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Manter um submarino operacional

No documento Primeira Esquadrilha de Submarinos (páginas 94-96)

5. Estação em Terra de Submersíveis

5.2. Manter um submarino operacional

Tal como os navios de superfície necessitam de condições para poderem operar sem acidentes, nas tarefas ou missões que lhe são atribuídas, os submersíveis e submarinos também necessitam de condições específicas e com algum cuidado especial. No início deste capítulo foram referidos alguns dos apoios que o Espadarte tinha quando chegou a Portugal. O primeiro submersível português, para além das condições precárias de habitabilidade que tinha, necessitou de se sujeitar a várias situações desgastantes de manutenção, para poder manter a sua operacionalidade e, com isto, fazer face ao desgaste normal dos seus componentes, em consequência do seu empenhamento operacional. Em comparação com outras marinhas estrangeiras, o Espadarte, não dispunha de uma digna base em terra, onde existisse m os devidos serviços de apoio para o submersível.

Neste subcapítulo foram tidos em consideração dois artigos publicados nos Anais do Clube

Militar Naval, Navegação Submarina e seus Serviços de Apoio e Os submersíveis e o nosso programa naval, na altura escritos pelo Primeiro-tenente Joaquim de Almeida Henriques. Estes

artigos foram publicados passados dois anos após a vinda do submersível Espadarte para Portugal e, deste modo, as observações feitas por Almeida Henriques vão no sentido de mostrar que o submersível necessitava de uma estação em terra com serviços de apoio bem delineados, para efetuar um conjunto de manutenções afim de o manter operacional.

Joaquim de Almeida Henriques referia que, para o submersível funcionar normalme nte , teria de existir uma relação entre a guarnição do submersível e o próprio submersível. Essa relação teria três ordens cronológicas, que contavam em muito com o bom trabalho de uma estação em terra que assegurasse os serviços de apoio287. Dessa forma as três ordens a serem cumpridas, seriam:

➢ Trabalhos de beneficiação; ➢ Exercícios;

➢ Funcionamento.

Começando pelos trabalhos de beneficiação, neles são incluídos a manutenção diária, com a desmontagem, reparação e montagem de qualquer equipamento, passando pelos mais complexos até aos mais insignificantes.

287Joaquim de Almeida Henriques, “Navegação Submarina, Submersíveis e seus Serviços de Apoio”, Anais do

Primeira Esquadrilha de Submarinos – Origens e Emprego Operacional

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Neste processo, era exigido tanto à guarnição do submersível como aos próprios técnicos de manutenção que fossem rigorosos e estivessem aptos para desempenharem os seus trabalhos ao mais alto nível, para que, ao operar o submersível, fosse possível ter confiança no mesmo288.

Os trabalhos de beneficiação geral dos submersíveis deviam ser efetuados em períodos de 9 a 12 meses, devendo, em cada período, o submersível entrar em doca seca, providenciando - se, então, as várias manutenções, sendo de destacar as seguintes:

➢ Substituição das chapas de acumuladores elétricos (de 4 em 4 anos); ➢ Limpeza e pintura da querena, duplos fundos e caixas de lastro de água; ➢ Limpeza de ralos, substituição de zincos;

➢ Experiência de largar o lastro de segurança; ➢ Vistoria das obras vivas;

➢ Beneficiação dos motores289.

De referir que estas manutenções realizadas no dique do Arsenal da Marinha contavam com algumas imperfeições, pela falta de técnicos especializados para cada serviço e da falta de uma estação relevante de submersíveis290. Almeida Henriques referia ainda que, se devia dar atenção à construção de docas para complementar mais rapidamente os trabalhos de beneficiação dos submersíveis. Caso estas construções não fossem de possível resolução a curto prazo, havia que providenciar ao submersível apoio na medida do que houvesse disponível, para que o desenvolvimento da navegação submarina não fosse colocado em risco291.

Passando para os exercícios, esta fase, refletia-se na forma como os trabalhos de beneficiação tinham sido efetuados. Este período, servia de propósito para testar a prontidão do submersível para o período de funcionamento. Deste modo, o submersível passava por uma fase de testes, a exemplo do emprego dos meios de ataque, fazendo várias imersões, para aferir o estado de funcionamento dos motores de combustão.

Das várias atividades de validação dos testes efetuados ao submersível, após o período de beneficiação, era tida em conta a resistência a que iam sendo submetidos os mesmos testes e à resistência desejada. Assim era necessário um cuidado especial quanto à frequência com que

288 Ibid., p. 785. 289 Ibid., p. 790 290 Ibid., p. 791

291 Joaquim de Almeida Henriques, “Os submersíveis e o nosso programa naval”, Anais do Clube Militar Naval,

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eram realizados os exercícios, sendo que para cada especialização de oficiais eram realizadas 24 imersões, sendo 12 pelo menos a navegar, 6 com lançamento de torpedos e 4 com passagem rápida de motores de combustão para elétricos. Para além destes exercícios, eram efetuados exercícios de carga da bateria elétrica, de carga de acumuladores de ar comprimido e navegação à superfície com os motores de combustão, num período de 6 meses292.

Após este período de exercícios, o submersível ficava apto para passar ao período de funcionamento que consistia no período em que estava envolvido em guerra.

Neste caso, para haver operacionalidade na arma submarina era necessário um aprontamento rápido e eficaz caso o submersível necessitasse de uma beneficiação. Desta forma o pessoal técnico do Arsenal da Marinha teria de ter as habilitações necessárias para responder face aos constrangimentos que ocorriam no submersível. Assim era reduzido ao máximo o trabalho da guarnição do submersível, para que, no período em que estivesse a ser reparado, o pessoal de bordo, usufruísse do tempo para descanso, de modo, que quando, a reparação fosse concluída em perfeitas condições, o submersível voltasse ao mar e cumprisse a sua missão293. Assim neste período a operacionalidade do submersível era mantida, como as devidas manutenções e o repouso da guarnição garantido, permitindo que pudessem operar os equipamentos com mais concentração após o período de folga.

Por fim, na operacionalidade de um submersível, era bem visível o trabalho efetuado pelos serviços de apoio durante o período de beneficiação, sendo importantes para os exercícios, para posteriormente em tempo de guerra o submersível poder efetuar as suas missões como as regras aconselham, ou seja, com um período de funcionamento sem acontecimentos anómalos a registar294.

No documento Primeira Esquadrilha de Submarinos (páginas 94-96)