MAPA DA PRODUÇÃO NA ÁREA DE HISTÓRIA
3.3 MÚSICA E POLÍTICA
autor é acadêmico, docente e pesquisador da história do cinema brasileiro, com atenção para as representações do Rio de Janeiro no cinema. Este texto, que em torno da figura da baiana Ciata articula uma narrativa para a história do samba carioca, foi um desdobramento destas pesquisas fílmicas sobre o Rio de Janeiro da virada do século. O livro influenciou e contribuiu para a fixação de uma narrativa sobre a história do samba, na qual papel de destaque é atribuído às tias baianas, especialmente Ciata − cuja disposição e utilização dos cômodos da casa já fora analisada como modelo para se pensar complexas relações socioculturais − e alguns personagens heróicos como Hilário Jovino.
3.3 MÚSICA E POLÍTICA
O estudo das relações entre música e política dentro de uma linha de pesquisa da história política foi uma vertente importante dos estudos historiográficos sobre a música popular no período em foco neste estudo. A dissertação de Antonio Pedro
Samba da Legitimidade, apresentada como parte da historiografia do samba, é também
um estudo de história política, conforme afirmado anteriormente. Mas esta linha de estudos teve um grande impulso com as pesquisas e a atuação docente de Arnaldo Contier, discutida no capítulo anterior.
Nesta linha de pesquisa, as relações entre a canção popular, especialmente o samba, e o primeiro governo de Getúlio Vargas, constituiu‐se num objeto privilegiado. Esta incidência de pesquisas neste objeto pode ser atribuída ao cruzamento de diversas séries entre por volta de 1930 e 1945, que inspiraram estudos nesta linha: a elevação do status social do samba carioca, erigido à condição de música nacional; os debates em torno da identidade cultural brasileira; a modernização e industrialização do país; a ampliação do mercado de bens culturais, com destaque para o papel do rádio; o momento da história política do país; e a utilização da música − popular e erudita − como instrumento de propaganda política do regime. Ainda que o cruzamento destas séries possa ser localizado nos anos da chamada Era Vargas, especialmente no que diz respeito à conexão dos eventos socioculturais com as políticas da ditadura varguista,
alguns destes eventos remontam à década de 1920, como podemos deduzir dos estudos de Arnaldo Contier e Tiago de Melo Gomes. Um certo imaginário que se construiu acerca do primeiro governo Vargas, bem de acordo com os interesses políticos do trabalhismo e seus herdeiros, como o momento de construção de um “Brasil Novo”, moderno e industrializado, e ponto de afirmação da nacionalidade e de uma identidade cultural, foi decerto um elemento que inspirou os pesquisadores a confrontar essa versão com a pesquisa histórica.
O outro período, em que se concentram os trabalhos que estudam as relações entre música e política, está compreendido entre os anos que vão de 1959, com o surgimento da bossa nova, até 1978, com o fim da censura que se implantou após a radicalização da ditadura militar a partir da edição do AI‐5 em dezembro de 1968. Naturalmente, os estudos estão distribuídos em distintas periodizações, dependendo do objeto específico de cada pesquisa. Generalizando, podemos dizer que as periodizações estariam entre 1959 e 1969, se pensamos num momento de importantes transformações no campo de produção musical e nas suas relações com o mercado cultural, ou entre 1968 e 1978, se o objeto principal da análise for a censura do regime militar e as manifestações na canção popular face a essa realidade.
Com sua periodização definida no primeiro governo de Getúlio Vargas, temos O
combate ao samba e o samba de combate: música, guerra e política (19301945),209 de
João Ernani Furtado Filho. O objetivo do autor nesta pesquisa é articular as críticas ao samba e aos demais gêneros de música popular correlatos em torno das questões políticas do período, bem como discutir a utilização desta mesma música popular anteriormente criticada como parte da propaganda governamental em torno da participação do país na 2ª Guerra Mundial. Discutindo a posição dos compositores frente a estas questões, vai também abordar temas como a malandragem, o elogio ao trabalho e a censura no Estado Novo.210 A censura será o tema central de Sinal Fechado: a música popular brasileira sob censura (19371945 / 19691978), de autoria de Alberto Moby. O trabalho se propõe a 209 FURTADO FILHO, João Ernani. O combate ao samba e o samba de combate: música, guerra e política (1930‐1945). Dissertação de mestrado em História. São Paulo: PUC‐SP, 1998. 210 O autor deu continuidade a esta pesquisa em sua tese de doutorado em História, FURTADO FILHO, João Ernani.
Um Brasil brasileiro: música, política, brasilidade (1930‐1945), FFLCH‐USP, 2004, já fora da periodização deste estudo.
fazer uma análise comparada do papel da censura no Estado Novo e no regime militar, procurando identificar qual foi a política destes regimes autoritários para a cultura em geral e a música em particular, quais seus objetivos e quais foram as posições dos compositores frente ao regime e à censura. O autor procura demonstrar que “Estado Novo e regime militar, embora apresentem propostas semelhantes de Estado‐nação baseadas em pressupostos autoritários e antiliberais”, “cada um, ao menos no que diz respeito às artes ‐ e à música popular, em particular ‐ tem propostas e práticas bastante distintas”. Assim, para o autor, querer aproximá‐las para além de uma generalização enquanto autoritarismos, seria “atropelar as especificidades históricas de cada um dos dois regimes”, uma vez que se tratam de “dois ‘autoritarismos’” distintos para os quais não se poderia utilizar “os mesmos parâmetros, baseados numa conceituação meramente abstrata de ‘autoritarismo’ ou de ‘ditadura’”. O trabalho de Moby concentra‐se na produção da tradição do samba carioca e na MPB, sigla que o autor procura situar dentro de uma perspectiva mais restrita, ao contrário de outros trabalhos precedentes e contemporâneos que usavam a sigla MPB como sinônimo de música popular brasileira, o que não é preciso, como veremos adiante. 211
A tese de doutorado de Marcos Napolitano, Seguindo a canção: engajamento
político e indústria cultural na trajetória da música popular brasileira (19591969),
também um estudo da história política do período, mas com o foco claramente colocado na música popular, aborda “as diversas formas de engajamento político e crítica cultural assumidas pela canção” popular brasileira “entre o surgimento da bossa nova e a diluição do tropicalismo”. O autor apresenta a tese de que a MPB “traduziu projetos e contradições dos artistas e intelectuais envolvidos de alguma forma com o paradigma ‘nacional‐popular’”, entendido “como uma cultura política”, ao mesmo tempo em que “esteve no epicentro da reorganização da indústria cultural brasileira, tornando‐se um dos seus produtos mais rentáveis”.212 Argumenta que, neste processo,
a MPB transformou‐se numa instituição sociocultural com lugar e espaço social bem
211 MOBY, Alberto. Sinal Fechado: a música popular brasileira sob censura (1937‐1945/1969‐1978), Dissertação de
mestrado em História. Niterói: UFF, 1993. Citações retiradas do livro homônimo, 2ª ed. Rio de Janeiro, Apicuri, 2008, pp. 165 e 170.
212 NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a canção: engajamento político e indústria cultural na trajetória da música
definido. Este trabalho, assim como outras produções do autor, tornou‐se referência importante nos estudos do campo.
Sobre a MPB, temos ainda A MPB em movimento: música, festivais e censura, dissertação de mestrado de Ramon Casas Vilarino. O objetivo desta pesquisa foi analisar os primeiros anos da ditadura implantada no Brasil com o golpe militar de 1964. Segundo o autor, a música “tornou‐se o fio condutor da análise” por apresentar‐ se “como uma fonte abundante, atrativa e reveladora”. O autor afirma ter procurado “demonstrar como numa sociedade de classes, cindida entre exploradores e explorados, há uma disputa por posições, lugares e situações, onde o que está em jogo, em última instância, é, de um lado, a permanência ou até o aumento dessa exploração e, de outro, a diminuição ou o fim dessa condição”. Assim, o trabalho tem uma perspectiva claramente comprometida com uma posição política de esquerda, que pode ser localizada, por exemplo, na afirmação de que “a MPB é um movimento no interior da música popular brasileira, que travou o bom e necessário combate”. 213 O trabalho tem
uma sequência cronológica de eventos bem organizada, que pode ser útil nesse sentido, mas toda a reflexão sobre eles está centrada na ideia da MPB como resistência à ditadura e à exploração capitalista.
Entre os trabalhos orientados por Arnaldo Contier, encontra‐se a tese de doutoramento de Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron, Fundamentos histórico
políticos da música nova e da música engajada no Brasil a partir de 1962: o salto do tigre de papel,214 estudo que também tem o foco nas conexões entre estética musical e
projetos políticos e ideológicos, mas num outro momento histórico. Olhando para o campo de produção erudito, a pesquisa investiga as noções de história e política que sustentaram os projetos de política cultural dos músicos da vanguarda dos anos 1960, reunidos em torno do grupo Música Nova, até o seu desdobramento em direção a uma música politicamente engajada. Em função das características do estudo, a música popular vai aparecer de maneira muito secundária na tese, que, entretanto, oferece muitos elementos para se entender as polêmicas estético‐políticas das esquerdas nos 213 VILARINO, Ramon Casas. A MPB em movimento: música, festivais e censura. Dissertação de mestrado em História,. São Paulo: PUC‐SP, 1998. As citações foram retiradas do prefácio da 5ª edição da publicação do livro homônimo: São Paulo: Olho d’Água, 2006, p. 6‐7. 214 ZERON, Carlos Alberto de Moura Ribeiro. Fundamentos históricopolíticos da música nova e da música engajada no Brasil a partir de 1962: o salto do tigre de papel. Dissertação de mestrado em História. São Paulo: FFLCH‐USP, 1991.
anos 1960, que tiveram influência marcante na música popular, e é representativa de um momento da pesquisa sobre música na universidade brasileira.
O foco numa certa linhagem da música popular urbana brasileira articulada em torno do samba e expressa na sigla MPB seria criticado por Paulo Cesar Araújo em Eu
não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar, dissertação de
mestrado defendida na UNIRIO em 1999. O objetivo dessa pesquisa foi analisar a produção musical chamada de “brega” ou “cafona”, e discutir suas implicações com o regime militar e a censura. Com a palavra “cafona”, o autor se refere “àquela vertente da música popular brasileira consumida pelo público de baixa renda, pouca escolaridade e habitante dos cortiços urbanos, dos barracos de morro e das casas simples dos subúrbios de capitais e cidades do interior”; utiliza a palavra entre aspas porque ela “contém um juízo de valor impregnado de preconceitos” com os quais ele não compartilha. Araújo considera que artistas populares como Paulo Sérgio, Odair José, Benito di Paula e até mesmo a dupla Dom & Ravel, que ficou fortemente estigmatizada como porta‐vozes musicais do regime militar, teriam desempenhado um papel de resistência do ponto de vista político e social, nunca ressaltado, ou simplesmente ignorado pelos analistas, críticos, pesquisadores e historiadores da nossa música, que seriam pródigos em assinalar a “ação de combate e protesto empreendida por diversos compositores da MPB”, entendida num sentido mais restrito. Como objetivo não declarado, o autor faz uma revisão da narrativa hegemônica sobre o período. Afirma que “através da análise da construção social da memória é possível identificar de que maneira ficou cristalizada em nosso país uma memória da história musical que privilegia a obra de um grupo de cantores/compositores preferido das elites, em detrimento da obra de artistas mais populares”.215 Numa linha de
argumentação que tem o caráter de polêmica aberta com a hegemonia da linhagem
sambabossaMPB, Paulo Cesar de Araújo faz uma contundente crítica à seleção do
repertório da música popular na pesquisa acadêmica, trazendo outros discursos musicais para a reflexão da história política e social. Esta discussão proposta por Araújo será abordada em outro momento no curso desta dissertação. Uma versão do
215 ARAÚJO, Paulo Cesar. Eu não sou cachorro, não: memória da canção popular "cafona" (1968‐1978). Dissertação de
mestrado em História. Rio de Janeiro: UNIRIO, 1999. Citações retiradas da publicação da dissertação: Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2003, pp. 17‐21.
trabalho foi publicada no ano 2000 pela Editora Record e transformou‐se num dos maiores sucessos editoriais da produção acadêmica do campo.216
A primeira pesquisa de pós‐graduação realizada na área de História no Rio de Janeiro sobre música popular foi defendida na UFRJ em 1989, Uma estratégia de
controle: a relação do poder do estado com as Escolas de Samba do Rio de Janeiro no período de 1930 a 1985, dissertação de mestrado de José Luiz de Oliveira. O objeto da
pesquisa localiza‐se “nas várias formas de intervenção direta ou indireta do Estado” nas escolas de samba cariocas, visando “demonstrar o caráter político‐ideológico das relações mantidas entre o poder do Estado e as manifestações populares”, com especial atenção para os desfiles que se realizaram durante o regime militar, período que o autor chama da “República Autoritária”. Oliveira considera que “as relações entre o poder estatal no seu sentido mais amplo e as escolas de samba traduzem as pressões exercidas pelo Estado e as resistências dos setores populares num perfil que reflete, também, as mudanças políticas e ideológicas ocorridas na sociedade brasileira ao longo do período”. Para o autor, ao longo de “uma mudança gradual da relação entre sambistas”, a princípio perseguidos e marginalizados, e aparelho repressivo do Estado, as escolas internalizaram progressivamente uma “condição de colaboradoras voluntárias das elites dirigentes”, que se materializava nos enredos “nacionais” e sem críticas à ordem política, social e econômica, num acordo tácito que envolvia as subvenções estatais. “A ascensão do desfile das escolas de samba ao lugar de principal manifestação carnavalesca fez‐se acompanhar de todo um processo de elitização” do evento, cujo “caráter cada vez mais luxuoso e ostentatório” tornou elevadíssimos os custos financeiros, decorrendo daí uma aproximação progressiva entre “algumas das principais escolas e o mundo da contravenção”. Com as transformações político‐sociais ocorridas a partir de 1945 e especialmente após o golpe de 1964, desenvolveu‐se paulatinamente a ambiguidade do sentido dos enredos dos desfiles. Como exemplos mais extremos, o autor aponta a postura “chapa branca” da Beija Flor de Nilópolis, de exaltação à ordem constituída nos carnavais de 1973, 1974 e 1975 e, por outro lado, os
216 Em 2006 Paulo Cesar Araújo publicou o livro Roberto Carlos em Detalhes pela Editora Planeta do Brasil, biografia
não autorizada, que motivou uma batalha judicial com o cantor que resultou na proibição da distribuição da publicação, em episódio amplamente divulgado e discutido na impressa diária.
enredos de contestação política da Caprichosos de Pilares nos anos 1980.217 O trabalho traz para a área de História uma questão que já havia sido abordada em pesquisas de outras áreas, especialmente Antropologia.218 3.4 HISTORIOGRAFIA DOS MOVIMENTOS E GÊNEROS MUSICAIS Neste subitem, faremos um agrupamento das pesquisas que construíram seus objetos em torno de gêneros específicos de música popular, colocando o foco do estudo nas questões culturais e comportamentais de uma parcela da juventude ou da sociedade como um todo, e não nas conexões entre produção cultural e momento político. Algumas pesquisas se referem a certas vertentes musicais populares como “movimentos”. A ideia de movimento não é muito precisa e não se encontra nenhuma definição para ela nessas pesquisas, mas em geral entende‐se por movimento musical, artístico ou cultural uma certa corrente estética ou de pensamento que caracteriza um conjunto de autores, geralmente sem muita organicidade e com uma duração temporal delimitada. Por exemplo, são mencionados como movimentos musicais a bossa nova, a jovem guarda e a tropicália. Num período posterior, poder‐se‐ia incluir o rock nacional dos anos 1980 e o mangue beat, por exemplo.
Naturalmente estes agrupamentos dos trabalhos que estamos apresentando são esquemáticos e visam apenas facilitar um olhar panorâmico para a produção, uma vez que as questões estão entrelaçadas. Não estamos sugerindo que as pesquisas que listaremos a seguir tenham um olhar estanque e atomizado para apenas um dos aspectos sob os quais um gênero musical possa ser observado. Mas é interessante notar como os trabalhos que tomam por objeto a MPB ou o samba nos anos 1930 e 1940 têm uma tendência a estudar as conexões entre música e política. Já os que tomaram por objeto gêneros não tão claramente identificados com uma cultura política tendem a observar mais as questões culturais e comportamentais. Neste caso, temos estudos
217 OLIVEIRA, José Luiz de. Uma estratégia de controle: a relação do poder do estado com as Escolas de Samba do Rio
de Janeiro no período de 1930 a 1985. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 1989, Resumo e pp. 120‐123. 218 GOLDWASSER, Maria Julia. O Palácio do samba: estudo antropológico da Escola de Samba Estação Primeira de
Mangueira. Dissertação de mestrado em Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1975; LEOPOLDI, José Sávio. Escola de samba, ritual e sociedade, Dissertação de mestrado em Antropologia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1975; RIBEIRO, Ana Maria Rodrigues. Samba negro, espoliação branca: um estudo das Escolas de Sambas do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado em Ciências Sociais. São Paulo: FFLCH‐USP, 1981.
sobre o momento do surgimento da bossa nova e as transformações na vida urbana carioca, a jovem guarda e o surgimento de um rock nacional, por exemplo. No estudo destes objetos tem destaque a questão do surgimento da juventude como ator social.
Bossa Nova é sal, é sol, é sul: música e experiências urbanas (Rio de Janeiro, 1954 1964), de Simone Luci Pereira, tem por objetivo analisar a bossa nova do ponto de vista
da vida urbana e mostrar através da canção a dinâmica de uma cidade em mutação. Segundo a autora, o Rio de Janeiro transformava‐se “tanto nas maneiras de se ver a cidade”, como “na ocupação sistemática de novos espaços, como a praia, Copacabana e Ipanema, enfim, em novas formas de relação no âmbito público como no privado”. Luci Pereira considera que a bossa nova “trazia em si pistas para se entender uma mudança comportamental em conformação com as mudanças do meio urbano” no qual se originou. Analisa “os projetos, símbolos e modelos comportamentais da bossa nova, no que eles dizem respeito à cidade na sua dinâmica histórica, em suas mudanças nas relações entre novo e arcaico, público e privado, feminino e masculino”, bem como pretende olhar para a bossa nova “como um novo estilo de vida, para além de um novo estilo musical” na tentativa de trabalhá‐la em seu aspecto comportamental. 219
Em sua dissertação de mestrado Jovens tardes de guitarras, sonhos e emoções:
fragmentos do movimento musicalcultural Jovem Guarda, Ana Barbara Pederiva aborda
um gênero até então pouco focalizado nas pesquisas e se propõe “questionar o conhecimento histórico sobre tal movimento, criando instrumentos para avaliação crítica, procurando rastrear as formas de viver e pensar desses jovens”, “captando os sons e as experiências" de um “acontecimento de massa ou para a massa, de grande destaque na década de 1960”. A partir de uma visão da jovem guarda como uma “manifestação específica do rock and roll no Brasil”, a autora vai analisar a relação entre rock e juventude e refletir sobre os perfis de comportamento dessa parcela da juventude associada à jovem guarda, considerando as categorias juventude e gênero (enquanto expressão da sexualidade). Assim, procurara “desvendar como culturalmente as representações de juventude, no masculino e no feminino, foram construídas durante o movimento, detectando a constituição desses sujeitos históricos
219 PEREIRA, Simone Luci. Bossa Nova é sal, é sol, é sul: música e experiências urbanas (Rio de Janeiro, 1954‐1964).
sexuados” e o fluxo “das relações entre gerações e gêneros”. 220 Este é o único trabalho