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1. ARQUEOLOGIA NA SERRA DA CANTAREIRA

1.2. Métodos e técnicas

Uma ideia ou teoria não deveria ser simplesmente instrumentalizada, nem impor seu veredicto de modo autoritário; deveria ser relativizada e ‘domesticada’. Uma teoria deve ajudar e orientar estratégias cognitivas que são dirigidas por sujeitos humanos. (MORIN, 2000, p. 29).

A diretriz que norteia este projeto fundamenta-se em uma lógica compreensiva, dialética e de interação entre teoria e prática, buscando cooptar metodologias, técnicas e instrumentos que potencializem a apreensão do passado através de vestígios que materializem esta manifestação no contexto da Serra da Cantareira. Afinal, como seria possível separar ação (práxis) e teoria (poesis) no contexto de compreensão de determinado objetivo de estudo? De fato, entende-se por teoria (thea), a observação visual e a visão, a contemplação, a especulação ou um conjunto de ideias que se estabelece sobre um determinado tema. Uma disciplina como a Arqueologia não poderia ser praticada sem estes quadros analíticos que lhe oferecem uma feição, um corpo específico. (FUNARI, 1999, p. 213)

Se considerarmos que ‘a História não é um grupo de fatos sobre o passado mas, ao contrário, um conjunto de idéias sobre o passado, no presente

(WRIGHT; MAZEL, 1991, p. 59 apud FUNARI, 1999, p.213).

Este trabalho tem por objetivo lançar as bases para uma pesquisa mais extensa com foco em estabelecer um panorama da ocupação humana na Serra da Cantareira com base nos vestígios materiais evidenciados, considerando o espaço como um

continuum contendo várias classes de evidências com várias densidades (DUNNELL &

DANCEY, 1983 apud ARAÚJO, 2001) sejam elas históricas ou pré-históricas.

Quanto à abordagem, o ineditismo da região para os estudos arqueológicos e históricos coloca certa responsabilidade para o pesquisador no sentido de tentar esboçar um primeiro modelo explicativo para o seu processo de ocupação no contexto de uma longa temporalidade. Nesse sentido, será adotada uma perspectiva de caráter histórico na compreensão dos vestígios em sua espacialidade no decorrer do tempo. E como aponta Dunnell

“...a abordagem histórico cultural, apesar de seus objetivos estreitos, obteve muito mais resultados do que a ‘paleoetnologia’ ou reconstrucionismo.

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Devemos ter em mente que o que se sabe, atualmente em termos de pré- história mundial é fruto antes de tudo da história cultural, quase intocada pelas inovações propostas pela ‘New archaeology’”. (DUNNELL, 1982, p. 4 apud

ARAÚJO, 2001, p. 85).

E de fato Binford (ARAÚJO, 2001), em entrevista, já apontara que a New

Archaeology não havia propiciado uma renovação teórica, mas metodológica da

disciplina. Araújo (2001, p. 85), em sua tese de doutoramento Teoria e método em

Arqueologia regional: um estudo de caso no Alto Paranapanema, afirma que

...o sucesso da abordagem histórico-cultural se deve ao uso de um

conceito de sobreposição de camadas que não levava em conta a posição exata, milimétrica dos artefatos, mas a contagem de artefatos por estrato, de maneira a construir curvas de freqüência. Neste contexto, a movimentação vertical de peças não alteraria em muito uma curva senóide de freqüência tipológica. Isto não que dizer que os arqueólogos de orientação tradicional tivessem um melhor entendimento do registro arqueológico. Sem querer, e sem entender porquê, eles estavam se valendo de características físicas dos sedimentos e obtendo resultados satisfatórios na construção de cronologias. O sucesso da história cultural foi uma questão de tentativa e erro.

Este autor (ARAÚJO, 2001, p. 97) defende uma Arqueologia menos historicista e humanista e mais científica e antropológica e embora não desenvolva o seu trabalho de acordo com a abordagem aqui assumida, lança questões importantes do ponto de vista metodológico e técnico para esta pesquisa. É significativo como o seu olhar converge para o encaminhamento aqui dado ao direcionar o foco de sua atenção para as lacunas e restrições impostas à análise dos vestígios feitos pelos arqueólogos, discorrendo sobre artefatos tradicionalmente descartados nos trabalhos de campo, não percebidos pelo olhar como relevantes ou que sofreram algum tipo de preconceito por parte do pesquisador como os sítios sob arado e os registros arqueológicos de superfície. O autor aborda também os microartefatos, a amostragem probabilística, a comparação entre concentrações e artefatos isolados, artefatos no-sites (no-sites,

nonsite sampling, siteless survey, off-site archaeology), entre sítios arqueológicos e ultrapassa o conceito de sítios, ou melhor, o transgride. Aponta, seguindo a percepção

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...,arqueólogos tem percebido que informações importantes a respeito de grupos humanos pretéritos só podem ser obtidos por meio de uma visão regional.” (2001, p. 97)

Daí é que se percebe que é na convergência de dados, promovendo o diálogo entre o local e o regional e contextos mais amplos, entre os dados de sítios e de conjunto de sítios com o contexto em que se encontram é que se pode obter um olhar mais apurado sobre as informações intra-sítios. E como Morais (2006, p.198), que ao falar da Arqueologia preventiva afirma que:

...estudos de Arqueologia preventiva são uma aplicação holística per se, pois refletem a intenção de construir pontes sobre as fronteiras disciplinares e a tradição, acolhendo o princípio da totalidade19.

Para Araújo (2001, p. 90-91 e 97) a New Archaeology não produziu muitas mudanças do ponto de vista teórico, mas uma revolução técnica com métodos mais rigorosos de levantamento, o uso de amostragem probabilística e programas de levantamento arqueológico. O autor focou a distribuição dos vestígios arqueológicos na paisagem, quais os possíveis significados desta distribuição e como os vestígios arqueológicos se ordenam ao longo do tempo. Algumas questões propostas por ele transcenderam alguns dogmas que se solidificaram na história da Arqueologia como conceitos naturais, sem crítica e percepção de sua historicidade, tais como: sítio, artefato e vestígios.

Entre as questões abordadas e relevantes para este estudo estão os conceitos de off-site archaeology (ARAÚJO, 2001, p. 101), nonsite sampling, no-site, ampliando a percepção de que o que ocorre entre sítios arqueológicos pode ser bastante relevante como informação, subvertendo a idéia do estudo limitado ao sítio (ARAÚJO, 2001, p. 100). Artefatos isolados também incorporam informação e podem ser analisados como referências, indicadores e contrapontos no âmbito de uma pesquisa. E, ao considerarmos a Arqueologia de períodos históricos, o diálogo com outras fontes documentais, sejam fotografias, narrativas, documentos textuais, mapas, iconografias ou depoimentos, pode e muito ampliar os resultados almejados.

19 Morais cita Antonio Christofoletti que explora esta possibilidade na Geomorfologia, conforme Modelagem de sistemas ambientais, editado por Edgard Blucher, em 1999.

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Araújo (2001, p.101-129) também analisa algumas metodologias de trabalho de campo como o levantamento de cobertura total ou levantamento 100%, embora se saiba que esta seja uma utopia sempre desejável. É significativa a percepção da inclusão de vestígios de baixa visibilidade, microartefatos e a discussão do potencial de pesquisa de sítios perturbados. É oportuna a afirmação de que a unidade mínima de origem é sempre o artefato.

Edgar Morin, em sua comunicação Os desafios da complexidade (2004, p. 559– 567), apresentada durante as Jornadas Temáticas e presente no livro A religação dos

saberes: o desafio do século XXI sugeriu uma reflexão oportuna sobre a inclusão de

uma percepção complexa sobre o objeto da ciência, ampliando a perspectiva do pesquisador sobre o seu próprio objeto de estudo, ou seja, por antítese, inserir no campo da reflexão aspectos externos à percepção cartesiana, incluindo a desordem ao lado da ordem, a junção ao lado da separação, a síntese, a unidade e a parte, a causa e o efeito20.

Para Morin, o princípio da ordem contempla tudo que é estável, constante, regular e cíclico. É a concepção do mundo como uma máquina perfeita. Contudo, ao lado da ordem sempre há a desordem e este é o aspecto mais vivenciado pelo arqueólogo. Se no processo da pesquisa ele organiza os dados captados de maneira gráfica, buscando controlar o sítio desordenado, transformando-o, de fato, em um produto científico, ele não emudece a desordem do real, do que ocorre fora do sítio, do extra-sítio, da presença do artefato isolado, disperso no solo; das ausências, daquilo que não foi encontrado.

A incorporação também do novo e da criação, da percepção de artefatos que não eram percebidos de antemão, como os microartefatos, os biofatos e ecofatos e de outros possíveis artefatos humanos ainda não isolados pelo conhecimento, não percebidos e destacados da totalidade, como os próprios solos de terra roxa, ou até mesmo das áreas de pesquisa que já sofreram perturbação parcial ou total do solo por

20 Para Morin o espírito científico até o início do século XX, e ainda hoje muito presente foi ser o de

revelar, por trás da aparente confusão dos fenômenos, as leis simples que os regem, a ordem pura que os determina. Tratava-se de chegar a estabelecer verdades simples por quatro grandes meios. (2004:

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intervenções posteriores. Não seria oportuno pensar na dialógica entre a ordem e desordem como partes integrantes de uma mesma dimensão, de um mesmo jogo, ou seja, uma cooperação entre ambos, uma organização? (MORIN, 2004, p. 561-562).

Em relação ao princípio de separação e junção, entre as ciências, a Arqueologia é aquela que mais foi beneficiada pela contribuição de outras disciplinas. Em toda a sua história, as ofertas se avolumaram, seja da Biologia, Geologia, Química, Física, Estatística, Matemática, História, Antropologia, Etnologia e outras. Morin já salientava que as ideias nascem nas fronteiras e nas zonas incertas..., das descobertas ou teorias que ...nasceram muitas vezes de forma indisciplinar. (2004, p. 562). Assim, é na junção, na busca de uma totalidade que o conhecimento pode ser melhor recebido. A Arqueologia almeja uma totalidade, daí a busca nas outras disciplinas do trabalho interdisciplinar em campo e laboratório; no trato dos vestígios presentes nos sítios, por outro lado, continua a trabalhar somente com aquilo que permaneceu, que resistiu, que perseverou no tempo. Nem todos os artefatos – tipologias e séries – são encontrados. Não se pode eliminar a contradição,

...o todo tem um certo número de qualidades e de propriedades que não aparecem nas partes quando elas se encontram separadas. (MORIN, 2004, p.

562)

Em outro aspecto, o conhecimento de um, de uma parte, não gera o conhecimento do todo. A New Archaeology desenvolveu análises em âmbito regional, pesquisando as adaptações de uma mesma cultura a ambientes diversos, no entanto, muito ainda há de ser desenvolvido no sentido de criar metodologias e técnicas que dêem conta das lacunas, das ausências, do que foi levado pelo tempo. O princípio da redução, da síntese é a idéia de que o conhecimento das unidades elementares de um objeto permite conhecer os conjuntos dos quais eles são os componentes.

...encontra-se morto, por que jamais chegaremos ao conhecimento de um todo a partir do conhecimento dos elementos de base. (MORIN, 2004, p.

565)

Daí a necessidade de que a Arqueologia crie metodologias e técnicas que permitam a partir de uma parcela da cultura material buscar o todo ou ampliar o rol de conhecimentos com base nos artefatos percebidos. A totalidade é impossível, mas desejável. A ciência se funda na busca desta totalidade.

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O princípio da lógica dedutivo-identitária ou da validade absoluta da lógica clássica e sua transgressão, ou seja, o pensamento linear causa e efeito não aceita a contradição. O pensamento racional nos faz procurar dados que comprovem e que reafirmem as nossas hipóteses. Não buscamos a contradição. E é na contradição que se encontra o verdadeiro conhecimento. O pesquisador deve buscar a contradição, a refutação de sua hipótese. Para Morin:

Devemos propor a idéia dialógica, que aceita que duas instâncias não redutíveis uma a outra e contraditórias entre elas estejam ligadas intimamente.

(2004, p. 565)

Um artefato encontrado no sítio ou fora dele, por muitas vezes, gera a contradição e coloca novas questões para o pesquisador, seja ela uma única peça. Este fato, por vezes, leva o arqueólogo a descuidar-se deste artefato indicador, concentrando-se no conjunto de artefatos que apresentam uma melhor adequação às teses propostas. Para Morin (2004, p. 566), o pensamento cartesiano ...deixou de ser

absoluto, e é precisosaber transgredi-lo.

A restrição das fontes de informação e a necessária aquiescência com outras disciplinas fizeram com que a Arqueologia apresentasse uma apologia ao método e à técnica. Como Prometeu, a New Archaeology, em seu projeto de salvar a Arqueologia, contribuiu de fato para uma maturação, para uma superação da área e de suas ambições histórico-culturais, embora seja bastante reconhecido que não existiria a ciência arqueológica como ela o é hoje sem as contribuições fundamentais do Histórico- Culturalismo. A presente pesquisa, na própria delimitação da área de ação, por seu ineditismo e quase ausência de estudos pregressos não só na Arqueologia, como em outras áreas do conhecimento21, não só foi mediada pelo uso de diversas fontes de dados, como também considerou demandas sociais e institucionais locais, como a relevância patrimonial do bem para a comunidade e possíveis demandas do poder público municipal em seu trato com os bens culturais locais.

A concepção teórica que fundamentou este trabalho contempla o diálogo, a convergência e a contradição destes documentos que, contemplados em conjunto no exercício da pesquisa, permitem uma leitura potencializada dos sítios e artefatos, em

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consonância com a leitura de documentos primários e secundários, sejam mapas, depoimentos, fotos aéreas, fotografias, textos de cronistas e viajantes, textos historiográficos, documentos textuais e iconografias. Ela procura ser compreensiva, no sentido de agregar o conhecimento de várias disciplinas no entendimento do objeto de estudo e dos objetivos de antemão elencados, considerando o próprio percurso desta pesquisa como parte deste processo. Fato que de certa maneira é comum para a Arqueologia dita histórica que, segundo Embree, considera que:

a Arqueologia Histórica, em sentido amplo, inclui a meta-Arqueologia e, como a pesquisa substantiva, inclui metodologias de coleta de dados e, também, a análise da teorização dos modelos explicativos. (EMBREE, 1989, p.

37 apud FUNARI, 1999, p. 214).

De fato, muitas críticas surgiram aos arqueólogos que se descuidaram da reflexão, da teoria arqueológica em detrimento das preocupações com as pesquisas de campo e o conhecimento sobre aspectos específicos do passado humano. No entanto, é frente às adversidades que surgem no cotidiano arqueológico que as principais questões de pesquisa aparecem, propondo novos caminhos e desafios para a construção do conhecimento – teoria - arqueológico. A pesquisa sobre a ocupação humana na Serra da Cantareira procurou se adequar e partiu deste pensamento, de um espaço problematizador e instigante para tornar vivo um conhecimento significativo.

Por um lado, o trabalho historiográfico busca à sua maneira estabelecer um nexo causal entre fatos históricos, uma linearidade entre ocorrências selecionadas que, em última instância, serão ordenadas, organizadas, sistematizadas e analisadas, enquadrando-se em uma narrativa que ofereça para o leitor um sentido e um entendimento sobre um determinado passado. Por mais que os autores se esmerem em expor não apenas um único olhar, mas a diversidade de olhares, dos diversos sujeitos sociais, conflitantes e inerentes a um tema presente na trama social, aspecto importante e que passou a ser observado pela historiografia nas últimas décadas, expondo não só os conflitos e os discursos dos vários sujeitos que participam do processo histórico, mas expondo, por muitas vezes, as contradições presentes nos próprios documentos analisados, acabam, por muitas vezes, omitindo perspectivas e informações que não puderam ser resgatados pela documentação escrita. A documentação traz facetas parciais de um todo social - facetas mediadas por grupos

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sociais que se apropriaram da linguagem escrita em detrimento de uma totalidade da população que nunca teve acesso a isso e que se viu calada para o tempo – que produziu seus documentos. Estes são olhares mediados, segmentados, que colocam para o historiador o desafio de compreender o todo por sua parte, ou seja, de dar voz aos sujeitos que não produziram os documentos escritos, que não são representados por eles. Contudo, o historiador produz o seu trabalho historiográfico e através da escrita acaba por tornar simples aquilo que poderia ser por outro olhar bem mais complexo. Ele constrói a história através da narrativa que elabora, com ou sem lacunas ou ausências e o leitor pouco o percebe na sua longa narrativa.

Por outro lato, a Arqueologia é uma ciência que atua diretamente no espaço social, promovendo a intervenção no território físico apropriado pela sociedade. Ela não segmenta o mundo em letrados e não letrados. Ela interfere e oferece novos significados para os espaços em que os grupos humanos vivem e constroem suas histórias e identidades. Esta é uma característica primeira da ciência arqueológica, diferente de outras ciências sociais, manifestando o seu papel marcante na construção de significados e resignificados para o espaço social ocupado/apropriado pelas diferentes comunidades em suas lutas cotidianas, exigindo uma posição política, além de científica, em sua práxis cotidiana de intervenção no espaço público e particular.

A metodologia para a atuação em campo procurou estruturar-se com base em modelos adotados/desenvolvidos por outros arqueólogos no Estado de São Paulo (ARAÚJO, 2001; CALDARELLI, 1999-2000; MORAIS, 2006; ZANNETINI, 2005) e em consonância com modelos adotados por arqueólogos americanos e europeus. No entanto, por seu enfoque compreensivo, todo o processo de delimitação de área de intervenção, bem como das próprias intervenções in loco foram pautados por uma abordagem que buscava a integração e o diálogo, considerando não só fatores logísticos, estratégicos e políticos, como de acessibilidade e observação empírica em campo, associado com elementos da geomorfologia.

Uma questão que se demonstrou relevante e que não foi pensada de antemão foi a grande fragmentação da área em inúmeras chácaras de veraneio, condomínios, habitações em áreas de invasão, clubes de associações e áreas de posse do poder público, o fato que dificultou sobremaneira o acesso a diversos locais, acrescido da

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desconfiança dos proprietários, moradores, caseiros e residentes quanto às intenções do pesquisador, já que um dos problemas locais mais prementes é a falta de regularização fundiária decorrente de invasões e grilagem de terras, com muitas propriedades com tramitação de documentação por processos de usucapião; muitos foram aqueles que viram com preocupação uma pesquisa acadêmica e científica, pois a associavam com o perigo de uma intervenção municipal em suas propriedades e até um tombamento, retirando, segundo o senso comum, a posse de seus bens. Esse fato exigiu contínuos esclarecimentos por parte do pesquisador que mesmo assim não teve acesso a alguns locais.

Na esteira do boom da New Archaeology, nos anos 197022, aflorou uma preocupação quanto aos métodos de levantamento arqueológico. Uma das principais questões que surgiram tratava da elaboração e desenvolvimento de levantamentos arqueológicos, ou seja, da

...capacidade de identificar e amostrar todas as categorias de recursos arqueológicos de uma área determinada. (CALDARELLI, 1999-2000, p. 59).

Neste sentido, logo surgiram autores que buscaram desenvolver pesquisas de cobertura total ou amostral, recorrendo, por vezes, a amostragens probabilísticas como importante recurso para alcançar uma cobertura representativa – selecionando uma parte do total disponível - principalmente enquanto técnica exploratória, forçando a observação mesmo onde não se esperava obter resultados. (REDMAN, 1987, p. 250- 251 apud CALDARELLI, 1999-2000, p. 61). Araújo (2001), quanto à distribuição das linhas de caminhamento sobre a área de trabalho, coloca três possíveis abordagens: caminhamento sistemático com espaçamento regular, sem cobertura amostral; a estratificada, por compartimentos ambientais; sistemático e/ou estratificada ou randômica. Plog (1976 apud CALDARELLI, 1999-2000, p. 62) defende que as amostragens sistemática e sistemática estratificada são as mais eficientes na detecção de sítios.

Contudo, no contexto desta pesquisa, a definição da metodologia a ser adotada considerou aspectos não menos relevantes como a escassez de recursos financeiros e

22 A Arqueologia Americana nos anos de 1970 e 1980 preocupou-se, sobretudo, com a abordagem regional, compreensão de processos culturais, sistemas de sítios, padrões de assentamento, sugerindo novas técnicas de amostragem.

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humanos; a redução do tempo para a pesquisa; o ineditismo da área; a ausência de pesquisas pregressas sistemáticas na região que pudessem subsidiar ou orientar a formulação de uma estratégia empírica ou formular um contexto; a proximidade de patrimônio material histórico tombado relevante; a valoração do patrimônio local perante a comunidade frente ao estado atual de abandono. Por outro lado, questões geográficas e logísticas também foram consideradas, tais como: a acessibilidade às áreas de pesquisa; a presença ou não de propriedade privada de caráter jurídico ou área pública que facilitasse ou fosse impeditivo ao acesso; a intervenção e modificação urbana em grau avançado ou grandes movimentações de solo em decorrência de obras

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