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MANCHAS, TRAJETOS, PÓRTICOS E ESCOLARI(CIDADES) 1

CASA, PEDAÇOS, FAMILIARI(CIDADES)

Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de quase intolerável fulgor. A princípio, julguei-a giratória; depois, compreendi que esse movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu a via claramente de todos os pontos do universo. (...) Vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetura cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo.

Jorge Luís Borges

Ao abrir os olhos, o Aleph se fez presente. Signo de mistério, surpresa, proibição e descoberta, o mesmo é local a partir do qual todas as paisagens são vistas em sua peculiar variedade, porém sem se confundirem. Por meio dele, a totalidade dos pontos do orbe é vista de todos os ângulos. Através dele, pode-se ver fulgores, símbolos, matizes. É possível observar um pátio na rua, um labirinto, alguns veios de metal, uma vitrine, um monumento e até mesmo o ser que para ele lança seu olhar. O Aleph é espelho, luz e sombra. É um local que confere ao observador o privilégio de “burilar o poema”, dando a possibilidade de lapidar, entalhar e aperfeiçoar o que se vê, o que se ouve e o que se diz.

Múltiplas podem ser as interpretações dessa imagem poética de Borges. A mesma foi tomada como epígrafe desse capítulo para convidar à reflexão sobre a abertura pela qual o narrador entreolha o espaço-tempo fantástico que abarca o universo. Diante dela, várias indagações tornam-se cabíveis, dentre as quais: seria possível comparar o que se vê pela abertura do Aleph às nossas grandes cidades contemporâneas, espaços-tempos que abarcam o vário e o diverso? Como traduzir, através da linguagem, a imagem deste espaço-tempo pleno de movimento, simultâneo, multiangular e plural no cotidiano dos professores? Como compreender sua diversidade, visto que também os docentes têm variadas relações com a cidade?

Em pesquisas de cunho sócio-antropológico cujo objetivo consiste em compreender práticas desenvolvidas em espaços citadinos de múltiplos usos, tais perguntas muitas vezes se

fazem presentes quando o investigador para elas lança seu olhar. Isto é ainda mais comum no caso da pesquisa aqui proposta, cujo foco é a análise das relações entre sujeitos-docentes e grandes cidades. O que dizer, então, de professores e professoras que vivem em grandes centros urbanos? Como visualizá-los nestes espaços e tempos contemporâneos?

Nos termos de Magnani (1985), a fim de que a pesquisa assente suas bases e siga de maneira rigorosa e fértil a leitura e interpretação da realidade, torna-se necessário que unidades significativas sejam delimitadas a fim de que a observação e a análise sejam devidamente realizadas. Para o autor, as descontinuidades no tecido urbano, produzidas por distintos usos e formas de apropriação do espaço, necessitam ser identificadas e analisadas a fim de viabilizar investigações mais apuradas. Mais do que uma demarcação do espaço e/ou grupo social a serem investigados, o estudioso ressalta ser necessário que a pesquisa conte com categorias que permitam observar e analisar o real, seja em seus aspectos mais gerais, seja em suas dimensões particulares.

Entendidas como modos de simplificação do real que operam através da abstração, as categorias são formas de mediação entre o geral e o singular. Elas servem de auxílio na ordenação do pensamento a fim de que se possa interrogar e interpretar a realidade. Sem a interposição das mesmas, corre-se o risco de deixar que o pensamento fique sem apoio em seu movimento.

Retomando a epígrafe, compreendemos que a abertura pela qual o observador entreviu o Aleph pode, ser comparada às categorias utilizadas nos processos de pesquisa. Aquela fresta, embora em seu interior tudo se encontrasse, concedeu ao narrador a permissão de visualizar a multiplicidade e a singularidade, o geral e o particular. A fissura, embora envolta em sua aparente pequenez, possibilitou-lhe conferir sentido ao que diante dos olhos se apresentava. A fenda pela qual o incrível era visto, por apresentar um diâmetro, impôs ao mesmo limites, fronteiras, traçados. Categorias são aberturas, frestas, fissuras e fendas. Parafraseando Hissa (2005), as categorias são como as fronteiras, sinais de limite e possibilidade. Faixas de contatos e conflitos, as mesmas são sinônimo de perigo, riqueza, interpenetração. Convite à parada e à ultrapassagem, são o mundo da tenuidade e da fragilidade. Enquanto abertura, são sinônimas de transições, configurando-se como pontes de passagem para o desconhecido, que se deseja ver e conhecer.

O território fronteiriço das categorias, no entanto, não é dado de antemão. Ao fazer tal afirmação, Magnani (1998) considera que as mesmas sejam destacadas do fundo impreciso do real, o que as fará emergir do terreno do senso comum. Conforme o autor, caminho para o seu

desvendamento consiste na observância da recorrência das práticas sociais localizadas na base do sistema de classificações, fato que permite novos recortes e a criação de novas categorias.

Partindo desse pressuposto, em sua pesquisa no campo da antropologia urbana realizada na cidade de São Paulo na década de 1980, o autor salienta ter tomado como ponto de partida para tal tarefa a análise do espaço onde várias formas de lazer eram praticadas em alguns pontos da cidade. De modo particular, Magnani (1984) escolheu como objeto de estudo as diferentes formas de entretenimento e cultura popular com as quais a classe trabalhadora e moradora da periferia da cidade de São Paulo preenchia seu tempo de lazer. O pesquisador se propôs a analisar práticas de lazer em suas condições reais e concretas de exercício, realizadas no espaço do bairro. Nesse estudo, o autor elabora um sistema de oposições que auxilia na constituição de categorias para o estudo das relações entre determinados grupos sociais e a metrópole. Magnani (1998) cria cinco categorias para embasar investigações de cunho sócio-antropológico em meios urbanos, quais sejam: pedaço, mancha, trajeto, pórtico e circuito49. Nas palavras do autor, em entrevista divulgada pela OEI (Organização dos Estados Íbero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura), as categorias:

surgiram por necessidade metodológica de pesquisas realizadas na cidade do porte de São Paulo, onde a heterogeneidade, a diversidade e até mesmo o “caos urbano” aparecem como a tônica. No entanto, quando se olha “de

perto e dentro” começa-se a descobrir regularidades e não o caos e a

fragmentação como normalmente aparecem na mídia, ou até em alguns estudos. Esse olhar permite ultrapassar a barreira do senso comum e descobrir que os atores sociais, no seu cotidiano – na religiosidade, no trabalho, no lazer, na sua vida associativa – têm padrões de comportamento que são regulares. Para poder captar esses padrões, é preciso empregar certas categorias. A pesquisa antropológica, no contexto urbano, tem que construir o seu objeto de pesquisa, porque ele não existe in natura. O fato de descobrir uma festa religiosa, um grupo de jovens praticando lazer na cidade, isso em si não significa que se tem um objeto de pesquisa. É preciso que o pesquisador, para levantar e organizar os dados, parta de alguma questão, de um problema teórico. E para que a perspectiva “micro” não termine sufocando o estudo, é preciso usar categorias de análise que façam a mediação entre o geral e o particular. No caso de minhas pesquisas, utilizei algumas categorias como “o pedaço”, “o trajeto”, “a mancha”, “o

circuito” e “o pórtico”, que fui desenvolvendo justamente para poder

identificar na cidade certas regularidades e não me perder na fragmentação. (Magnani, s/d)

49 Nesta investigação, não utilizaremos a categoria “circuito”, uma vez que, da maneira como a compreendemos, demandaria realizar discussões que aqui fugiriam ao foco da investigação. “Circuitos” são locais da cidade que possuem semelhança entre si, percebidas apenas por seus freqüentadores como o circuito gay, circuito dos cinemas, etc. Sua apropriação fica indicada, pois, para pesquisas futuras.

Tais categorias, ao descreverem distintos modos de uso e apropriação espacial, funcionam como chaves para leitura, orientação e entendimento em estudos sobre a cidade. A compreensão de cada termo auxilia no entendimento da dinâmica das práticas ali presentes ou ausentes, suas marcas simbólicas, sua organização espacial, entre outros de seus aspectos. Também permitem que o espaço urbano não seja abordado sob a lente do caos, da fragmentação ou da desordem, palavras utilizadas, especialmente pela mídia, para qualificar a urbe contemporânea.

As categorias construídas por Magnani foram aquelas que mais possibilitam que os sujeitos sejam evidenciados na análise, dentre outras que abordam as relações entre os sujeitos e a cidade. Neste sentido, interessa-nos compreender e tensionar as elaborações, análises e reflexões em torno das categorias propostas por Magnani (1998) para compor e, ao mesmo tempo, analisar a temática desse trabalho, relativa aos professores na cidade. Para tanto, explicitamos alguns caminhos trilhados pelo antropólogo na criação desse instrumental analítico, mesclando definições por ele indicadas e somando nossas contribuições, referentes ao assunto aqui abordado.

No entanto, antes de adentrar na exploração das categorias analíticas propostas por Magnani (1998), é preciso destacar que, como ponto de partida, o autor utilizou a oposição entre os termos “em casa” e “fora de casa” para fundamentar suas observações e construções teóricas. Tal inspiração adveio de Da Matta (1979), para quem as categorias sociológicas “casa” e “rua” são fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira de uma maneira geral, simbolizando o que chama de “oposição básica na gramática social” do país. Para o autor,

estas palavras não designam simplesmente espaços geográficos ou coisas físicas comensuráveis, mas acima de tudo entidades morais, esferas de ação social, províncias éticas dotadas de positividade, domínios culturais institucionalizados e, por causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas (op.cit., p. 08)

Cada uma das categorias, para Da Matta (1997), só faz sentido se colocada em oposição à outra. Tais espaços apenas podem ser definidos através de contrastes e complementaridades. As idéias de casa e a rua, também utilizadas como metáforas, ainda servem para dizer que a casa pertence ao domínio das relações pessoais, enquanto a rua fica no eixo das leis impessoais. O ângulo da casa ressalta a pessoa, possui intensidade emocional alta, expressa laços de familiaridade. Já o ângulo da rua tem maior rigidez, referindo-se ao

que tem força de lei, de emoção disciplinada, o que permite a exclusão e a condenação. A casa é sinal de atenção entre aqueles que ali se fazem presente. Já a rua é signo de anonimato, impessoalidade, desprendimento, local onde a pessoa, transformada em transeunte, pode estar sujeita a malstratos, insegurança. Pode ser local de riscos, obstáculos, ciladas.

Para Da Matta (1997), casa e rua são esferas de significação social que se tornam mais abrangentes ainda quando utilizadas como categorias sociológicas. Cada uma separa contextos e configura atitudes distintas, contendo visões de mundo ou éticas particulares. São esferas de sentido que constituem realidades e permitem regularizar o comportamento por meio de perspectivas particulares. Em cada um destes espaços, espera-se que o comportamento seja diferenciado.

Neste sentido, ao parafrasearmos o mesmo caminho seguido por Magnani (1987) em sua investigação, enveredamos na tentativa de compreender, neste capítulo, como se constituem certas vivências da casa e a rua na vida dos sujeitos investigados. Em um primeiro momento, interrogamos quais os sentidos, sentimentos e significados que a casa, local de sua moradia, possui para alguns professores e professoras. Em um segundo momento, intentamos identificar parte da relação de alguns docentes têm com a cidade, em particular quando decidem sair de suas casas e irem para a rua, seja com a família, seja com amigos, seja como colegas de profissão.

Importa explicitar que os termos casa e rua, nesta investigação, estão sendo compreendidos ora como sinônimo de espaço físico-geográfico comensurável, local destinado à habitação; ora como uma esfera de ação social, como apontou Da Matta (1997). Na análise dos dados, por vezes, nos aproximamos de algumas considerações de do autor. Entretanto, em outros momentos, algumas de suas falas e/ou palavras servem como inspiração, uma vez que nosso objetivo não se aproxima daquele por ele traçado: analisar a sociedade brasileira como um todo por meio da oposição entre as categorias sociológicas casa e rua.

Ao observar alguns relatos de docentes por nós entrevistados investigados, identificamos que o espaço da casa marca forte presença em suas vidas, ao lado da escola, seu local de trabalho. Em vários momentos, ficou evidente a importância do espaço da casa e o tempo que nela se passa, seja durante a semana, seja aos finais de semana, desempenhando as mais diversas atividades. Buscando a cidade, encontramos a casa. E estando a casa na cidade, como entendê-la, o que ela significa nas relações dos professores com a urbe?

2.1 – Na vida, na cidade, a casa

Em várias entrevistas, para minha surpresa os relatos sobre o espaço da casa predominavam sobre os demais espaços percorridos e freqüentados pelos professores. Sendo assim, ao longo da investigação e após análise cautelosa da empiria com a teoria, ficou claro que, para entender suas relações com a cidade, seria necessário fazer uma cuidadosa parada no espaço de suas casas que, muitas vezes, revela sentidos, sentimentos e significados relevantes ao se opor ou complementar a outros espaços da cidade. Sendo assim, antes de seguir ao lado do grupo de professores pesquisados pelos espaços citadinos que percorrem e freqüentam em seu cotidiano, é preciso, entrar com eles em suas casas, propósito do primeiro item desse capítulo.

A casa, nos territórios urbanos, também está na cidade. É um dos “fixos” citadinos, como aponta Santos (2008). Na sociedade capitalista moderna, enquanto espaço físico, a mesma ela é comercializada, vendida, comprada, especulada, arrendada, alugada, emprestada, demolida, desapropriada. Nela moram pessoas sozinhas ou famílias com as mais variadas formações. Em várias regiões das grandes cidades, sua precariedade mostra-se através da auto-construção em áreas de risco e na verticalização crescente de algumas áreas, sendo grande o número de apartamentos de tamanhos reduzidos, o que, para Santos (2008), denuncia a ausência de moradia digna e a exploração dos agentes imobiliários, intensificando as disparidades nestes espaços. A ideia de casa, também, é objeto-mercadoria de desejo, que se mostra com muita contundência no caso dos professores, já que a maioria dos entrevistados ou destina parte de seus salários ao pagamento de parcelas da chamada “casa própria” ou já realizou o pagamento integral.

Para alguns professores do grupo investigado, é preciso ficar em casa para cumprir o papel de dona de casa ou dona da casa, não sendo esta uma posição apenas feminina, mas também ocupada por homens, embora em menor número e com menor constância. A casa também pode ser percebida como o território da família. Ali é possível estar com o cônjuge, com os filhos e demais pessoas que compõem a família de coabitação50 dos professores – mães, pais, irmãos, sobrinhos, primos, tios etc –, além de colegas e amigos. O espaço da casa

50 Embora estudiosos sobre a família como Vieira e Relvas (2003” definam “família de coabitação” como “as

pessoas que partilham do dia-a-dia dos professores, sejam os pais, os irmãos, os cônjuges ou os filhos”, estamos utilizando a expressão de forma ampliada. Partimos do pressuposto de que a casa consiste em um espaço físico- geográfico no qual as pessoas que ali moram juntas, sob o mesmo teto, compartilhando regularmente as situações do dia-a-dia, mesmo sem possuírem quaisquer laços sanguíneos, como colegas e amigos, podem ser chamadas de “família de coabitação”.

também é considerado por alguns docentes como uma possibilidade de lazer e diversão, especialmente nos finais de semana, quando é possível festejar e compartilhar conversas com a família e com colegas, seja de trabalho ou não. Estar em casa também é uma brincadeira, tem seu lado lúdico e prazeroso. A casa é sentida por alguns docentes como o local do aconchego, da individualidade, do silêncio, em oposição a outros espaços da cidade. Nela também é preciso estar, mesmo que a contragosto, para desempenhar atividades que fazem parte do ofício docente: corrigir provas, atividades, elaborar exercícios, preparar aulas etc.

De modo contrário, estar em casa também pode ser sinônimo de descontentamento, uma vez que enclausurar-se neste espaço pode significar o medo da cidade e daquilo que a mesma oferece de negativo, na visão de alguns colegas. Ficar em casa, também pode ter origem em costumes familiares e nos modos como os sujeitos se entendem como seres sociais e se posicionam perante o mundo. Cada um destes aspectos se manifesta na vida dos professores e professoras investigados, assumindo variados contornos e traçados.

Estar em casa, com a casa, dentro de casa, ser dona da casa, entre outras expressões similares, foram recorrentes em algumas falas, como as da colega Vânia. Sobre tal assunto, quando questionada sobre os locais fora da casa e da escola que costuma freqüentar, a professora foi enfática ao dizer: “Sobra muito pouco! Sobra muito pouco entre uma escola e outra porque você tem outra atividade que é a de dona de casa! (E ainda) é a dona da casa! Então, assim, eu raramente saio! Raramente.”

De modo geral, a professora nos mostra que as questões de gênero são muito fortes quando se trata do espaço da casa. A divisão sexual do trabalho está presente, uma vez que ela precisa dividir seus tempos diários entre as duas escolas em que trabalha e os serviços domésticos. Vânia ainda salienta sua relação com a casa aos finais de semana. A mesma refere-se a este período como algo que não lhe pertence em sua plenitude. O fator tempo, pois, configura-se como um dos elementos centrais para o entendimento do papel que a casa possui na vida de alguns destes sujeitos, em especial das mulheres-professoras, tal como já demonstrou Teixeira (1998) em seus estudos.

A noção de tempo, por sua vez, na fala da professora Vânia, reveste-se da ideia de expropriação, um tempo que não lhe pertence por completo. E é um tempo que tem tamanho, que se observa quando ela diz, “E o sábado é pequeno pro tanto de coisa que tem pra fazer! A gente trabalha a semana inteira e nos dois horários! Então, tem uma série de coisas dentro da casa da gente que você tem que organizar!”. Neste sentido, em grande parte dos intervalos de tempo que consegue se apossar e nos pedaços de dia que lhe restam, Vânia – mulher, professora, mãe e dona da casa – dedica-se ao espaço em que reside e às tarefas a serem

desempenhadas para seu funcionamento regular. Destaca-se, ainda, que a dupla jornada de trabalho na escola faz com que o “estar em casa” seja cada vez mais dificultado, tanto porque envolve mais trabalho, quanto porque é um período curto, pois são longos os tempos de trabalho na escola. Estar entre as tarefas a realizar no espaço da escola e da casa, não raro misturando-os, é um fato na vida de muitos docentes, reiterado nessa investigação, principalmente do sexo feminino.

Os serviços de casa também foram enfatizados pela professora Margareth:

Agora, no dia a dia, corriqueiro assim, fica difícil ir à igreja porque a gente que trabalha a semana toda, a gente só tem o final de semana pra ficar em casa. E, às vezes, a gente só tem o final de semana pra resolver tudo: pra lavar, pra organizar, pra manter as coisas em ordem! E às vezes acaba não sobrando tempo. [...] E o filho que mais me ajuda é o de 14 anos. Ele organiza a casa, ele organiza o almoço. Meu marido, quando chega do serviço, ele organiza a janta. Eu chego depois de dez e meia, vou fazer marmita pro outro, que sai cedo pra trabalhar, o de 17 anos. Então, assim, a gente vai levando desta forma! E quando chega no final de semana, eu faço

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