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Os locais de pesquisa selecionados foram todas as unidades de saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) que são Centros de Referência em Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e aids – 8 unidades – e um Centro de Saúde de atenção básica de cada uma das 15 Regionais de Saúde da SES-DF – somando mais 15 unidades – determinados por sorteio, totalizando 23 unidades. Dessas, uma unidade de saúde recusou a participação na pesquisa, permanecendo então 22. A escolha de unidades básicas de saúde e unidades que são referência em atendimento especializado às DST e aids se deu baseada na hipótese de que as representações sociais a cerca de um objeto de análise se diferenciam, dentre outros processos, pelo maior ou menor contato com o objeto em questão. Historicamente, equipes de unidades de referência em DST e aids no Brasil recebem treinamento e trabalham baseados em diretrizes que consideram vulnerabilidades específicas, como de sexo, gênero, o que sugere que esses profissionais podem apresentar representações sociais diferentes de profissionais que tradicionalmente recebem formação e treinamento para o atendimento à população em geral. Apesar dessa escolha, não foi possível realizar a análise da estrutura das representações sociais por natureza da unidade de saúde – básica ou de referência – pelo número reduzido da amostra, o que poderia comprometer a análise quantitativa. No entanto, na análise do conteúdo das representações foi possível associar essa variável a alguns dos discursos.

Foram definidos como sujeitos da pesquisa, médicos, enfermeiros, e auxiliares ou técnicos em enfermagem. A opção por essas categorias se deu basicamente por serem os profissionais que estão em maior quantidade nas unidades de saúde e geralmente são os que primeiro têm contato com as pessoas que chegam ao serviço. Inicialmente foi definido que seriam convidados três profissionais de cada categoria que estivessem disponíveis no momento da coleta de dados, mas esse número variou de acordo com a realidade de cada unidade de saúde selecionada. Foram convidados para participar da pesquisa 150 profissionais, sendo que 128 concordaram com a participação e 16 recusaram. Houve seis perdas – instrumento de coleta de dados não devolvido – que corresponde a 4% da amostra.

A coleta de dados foi realizada pela própria pesquisadora entre os meses de agosto e outubro de 2011. Foram utilizadas as técnicas de evocação livre e de hierarquização de itens (Sá, 1996). Consistiu na aplicação de questionário (Apêndice A), previamente testado, semi-estruturado, baseado na técnica de associação livre, onde era solicitado ao

participante que escrevesse pelo menos quatro palavras ou expressões que lhes ocorressem imediatamente em relação ao termo indutor “transexualidade”. Em seguida, deveria listar, em ordem de importância, as três palavras ou expressões consideradas mais importantes e descrever o significado do termo considerado mais importante. O instrumento também questionava os participantes se já haviam atendido pessoas transexuais durante a carreira profissional. No caso de resposta positiva, foram solicitados a descrever os sentimentos e as principais dificuldades percebidas durante o atendimento. Também foram coletados dados referentes ao perfil profissional e sócio-demográfico. O tempo médio aproximado de aplicação do instrumento de coleta de dados foi de 20 minutos. Em alguns poucos casos os profissionais pediram para devolver o questionário preenchido em outro momento previamente agendado.

Foi realizado registro sistemático durante a fase de coleta de dados, com o objetivo de captar informações relevantes ao desenvolvimento da pesquisa que o questionário de coleta de dados poderia não ser capaz de captar, como por exemplo, as reações dos profissionais diante do tema, a disponibilidade e o interesse em participar da pesquisa, afirmações, dúvidas e outras expressões dos profissionais de saúde em relação ao estudo.

Os dados coletados referentes ao significado do termo considerado mais importante, aos sentimentos e às dificuldades percebidas durante o atendimento foram

processados pelo software ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte), que gera contextos – classes – caracterizados pelo vocabulário e segmentos de textos que compartilham esse vocabulário, a partir da análise lexicográfica e da classificação hierárquica descendente (CHD) do material textual. O corpus de análise foi composto por unidades de contextos iniciais (UCI) definidos pela pesquisadora. Cada UCI possui as variáveis que caracterizam os sujeitos de acordo com o delineamento da pesquisa (Reinert apud Camargo, 2005). Nesta pesquisa as respostas dadas por cada sujeito ao significado da palavra considerada mais importante e aos sentimentos gerados e as dificuldades percebidas durante o atendimento foram consideradas uma UCI. Ou seja, o número de UCI corresponde ao número de participantes da pesquisa que responderam às questões citadas.

As variáveis consideradas neste estudo foram:

• Natureza da unidade de saúde (básica ou especializada); • Ter atendido pessoa transexual;

• Faixa etária (20 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59 e 60 anos ou mais);

• Religião (ter fundamento judaico-cristão ou não ter fundamento judaico- cristão);

• Categoria profissional (médico, enfermeiro ou auxiliar/técnico em enfermagem);

• Tempo de exercício profissional (menos de 10 anos ou 10 anos ou mais). Após a identificação das UCI, o ALCESTE divide o material em unidades de contexto elementar (UCE), seguimentos de texto, que após a CHD, se organizam em classes. Cada classe é composta pelo conjunto de UCE que apresentam vocabulário semelhante, e que se diferenciam de vocabulários de outras classes. As classes são então organizadas em eixos. O resultado da CHD é apresentado graficamente em forma de árvore denominada dendograma (Camargo, 2005). Foram atribuídos pela pesquisadora títulos aos eixos e às classes, baseados na análise do material textual à luz do referencial teórico adotado.

Também foi utilizado o software EVOC 2000 (Ensemble de Programmes Permettant l`Analyse des Évocations), que permite a análise de evocação indicando os prováveis elementos centrais e periféricos das representações sociais. Os dados considerados foram os termos evocados a partir do termo indutor e a hierarquização deles. Neste estudo foram calculadas as relações entre as frequências e as ordens de evocação, considerando 5 a frequência mínima, 16 a frequência intermediária e 3.7 a ordem média de evocação, gerando o quadro de quatro casas (Figura 2). Nesse quadro, o quadrante superior esquerdo – 1º quadrante – apresenta as palavras mais freqüentes e mais prontamente evocadas, o que indica que provavelmente fazem parte do núcleo central da representação. No quadrante inferior esquerdo – 3º quadrante – aparecem os termos com freqüência menor, mas prontamente evocados, e no superior direito – 2º quadrante – os muitos freqüentes, mas não tão prontamente citados. Esses dois quadrantes indicam as palavras que possivelmente pertencem ao sistema periférico das representações e estão mais próximos ao núcleo central. Por fim, o quadrante inferior direito – 4º quadrante – indica os termos que foram pouco freqüentes e menos prontamente evocados, indicando a periferia distante (Vergès, 2000).

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO 1º Quadrante Núcleo central 2º Quadrante Periferia próxima 3º Quadrante

Periferia próxima 4ª Quadrante Periferia próxima

Figura 2 – Quadro de quatro casas gerado pelo EVOC.

Para testar a centralidade dos termos que compõe a representação social da transexualidade, foi calculado o percentual da “queda de freqüência” entre a freqüência total dos termos apresentados pela técnica de evocação e os termos hierarquizados como os mais importantes pelos participantes da pesquisa. Esse indicador fornece mais elementos para identificação da estrutura das representações. Nesse estudo, considerou-se a queda de freqüência inferior a 50% como indicador de centralidade do termo (Ribeiro, 2000). A fórmula desse cálculo pode ser expressa da seguinte forma:

Queda de frequência (%) = F t – F p x 100

________

F t

Sendo F t a frequência de todos os termos evocados processados pelo EVOC e F p

a frequência dos termos que, dentre os evocados, foram considerados pelos participantes como os três mais importantes. Foram considerados apenas termos com frequência de evocação > 4.

Os significados atribuídos pelos sujeitos da pesquisa às principais palavras foram descritos e analisados.

Os sentimentos gerados e as dificuldades percebidas durante o atendimento foram categorizados a partir da leitura exaustiva do material.

Os dados sócio-demográficos e profissionais serviram à descrição do perfil dos participantes por freqüência simples e porcentagem, e à análise das variáveis do conteúdo das representações. F R E Q U Ê N C I A

A análise dos dados foi realizada em três etapas. Para a etapa que se refere ao conteúdo das representações, foi utilizada a análise gerada pelo ALCESTE. Para a identificação da estrutura das representações foram considerados o quadro de quatro casas, onde é possível identificar os prováveis núcleo central e sistemas periféricos das representações, as descrições dos significados das principais palavras e o teste de centralidade. E por fim, na terceira etapa foi realizada a descrição dos sentimentos e das dificuldades no atendimento de transexuais.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS), seguindo todas as recomendações éticas vigentes, sendo aprovado em 8 de junho de 2011 (ANEXO A).

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