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Esquema 5 Sequência de atividades proposta pela pesquisadora

5 METODOLOGIA

5.2 ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA DO TRABALHO

5.2.1 Descrição das etapas do trabalho de intervenção

5.2.1.4 Módulo 2: apresentação do problema

O segundo módulo desta pesquisa, seguindo a visão de Flower e Hayes (1981), apresentou a moral da fábula enquanto problema a ser resolvido por todos, através da expressão de opiniões escritas.

Porém, antes da segunda produção textual desta pesquisa e da produção final, antes mesmo do módulo que Flower e Hayes (1981) chamaram de tradução,

foi realizada uma explanação sobre conceitos básicos para entender a argumentação e a moral da fábula como problema a ser resolvido. As aulas partiram da definição de linguagem, fazendo os alunos entenderem a importância da mesma como forma de construir teses, elaborar ideias, assumir pontos de vista, e, consequentemente, argumentar. Utilizando recursos visuais, apresentações de slides através do programa Power point, com esquemas coloridos utilizando formas e figuras variadas para chamar a tenção dos alunos, visto que por sua idade não se concentrariam em uma aula longa realizada apenas através de exposição oral e retomando, assim, o conceito de engajamento proposto por Cambourne (1988), foram apresentados os elementos da argumentação. Conceitos como tese, argumentos e orientação argumentativa foram apresentados de maneira sucinta e relacionada às situações do cotidiano.

Para tornar a atividade lúdica, os lugares da argumentação foram apresentados através de propagandas impressas e em vídeos que circularam na televisão, internet e outdoors pela cidade, mostrando sempre o lugar da argumentação ao qual os produtores dessas propagandas recorriam para persuadir o expectador conforme ilustrado nas figuras 7 e 8.

Figura 7 - Material didático: Slide sobre o esquema de argumentação

Figura 8 - Material didático: Slide sobre a propaganda e a argumentação.

Fonte: Produzido pela pesquisadora.

A figura 7, em especial, representou um material fundamental para que os alunos compreendessem alguns elementos constituintes do texto argumentativo. É preciso destacar, entretanto, que, por se tratar de uma turma de 6º ano, tais conceitos foram estudados de maneira menos densa e mais lúdica, levando-os a perceber que argumentar é algo que faz parte da natureza deles e que naquela situação, no contexto de sala de aula, já estavam argumentando enquanto expressavam seus posicionamentos, suas percepções sobre as atitudes apresentadas nas fábulas.

Foi um momento de muita descontração, em que os alunos ficaram à vontade para emitir suas opiniões e fazer suas análises sobre o que viam, já desenvolvendo, assim, a argumentação através da oralidade. Além disso, foi apresentada uma fábula, após as propagandas, com o objetivo de mostrar que a argumentação também se faz presente em um texto tipologicamente narrativo, pois foi destacado o lugar da argumentação utilizado na moral da fábula lida e como essa moral direcionava o leitor para que adotasse determinado comportamento conforme a figura 9.

Figura 9 - Material didático: Slide sobre a fábula e o lugar da argumentação.

Fonte: Produzido pela pesquisadora.

Retomando as fábulas lidas, algumas questões sobre a compreensão textual relacionavam as fábulas com o contexto social atual. Durante as discussões orais, os alunos começaram a atribuir, espontaneamente, características humanas aos animais das fábulas lidas, afirmando – e já argumentando – que, nas histórias lidas, o leão, por exemplo, sempre estava em posição de poder e se aproveitando de sua força, sendo considerado por alguns alunos um tirano e injusto e, por outros, um animal digno de respeito justamente por sua força. Outras características foram destacadas, como a ingenuidade do asno e a esperteza da raposa, revelando que, apesar de jovens, os estudantes do 6º ano já são capazes de realizar um trabalho bastante relevante com a argumentação, em alguns momentos, inclusive, bem difícil de administrar pedagogicamente, pois todos queriam manifestar seus pontos de vista ao mesmo tempo, sendo necessário trabalhar alguns aspectos do ensino da oralidade como o respeito aos turnos, e alguns valores sociais, como o respeito às opiniões dos colegas, ainda que fossem divergentes.

5.2.1.5 Módulo 3: Planejamento do segundo texto opinativo – respostas discursivas

Retomando o esquema 3, de resolução de problemas de Flower e Hayes (1981), traduzido por Kato (1999), é possível perceber que, para chegar a escrita final, existe uma etapa de planejamento, ilustrada conforme o esquema 4, não por acaso, próxima às metas estabelecidas, à geração de ideias e à organização. Kato (1999, p. 86) afirma que “O planejamento deve, pois, traçar as ações que levarão o autor a atingir as metas.”

Partindo do fato de que muitos alunos não sabiam produzir um texto opinativo, apesar de produzirem respostas discursivas ao longo de sua vida escolar, e concordando com Kato (1999) e Flower e Hayes (1981) quanto à relevância da etapa destinada a planejar um texto, se fez de extrema importância para esta pesquisa a inserção de um módulo de planejamento do texto escrito para a produção final do gênero abordado, as respostas discursivas.

Ao aplicar as atividades diagnósticas, sempre finalizadas com a proposta de produção de um texto opinativo, uma resposta discursiva mais precisamente, grande foi a dificuldade por parte dos alunos de iniciar o texto. Apesar de a resposta discursiva ser um texto curto e embasado em opiniões pessoais, os alunos, que se expressaram, brilhantemente, através da argumentação usando a oralidade, não conseguiram escrever muito em suas produções iniciais, resumindo suas opiniões a frases como “eu achei certo”, “eu achei errado”, “eu gostei”, “eu não concordo”. Isso mostra a necessidade, já apontada anteriormente, de não se estabelecer uma dicotomia, mas sim de se trabalhar a perspectiva do continuunm tipológico proposto por Marcuschi (2008) entre fala e escrita para que os estudantes percebam que a tarefa de se expressar por escrito tem suas especificidades.

Tomando por base os estudos de Cambourne (1988), mencionados anteriormente, e as condições que considera necessárias à aprendizagem, é possível afirmar que os alunos apresentaram bastante dificuldade na produção inicial proposta nesta pesquisa pelo fato de, mesmo produzindo respostas discursivas ao longo de todo o Ensino Fundamental, não conseguirem organizar a produção textual, ou seja, planejar o texto a ser produzido. Não havia, pois, um

modelo para eles, uma demonstração, antes da intervenção, que deixasse claro o caminho a seguir ao expressar a opinião através de respostas discursivas.

A partir dessa dificuldade em produzir textos opinativos, observada na atividade diagnóstica, já que as respostas dadas não foram as esperadas, foi apresentado um exemplo do gênero, tal qual a demonstração proposta por Cambourne (1988), representada anteriormente no esquema 5, para que os estudantes pudessem perceber as características e elementos constituintes do texto opinativo e, assim, produzir suas respostas discursivas.

Figura 10 - Material didático: Slide contendo exemplo de comentário

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Fonte: Disponível em https://slideplayer.com.br/slide/3012617/.

Por ser de natureza tipologicamente argumentativa, foram observados alguns conceitos explanados anteriormente no texto, como a tese e os argumentos utilizados pelo autor para defender um ponto de vista. Após essa aproximação do gênero, também presente nos estudos de Cambourne (1988), foi explicada a importância de se planejar o texto escrito, ainda que não seja um texto extenso, para que o autor consiga alcançar seu propósito comunicacional. É importante ressaltar que algumas fábulas, como O Leão e o Rato, de La Fontaine, e Hierarquia, de Millôr Fernandes, apresentavam a questão da discriminação de alguns animais por parte do leão. Apesar de não haver um debate prévio sobre a temática do racismo, destacada no exemplo acima, ao ler esse comentário, alguns alunos retomaram as

fábulas lidas por eles afirmando, na discussão oral, que o leão apresentou, por várias vezes, atitude discriminatória, inferiorizando outros animais por não terem as mesmas características que ele. Tal percepção, por parte dos alunos, enriqueceu essa etapa da intervenção gerando diversos posicionamentos e argumentos, através da oralidade, sobre questões sociais, como o racismo, preconceito e desigualdade social dentre outras temáticas. Realizada a análise do exemplo de resposta discursiva presente na figura 10 e de todas as questões apresentadas pelos estudantes, os mesmos se preparam para a segunda escrita cujos resultados serão mostrados adiante.