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CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2 UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA

1.2.3 Múltipla Deficiência Sensorial

Considera-se uma criança com múltipla deficiência sensorial aquela que apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem. Quase sempre, os canais de visão e audição não são os únicos afetados, mas também outros sistemas, como os sistemas tátil (toque), vestibular (equilíbrio), proprioceptivo (posição corporal), olfativo (aromas e odores) ou gustativo (sabor). Limitações em uma dessas áreas podem ter um efeito singular no funcionamento, aprendizagem e desenvolvimento da criança (Perreault, 2002). (MEC, SEESP, Educação Infantil: Saberes e práticas da inclusão; 2006, p.11)8

A terminologia múltipla deficiência sensorial ainda é pouco utilizada na área da educação especial, pois há muitos pontos em discussão. Muitas pessoas com esta deficiência estão classificadas ou com surdocegueira ou com deficiência múltipla. No entanto, quando se iniciam os trabalhos de intervenção percebe-se que as adaptações são mais específicas, embora o aspecto primordial que é a comunicação assemelhe-se a surdocegueira.

Ainda, segundo o mesmo documento do MEC, apresentam múltipla deficiência sensorial: “Crianças que apresentam graves comprometimentos múltiplos e condições médicas frágeis” (p.11) e ainda,

1. apresentam mais dificuldades no entendimento das rotinas diárias, gestos ou outras habilidades de comunicação;

2. demonstram dificuldades acentuadas no reconhecimento das pessoas significativas no seu ambiente;

3. realizam movimentos corporais sem propósito;

4. apresentam resposta mínima a barulho, movimento, toque, odores e/ou outros estímulos.

Muitas dessas crianças têm dificuldade na obtenção e manutenção do estado de alerta. Isso é crítico porque a prontidão é o estado comportamental em que as crianças estão mais receptivas à estimulação, aprendem melhor e são capazes de responder de uma maneira socialmente aceita. Crianças com múltipla deficiência sensorial têm uma variedade de necessidades especiais que se assemelham às necessidades da criança surdocega. Nesse sentido, toda a abordagem descrita neste documento aplica-se também à criança com múltipla deficiência sensorial. (p.11)

Nesta citação do MEC, observa-se o posicionamento para assemelhar o trabalho com crianças com múltipla deficiência sensorial às crianças com surdocegueira,

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Nascimento, Fátima Ali Abdalah Abdel Cader Educação Educação infantil ; saberes e práticas da inclusão : dificuldades de comunicação e sinalização : surdocegueira/múltipla deficiência sensorial. [4. ed.] / elaboração profª ms. Fátima Ali Abdalah Abdel Cader Nascimento - Universidade Federal de São Carlos – UFSC/SP, prof. Shirley Rodrigues Maia – Associação Educacional para a Múltipla Deficiência - AHIMSA. – Brasília : MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 79 p. : il.

assumindo deste modo que a abordagem utilizada para o atendimento aos alunos surdocegos deve ser aplicada aos alunos com múltipla deficiência sensorial.

Maia, Giacomini e Araóz (2008), afirmam que o Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial define a pessoa com múltipla deficiência sensorial em duas formas:

 Múltipla Deficiência Sensorial - Visual, que apresenta visão subnormal ou cegueira, associada a uma ou mais deficiências (intelectual, física ou motora) ou a Distúrbios Globais do Desenvolvimento e Comunicação.

 Múltipla Deficiência Sensorial - Auditiva, que apresenta deficiência auditiva ou surdez associada a outras deficiências (intelectual, física ou motora) ou a Distúrbios Globais do Desenvolvimento.

Mednick (2007) também apresenta as definições fazendo a divisão entre a associação com a perda visual ou auditiva:

MHVI ( Multiple Handicapped and Visually Impaired) ou mais recentemente, MDVI9 (Multiple Disabled and Visually Impaired) – Royal National Institute for the Blind (RNIB10).MHHI ( Multiple Handicapped and Hearing Impaired) ou mais recentemente, MDHI11 (Multiple Disabled and Hearing Impaired) Royal National Institute for the Deaf (RNID12).Deaf-blind became deafblind and now is referred to as Multi-Sensory Impaired (MSI) – SENSE13 (p.7) Optou-se por considerar a definição de múltipla deficiência sensorial quando o indivíduo apresenta a dupla privação sensorial (audição e visão) associada a outros comprometimentos, conforme determina o MEC.

9 MHVI/MDVI – Múltipla Deficiência Sensorial - Visual 10

RNIB - Royal National Institute for the Blind – Instituição fundada por volta de 1828, em Londres, para ampliar o acervo literário para pessoas com deficiência visual. Atualmente, principal instituição filantrópica do Reino Unido a oferecer apoio e aconselhamento aos quase dois milhões de pessoas com algum tipo de perda de visão. 11 MHHI/MDHI – Múltipla Deficiência Sensorial - Auditiva

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RNID - Royal National Institute for the Deaf – Instituição fundada em 1911 com o objetivo de apoiar e cuidar de pessoas com perda auditiva, educar e conscientizar sobre os riscos para a perda auditiva. Em 2011 o nome foi mudado para Action on Hearing Loss.

13 SENSE – Instituição que apóia e realiza campanhas para crianças e adultos que são surdocegos. Consultoria especializada e informação, serviços especializados para surdoscegos, suas famílias, cuidadores e profissionais que atual na área. Apois às pessoas que têm deficiências sensoriais associadas a outras deficiências.

O DBI–Deafblind International14 classifica a múltipla deficiência sensorial como sendo a Surdocegueira com outros comprometimentos, ou seja, não inclui como deficiência múltipla, mas como surdocegueira mesmo.

Em publicações no Brasil, foram encontradas várias formas de grafia: múltipla deficiência sensorial, deficiência sensorial múltipla e deficiência múltipla sensorial. Entender-se-á como adequada a utilizada em publicações do MEC: múltipla

deficiência sensorial.

Apesar de haver conflitos na terminologia e até instituições especializadas na área como ADEFAV15 e AHIMSA16 divergirem quanto ao uso da terminologia e, levando- se em consideração o perfil dos alunos estudados, definiu-se como mais adequada para este trabalho: múltipla deficiência sensorial.

Retomando as definições estudadas para que não restem dúvidas, considerando as definições do Ministério da Educação, deficiência múltipla seria “o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social.” Nesta definição é citada a deficiência sensorial, mas não há ênfase para os níveis e os tipos de perdas.

Ainda pelo MEC, há a definição para surdocegueira: “[...] quando a visão e audição estão gravemente comprometidas, os problemas relacionados à aprendizagem dos comportamentos socialmente aceitos e a adaptação ao meio se multiplicam.”. Na definição de surdocegueira não está incluída nenhuma outra deficiência, o que caracteriza o sujeito é a dupla privação sensorial.

Por fim, há a definição para múltipla deficiência sensorial: “[...] apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem [...]”. A partir das características dos alunos estudados, esta seria a definição mais adequada.

14 Fundada há 30 anos, Deafblind International (DBI) é a associação mundial de promoção de serviços para pessoas surdocegas.

15 Adefav

– Centro de Recursos em Deficiência Múltipla, Surdocegueira e Deficiência Visual. Fundada em 1983 é um centro de recursos destinado à educação, habilitação e reabilitação.

16 Ahimsa – Associação Educacional para a Múltipla Deficiência. Fundada em 1991, realiza atendimento educacional para crianças, jovens e adultos com deficiência múltipla sensorial e surdocegueira, visando a sua inclusão na sociedade, oferecendo qualidade de vida a essas pessoas.

A escolha pela terminologia de múltipla deficiência sensorial atende às características dos sujeitos da pesquisa, pois há destaque para a privação sensorial auditiva e visual associada a outros comprometimentos. No caso dos sujeitos desta pesquisa, os outros comprometimentos serão melhores relatados no capítulo destinado à caracterização dos sujeitos. No momento, é importante saber que ambos apresentam: deficiência sensorial (visual e auditiva), deficiência física, comprometimento motor de membros superiores e inferiores e distúrbios de linguagem.

Independentemente da terminologia utilizada, alunos que apresentam deficiência já provocam muitas dúvidas quando incluídos na sala comum, quando a deficiência está associada a outros comprometimentos cognitivos, sensoriais ou motores, a desconfiança no sucesso de sua permanência na escola regular é ainda maior.