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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DE LITERATURA

3.4 Manejo de salinidade em áreas irrigadas

Conforme Santiago et al. (2004), os agricultores familiares representam 85,2% do total de estabelecimentos rurais no Brasil, ocupando 30,5% da área total e sendo responsáveis por 37,5% do valor bruto da produção agropecuária nacional, embora recebendo apenas 25,3% do financiamento destinado à agricultura e sendo carentes de assistência técnica e de capacitação. A região Nordeste é a que apresenta o maior número de agricultores familiares, sendo a disponibilidade de água de boa qualidade o principal obstáculo para a produção agrícola. A área inclui uma grande variedade de sistemas agrícolas, resultantes de diferentes solos, topografias e padrões de chuva.

Conhecimento e experiências de como manejar a produção vegetal em solos salinos vem-se tornando mais refinados. Uma das técnicas mais comuns de manejo é a lixiviação de sais baseada na adição de água em quantidade suficiente para

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carrear o excesso de sais solúveis para longe da zona radicular. Para que esta técnica funcione, é necessário que o solo não possua impedimentos e tenha uma drenagem interna adequada, e que o teor de sais solúveis na água de lixiviação seja compatível com o nível de recuperação pretendida (Forkutsa, 2006).

A lâmina necessária de água para lixiviação depende do conteúdo de sais no solo, condições do sistema de drenagem e da qualidade da água de irrigação (Ferrer & Stockle, 2005). Conforme Bastos (2004), o manejo de irrigação pode induzir o processo de lixiviação e conduzir os sais solúveis para profundidades maiores. No caso da lixiviação completa, os sais arrastados na solução do solo tendem atingir o perfil saturado, acarretando o aumento da condutividade elétrica do lençol freático. Para não ocorrer este aumento da condutividade elétrica no lençol, pode-se realizar uma lixiviação incompleta, na qual a lâmina aplicada irá depositar os sais em uma camada intermediária, entre a zona radicular e o lençol freático.

Bernardo (1995) sugere também que, onde haja camada de impedimento ou onde a circulação saturada seja reduzida, especialmente em áreas de lençol freático raso, a evaporação da água subterrânea através de fluxo capilar é o principal mecanismo a promover a salinização. No tocante à prática da irrigação, a qualidade d’água é um dos fatores de maior relevância. Dentre os problemas relacionados à água, pode-se mencionar sua disponibilidade e toxicidade de íons específicos, como discutido por Gheyi et al. (1997).

Além da qualidade da água, o manejo da irrigação deve ser monitorado, considerando o nível de drenagem natural e/ ou artificial do solo, a profundidade do lençol freático e a concentração original de sais no perfil do solo (Ritzema, 1994). Diestel & Treitz (1977) discutem a importância do manejo da lâmina de irrigação com uso de águas salinas, a qual depende da permeabilidade do solo. Taxas excessivas produzem escoamento superficial, desperdício de água e erosão no solo.

Para se determinar quando irrigar, é comum se estimar a necessidade de água a partir do balanço hídrico dos solos (Reichardt, 1990). O balanço de água no solo é um método de estimativa da disponibilidade hídrica no solo para as plantas, pela contabilização das entradas e saídas de água no sistema solo-água-planta. Neste caso, do ponto de vista hidrológico, o solo pode ser entendido como um reservatório, cujo volume de água armazenado pode ser bastante variável no tempo, dependendo de muitos fatores. O balanço de água no solo pode ser analisado computando-se todas as entradas e as saídas do sistema. Esse passo pode ser

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realizado por meio de simulação numérica, com a vantagem de possibilitar a previsão e interpretação de várias situações e cenários prováveis.

Um modelo esquemático do fluxo e transporte de sais em aluviões irrigados, com lençol freático raso, é apresentado na Figura 3.3. O ciclo progressivo da água pode causar o acúmulo de sais, constituído pelos componentes, irrigação-lixiviação- bombeamento-irrigação e, nas áreas propensas a descargas, irrigação-lixiviação- ascensão (Bastos, 2004).

Zona Intermediaria – não saturada

Z

ZoonnaaRRaaddiiccuullaarr

Irrigação com água do freático

L Li ix xi iv vi ia çã ão o A A s s c c e e n n s s ã ã o o c c a a p p i i l l a a r r Bombeame nto – drenagem ve rtical F FrraannjjaaCCaappiillaarr –– vvaarriiáávveell Å ÅFFlluuxxoossaattuurraaddoo LLeennççooll F Frreeááttiiccoo

Figura 3.3 - Modelo esquemático do risco de salinização de solo e aqüífero decorrente de irrigação (Fonte: Bastos, 2004).

A concentração de sais geralmente é medida de forma total, não se levando em conta os solutos presentes. A salinidade é medida pela condutividade elétrica da água: quanto mais íons estiverem presentes, maior o valor da condutividade elétrica. A metodologia mais utilizada para classificação de água de irrigação, de acordo com Maia (2001), é a proposta por Richards (1954), sendo recomendada pelo laboratório de salinidade dos EUA, que se baseia na condutividade elétrica (CE), como indicadora do perigo de salinização, e na RAS, como indicadora do perigo de sodificação do solo.

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A estrutura do solo tem importante influência no transporte de solutos, que depende, por sua vez, dos parâmetros hidrodispersivos do solo (Jury & Roth, 1990). Portanto, em experimentos com colunas de solo, recomenda-se a utilização de amostras de solo indeformadas, embora grande parte dos estudos baseados em ensaios experimentais tenha sido realizada com colunas de solo sem a preservação de sua estrutura.

Costa Filho (2000) descreve procedimento experimental para realização de ensaios de deslocamento de solutos, para determinação de coeficiente de dispersão hidrodinâmica, utilizando colunas de solo deformadas. Montenegro (1997a) conduziu experimentos de laboratório para determinação de parâmetros de transporte utilizando amostras de solo indeformadas, provenientes de vale aluvial, em Pesqueira PE. As amostras foram coletadas com amostrador do tipo ´valvate´ (Vallally, 1984). As amostras indeformadas coletadas em formato cilíndrico tinham 19,6cm de comprimento e diâmetro de 4,9cm. Além da estrutura da amostra ser preservada, o aparato experimental utilizado procurou reproduzir as condições de tensão a que solo estava submetido em campo (Montenegro & Montenegro, 2004).

Milfont et al. (2006) realizaram caracterização hidrodispersiva de um Argissolo Amarelo e de um Vertissolo, da região do vale do São Francisco, utilizando colunas de solo. Os valores das dispersividades foram de 0,17 ± 0,03 cm e de 0,25 ± 0.02 cm, respectivamente para o Argissolo e Vertissolo.

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