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1.3 – ESTRUTURA DE VIGILÂNCIA

1.4 – M ÉTODOS DE VIGILÂNCIA

A ação de vigilância possui dois momentos principais, que podem ser comparados à leitura e à escrita. O primeiro é aquele em que um agente especializado na função observa alguém ou algo em relação a aspectos pré-determinados. No segundo, descreve o que observou, caracterizando o comportamento da pessoa vigiada em relação a pontos previamente estabelecidos, eventualmente indicando também outros aspectos considerados relevantes. Essa analogia com os processos de ler e escrever busca destacar o papel ativo do

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agente de vigilância. A percepção da subjetividade inerente àquela atividade é fundamental para que se possa melhor compreender a vigilância como modo de controle social, evitando também usos inadequados de documentos produzidos sob circunstâncias muito peculiares.

1.4.1 – Leitura

Todo processo de vigilância iniciava com a concretização de uma intenção de vigilância, realizada na forma de uma ordem de determinado dirigente a agentes ou órgãos subordinados. Tal designação era muitas vezes encaminhada por meio de “papeletas de serviço”, instrumento de comunicação interna utilizado em vários órgãos do sistema de controle, não apenas nos de vigilância.212

Recebida a ordem por parte daqueles que deveriam executá-la, eram tomadas as medidas necessárias à realização da ‘leitura’. Elaborava-se um planejamento da ação e, com base nele, o alvo passava a ser vigiado, fazendo-se uso, para tanto, de métodos de “investigação” aperfeiçoados ao longo de décadas, em alguns casos desde o início do século 20.

A ‘leitura’ era realizada tanto diretamente, por meio de agentes ou colaboradores que acompanhavam as atividades dos vigiados, quanto indiretamente, através de “batidas” em residências e locais de trabalho/estudo para “apreensão de material subversivo”, de “depoimentos” de outras pessoas e de mapeamento de notícias na imprensa.

1.4.1.1 – Infiltração de agentes

A infiltração era frequente, sobretudo no meio estudantil e em eventos acadêmicos. A esse respeito, Adyr Fiúza de Castro, que chefiou a Divisão de Informações (D2) do Gabinete do Ministro da Guerra até 1969 e foi um dos criadores do CIE, afirmou:

Nós tínhamos gente infiltrada no movimento estudantil (...). Normalmente eram

sargentos – oficiais havia muito poucos. Civis também, mas como informantes. O

sargento era o melhor infiltrado, porque era um profissional. E não era preciso pagar

212

Cf., como exemplos: a PAPELETA DE SERVIÇO nº 17/81... op. cit.; a PAPELETA DE SERVIÇO nº 35/67, de 06/out/1967, do Chefe da Seção de Informações do DOPS/PR ao agente de polícia J. C. Kopp. APPR/DOPS, pasta 1551a.187.

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extra: ele estava ali executando uma missão. Infiltrar um civil significava pagar um

agente. Eu tenho um pouco de receio disso, não sou partidário de pagar freguês de

caderninho. Sou partidário de comprar a informação, como compro uma mercadoria qualquer. Eu vejo: se é boa, pago tanto; se não é boa, não quero.213

A afirmação é interessante também na medida em que aponta para as diferentes formas de infiltração praticadas no contexto, bem como para o tema da compra de informações, que inevitavelmente suscita uma questão fundamental: não poderia esse comércio ter gerado exageros e invenções, motivados por eventual ganância do vendedor ou avareza do comprador?

A atuação de infiltrados e informantes na vigilância do campo da educação superior foi uma constante. As reuniões do movimento feminista paranaense, em princípios de 1981, foram sistematicamente acompanhadas por um colaborador (provavelmente um agente infiltrado).214 Os encontros eram por ele relatados, com alto grau de detalhes, à DOPS/PR.

Tempo depois, quando do primeiro congresso organizado por aquele movimento, o delegado- chefe da Seção de Informações da DOPS/PR ordenou a um agente (talvez o mesmo de antes) que vigiasse o evento. Determinou que produzisse um relatório detalhado, com “o nome dos organizadores, dos oradores, dos participantes, os assuntos tratados e conclusões chegadas” e, ainda, com a “identificação dos veículos utilizados para o transporte dos inscritos no Congresso”. Solicitou também que observasse a ocorrência de “venda de jornais e distribuição de panfletos no local, fazendo coleta de exemplares se possível”. Isso confirma a existência, no processo de vigilância, de um método definido e de determinações hierarquicamente estabelecidas dentro dos órgãos do sistema de controle envolvidos.215 Em um evento discente,

realizado na Universidade Federal de Viçosa sob organização do DCE daquela instituição, o agente infiltrado, além de detalhado relatório, apresentou à agência mineira do SNI “duas fitas”, nas quais provavelmente teria gravado algumas das principais falas realizadas durante o evento.216

Outro exemplo é dado pela infiltração de um detetive, pela DOPS/PR, em uma

213 CASTRO, Adyr Fiúza de. Depoimentos... op. cit. p. 39-40. 214

Parece provável que se tratasse de agente infiltrado e não de informante (colaborador voluntário), porque todos os informes foram classificados como plenamente confiáveis (“A-1”), o que raramente acontecia com material proveniente de informantes.

215

DOSSIÊ “1º Congresso da Mulher/Curitiba”. APPR/DOPS, pasta 330.39.

216

INFORME nº 389/SS-300/78, de 15/mar/1978, do “colaborador ST-310” ao SNI/ABH. AN/SNI, ACE 4112-

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manifestação promovida em setembro de 1980. No relatório de sua ação de vigilância, o agente indicava os participantes: estudantes, professores, presidentes de associações docentes, representantes de diretórios acadêmicos do CEFET-PR, da PUCPR e da UFPR, dentre outros.217

Nos corredores e salas de aula das instituições de educação superior, também era frequente a presença de infiltrados. Em 1979, um professor e oito estudantes foram presos, dentro do campus do Vale da Canela, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), por policiais militares que lá estavam trabalhando “à paisana”.218

Até mesmo nas delegações estaduais enviadas a congressos estudantis, o sistema de controle conseguia infiltrar agentes de vigilância. No I Encontro Nacional de Estudantes de Administração, realizado em Salvador, o III Exército conseguiu enviar agentes através da delegação gaúcha, os quais vigiaram atentamente o evento e alguns universitários que supostamente estariam levando para a capital baiana “documentos subversivos do movimento estudantil universitário do Rio Grande do Sul”. Dentre as medidas de vigilância adotadas, “foi mantida constante observação sobre os prováveis portadores de tal material, realizando-se inclusive, sem o conhecimento dos mesmos, revista de sua bagagem, sem nenhum resultado”. Os agentes infiltrados também desconfiaram de um aluno “dos mais politizados”, que havia participado “de todas as reuniões preparatórias” (as quais, portanto, também estavam sob vigilância) e que, “à última hora, havia avisado não poder participar do encontro”, tendo, porém, chegado a Salvador posteriormente, “após haver viajado isolado da turma, tudo levando a crer tenha sido ele o portador da documentação”. Diante disso, os espiões não duvidaram em invadir o quarto de hotel do suspeito: “uma busca realizada no hotel onde se hospedou este estudante revelou que o mesmo não mantinha a sua bagagem neste local, pois lá só foram encontrados seus objetos de higiene pessoal”.219

217 DOCUMENTO S/Nº, não padronizado, de 13/set/1980, do detetive Valmir Luiz Gubert ao Delegado Luiz

Artigas Filho, da “Divisão de Segurança e Informações” da DOPS/PR. APPR/DOPS, pasta 709.81.

218 ALUNOS detidos por pintar muro. O Estado do Paraná, 07/nov/1979. Cópia de recorte de jornal enviada

pelo DOPS/PR ao DPF/BA. APPR/DOPS, pasta 682.78.

219

INFORMAÇÃO nº 1195/75-B, de 16/mai/1975, do III Exército para o CIE, CMP (Comando Maior do

Planalto), CMA (Comando Militar da Amazônia) e para o I, II e IV Exércitos, repassada pelo I Exército para o DOI/I Ex, para a SSP/RJ, para a AMAN, para o 1º BPE, para a 1ª DE e diversos outros órgãos de sua alçada. Classificado como confidencial. BR MGAPM,XX DMG, pasta 32.

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1.4.1.2 – Apoio de colaboradores externos

Como mencionado, o apoio de colaboradores externos à “comunidade de segurança e de informações” era fundamental e não apenas incentivado, mas também, em certos casos, obtido por meio de formas de cooptação. Nesses casos, os indivíduos eram levados a uma postura colaborativa em função do cargo que ocupavam (reitor, diretor etc.) ou de ameaças. A omissão de dados potencialmente relevantes poderia implicar em perseguição a quem omitira a informação, e isso, presume-se, convencia alguns a colaborar. Nos casos de apoio espontâneo, tratava-se da delação motivada por afinidades ideológicas, por busca de vantagens ou em razão de divergências pessoais.

A Casa do Estudante Universitário do Paraná foi vigiada de modo intenso, tendo inclusive algumas diretorias da entidade sofrido triagem ideológica com base em informações fornecidas a órgãos de vigilância por colaboradores. Na eleição da gestão 1969/1970, a 2ª seção da 5ª RM encaminhou a outros órgãos alguns dados recebidos de um “informante” daquele órgão estudantil. A lista de nomes recebida do colaborador foi verificada por aquela segunda seção, que identificou que alguns membros da diretoria eleita estavam ‘fichados na DOPS’. Por meio dos “prontuários” anexados à informação, é possível identificar o tipo de motivos pelos quais estavam fichados: um deles, por exemplo, havia sido preso em 1968 pela DOPS/PR, quando distribuía “panfletos subversivos”.220

Em 1980, informava-se da posse de nova diretoria naquela casa estudantil. O documento indicava que a solenidade de posse fora presenciada por um agente infiltrado ou por um informante de confiança daquele órgão de controle. Juntamente com a nominata da diretoria recém empossada, o documento assinalava que o novo presidente da entidade teria afirmado que “os pelegos haviam sido afastados, e que fariam daquela Casa um Centro Político”.221

Em 1967, a DOPS/PR recebeu uma série de cartas do então presidente da Associação dos Servidores Públicos do Paraná. Ele informava a composição da nova diretoria da instituição e agradecia pela ação da DOPS/PR naquela entidade (“mantendo a lei e a ordem” nos dias anteriores a 20/nov/1967, quando ele havia assumido a direção da entidade). Por fim,

220 APPR/DOPS, pasta 172.19. 221

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anexava os estatutos da entidade e alguns folhetos, dentre outros materiais.222

1.4.1.3 – “Batidas” e “depoimentos”

As “batidas” consistiam na invasão de residências, de locais de trabalho ou de estudo para “inspeção” e “recolhimento de evidências”. Buscavam-se livros, fotos, cartas e tudo que pudesse servir como “prova” contra o vigiado, de acordo com a lógica distorcida inerente àquele tipo de investigação.

Os “depoimentos” também eram usados como prova. Alguns eram fornecidos de modo voluntário, pelos motivos já mencionados (alinhamento ideológico, expectativa de ganhos etc.). Outros eram cooptados, por meio de tortura física e psicológica ou de ameaças.223

Um terceiro tipo estava a meio caminho entre os dois primeiros. Tratava-se dos casos em que a denúncia era voluntária, mas motivada não por alinhamento ideológico, e sim por medo de ser suspeito (sem ameaças diretas, medo gerado pelo contexto de arbítrio e sensação de constante vigilância), como forma de demonstrar que não merecia ser punido.

Em julho de 1964, por exemplo, no âmbito de um IPM promovido em Belo Horizonte/MG sobre a AP e a JUC (Juventude Universitária Católica), vários “depoimentos” foram produzidos e atribuídos a estudantes e ex-estudantes universitários.224 Foi encarregado

daquele IPM o General-de-Brigada Luciano Cerqueira Pereira, e servia de escrivão o 2º Tenente Jofre Fernandes Lacerda. Ambos, assim como as “testemunhas” (assim designadas

222 APPR/DOPS, pasta 107.13.

223 O Projeto Brasil: Nunca Mais relacionou 310 tipos diferentes de tortura. Se algumas eram promovidas por

meio de medidas que geravam dor física intensa (como arrancar unhas, aplicar choques ou ácido em partes sensíveis do corpo, afogamentos etc.), outras eram eminentemente psicológicas (como ameaças de tortura de parentes ou da própria pessoa, colocar repetidamente luz nos olhos, fuzilamentos simulados, ameaçar jogar de avião etc.). Ter em conta o uso sistemático da tortura física e psicológica na produção de “depoimentos” é fundamental para que se evite um uso equivocado dos mesmos. ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil:

Nunca Mais – Projeto “A”. t. V, v. 1 - A tortura. São Paulo: 1985. BNM/AM. p. 66-73.

224

A ideia de que os “depoimentos” eram produzidos por um órgão ou agente de vigilância e atribuídos a determinados indivíduos busca chamar a atenção para a forma como tais narrativas eram constituídas, muitas vezes priorizando seu uso posterior (como “prova”) na busca de justificação para determinadas medidas de controle, em detrimento da fidelidade ao que o “depoente” efetivamente teria dito. Além disso, é preciso lembrar que aquilo que efetivamente era dito pelo “depoente” poderia guardar maior ou menor distância em relação à realidade dos eventos narrados, em função de motivos vários (subjetividade da narrativa, lapsos, confusões e, ainda, táticas de defesa frente ao agente de vigilância, como, por exemplo, a mentira intencional para atrapalhar o processo de “investigação”).

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pelos promotores daquele processo de vigilância que, em muitos casos, também tinha uma dimensão repressiva), assinavam os documentos nos quais eram registrados os “depoimentos”, obtidos “no Quartel do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva [CPOR]” da capital mineira e posteriormente difundidos para vários órgãos de vigilância. Nos textos, lia-se, por exemplo, que determinado rapaz, com 20 anos de idade naquela ocasião, haveria dito ter “vindo para Belo Horizonte para estudar e trabalhar e, ao ingressar na Faculdade de Ciências Econômicas (Curso de Sociologia), passou a fazer parte da JUC” como forma de “evitar os grupos ateus e comunistas, existencialistas e mesmo transviados que”, teria ele afirmado, “lá existiam”, supostamente dizendo ainda que a escolha pela AP teria ocorrido também por ser “a manifestação política de seu pensamento católico”.

Os vários “depoimentos” obtidos no âmbito daquele IPM seguiam essa estrutura, via de regra fazendo referência às mesmas perguntas. Em outro “depoimento”, um rapaz de 19 anos, ao ser “perguntado [sobre] quais os militantes da AP que conhec[ia] em Belo Horizonte, respondeu que conhec[ia] os universitários [quatro nomes completos]”.225

1.4.1.4 – Imprensa e correio

A imprensa era tradicionalmente utilizada como fonte de dados e de “provas” pelos DOPS desde o início do século 20.226 Após 1964, esse método foi mantido pelos DOPS e

adotado também pelos novos setores da estrutura de vigilância, tanto pelo SNI quanto pelos órgãos militares de vigilância.227

225 Algumas perguntas eram frequentemente feitas, com pequenas variações de forma: “quanto tempo pertenceu

ao Mov. AP”, “se tem conhecimento do Documento Base”, “se conhece e segue sua filosofia”, “qual o cargo que ocupou no Mov. AP”, “como tomou conhecimento do Mov. AP”, “se o Mov. AP atuava no mesmo modo de ação do PC e se essa atuação era paralela, convergente ou divergente”, “se o Mov. AP usava os mesmos métodos e processos do PC no seu trabalho junto ao povo”, “qual a ideologia do Mov. AP”, “quantos membros da AP estavam relacionados em Belo Horizonte”, “quais os elementos da AP que conhece” etc. Outras perguntas, eventuais e possivelmente feitas em função de respostas apresentadas às perguntas anteriores ou de percepção, por parte do interrogador, de maior ou menor possibilidade de obtenção de respostas, eram do tipo: “se o Mov. AP chegou a atuar no setor de alfabetização, atuando nas favelas de Belo Horizonte”, “se foi ao Rio de Janeiro a serviço do Setor de Cultura Popular da AP”, “se os membros da AP sabiam dos riscos que corriam por atuarem no mesmo campo de ação que o PC”, “qual sua opinião sobre o capitalismo internacional” ou sobre a “socialização de propriedades”, “qual a contribuição mensal que os membros entregavam ao movimento” etc. BR MGAPM,XX DMG, pasta 19.

226

Nos arquivos do DOPS/PE, por exemplo, eram mantidos recortes do Diário de Pernambuco (1941 e 1946) e do Jornal do Commercio (1948), sobre prisão de suposto “agente da espionagem soviética”, dentre outros temas correlatos. APEJE/DOPS, pasta 28.569.

227

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A ocorrência de vigilância sobre correspondências, por meio da parceria estabelecida entre o SNI e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), é fato bastante conhecido, pelo menos desde a denúncia feita por Índio Brum Vargas, confirmada poucos anos depois pela divulgação, feita por Ana Lagôa, de um relatório do SNI, datado de 1973, sintomaticamente intitulado “Normas para interceptação, controle e utilização da correspondência postal contrária aos interesses nacionais”.228

Esse método foi utilizado inclusive na vigilância do campo da educação superior, como demonstram dois documentos.

O primeiro deles era um pedido que a agência paranaense do SNI fazia à DOPS/PR, em fins de 1976. A respeito de estudantes brasileiros que estavam estudando em países socialistas (Polônia e República Democrática Alemã), a agência solicitava a identificação do nome e endereço dos moradores de Curitiba com os quais aqueles estudantes se correspondiam. Pedia ainda que fossem identificadas maiores informações sobre os estudantes, como “escola, curso que realiza e período que deverão permanecer naqueles países”. 229

O outro documento era uma informação elaborada pela AESI/ECT-RS às agências do SNI de Porto Alegre e do Rio de Janeiro e à DSI do Ministério das Comunicações.230 Em

anexo, encaminhava um telegrama enviado pelo presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) a um deputado federal do MDB. No telegrama, o estudante relatava ao deputado o fechamento do Diretório Acadêmico de Economia da UFRGS e a “instauração de processo sumário indiciando 25 estudantes, além de outras providências determinadas pela Reitoria da universidade”, com base no Decreto-lei nº 477/69. A agência porto-alegrense, ao encaminhar a informação ao

periódicos como Gazeta do Povo (PR), Folha de S. Paulo e Última Hora, dentre outros (APPR/DOPS, pasta 2316.251); o dossiê elaborado pelo “Departamento de Vigilância Social” do DOPS/MG, em 1968, sobre “congressos de estudantes”, também formado com inúmeros recortes de jornais como Última Hora (de SP),

O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Diário da Tarde (MG), Diário de Minas, Correio da Manhã e

outros. (APM/DOPS, pasta 448).

228 VARGAS, Índio Brum. Guerra é guerra, dizia o torturador. 2. ed. Rio de Janeiro: CODECRI, 1981.

(Edições do Pasquim; 78); LAGÔA, Ana. SNI... op. cit. p. 48-55.

229 DOCUMENTO s/nº, não padronizado, s/d (1976), confidencial, do SNI/ACT ao DOPS/PR. APPR/DOPS,

pasta 150.18.

230 INFORMAÇÃO nº 467/19/APA/73, de 24/out/1973, confidencial, da AESI/ECT-RS para SNI/APA, SNI/ARJ

e DSI/MC, encaminhado pela SNI/APA à SNI/AC, sobre “DAECA/UFRGS, DCE/UFRGS, Presidente DCE/UFRGS, Deputado MDB/GB”. AN/SNI, ACE 63345-73.

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SNI, agregou o “histórico das atividades” do estudante, com informações detalhadas, como que curso fazia, dados sobre sua participação na política estudantil, entrevistas dadas à imprensa e indicação de que seu nome teria sido citado em um depoimento elaborado pela SSP/RS.

No telegrama, o estudante afirmava ainda que “a intranquilidade é total nos meios universitários”, que haveria “um enorme policiamento em frente ao Diretório Central dos Estudantes, na Casa dos Estudantes e no Restaurante Universitário”. Indicava que a imprensa estaria “proibida de noticiar qualquer nota expedida pelos estudantes, publicando somente notas oficiais da Reitoria”, que abaixo-assinados de solidariedade teriam sido proibidos pelo reitor, e que teria sido “imposta censura prévia em todos os jornais e murais, inclusive na universidade católica”.231 Concluía informando da situação do prof. José Bonetti Pinto, que

teria sido “afastado do contato com os alunos, sendo obrigado a dedicar-se somente a pesquisas”, em função de ter apoiado os estudantes após o fechamento do diretório acadêmico.232

Observe-se ainda, a esse respeito, o caso de Clarissa Sena Balduíno. Estudante de Serviço Social da Universidade Católica de Goiânia, em 18/jan/1970 foi presa na agência dos Correios da Praça Cívica, enquanto tentava postar cartas contendo denúncias contra a tortura e outras práticas do regime. O DOPS havia interceptado correspondência com teor semelhante postada naquela agência dias antes e alguns policiais estavam, desde então, vigiando o local. O inquérito foi conduzido pela Polícia Federal. Clarissa foi denunciada em fevereiro de 1970 e julgada pela Auditoria de Brasília em junho do ano seguinte, conseguindo, ao final, sua absolvição.233

1.4.2 – Escrita

Após o momento da leitura, passava-se ao da escrita, caracterizado por um processo por vezes bastante longo e meticuloso, não raro envolvendo órgãos de diferentes segmentos

231 Não raras vezes, em mobilizações estudantis, ocorria apoio mútuo entre alunos de instituições públicas e

privadas.

232

Voltarei a tratar desse episódio no cap. 3, seção 3.2.2.3.

233

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil: Nunca Mais - Projeto “A”. t. III – Perfil dos atingidos. 1985. BNM/AM. p. 347-348.

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da estrutura de vigilância e gerando documentos que seguiam padrões e modelos específicos.

1.4.2.1 – Pedidos de busca

Um desses tipos de documento era o “pedido de busca” (“PB”), por meio do qual um setor do sistema de controle solicitava, a um órgão de vigilância específico, dados sobre um