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Magnífica 70: capítulo 7 – Fim do filme

6 DA ANÁLISE DO CORPUS

6.2 SÉRIE MAGNÍFICA 70

6.2.4 Nível intertextual de caráter paradigmático

6.2.5.3 Magnífica 70: capítulo 7 – Fim do filme

A narrativa do capítulo 7, que corresponde ao momento intermediário da trama, dá conta da transição de alguns impasses centrais, direcionando-se particularmente à finalização de um novo filme da Magnífica Cinematográfica. Os flertes e desejos do casal de protagonistas, até então secretos se realizam. Dora revela a Vicente o seu verdadeiro nome, Vera, e seus planos de roubo à produtora, explicitando a razão pela qual atua como atriz na

Magnífica.

A trama se desenvolve a partir da desconfiança de Helena, Dario e Larsen sobre a relação do casal. A personagem Isabel, esposa de Vicente, também ganha destaque, através de seu retiro/fuga da situação afetiva em seu casamento.

 Tematização

O capítulo 7 recupera os temas centrais da série, apresentando outras oposições temáticas: fidelidade vs infidelidade, confiança vs desconfiança, presente vs passado, ficção vs realidade, vida vs morte. Essa articulação temática manifesta-se a partir das relações entre os personagens Dora, Vicente, Manolo e Isabel e a gravação e finalização de um novo filme da produtora.

Esses eixos temáticos opositivos são conformados na narrativa a partir da atualização estratégica dos demais dispositivos discursivos e expressivos.

 Figurativização

As oposições temáticas destacadas nesta fase intermediária da série são figurativizadas na narrativa a partir de dois pontos de vista, sobre a produção independente de filmes: a figura da sensualidade e da luxúria, através da apresentação de mulheres sensuais, vestindo lingeries

em ambientes escuros com objetos de decoração e mobiliário na cor vermelha; e a figura da clandestinidade e da perseguição a esses filmes, através da recorrência de locações improvisadas, salas de revelação e edição amadoras e temporárias. Aparece, novamente, a figura austera da censura ao setor artístico, através do Departamento de Censura Federal.

 Actorialização

O capítulo 7, além dos protagonistas principais e dos coadjuvantes, já mencionados anteriormente, confere destaque e aprofunda a caracterização de outros personagens: Helena (Julia Ianina), aspirante a atriz, que conhece o passado de Dora e a chantageia para conseguir emprego na produtora; Carioca (Leandro Firmino), produtor e braço direito de Manolo na produtora; Aurélio, investigador, reconhecido por seus serviços prestados ao regime militar como torturador e contratado por Larsen para vigiar a rotina de Vicente e Dora.

A estratégia expressiva empregada na construção visual de Dora, Helena e Isabel, têm por finalidade erotizar as personagens. No que concerne à caracterização das atrizes, elas usam lingeries vermelhas ou aparecem seminuas. Dora, em especial, é configurada com aparência similar à cunhada de Vicente, na qual ele se inspira para o desenvolvimento do roteiro: vestida com trajes e penteados juvenis, mas ao mesmo tempo ousados. A personagem Isabel, volta de seu retiro hippie com uma nova aparência, bastante distinta de sua imagem anterior: veste com roupas justas e decotadadas, em cores quentes e longos casacos de couro.

Figura 26 – Atrizes durante gravação do filme Minha cunhada é de morte

 Temporalização

A narrativa do capítulo opera com uma única temporalidade: o tempo presente, no ano de 1973. Não há recorrência ao passado dos personagens, visto que a narrativa transcorre durante um único dia. A estratégia utilizada para demarcar a passagem temporal é apresentada sob o número de cenas gravadas, em uma claquete, do referido filme.

Figura 27 – Artefato utilizado para representar a passagem do tempo, conforme gravação do número de cenas

Fonte: Printscreen HBO, gravação realizada pela autora.

 Espacialização

A narrativa desenvolve-se em tempo presente, recorrendo a alguns cenários já apresentados, tais como: a sede da Magnífica Cinematográfica, o Departamento de

Censura Federal, o apartamento de Dora e Dario e o Bar na Rua Triunfo.

Além desses, a trama movimenta-se entre outros seis ambientes distintos:

Cenário 17: Casa de Vicente, apresentada, internamente, como locação para as gravações do novo filme da produtora. O quarto e a sala da residência contêm objetos decorativos bastante coloridos, com a predominância da cor vermelho no mobiliário e paredes.

Cenário 18: Sítio de retiro hippie, representado como um ambiente calmo, afastado do centro urbano. Externamente apresenta-se como um espaço amplo e arborizado, e do ponto de vista interno é decorado com tecidos, almofadas e velas coloridas.

Cenário 19: Apartamento de Helena, localizado em um pequeno prédio de dois andares e apresentado como uma kitnet, bastante colorida e bagunçada, com revistas, louças e papéis dispostos de forma desordenada.

Cenário 20: Bar Le Tabarin, apresentado, externamente, como um prédio com uma grande fachada com letreiro em neon; do ponto de vista interno, é configurado como um ambiente escuro com mobiliário em preto, destinado ao lazer - encontro de casais.

Cenário 21: Fachadas de bares, localizadas da região da Boca do Lixo, com letreiros em neon, presentes na cidade de São Paulo, na década de 70.

A narrativa recorre a índices de verídicção na configuração estratégica desses cenários, com ênfase em objetos, figurinos, arquitetura e nas locações externas, que retratam espaços públicos existentes e se aproximam da estética da década de 70.

Figura 28 – Cena dos bastidores da filmagem na trama da série

 Tonalização

O capítulo 7 tem como foco principal a apresentação da rotina de produção do cinema independente/marginal da época, representada através da gravação, revelação e montagem dos filmes. A combinatória tonal que perpassa a narrativa é presidida pelos tons de amadorismo vs profissionalismo, articulado com os de repressão vs expressão, bem como os de liberdade e erotismo. Esses tons se materializam na figura dos cineastas, dos censores, dos militares e da personagem Isabel, após retorno de seu retiro hippie.