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Manifestações clínicas

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 50-52)

III. Monografia: Leishmaniose canina

1. Revisão bibliográfica

1.3. Manifestações clínicas

A LC é uma doença sistémica que potencialmente pode comprometer qualquer órgão, tecido ou fluido biológico, manifestando-se por sinais clínicos não específicos que podem ser muito variáveis, tornando a lista de diagnósticos diferenciais, em cães com sinais compatíveis com leishmaniose, geralmente bastante alargada(29). Os achados clínicos mais frequentemente

encontrados na história clínica e exame físico de casos clássicos de LC incluem lesões cutâneas, linfadenomegalia generalizada, perda de peso progressiva, atrofia muscular, intolerância ao exercício, diminuição de apetite, letargia, esplenomegalia, poliúria e polidipsia, lesões oculares, epistaxe, onicogrifose, claudicação, vómito e diarreia (tabela 24)(20).

Tabela 24. Alterações encontradas na história clínica e exame físico de animais sintomáticos com LC. (Adaptado de Baneth & Solano-Gallego, 2012(20); Baneth et al., 2008(48))

Alterações encontradas na história

clínica fr (%)

Alterações encontradas no exame

físico fr (%)

Intolerância ao exercício 67,5 Linfadenomegalia 62-90

Perda de peso 64 Lesões cutâneas 81-89

Sonolência 60 Caquexia 10-48

Polidipsia 40 Palidez das mucosas 58

Anorexia 32,5 Claudicação 37,5

Diarreia 30 Hipertermia 4-36

Vómito 26 Lesões oculares 16-81

Polifagia 15 Esplenomegalia 10-53 Epistaxe 6-15 Onicogrifose 20-31 Melena 12,5 Rinite 10 Espirros 10 Pneumonia 2,5 Tosse 6 Icterícia 2,5 Síncopes 6

A linfadenomegalia de múltiplos linfonodos superficiais, com aumento de volume da ordem de duas a seis vezes o tamanho normal, é relativamente frequente e ocasionalmente pode mimetizar os achados clínicos de linfoma. A esplenomegalia é também um achado frequente, mesmo à palpação abdominal(20).

Unhas anormalmente longas, baças e quebradiças, que caracterizam a condição de onicogrifose e onicorrexia, um achado muito pouco específico, surgem numa pequena proporção de animais com LC. Já a perda de peso e atrofia muscular, particularmente da região facial,

afetando os músculos mastigadores (masséteres e temporais), mas que pode também ser generalizada em animais caquéticos, são sinais frequentemente encontrados quando existe envolvimento visceral(20).

Com frequência, deteriorações rápidas da condição clínica estão associadas ao desenvolvimento de doença renal crónica. Por esta razão, em cães afetados é essencial avaliar a sua função renal, nomeadamente através recomendações da IRIS para estadiamento de IRC(29). A doença renal crónica progressiva pode ser acompanhada por anorexia, prostração,

poliúria, polidipsia e vómito, e pode ser a única alteração aparente em cães com LC, pelo que, em áreas endémicas, todos os cães com estes sinais clínicos e/ou doença renal diagnosticada devem ser testados quanto a infeção por Leishmania. Esta pode progredir de estados com proteinúria ligeira até estados de insuficiência renal grave, uma consequência severa da progressão da doença que é apontada como a principal causa de morte em cães com LC(29). No

entanto, apesar da elevada prevalência de patologia renal, a azotemia típica de IRC é um achado laboratorial pouco frequente, sendo evidente apenas quando a maioria dos nefrónios se torna disfuncional, já em fases avançadas da progressão da doença(29). A presença de lesões

histopatológicas, nomeadamente lesões de glomerulonefrite e nefrite túbulo-intersticial, parece ser mais frequente(103).

Distúrbios na locomoção podem ser causados por neuralgia, poliartrites erosivas ou não erosivas, polimiosites, defeitos nas almofadas plantares, úlceras interdigitais, lesões osteoarticulares e osteolíticas ou periosteítes proliferativas, estando também descrito um caso de paraparésia resultante da formação de um granuloma no canal vertebral(20). Frequentemente

observam-se poliartrites de carater imunomediado, caracterizadas por claudicações que não respondem a tratamentos anti-inflamatórios convencionais, de caracter intermitente e que podem ser generalizadas ou afetar apenas um dos membros(21).

Distúrbios gastrointestinais são pouco frequentes, ocorrendo, sobretudo, sob a forma de diarreias de intestino grosso, com ou sem presença de sangue, e que podem resultar de colite ulcerativa granulomatosa devido a multiplicação de parasitas na mucosa intestinal(21).

A ocorrência de vómitos e ascite, excetuando os casos em que o vómito está associado a azotemia por IRC ou a intolerância a algum tratamento, podem ser consequência de alterações hepáticas, embora estas sejam pouco frequentes(21).

Adicionalmente, o quadro clínico pode ser ainda complicado por condições como demodecose, piodermatite, doença gastrointestinal, pneumonia ou infeção concomitante com outros agentes patogénicos como Ehrlichia, Babesia, Hepatozoon, Trypanosoma, Bartonella ou Dirofilaria, em países em que estes são também endémicos(20).

Em cães com leishmaniose clínica, as lesões cutâneas, quando presentes, podem ser o único achado clínico ou surgir em conjunto com outras alterações clinicopatológicas. Contudo, encontram-se no grupo das manifestações mais frequentes de LC em pacientes que iniciam tratamento da doença, estimando-se que ocorrem em 56 a 90% dos casos(20,29). Qualquer animal

doença, está predisposto ao desenvolvimento de afeções viscerais, uma vez que no cão o agente etiológico se dissemina por todo o corpo antes de desenvolver lesões de pele generalizadas(20).

A maioria das lesões cutâneas derivada da infeção por L. infantum pode ser classificada em: i) dermatite exfoliativa não pruriginosa, com ou sem alopecia, generalizada ou localizada na face, pavilhões auriculares ou membros; ii) dermatite ulcerativa em proeminências ósseas, junções mucocutâneas, extremidades dos membros ou pavilhão auricular; iii) dermatite nodular focal ou multifocal; iv) dermatite proliferativa mucocutânea e v) dermatite papular. Entre as manifestações atípicas, relativamente pouco frequentes, podemos encontrar alterações como despigmentação, paniculite, hiperqueratose digital e nasal, erupções pustulares, lesões do tipo da alopecia areata ou tipo pênfigo foliáceo e eritemas multiformes(29). Uma complicação frequente das lesões

cutâneas é a ocorrência de piodermatites, superficiais e profundas, por Staphylococcus spp. Os achados histopatológicos cutâneos mais frequentes estão associados a dermatites piogramulomatosas ou granulomatosas, nodulares ou difusas, hiperqueratose ortoqueratótica ou paraqueratótica, acantose e ulceração, estando também descritas alterações de dermatite pustular subcorneal, dermatite liquenoide, vasculite e paniculite(29).

Entre as manifestações oculares e perioculares mais comuns em cães com LC encontram- se: i) conjuntivite; ii) blefarite (esfoliativa, ulcerativa ou nodular); iii) uveíte anterior e iv) QCS(98,104

referido por 29).

Outras manifestações menos comuns podem incluir efusão pericardica, miosite dos músculos mastigatórios, pancreatite, meningite, colite crónica, trombose e coagulação intravascular disseminada(20).

Apesar de pouco frequentes, estão descritos alguns casos de LC com afeção cardíaca, nos quais foi determinada, por histopalotogia e imunohistoquímica, a presença de parasitas no tecido cardíaco, em especial com afeção do miocárdio. Nestes casos, os sinais clínicos incluem compromisso cardiorrespiratório com prostração, dispneia e anorexia. Um caso de trombose da veia cava caudal foi descrito num cão com síndrome nefrótico induzido por L. infantum, e que apresentava sinais de edema numa das extremidades posteriores(21).

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 50-52)

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