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No campo arquitetônico, lentamente vão ganhando espaço os modismos e “ares” modernos, passando do eclético ao protomoderno, aos bangalôs, ao neocolonial, até chegar às obras modernistas propriamente ditas.

O Protomodernismo ou Protorracionalismo, com tendência simplificadora e de reducionismo formal, contraria o Ecletismo e o seu excesso de formas e ornamentos. Chega a Maceió no final da década de 1920 e início dos anos de 1930, de forma semelhante ao Ecletismo, aparecendo como mais uma opção estilística a ser seguida e adaptada em nível local, assumindo também uma conotação moderna. Origina, assim, variações a partir do uso de linhas retas, recortes e detalhes em ângulos retos, simetria e abstração geométrica (Figuras 53 e 54).

O bangalô constitui o novo tipo arquitetônico característico da década de 1930, bem aceito pela classe burguesa (figura 55):

Figura 53 – Conjunto de casas com fachadas com elementos protomodernos,R. Santa Fé, Ponta Grossa.

Fonte: Acervo Pessoal, 2008.

Figura 54 - Atual Secretaria do Estado de Defesa Social - Centro

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MACEIÓ E A ÚLTIMA MODA: O PALACETE E OS PÉS NA LAMA

Residência de pretensões pitorescas, normalmente inspirada em estilos arquitetônicos alienígenas, resultando em construções de caráter exótico ou romântico. Essa tendência construtiva contraria os pressupostos do Regionalismo nordestino, que é superado, neste caso, por veículos ideológicos mais potentes como o cinema e as revistas de circulação nacional. Vence o modismo, avalizado pelas metrópoles. (SILVA, 1991, p. 31)

Representa, portanto, a influência de culturas estrangeiras recriando o imaginário popular, que se torna repleto de ícones de ascensão e progresso. A sensação é que ‘tudo no estrangeiro é mais fácil. O caminho a seguir é sempre o mesmo: uma bicycleta “Hirondelle”, um automóvel “Ford” e no fim um “Bungalow”’ (GUIMARÃES, In: Novidade Nº 4, 1931, p.1).

O Neocolonial aparece em Maceió seguindo uma tendência regionalista, com um retorno ao uso de elementos tradicionais, como telha canal, pátios, varandas e detalhes em azulejo (Figura 56). No entanto, não se reveste de um ímpeto contraditório com o Modernismo. A maioria de seus arquitetos praticantes logo se torna adepta do Movimento Moderno, revestindo estes elementos tradicionais de uma tônica moderna e atualizada.

Em Maceió, as manifestações de arquitetura moderna, empreendidas a partir da década de 1950, representaram as intenções de modernização e progresso diante do quadro de desenvolvimento nacional. Apesar de a agroindústria da cana- de-açúcar perseverar ante a industrialização, a recepção do vocabulário moderno chegou a ser positiva entre as elites locais, em resposta à aceitação nacional da linguagem moderna e a sua incorporação aos hábitos construtivos como expressão do novo e libertação do passadismo colonial, mesmo que destinado

Figura 55 – Edificação com características de bangalô,

embora bastante

descaracterizado. Praça Centenário, Farol.

Fonte: Acervo Pessoal, 2008.

Figura 56 – Casa Jorge de Lima, características neocoloniais. Praça Sinimbu, Centro.

Fonte: Acervo pessoal, 2008.

Figura 57 – Incorporação de vocabulário moderno – Casa com revestimento da fachada em azulejos coloridos, bairro da Ponta Grossa.

Fonte: Acervo pessoal, 2008.

Figura 58 – Incorporação de vocabulário moderno. Casa com parede e parte da platibanda em cobogós, bairro da Ponta Grossa.

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EXPRESSÕES ARQUITETÔNICAS DE MODERNIDADE EM MACEIÓ:

Uma Pe Uma PeUma Pe

Uma Perspectiva de Preservaçãorspectiva de Preservaçãorspectiva de Preservaçãorspectiva de Preservação

apenas às “aparências” estéticas da cidade.

As obras resultaram em caráter essencialmente moderno, definido pela funcionalidade da planta baixa, pelo uso de brises em concreto, panos de vidro e de cobogós. Associado a isso, permaneceu na produção moderna alagoana a incorporação de elementos construtivos da tradição luso-brasileira, como o uso de venezianas, telhas canal, amplos beirais e revestimento cerâmico – fato que levou a produção moderna brasileira ao destaque internacional pela sua riqueza em diversidade e particularidades locais.

Os modos de apropriação do vocabulário modernista pelas camadas populares da cidade associam as tradicionais formas de construir com variações em novas regras de composição plástica de fácil assimilação, principalmente na fachada, como o uso de platibandas, azulejos coloridos e pequenos brises – muitas vezes unicamente de efeito estético e não de proteção solar (Figuras 57 e 58).

Em sua obra “Arquitetura Moderna: A Atitude Alagoana”, SILVA (1991) sistematiza a experiência arquitetônica na capital e no interior do Estado, traçando um panorama geral dessas manifestações. Seu trabalho, a partir da constatação de uma carência de reflexões e discussões acerca das experiências vividas em Alagoas, inaugura uma busca pela recuperação da memória recente alagoana. Para a autora, a modernização da arquitetura e das cidades alagoanas dá-se em um contexto artificial, com uma sociedade que pouco mudou com relação à “concentração de renda, dominação, atraso e dependência” (Ibidem, p. 35). No entanto, é uma experiência significativa por corresponder à “etapa de fundo progressista no caminhar da produção cultural de Alagoas” (Idem).

Entendendo a produção cultural arquitetônica como resultante das práticas sociais vigentes, verifica-se que a produção arquitetônica maceioense representante de Modernidade sempre apareceu vinculada aos rígidos valores tradicionais típicos da cultura alagoana. A manutenção das formas de dominação política aliada a uma organização econômica agroexportadora conduziu os processos modernizadores de modo a conservar a sustentação de uma mesma classe no poder, sem descartar a difusão de um imaginário de ascensão e progresso da sociedade.

Sob essa ótica, ao analisar a história de políticas e práticas educacionais no estado, Verçosa avalia a Modernidade alagoana:

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Nas Alagoas, pelo que pudemos avaliar, as permanências têm sido sempre muito mais significativas e marcantes do que as rupturas, e é sobre esse pano de fundo que devemos avaliar a questão da modernidade e os processos de modernização que ali têm lugar [...]. Mesmo a urbanização, com o crescimento por que passou sobretudo Maceió nas últimas décadas, não teve, como vimos, as características modernizantes de outras metrópoles brasileiras. Pelo contrário, ela se deu, antes de mais nada, graças ao crescimento de uma classe média constituída ainda sobretudo por senhores de terra e seus descendentes. (VERÇOSA, 1997, p.192)

Desse modo, críticos sobre a formação histórica de Maceió sempre destacaram as difíceis condições em Maceió para atingir algum desenvolvimento. Para Dias Cabral (1870), “o progresso provinha então das eventualidades, porque a tudo presidia o desleixo” (Ibid., 1870, p. 73). Participando de tais momentos progressistas, a arquitetura – e também intervenções urbanísticas como as remodelações das praças – pontuou a cidade com tentativas de resultar em Modernidade, mesmo que permanecessem com “os pés na lama” do atraso, usando uma expressão de Graciliano Ramos.

As dificuldades político-econômicas que atravancam o crescimento de Maceió dificultaram a criação na cidade de um terreno fértil para um pleno desenvolvimento da produção arquitetônica da Modernidade, com aprofundamentos teóricos e experimentações conceituais como ocorreu em outras localidades brasileiras.

Destaca-se que o processo de produção arquitetônica aparece fortemente vinculado à concentração de renda existente. As camadas sociais mais favorecidas econômica e politicamente dispunham de recursos que possibilitavam o investimento no espaço edificado a fim de construir a imagem de cidade moderna que representasse a condição de poder destas classes. Ao passo que o restante da população, sem condições financeiras de investir em profissionais de engenharia-arquitetura, assimilava os elementos plástico-formais e construtivos difundidos na produção da elite e os incorporava em seus hábitos construtivos a fim de suprir as necessidades de uma representação simbólica que unificasse, numa mesma expressão, anseios de progresso e desejos de transpor a dura realidade em que vivia. Tais expressões configuram a outra faceta da produção arquitetônica da Modernidade maceioense, sendo constituída por exemplares da produção popular na cidade.

SEÇÃO 4

MACEIÓ MODERNA: SIGNIFICAÇÕES ADQUIRIDAS

Não é o “resto” nem o “velho” que se busca agora preservar, mas sim aquilo que é “nosso”. (MEIRA, 2004, p.138)

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MACEIÓ MODERNA: SIGNIFICAÇÕES ADQUIRIDAS

A necessidade de aproximação da realidade social para a sua compreensão se faz no momento em que se tem a clareza da natureza qualitativa da proposta de investigação. A rigor, como toda pesquisa social, é preciso considerar quais os atores envolvidos no processo que se pretende compreender. Apesar de o presente estudo ter como abrangência as expressões arquitetônicas de Modernidade em si, estas existem no espaço construído de modo interdependente aos sujeitos que as vivenciam. Isto implica considerar “gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados” (MINAYO, 2000, p. 22).

Para isso, foi preciso determinar as técnicas de abordagem desta realidade, de maneira a absorver os valores e significações atribuídas às manifestações da Arquitetura em análise. Optou-se pela utilização de dois instrumentais metodológicos distintos que possibilitassem a apreensão das configurações físicas das edificações e as relações de identidade por elas transmitidas. Deste modo, utilizou-se o recurso metodológico da Análise de Conteúdo para selecionar, sistematizar e analisar um conjunto de expressões arquitetônicas de Modernidade em Maceió, enquanto a técnica de entrevistas foi empregada para assimilar a subjetividade presente na dinâmica homem-espaço. Busca-se assim compreender “o vivido”, ou seja, “a experiência que é captada não como predicado de um objeto, mas como fluxo de cuja essência temos consciência em forma de relembranças, motivações, valores e significados objetivos. (GRANGER, 1997 apud MIANYO, 2000, p. 32)

Nesta seção, apresenta-se o conjunto de ocorrências de expressões arquitetônicas de Modernidade em Maceió – selecionadas a partir da associação de características tipológicas com o contexto sócio-histórico da localidade, explicitando os métodos de seleção, sistematização e análise utilizados. Objetivou-se avaliar este conjunto interagindo os dados sistematizados com as informações obtidas nas entrevistas, identificando as significações atribuídas e as possibilidades de preservação patrimonial para esta produção arquitetônica maceioense.

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EXPRESSÕES ARQUITETÔNICAS DE MODERNIDADE EM MACEIÓ:

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