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5. Dados Gerais: grupos mais suscetíveis a se retirar do Congresso

5.3 Mandato envolvido em escândalos

Um chamativo grupo de desistentes é o de políticos que estiveram

envolvidos em escândalos durante o exercício de seu mandato. Aqui, foram

incluídos apenas os casos de denúncia com razoável repercussão midiática, de maneira que fosse efetiva a exposição desses parlamentares e que estes se sentissem prejudicados. Dos 250 políticos pesquisados, 49 (19,6%) tiveram seu nome envolvido em pelo menos uma grande denúncia. Destes 49, 33 (69%) não disputaram as eleições imediatamente posteriores (e apenas seis se reapresentaram mais tarde), dez (21%) foram candidatos a deputado estadual e três a suplentes de senador.

Os escândalos que mais desmotivaram parlamentares a concorrer foram: Máfia das ambulâncias de 2005, com nove políticos; Mensalão em 2005, com sete; Anões do orçamento em 1993, com cinco; CPI do Banestado em 2004, com quatro. Uma ocorrência que não assume a forma de “escândalo” (Thompson 2002) propriamente dita é o caso de denúncias esporádicas de uso da máquina em eleições ou casos de improbidade administrativa, que somam sete parlamentares.

Um ponto a ser mencionado é que se o escândalo é capaz de levar um político a desistir da reeleição (Rennó 2007), então os meios de comunicação e organizações da sociedade civil voltadas a esse tipo de denúncia se mostram eficazes como indutores de accountability.

Quadro 7: Envolvimento em Escândalos e opção eleitoral

Fonte : a autora

Dentro do universo pesquisado, foi possível realizar o cruzamento do quantitativo de ex-parlamentares de cada partido que se envolveu em

Disputou eleição Envolvimento em escândalo

NÃO SIM

TOTAL

NÃO SIM TOTAL

80,4% 81,5% 80,7%

19,6% 18,5% 19,3%

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escândalos, demonstrado no Quadro 9. O recorte partidário oferece uma ampla imagem de como o impacto dos escândalos atinge mais a alguns partidos que outros.

Os mais afetados foram, em ordem, o PRB e PV, onde os únicos desistentes estavam envolvidos em escândalo, o PP, onde 50% dos parlamentares desistentes estavam envolvidos em denúncias, os nanicos PRN, PSL, PST (33,3% cada), o PTB (31,3%), PL com 28,6%, o DEM com 22,6%, PSDB em seguida com 21,6%33.

Também foram afetados pela exposição midiática mas em menor proporção (abaixo de 19%) : o PMDB e PDS com 16,5%, PDT com 9,1%, e PT com 6,3%.34 Aqui, torna-se importante afirmar que esse não é uma taxa que indique que os parlamentares desses últimos partidos sejam menos corruptos, apenas que, dentre os políticos filiados a essas agremiações, estar envolvido em um escândalo não se configure como motivo para parar de disputar eleições.

Percebe-se que os escândalos são um fenômeno de maior impacto para os membros de partidos pequenos. Isso não permite dizer, pelos dados desta pesquisa, que estes sejam mais corruptos. Apenas que, quando expostos à escândalos, estes desistem mais de disputar eleições, o que pode estar ligado à pouca estrutura de que dispõem para rebater acusações ou compensar o impacto negativo com maior estrutura de campanha.

33 Vide quadro X no anexo, página 113.

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Quadro 8 : Envolvimentos em Escândalos por Partido Político

Fonte : a autora

Não foi possível realizar uma entrevista completa com o ex- parlamentar que compunha a amostra a ser entrevista, Chicão Brígido (PMDB/AC), envolvido em mais de um episódio de repercussão midiática negativa (compra de votos em 1997 e máfias das ambulâncias em 2005). Por outro lado, um parlamentar entrevistado que não se enquadra na categoria de envolvido em escândalo – pois não foi mencionado seguidas vezes num mesmo episódio – mencionou qual foi o impacto de, apenas uma única vez, ter seu nome envolvido numa denúncia de jornal :

Envolvimento em escândalo Partido PFL PMDB PSDB PTB PL PP PRN PRB PDS PSL PST PT PDT PV PSB PSC PCdoB PPB PPR PPS PMN PDC TOTAL

NÃO SIM TOTAL

41 12 53 51 10 61 29 8 37 11 5 16 5 2 7 2 2 4 4 2 6 0 1 1 5 1 6 2 1 3 2 1 3 15 1 16 10 1 11 0 1 1 4 0 4 1 0 1 1 0 1 6 0 6 5 0 5 4 0 4 1 0 1 1 0 1 200 48 248

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E um dos motivos também que eu saí de Brasília foi que eu peguei um período muito conturbado. Eu peguei o impeachment do Collor e peguei a CPI do orçamento. Eu era membro da CPI do orçamento. Eu fui membro titular, o que foi extremamente visado. E todos os parlamentares, na época, foram investigados, porque nós tivemos um período de caça às bruxas, que foi uma coisa extremamente desagradável. A imprensa exagerou, taí o caso do Ibsen Pinheiro. E eu fui vítima disso também. Pra você ter uma idéia, eu fiz uma emenda, a primeira emenda que começou a duplicação da BR 101 em Santa Catarina, que é a grande obra do estado, hoje ela é duplicada só no norte, tá começando agora no sul, foi de minha autoria, que era o trecho da região da grande Florianópolis, trecho Iguaçu-Palhoça. E a imprensa foi na época bastante irresponsável. A imprensa foi na onda, queria massacrar. Havia uma disputa entre os veículos de comunicação pra ver quem é que cortava mais cabeça. Essa era a verdade. Quem é que dava o tiro maior. “Eu vou denunciar o Senador, eu vou denunciar dois deputados, eu tenho denuncia contra...”. Então, virou uma situação terrorista, vamos dizer assim. E foi bastante irresponsável a imprensa na época. Era generalizada. Porque todo mundo tinha que achar algum deputado que tinha algum envolvimento com corrupção. A pauta era corrupção. Então, você tinha que sair em busca de corruptos, caça a corruptos. E nisso foi jogado todo mundo numa vala comum. E eu, quando fiz essa emenda, um dia um jornal de circulação nacional fez uma matéria e colocou assim “BR 101, a rodovia da corrupção”. Aí colocou os nomes dos parlamentares que tinham feito emendas pra essa BR 101, pra duplicação e, em Santa Catarina, colocou meu nome. Só que no conteúdo da matéria, no corpo da matéria, não existia nenhum fato. Mas dava a entender, pela manchete do jornal e pelo mapa do Brasil desenhado, a rodovia desenhada de norte a sul, que aqui em Santa Catarina, eu era o corrupto. Como eu já te falei, eu saí de Brasília em dificuldades financeiras, tive que fazer empréstimo no banco e tal, saí bem mais pobre do que entrei no mandato federal, aquilo ali me desanimou muito. Como eu era membro do orçamento, tinha feito emendas pro orçamento, todo mundo pensava “vamos ver quem serão os próximos”. (César Souza, DEM/SC, ex-deputado

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