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MAPA
DA
PRODUÇÃO
NA
ÁREA
DE
HISTÓRIA


3.3
 MÚSICA
E
POLÍTICA

autor
 é
 acadêmico,
 docente
 e
 pesquisador
 da
 história
 do
 cinema
 brasileiro,
 com
 atenção
para
as
representações
do
Rio
de
Janeiro
no
cinema.
Este
texto,
que
em
torno
 da
figura
da
baiana
Ciata
articula
uma
narrativa
para
a
história
do
samba
carioca,
foi
 um
 desdobramento
 destas
 pesquisas
 fílmicas
 sobre
 o
 Rio
 de
 Janeiro
 da
 virada
 do
 século.
O
livro
influenciou
e
contribuiu
para
a
fixação
de
uma
narrativa
sobre
a
história
 do
samba,
na
qual
papel
de
destaque
é
atribuído
às
tias
baianas,
especialmente
Ciata
−
 cuja
disposição
e
utilização
dos
cômodos
da
casa
já
fora
analisada
como
modelo
para
se
 pensar
 complexas
 relações
 socioculturais
 −
 e
 alguns
 personagens
 heróicos
 como
 Hilário
Jovino.



3.3
MÚSICA
E
POLÍTICA
 


O
estudo
das
relações
entre
música
e
política
dentro
de
uma
linha
de
pesquisa
 da
 história
 política
 foi
 uma
 vertente
 importante
 dos
 estudos
 historiográficos
 sobre
 a
 música
 popular
 no
 período
 em
 foco
 neste
 estudo.
 A
 dissertação
 de
 Antonio
 Pedro


Samba
da
Legitimidade,
apresentada
como
parte
da
historiografia
do
samba,
é
também


um
 estudo
 de
 história
 política,
 conforme
 afirmado
 anteriormente.
 Mas
 esta
 linha
 de
 estudos
 teve
 um
 grande
 impulso
 com
 as
 pesquisas
 e
 a
 atuação
 docente
 de
 Arnaldo
 Contier,
discutida
no
capítulo
anterior.


Nesta
 linha
 de
 pesquisa,
 as
 relações
 entre
 a
 canção
 popular,
 especialmente
 o
 samba,
e
o
primeiro
governo
de
Getúlio
Vargas,
constituiu‐se
num
objeto
privilegiado.
 Esta
incidência
de
pesquisas
neste
objeto
pode
ser
atribuída
ao
cruzamento
de
diversas
 séries
entre
por
volta
de
1930
e
1945,
que
inspiraram
estudos
nesta
linha:
a
elevação
 do
status
social
do
samba
carioca,
erigido
à
condição
de
música
nacional;
os
debates
em
 torno
 da
 identidade
 cultural
 brasileira;
 a
 modernização
 e
 industrialização
 do
 país;
 a
 ampliação
 do
 mercado
 de
 bens
 culturais,
 com
 destaque
 para
 o
 papel
 do
 rádio;
 o
 momento
 da
 história
 política
 do
 país;
 e
 a
 utilização
 da
 música
 −
 popular
 e
 erudita
 −
 como
instrumento
de
propaganda
política
do
regime.
Ainda
que
o
cruzamento
destas
 séries
possa
ser
localizado
nos
anos
da
chamada
Era
Vargas,
especialmente
no
que
diz
 respeito
 à
 conexão
 dos
 eventos
 socioculturais
 com
 as
 políticas
 da
 ditadura
 varguista,


alguns
 destes
 eventos
 remontam
 à
 década
 de
 1920,
 como
 podemos
 deduzir
 dos
 estudos
 de
 Arnaldo
 Contier
 e
 Tiago
 de
 Melo
 Gomes.
 Um
 certo
 imaginário
 que
 se
 construiu
 acerca
 do
 primeiro
 governo
 Vargas,
 bem
 de
 acordo
 com
 os
 interesses
 políticos
 do
 trabalhismo
 e
 seus
 herdeiros,
 como
 o
 momento
 de
 construção
 de
 um
 “Brasil
Novo”,
moderno
e
industrializado,
e
ponto
de
afirmação
da
nacionalidade
e
de
 uma
 identidade
 cultural,
 foi
 decerto
 um
 elemento
 que
 inspirou
 os
 pesquisadores
 a
 confrontar
essa
versão
com
a
pesquisa
histórica.







O
outro
período,
em
que
se
concentram
os
trabalhos
que
estudam
as
relações
 entre
 música
 e
 política,
 está
 compreendido
 entre
 os
 anos
 que
 vão
 de
 1959,
 com
 o
 surgimento
 da
 bossa
 nova,
 até
 1978,
 com
 o
 fim
 da
 censura
 que
 se
 implantou
 após
 a
 radicalização
 da
 ditadura
 militar
 a
 partir
 da
 edição
 do
 AI‐5
 em
 dezembro
 de
 1968.
 Naturalmente,
 os
 estudos
 estão
 distribuídos
 em
 distintas
 periodizações,
 dependendo
 do
 objeto
 específico
 de
 cada
 pesquisa.
 Generalizando,
 podemos
 dizer
 que
 as
 periodizações
estariam
entre
1959
e
1969,
se
pensamos
num
momento
de
importantes
 transformações
 no
 campo
 de
 produção
 musical
 e
 nas
 suas
 relações
 com
 o
 mercado
 cultural,
ou
entre
1968
e
1978,
se
o
objeto
principal
da
análise
for
a
censura
do
regime
 militar
e
as
manifestações
na
canção
popular
face
a
essa
realidade.



Com
sua
periodização
definida
no
primeiro
governo
de
Getúlio
Vargas,
temos
O


combate
ao
samba
e
o
samba
de
combate:
música,
guerra
e
política
(1930­1945),209
de


João
Ernani
Furtado
Filho.
O
objetivo
do
autor
nesta
pesquisa
é
articular
as
críticas
ao
 samba
 e
 aos
 demais
 gêneros
 de
 música
 popular
 correlatos
 em
 torno
 das
 questões
 políticas
 do
 período,
 bem
 como
 discutir
 a
 utilização
 desta
 mesma
 música
 popular
 anteriormente
 criticada
 como
 parte
 da
 propaganda
 governamental
 em
 torno
 da
 participação
 do
 país
 na
 2ª
 Guerra
 Mundial.
 Discutindo
 a
 posição
 dos
 compositores
 frente
a
estas
questões,
vai
também
abordar
temas
como
a
malandragem,
o
elogio
ao
 trabalho
e
a
censura
no
Estado
Novo.210 A
censura
será
o
tema
central
de
Sinal
Fechado:
a
música
popular
brasileira
sob
 censura
(1937­1945
/
1969­1978),
de
autoria
de
Alberto
Moby.
O
trabalho
se
propõe
a
 209
FURTADO
FILHO,
João
Ernani.
O
combate
ao
samba
e
o
samba
de
combate:
música,
guerra
e
política
(1930‐1945).
 Dissertação
de
mestrado
em
História.
São
Paulo:
PUC‐SP,
1998.
 210
O
autor
deu
continuidade
a
esta
pesquisa
em
sua
tese
de
doutorado
em
História,
FURTADO
FILHO,
João
Ernani.


Um
 Brasil
 brasileiro:
 música,
 política,
 brasilidade
 (1930‐1945),
 FFLCH‐USP,
 2004,
 já
 fora
 da
 periodização
 deste
 estudo.


fazer
uma
análise
comparada
do
papel
da
censura
no
Estado
Novo
e
no
regime
militar,
 procurando
identificar
qual
foi
a
política
destes
regimes
autoritários
para
a
cultura
em
 geral
 e
 a
 música
 em
 particular,
 quais
 seus
 objetivos
 e
 quais
 foram
 as
 posições
 dos
 compositores
frente
ao
regime
e
à
censura.
O

autor
procura
demonstrar
que
“Estado
 Novo
 e
 regime
 militar,
 embora
 apresentem
 propostas
 semelhantes
 de
 Estado‐nação
 baseadas
em
pressupostos
autoritários
e
antiliberais”,
“cada
um,
ao
menos
no
que
diz
 respeito
às
artes
‐
e
à
música
popular,
em
particular
‐
tem
propostas
e
práticas
bastante
 distintas”.
 Assim,
 para
 o
 autor,
 querer
 aproximá‐las
 para
 além
 de
 uma
 generalização
 enquanto
autoritarismos,
seria
“atropelar
as
especificidades
históricas
de
cada
um
dos
 dois
regimes”,
uma
vez
que
se
tratam
de
“dois
‘autoritarismos’”
distintos
para
os
quais
 não
 se
 poderia
 utilizar
 “os
 mesmos
 parâmetros,
 baseados
 numa
 conceituação
 meramente
 abstrata
 de
 ‘autoritarismo’
 ou
 de
 ‘ditadura’”.
 O
 trabalho
 de
 Moby
 concentra‐se
 na
 produção
 da
 tradição
 do
 samba
 carioca
 e
 na
 MPB,
 sigla
 que
 o
 autor
 procura
 situar
 dentro
 de
 uma
 perspectiva
 mais
 restrita,
 ao
 contrário
 de
 outros
 trabalhos
 precedentes
 e
 contemporâneos
 que
 usavam
 a
 sigla
 MPB
 como
 sinônimo
 de
 música
popular
brasileira,
o
que
não
é
preciso,
como
veremos
adiante.
211

A
 tese
 de
 doutorado
 de
 Marcos
 Napolitano,
 Seguindo
 a
 canção:
 engajamento


político
 e
 indústria
 cultural
 na
 trajetória
 da
 música
 popular
 brasileira
 (1959­1969),


também
 um
 estudo
 da
 história
 política
 do
 período,
 mas
 com
 o
 foco
 claramente
 colocado
 na
 música
 popular,
 aborda
 “as
 diversas
 formas
 de
 engajamento
 político
 e
 crítica
cultural
assumidas
pela
canção”
popular
brasileira
“entre
o
surgimento
da
bossa
 nova
 e
 a
 diluição
 do
 tropicalismo”.
 O
 autor
 apresenta
 a
 tese
 de
 que
 a
 MPB
 “traduziu
 projetos
e
contradições
dos
artistas
e
intelectuais
envolvidos
de
alguma
forma
com
o
 paradigma
 ‘nacional‐popular’”,
 entendido
 “como
 uma
 cultura
 política”,
 ao
 mesmo
 tempo
 em
 que
 “esteve
 no
 epicentro
 da
 reorganização
 da
 indústria
 cultural
 brasileira,
 tornando‐se
um
dos
seus
produtos
mais
rentáveis”.212

Argumenta
que,
neste
processo,


a
 MPB
 transformou‐se
 numa
 instituição
 sociocultural
 com
 lugar
 e
 espaço
 social
 bem


211
MOBY,
Alberto.
Sinal
Fechado:
a
música
popular
brasileira
sob
censura
(1937‐1945/1969‐1978),
Dissertação
de


mestrado
em
História.
Niterói:
UFF,
1993.
Citações
retiradas
do
livro
homônimo,
2ª
ed.
Rio
de
Janeiro,
Apicuri,
2008,
 pp.
165
e
170.



212
 NAPOLITANO,
 Marcos.
 Seguindo
 a
 canção:
 engajamento
 político
 e
 indústria
 cultural
 na
 trajetória
 da
 música


definido.
 Este
 trabalho,
 assim
 como
 outras
 produções
 do
 autor,
 tornou‐se
 referência
 importante
nos
estudos
do
campo.


Sobre
 a
 MPB,
 temos
 ainda
 A
 MPB
 em
 movimento:
 música,
 festivais
 e
 censura,
 dissertação
 de
 mestrado
 de
 Ramon
 Casas
 Vilarino.
 O
 objetivo
 desta
 pesquisa
 foi
 analisar
 os
 primeiros
 anos
 da
 ditadura
 implantada
 no
 Brasil
 com
 o
 golpe
 militar
 de
 1964.
Segundo
o
autor,
a
música
“tornou‐se
o
fio
condutor
da
análise”
por
apresentar‐ se
 “como
 uma
 fonte
 abundante,
 atrativa
 e
 reveladora”.
 O
 autor
 afirma
 ter
 procurado
 “demonstrar
 como
 numa
 sociedade
 de
 classes,
 cindida
 entre
 exploradores
 e
 explorados,
há
uma
disputa
por
posições,
lugares
e
situações,
onde
o
que
está
em
jogo,
 em
última
instância,
é,
de
um
lado,
a
permanência
ou
até
o
aumento
dessa
exploração
e,
 de
outro,
a
diminuição
ou
o
fim
dessa
condição”.
Assim,
o
trabalho
tem
uma
perspectiva
 claramente
 comprometida
 com
 uma
 posição
 política
 de
 esquerda,
 que
 pode
 ser
 localizada,
por
exemplo,
na
afirmação
de
que
“a
MPB
é
um
movimento
no
interior
da
 música
popular
brasileira,
que
travou
o
bom
e
necessário
combate”.
213
O
trabalho
tem


uma
sequência
cronológica
de
eventos
bem
organizada,
que
pode
ser
útil
nesse
sentido,
 mas
 toda
 a
 reflexão
 sobre
 eles
 está
 centrada
 na
 ideia
 da
 MPB
 como
 resistência
 à
 ditadura
e
à
exploração
capitalista.



Entre
 os
 trabalhos
 orientados
 por
 Arnaldo
 Contier,
 encontra‐se
 a
 tese
 de
 doutoramento
 de
 Carlos
 Alberto
 de
 Moura
 Ribeiro
 Zeron,
 Fundamentos
 histórico­

políticos
da
música
nova
e
da
música
engajada
no
Brasil
a
partir
de
1962:
o
salto
do
tigre
 de
 papel,214
 estudo
 que
 também
 tem
 o
 foco
 nas
 conexões
 entre
 estética
 musical
 e


projetos
 políticos
 e
 ideológicos,
 mas
 num
 outro
 momento
 histórico.
 Olhando
 para
 o
 campo
 de
 produção
 erudito,
 a
 pesquisa
 investiga
 as
 noções
 de
 história
 e
 política
 que
 sustentaram
os
projetos
de
política
cultural
dos
músicos
da
vanguarda
dos
anos
1960,
 reunidos
em
torno
do
grupo
Música
Nova,
até
o
seu
desdobramento
em
direção
a
uma
 música
 politicamente
 engajada.
 Em
 função
 das
 características
 do
 estudo,
 a
 música
 popular
 vai
 aparecer
 de
 maneira
 muito
 secundária
 na
 tese,
 que,
 entretanto,
 oferece
 muitos
 elementos
 para
 se
 entender
 as
 polêmicas
 estético‐políticas
 das
 esquerdas
 nos
 213
VILARINO,
Ramon
Casas.
A
MPB
em
movimento:
música,
festivais
e
censura.
Dissertação
de
mestrado
em
História,.
 São
Paulo:
PUC‐SP,
1998.
As
citações
foram
retiradas
do
prefácio
da
5ª
edição
da
publicação
do
livro
homônimo:
São
 Paulo:
Olho
d’Água,
2006,
p.
6‐7.
 214
ZERON,
Carlos
Alberto
de
Moura
Ribeiro.
Fundamentos
histórico­políticos
da
música
nova
e
da
música
engajada
no
 Brasil
a
partir
de
1962:
o
salto
do
tigre
de
papel.
Dissertação
de
mestrado
em
História.
São
Paulo:
FFLCH‐USP,
1991.


anos
1960,
que
tiveram
influência
marcante
na
música
popular,
e
é
representativa
de
 um
momento
da
pesquisa
sobre
música
na
universidade
brasileira.





O
foco
numa
certa
linhagem
da
música
popular
urbana
brasileira
articulada
em
 torno
do
samba
e
expressa
na
sigla
MPB
seria
criticado
por
Paulo
Cesar
Araújo
em
Eu


não
 sou
 cachorro,
 não:
 música
 popular
 cafona
 e
 ditadura
 militar,
 dissertação
 de


mestrado
 defendida
 na
 UNIRIO
 em
 1999.
 O
 objetivo
 dessa
 pesquisa
 foi
 analisar
 a
 produção
 musical
 chamada
 de
 “brega”
 ou
 “cafona”,
 e
 discutir
 suas
 implicações
 com
 o
 regime
militar
e
a
censura.
Com
a
palavra
“cafona”,
o
autor
se
refere
“àquela
vertente
 da
 música
 popular
 brasileira
 consumida
 pelo
 público
 de
 baixa
 renda,
 pouca
 escolaridade
 e
 habitante
 dos
 cortiços
 urbanos,
 dos
 barracos
 de
 morro
 e
 das
 casas
 simples
dos
subúrbios
de
capitais
e
cidades
do
interior”;
utiliza
a
palavra
entre
aspas
 porque
 ela
 “contém
 um
 juízo
 de
 valor
 impregnado
 de
 preconceitos”
com
 os
 quais
 ele
 não
 compartilha.
 Araújo
 considera
 que
 artistas
 populares
 como
 Paulo
 Sérgio,
 Odair
 José,
 Benito
 di
 Paula
 e
 até
 mesmo
 a
 dupla
 Dom
 &
 Ravel,
 que
 ficou
 fortemente
 estigmatizada
como
porta‐vozes
musicais
do
regime
militar,
teriam
desempenhado
um
 papel
 de
 resistência
 do
 ponto
 de
 vista
 político
 e
 social,
 nunca
 ressaltado,
 ou
 simplesmente
ignorado
pelos
analistas,
críticos,
pesquisadores
e
historiadores
da
nossa
 música,
que
seriam
pródigos
em
assinalar
a
“ação
de
combate
e
protesto
empreendida
 por
 diversos
 compositores
 da
 MPB”,
 entendida
 num
 sentido
 mais
 restrito.
 Como
 objetivo
 não
 declarado,
 o
 autor
 faz
 uma
 revisão
 da
 narrativa
 hegemônica
 sobre
 o
 período.
 Afirma
 que
 “através
 da
 análise
 da
 construção
 social
 da
 memória
 é
 possível
 identificar
 de
 que
 maneira
 ficou
 cristalizada
 em
 nosso
 país
 uma
 memória
 da
 história
 musical
 que
 privilegia
 a
 obra
 de
 um
 grupo
 de
 cantores/compositores
 preferido
 das
 elites,
 em
 detrimento
 da
 obra
 de
 artistas
 mais
 populares”.215
 Numa
 linha
 de


argumentação
 que
 tem
 o
 caráter
 de
 polêmica
 aberta
 com
 a
 hegemonia
 da
 linhagem


samba­bossa­MPB,
 Paulo
 Cesar
 de
 Araújo
 faz
 uma
 contundente
 crítica
 à
 seleção
 do


repertório
 da
 música
 popular
 na
 pesquisa
 acadêmica,
 trazendo
 outros
 discursos
 musicais
 para
 a
 reflexão
 da
 história
 política
 e
 social.
 Esta
 discussão
 proposta
 por
 Araújo
 será
 abordada
 em
 outro
 momento
 no
 curso
 desta
 dissertação.
 Uma
 versão
 do


215
ARAÚJO,
Paulo
Cesar.
Eu
não
sou
cachorro,
não:
memória
da
canção
popular
"cafona"
(1968‐1978).
Dissertação
de


mestrado
 em
 História.
 Rio
 de
 Janeiro:
 UNIRIO,
 1999.
 Citações
 retiradas
 da
 publicação
 da
 dissertação:
 Eu
 não
 sou
 cachorro,
não:
música
popular
cafona
e
ditadura
militar.
4ª
ed.
Rio
de
Janeiro:
Editora
Record,
2003,
pp.
17‐21.


trabalho
 foi
 publicada
 no
 ano
 2000
 pela
 Editora
 Record
 e
 transformou‐se
 num
 dos
 maiores
sucessos
editoriais
da
produção
acadêmica
do
campo.216

A
primeira
pesquisa
de
pós‐graduação
realizada
na
área
de
História
no
Rio
de
 Janeiro
 sobre
 música
 popular
 foi
 defendida
 na
 UFRJ
 em
 1989,
 Uma
 estratégia
 de


controle:
 a
 relação
 do
 poder
 do
 estado
 com
 as
 Escolas
 de
 Samba
 do
 Rio
 de
 Janeiro
 no
 período
de
1930
a
1985,
dissertação
de
mestrado
de
José
Luiz
de
Oliveira.
O
objeto
da


pesquisa
 localiza‐se
 “nas
 várias
 formas
 de
 intervenção
 direta
 ou
 indireta
 do
 Estado”
 nas
 escolas
 de
 samba
 cariocas,
 visando
 “demonstrar
 o
 caráter
 político‐ideológico
 das
 relações
mantidas
entre
o
poder
do
Estado
e
as
manifestações
populares”,
com
especial
 atenção
 para
 os
 desfiles
 que
 se
 realizaram
 durante
 o
 regime
 militar,
 período
 que
 o
 autor
 chama
 da
 “República
 Autoritária”.
 Oliveira
 considera
 que
 “as
 relações
 entre
 o
 poder
estatal
no
seu
sentido
mais
amplo
e
as
escolas
de
samba
traduzem
as
pressões
 exercidas
 pelo
 Estado
 e
 as
 resistências
 dos
 setores
 populares
 num
 perfil
 que
 reflete,
 também,
as
mudanças
políticas
e
ideológicas
ocorridas
na
sociedade
brasileira
ao
longo

 do
 período”.
 Para
 o
 autor,
 ao
 longo
 de
 “uma
 mudança
 gradual
 da
 relação
 entre
 sambistas”,
a
princípio
perseguidos
e
marginalizados,
e
aparelho
repressivo
do
Estado,
 as
 escolas
 internalizaram
 progressivamente
 uma
 “condição
 de
 colaboradoras
 voluntárias
das
elites
dirigentes”,
que
se
materializava
nos
enredos
“nacionais”
e
sem
 críticas
 à
 ordem
 política,
 social
 e
 econômica,
 num
 acordo
 tácito
 que
 envolvia
 as
 subvenções
estatais.
“A
ascensão
do
desfile
das
escolas
de
samba
ao
lugar
de
principal
 manifestação
 carnavalesca
 fez‐se
 acompanhar
 de
 todo
 um
 processo
 de
 elitização”
 do
 evento,
 cujo
 “caráter
 cada
 vez
 mais
 luxuoso
 e
 ostentatório”
 tornou
 elevadíssimos
 os
 custos
 financeiros,
 decorrendo
 daí
 uma
 aproximação
 progressiva
 entre
 “algumas
 das
 principais
escolas
e
o
mundo
da
contravenção”.
Com
as
transformações
político‐sociais
 ocorridas
 a
 partir
 de
 1945
 e
 especialmente
 após
 o
 golpe
 de
 1964,
 desenvolveu‐se
 paulatinamente
 a
 ambiguidade
 do
 sentido
 dos
 enredos
 dos
 desfiles.
 Como
 exemplos
 mais
extremos,
o
autor
aponta
a
postura
“chapa
branca”
da
Beija
Flor
de
Nilópolis,
de
 exaltação
à
ordem
constituída
nos
carnavais
de
1973,
1974
e
1975
e,
por
outro
lado,
os


216
Em
2006
Paulo
Cesar
Araújo
publicou
o
livro
Roberto
Carlos
em
Detalhes
pela
Editora
Planeta
do
Brasil,
biografia


não
 autorizada,
 que
 motivou
 uma
 batalha
 judicial
 com
 o
 cantor
 que
 resultou
 na
 proibição
 da
 distribuição
 da
 publicação,
em
episódio
amplamente
divulgado
e
discutido
na
impressa
diária.



enredos
de
contestação
política
da
Caprichosos
de
Pilares
nos
anos
1980.217
O
trabalho
 traz
para
a
área
de
História
uma
questão
que
já
havia
sido
abordada
em
pesquisas
de
 outras
áreas,
especialmente
Antropologia.218

 
 3.4
HISTORIOGRAFIA
DOS
MOVIMENTOS
E
GÊNEROS
MUSICAIS
 
 Neste
subitem,
faremos
um
agrupamento
das
pesquisas
que
construíram
seus
 objetos
em
torno
de
gêneros
específicos
de
música
popular,
colocando
o
foco
do
estudo
 nas
 questões
 culturais
 e
 comportamentais
 de
 uma
 parcela
 da
 juventude
 ou
 da
 sociedade
 como
 um
 todo,
 e
 não
 nas
 conexões
 entre
 produção
 cultural
 e
 momento
 político.
 Algumas
 pesquisas
 se
 referem
 a
 certas
 vertentes
 musicais
 populares
 como
 “movimentos”.
A
ideia
de
movimento
não
é
muito
precisa
e
não
se
encontra
nenhuma
 definição
para
ela
nessas
pesquisas,
mas
em
geral
entende‐se
por
movimento
musical,
 artístico
ou
cultural
uma
certa
corrente
estética
ou
de
pensamento
que
caracteriza
um
 conjunto
de
autores,
geralmente
sem
muita
organicidade
e
com
uma
duração
temporal
 delimitada.
Por
exemplo,
são
mencionados
como
movimentos
musicais
a
bossa
nova,
a
 jovem
guarda
e
a
tropicália.
Num
período
posterior,
poder‐se‐ia
incluir
o
rock
nacional
 dos
anos
1980
e
o
mangue
beat,
por
exemplo.







Naturalmente
 estes
 agrupamentos
 dos
 trabalhos
 que
 estamos
 apresentando
 são
esquemáticos
e
visam
apenas
facilitar
um
olhar
panorâmico
para
a
produção,
uma
 vez
que
as
questões
estão
entrelaçadas.
Não
estamos
sugerindo
que
as
pesquisas
que
 listaremos
 a
 seguir
 tenham
 um
 olhar
 estanque
 e
 atomizado
 para
 apenas
 um
 dos
 aspectos
sob
os
quais
um
gênero
musical
possa
ser
observado.
Mas
é
interessante
notar
 como
os
trabalhos
que
tomam
por
objeto
a
MPB
ou
o
samba
nos
anos
1930
e
1940
têm
 uma
 tendência
 a
 estudar
 as
 conexões
 entre
 música
 e
 política.
 Já
 os
 que
 tomaram
 por
 objeto
 gêneros
 não
 tão
 claramente
 identificados
 com
 uma
 cultura
 política
 tendem
 a
 observar
 mais
 as
 questões
 culturais
 e
 comportamentais.
 Neste
 caso,
 temos
 estudos


217
OLIVEIRA,
José
Luiz
de.
Uma
estratégia
de
controle:
a
relação
do
poder
do
estado
com
as
Escolas
de
Samba
do
Rio


de
Janeiro
no
período
de
1930
a
1985.
Dissertação
de
mestrado.
Rio
de
Janeiro:
UFRJ,
1989,
Resumo
e
pp.
120‐123.

 218
 GOLDWASSER,
 Maria
 Julia.
 O
 Palácio
 do
 samba:
 estudo
 antropológico
 da
 Escola
 de
 Samba
 Estação
 Primeira
 de


Mangueira.
Dissertação
de
mestrado
em
Antropologia.
Rio
de
Janeiro:
UFRJ,
1975;
LEOPOLDI,
José
Sávio.
Escola
de
 samba,
ritual
e
sociedade,
Dissertação
de
mestrado
em
Antropologia.
Rio
de
Janeiro:
UFRJ,
1975;
RIBEIRO,
Ana
Maria
 Rodrigues.
 Samba
 negro,
 espoliação
 branca:
 um
 estudo
 das
 Escolas
 de
 Sambas
 do
 Rio
 de
 Janeiro.
 Dissertação
 de
 mestrado
em
Ciências
Sociais.
São
Paulo:
FFLCH‐USP,
1981.


sobre
 o
 momento
 do
 surgimento
 da
 bossa
 nova
 e
 as
 transformações
 na
 vida
 urbana
 carioca,
a
jovem
guarda
e
o
surgimento
de
um
rock
nacional,
por
exemplo.
No
estudo
 destes
objetos
tem
destaque
a
questão
do
surgimento
da
juventude
como
ator
social.



Bossa
Nova
é
sal,
é
sol,
é
sul:
música
e
experiências
urbanas
(Rio
de
Janeiro,
1954­ 1964),
de
Simone
Luci
Pereira,
tem
por
objetivo
analisar
a
bossa
nova
do
ponto
de
vista


da
 vida
 urbana
 e
 mostrar
 através
 da
 canção
 a
 dinâmica
 de
 uma
 cidade
 em
 mutação.
 Segundo
 a
 autora,
 o
 Rio
 de
 Janeiro
 transformava‐se
 “tanto
 nas
 maneiras
 de
 se
 ver
 a
 cidade”,
como
“na
ocupação
sistemática
de
novos
espaços,
como
a
praia,
Copacabana
e
 Ipanema,
enfim,
em
novas
formas
de
relação
no
âmbito
público
como
no
privado”.
Luci
 Pereira
considera
que
a
bossa
nova
“trazia
em
si
pistas

para
se
entender
uma
mudança
 comportamental
 em
 conformação
 com
 as
 mudanças
 do
 meio
 urbano”
 no
 qual
 se
 originou.
Analisa
“os
projetos,
símbolos
e
modelos
comportamentais
da
bossa
nova,
no
 que
 eles
 dizem
 respeito
 à
 cidade
 na
 sua
 dinâmica
 histórica,
 em
 suas
 mudanças
 nas
 relações
 entre
 novo
 e
 arcaico,
 público
 e
 privado,
 feminino
 e
 masculino”,
 bem
 como
 pretende
olhar
para
a
bossa
nova
“como
um
novo
estilo
de
vida,
para
além
de
um
novo
 estilo
musical”
na
tentativa
de
trabalhá‐la
em
seu
aspecto
comportamental.
219


Em
sua
dissertação
de
mestrado
Jovens
tardes
de
guitarras,
sonhos
e
emoções:


fragmentos
do
movimento
musical­cultural
Jovem
Guarda,
Ana
Barbara
Pederiva
aborda


um
 gênero
 até
 então
 pouco
 focalizado
 nas
 pesquisas
 e
 se
 propõe
 “questionar
 o
 conhecimento
 histórico
 sobre
 tal
 movimento,
 criando
 instrumentos
 para
 avaliação
 crítica,
procurando
rastrear
as
formas
de
viver
e
pensar
desses
jovens”,
“captando
os
 sons
 e
 as
 experiências"
 de
 um
 “acontecimento
 de
 massa
 ou
 para
 a
 massa,
 de
 grande
 destaque
 na
 década
 de
 1960”.
 A
 partir
 de
 uma
 visão
 da
 jovem
 guarda
 como
 uma
 “manifestação
específica
do
rock
and
roll
no
Brasil”,
a
autora
vai
analisar
a
relação
entre
 rock
 e
 juventude
 e
 refletir
 sobre
 os
 perfis
 de
 comportamento
 dessa
 parcela
 da
 juventude
 associada
 à
 jovem
 guarda,
 considerando
 as
 categorias
 juventude
 e
 gênero
 (enquanto
 expressão
 da
 sexualidade).
 Assim,
 procurara
 “desvendar
 como
 culturalmente
 as
 representações
 de
 juventude,
 no
 masculino
 e
 no
 feminino,
 foram
 construídas
durante
o
movimento,
detectando
a
constituição
desses
sujeitos
históricos


219
PEREIRA,
Simone
Luci.
Bossa
Nova
é
sal,
é
sol,
é
sul:
música
e
experiências
urbanas
(Rio
de
Janeiro,
1954‐1964).


sexuados”
e
o
fluxo
“das
relações
entre
gerações
e
gêneros”.
220
Este
é
o
único
trabalho