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PARTE I – INSTITUIÇÃO RELIGIOSA

CAPÍTULO 2 – OS CUIDADOS DA DEVOÇÃO E A ORDEM REDENTORISTA NO SNA

32. Tomem a Bem-aventurada Virgem como modelo e ajuda, Ela que,

2.2 Mídias, comunicação e um projeto nacional

Desde o final do século XIX, no período de transição política do sistema monárquico para o republicano, propostas foram elaboradas, por dirigentes políticos e intelectuais, para começar a pensar e formular propostas para a composição dessa nova nação.

Ainda no período da República Velha (1889 a 1930) o projeto de construção da nação se utilizou de propaganda, como entende Raymundo Faoro (2008, p. 753). Para tanto o autor menciona que duas forças foram mobilizadas para esse propósito, “embora inconciliáveis no seu conteúdo espiritual: o catolicismo e o positivismo. Ambos serviam à ordem, apesar do último, no Brasil, ter ajudado a transformação republicana”. Havia uma preocupação com a construção de uma ordem nacional, assim como na promoção do progresso da jovem nação de origem agrária que começava a se industrializar.

Também no segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) houve a constituição de um projeto de nação. Para dar reforço ao “fator de unificação nacional e instrumento de progresso econômico e social, o conjunto de serviços de comunicação passou a ser considerado um setor fundamental do investimento público” (DRAIBE,1985, p.189). Vários são os elementos que constituem projetos estatais de construção de nacionalismos: pautados no controle dos setores econômico, político e social, o projeto nacional, durante os governos de Getúlio Vargas, representaram bons exemplos do uso dos meios de comunicação para a construção de um nacionalismo e para a manutenção da política praticada por Getúlio enquanto presidente.

Já com Juscelino Kubitschek (1955-1960) o projeto de nação tem como foco o crescimento econômico, com o plano “50 anos em 5”, a mudança da capital federal para Brasília e o incentivo à entrada no país de empresas multinacionais, tais como as montadoras de veículos automotivos (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010). A partir desse período, iniciou- se uma transformação estrutural na sociedade brasileira, ampliando empregos - ligados a industria – em grandes centros urbanos, promovendo um êxodo do campo em direção a grandes metrópoles, como São Paulo. Além disso, com a mudança da capital para Brasília, há uma proposta de expansão e inserção maior na região Centro-Oeste. Esse fato atraiu milhares

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de pessoas que trabalharam na construção da capital, bem como foram os moradores e cidadãos que transformaram a realidade dessa grande área central brasileira.

Durante o regime militar, que perdurou entre os anos de 1964 a 1985, os militares se pautaram especialmente na construção de um nacionalismo preocupado com a defesa do Estado nacional, seja para defendê-lo de ameaças externas (como o Socialismo), seja para a defesa interna, com o fortalecimento da doutrina de segurança nacional, trazendo prioridade para as forças armadas na defesa contra as ameaças internas de guerrilha. O slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o”, é o mote da identidade nacional projetada pelos militares no período do governo Médici – auge da repressão (1969-1974), conhecidos como anos de chumbo.

Reprimidos os grupos de guerrilha nesse período, poucas foram as entidades que conseguiam manifestar alguma insatisfação popular quanto à ditadura militar: a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB -, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC - e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Em especial essa última, na figura de alguns de seus bispos e arcebispos, representou uma tentativa de luta contra o projeto nacional arbitrariamente imposto pelos militares (DEL PRIORE; VENANCIO, 2010).

Para a construção de um projeto nacional, vários são os elementos que entram na constituição daquilo que se pensa ser necessário para a criação de uma identidade nacional: educação, meios de comunicação, política, economia, cultura, esferas trabalhadas para enaltecimento de nacionalismos. Bandeira, hinos, programas de rádio e televisão com propagandas de enaltecimento de políticas públicas, são alguns exemplos ideológicos de caracteres trabalhados para reforçar e - ao mesmo tempo afastar – posturas aceitas ou não. Controle autoritário, por meio de instrumentos ideológicos, de grupos e setores da sociedade, com objetivo de incentivar uma identidade nacional.

Jesús Martín-Barbero (2006) faz uma crítica a essa ideia de construção de identidades nacionais, mostrando como são autoritariamente arranjadas e falhas na constituição de identidades nacionais, pois são projetos impostos e não pensados socialmente. O autor defende que para que um projeto nacional seja articulado é necessário que este reflita sobre os meios de comunicação e como esses devem ser manipulados para melhor atender aos anseios de um projeto de nação. Estados-nação - na visão de Martín-Barbero (2006) - são mistificados: são pensados como sendo a “alma” de um povo, deixando de ser analisável socialmente e “não trespassável pelas divisões e pelos conflitos, uma entidade abaixo ou acima do movimento do social” (MARTÍN-BARBERO, 2006, p. 39). É como se uma nação

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fosse uma “comunidade orgânica”, oriunda da constituição apenas por laços biológicos, telúricos, naturais, sem historicidade, desprovida de conflitos sociais, imune a divisões internas.

Dentro dessa perspectiva de análise, torna-se claro que as mídias assumem papel preponderante na construção de um projeto nacional. O projeto do Santuário, somado ao desenvolvimento das mídias a ele ligadas é uma das faces desse projeto nacional, que se instaura pela via da religiosidade.

O SNA se utiliza dos meios de comunicação (rádio, televisão e portal eletrônico), seja para promover sua divulgação, seja para noticiar seu público e romeiros sobre seus eventos. O principal meio de comunicação é o portal eletrônico A12, que está no ar desde 2010 e reúne informações sobre o Santuário Nacional, a Editora Santuário, a Rádio e a TV Aparecida. O site conta hoje com mais de dois milhões de visualizações por mês (SANTUÁRIO, s.d., p. 20).



Figura 31 Nicho de ofertas localizado abaixo da réplica da Aparecida, Basílica Velha. Associação do brasão nacional à imagem da padroeira do Brasil. Dez. 2010.

Anteriormente, era o portal www.santuarionacional.com. O A12 veio em substituição, mais informativo e completo para o internauta. A partir dele, é possível saber o público esperado para um final de semana, obter informações sobre o município e o SNA, orar e acender velas virtuais, ouvir rádio, conhecer notícias sobre eventos litúrgicos e católicos que acontecem no SNA, fazer visitação virtual ao Santuário. Enfim, é possível tomar contato e

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informar-se com maior profundidade sobre o mesmo. Os objetivos e missão do portal A12 encontram disponibilizados abaixo:

A12 - A mãe Aparecida mais perto de você

Quem Somos

Um novo Portal Católico que nasce sob a proteção da Mãe Aparecida, a fim de levar para mais perto dos devotos internautas, ações de evangelização realizadas pela Rede Aparecida, composta pelo Santuário Nacional, Rádio e TV Aparecida e Editora Santuário.

Nossa Missão

Promover uma cultura de respeito, diálogo e interação utilizando todas as novas ferramentas digitais, com o intuito de unificar todos os públicos, respeitando a riqueza de sua diversidade, especialmente católicos e devotos da Mãe Aparecida.

Favorecer a integração das instituições que compõem a Rede Aparecida levando ao mundo digital qualidade de conteúdo, testemunhos de fé e formação.

Nossa Visão

Estabelecer a plenitude de nossa missão, colaborando com nossa atividade missionária e evangelizadora tendo em todo este universo Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil, como elemento chave desta união. Ser referência em produção e difusão de conteúdo, levando ao usuário interatividade que ofereça qualidade e credibilidade nas informações42.



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Figura 32 Imagem do portal A12.com/quemsomos. Acesso em 9 fev. 2012.



Figura 33 Propaganda do portal A12.com no caminho às lojas e restaurantes. Dez. 2010.

O trabalho informativo não é o único propósito do sítio. Há uma missão de evangelização e de tornar a padroeira mais conhecida, o que faz do A12 um portal

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importantíssimo dentro de um projeto institucional de expansão do SNA e de popularização, bem como o sítio torna-se um espaço virtual de oração e recolhimento.

Revista de Aparecida - Com uma tiragem de 618 mil exemplares,

direcionada aos colaboradores da Campanha dos Devotos.

Revista Devotos Mirins - Especialmente voltada ao público infantil// As

duas publicações chegam aos lares de famílias até fora do Brasil//.

O Programa Com a Mãe Aparecida, transmitido das 20h às 5h, via

satélite, atinge uma média de 55 milhões de ouvintes, sendo que o sinal abrange 43 emissoras de rádio de todo o Brasil.

REDE APARECIDA DE COMUNICAÇÃO – A Rádio Aparecida possui

uma sólida e tradicional programação no ar desde 1951. Transmite em AM, OC, OT, FM e é geradora via satélite da Rede Católica de Rádio.

Inaugurada em setembro de 2005, a TV Aparecida em canal aberto atinge 140 cidades, incluindo 11 capitais, em 16 Estados do Brasil.

Seu sinal também é disponibilizado para antenas parabólicas, digitais e analógicas, via cabo, tv por assinatura e pela internet através do portal A12.com.

Está disponível para o Estado de São Paulo também no canal 231 da Telefônica TV Digital e para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro no canal 166 da TVA.

Com programação religiosa, cultural e educativa, foi concebida com o que há de mais moderno em equipamentos de geração, produção, pós-produção e transmissão.

A REDE APARECIDA está entre as principais emissoras de televisão do Brasil, formando, informando e evangelizando seus telespectadores.

Editora Santuário - A primeira Editora Católica do país, tem 110 anos de atividade. Mais de 850 títulos dentre os selos editoriais Editora Santuário e Idéias e Letras. Com seu moderno parque gráfico, distingue-se pela qualidade de seus serviços (SANTUÁRIO, s.d., p. 20).

Os meios de comunicação ajudam a reforçar e a tornar mais conhecida a figura de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, bem como, juntamente com o espaço do SNA, propõem um projeto nacional, de reconhecimento da mesma santa como padroeira do Brasil e do espaço do Santuário, em Aparecida, como o pólo de maior atração de católicos no Brasil. Todavia, o trabalho junto aos meios de comunicação não é recente.

Desde o século XIX já havia jornais que circulavam no vale do Paraíba e que foram importantes referenciais para que o Santuário produzisse seu próprio jornal. No ano de 1900, o padre Gebardo Wiggerman, missionário redentorista criou o jornal Santuário de Aparecida. Tempos depois, o mesmo padre criaria a Editora Santuário (BRUSTOLONI, 2004).

Conforme o autor trata, em 1935 aconteceu a primeira divulgação dos atos religiosos do SNA pela Rádio Difusora de São Paulo. Essa divulgação inaugurou os novos sinos da Basílica, em 29 de junho. A transmissão foi considerada como bem-sucedida. Então, a Rádio

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Record transmitiu a festividade do dia 8 de setembro daquele ano, narrando o acontecimento, desde a madrugada, com a chegada dos comboios de peregrinos vindos de São Paulo.

Somente em 1954 o Santuário conseguiu licença e frequência para colocar a rádio Santuário no ar. Desde então, a rádio tornou-se importante instrumento de evangelização e de catequização do público católico em todo território nacional. Bem mais recente é a TV Aparecida, mídia que foi ao ar, pela primeira vez, em 2004. E sua grande expansão, contudo, se deu em 2010, quando houve um plano de levar a emissora para vários estados brasileiros. Juntamente com a rádio Aparecida, formou-se a Rede Aparecida de Comunicação, cujas propostas são:

A REDE APARECIDA nasce para anunciar a boa notícia do Redentor: Nosso Deus é Bondade e misericórdia. Ele nos convoca a viver como irmãos e nos apresenta a Mãe Querida que nos acompanha e serve de exemplo.

Finalidade

Propor o modo de viver indicado pelo evangelho: com qualidade de vida, com cuidado por tudo o que é humano, com atenção para com outro, com a busca de mais educação e saúde, com amor à natureza e com a certeza do divino como realização final e completa.

Proposta