qualquer evento ou processos novos. Uma estrutura é um conjunto de elementos (crenças, opiniões, atitudes,

scripts, etc., enfim, cognemas) que mantém entre si, relações quantitativas e

qualitativas; e somente as mudanças qualitativas podem provocar a mudança do todo [...] (CAMPOS; LOUREIRO, 2003, p. 16, grifos dos autores).

Mediante a leitura de mais de 20 artigos que tratavam da abordagem estrutural, também chamada por alguns de teoria do Núcleo Central, conheci um grupo de programas desenvolvidos por Vergès (1994) que poderiam auxiliar na análise de evocações alcançadas com a Técnica de Livre Associação: trata-se do EVOC 2000, que chamarei apenas de EVOC neste texto. Segundo Carvalho, Accioly Junior e Raffin (2006, p. 655), “[...] o EVOC 2000 compreende um conjunto de 16 programas que possibilita a análise de evocações, permitindo dois tipos de análise: a lexicográfica26 e a categorização por análise de conteúdo”.

Apesar de sabedor das dificuldades que enfrentaria, optei pelo uso dessa nova metodologia por entender que questões complexas na área da educação, como a temática da formação continuada dos professores, muitas vezes necessitam de que o

26 No site da Academia Brasileira de Letras, encontra-se: “[...] Por lexicografia se entende a arte de fazer

um dicionário [...]” (Fonte: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=18). O site Infopédia, da Porto Editora, apresenta este conceito de Lexicografia: “ramo da linguística que se ocupa do estudo do vocabulário de uma língua, visando essencialmente a forma e a significação das palavras para a composição de um dicionário” (Fonte: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/lexicografia). Sendo assim, entendo a análise lexicográfica, a que os autores se referem, como análise e busca do significado das evocações e dos sentidos a ela atribuídos pelos sujeitos participantes da investigação com o agrupamento de evocações de significados próximos.

pesquisador use mais de uma metodologia e, por vezes, de perspectivas multidisciplinares (ANDRÉ, 2001).

Após exaustiva procura na internet, descobri um site da Universidade de São Paulo (USP) que disponibilizava gratuitamente o EVOC para download27 e o respectivo manual de instruções em francês. Traduzi o programa com o qual trabalhei por cerca de 30 dias para testar se conseguiria dominar seus aplicativos e se daria certa a apropriação desse tipo de instrumento de pesquisa.

Aprendida a contento a manipulação do referido programa, era chegada a hora de iniciar o trabalho de campo com a distribuição dos formulários que continham a Técnica de Livre Associação para os educadores investigados.