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• POLIDEZ POSITIVA (PP) – dirigida à face pública do ouvinte.

Muitos aspectos dessa estratégia fazem parte do comportamento lingüístico entre pessoas íntimas. A única diferença será talvez certo maneirismo, indicando que, mesmo quan- do & não pode dizer, com sinceridade total, “quero o que você quer” poderá ao menos ser sincero ao evidenciar que quer que a face pública de @ seja poupada. O elemento de não sin- ceridade nessas expressões de aprovação ou interesse é compensado de certa forma pela ho- nestidade da intenção básica.

É precisamente a associação com a linguagem íntima que dá força ao “arranjo”. Trata-se de uma “artimanha” social pela qual & indica que quer “se aproximar” de @. A es- tratégia deve ser usada equilibradamente, sobretudo em caso de negociações tensas, nas quais o menor sinal de insinceridade pode ter conseqüências graves.

Existem três mecanismos principais de polidez positiva: 1. BUSCA DE PONTOS COMUNS

1.1. em que & afirma similaridade com @, indicando que pertencem ao mesmo tipo de pes- soa, que compartilham desejos, incluindo metas e valores: (a) & revela que uma necessidade, meta ou objeto desejado por @ é também de seu interesse. (expressões como “Que lindo vaso? De onde veio?” ou “Você cortou o cabelo!”; intervenções como “é claro”, “realmente”, “exatamente” “deixe que eu hoje cuido da limpeza”); (b) & coloca-se na mesma “turma” que o @, usando marcadores de identidade (em algumas línguas o ‘tu’ familiar em lugar de ‘vós’ ou ‘o senhor’; genéricos coloquiais como “cara”, “companheiro”, “querido” ou “irmão”; dia- letos, gíria, apelido familiares ou afetivos, contrações ou elipses); (c) & afirma mesmo ponto de vista, opinião, atitude, conhecimento, empatia em tópicos seguros: meteorologia, beleza dos jardins, a incompetência da burocracia, a irritação de estar numa fila.

1.2. em que se usa a repetição enfática, demonstrando atenção e concordância emocional. Existem partículas que indicam acordo entusiástico como: “sim”, “uhm”, “verdade?”. (Por exemplo, em um diálogo, @: “João foi ao Rio ontem”; &: “Ao Rio, ehn!”). Recomenda-se o uso do afirmativo ‘sim’, em de ‘não’, ainda que haja discordância: “sim, mas...”. Em negocia- ção, nunca se deve dizer não, ensina a sabedoria dos diplomatas. Há possibilidade de pseudo concordância, quando, por exemplo, se usa o então, pelo qual & aparenta estar concluindo um raciocínio do qual @ participou,, embora, na verdade, possa propor o contraditório. Esta é outra estratégia muito usada em negociação.

1.3. em que se empregam mentiras brancas, & pode saber e @ desconfiar que se trata de uma mentira, mas a face do @ é salva. Por exemplo, em resposta ao pedido de empréstimo do tele- fone celular, “Não posso. O cartão pré-pago está quase acabando”. É aquilo que se chama “dar uma desculpa”

2. SIMULAÇÃO DE SIMILARIDADE

2.1. através de fofocas e cochichos – demonstra-se que & está dispondo do seu tempo e se esforça para estar com @, como sinal de amizade ou interesse. É uma oportunidade de elidir a agressividade do AAF falando por algum tempo de outro assunto. & reafirma seu interesse geral em @ e evidencia que não está aí simplesmente para fazer o AAF (pode até mesmo, por exemplo, trazer um presente).

2.2. através da operação ‘ponto de vista’ – usam-se dêixis (referências a tempo, lugar, pessoa do mundo relacional de @; troca-se a pessoa do discurso, falando como se fosse @ (“tivemos pouco tempo, não é?”, “agora vamos tomar o remédio”); utilizam-se intercaladas conativas, como “você sabe?”; usa-se oi presente histórico (“aí, chega o vendedor com aquele papo e eu digo que estava só olhando”); tratam-se tempos remotos como se fossem imediatos – recur- sos, enfim, da fala coloquial em que se alternam perspectivas.

2.3. através de piadas e brincadeiras – Neste caso, é preciso que haja um terreno comum de conhecimentos e valores, que permitam enfatizar essa partilha de experiências passadas. É o princípio da polidez basicamente aplicado quando & quer quebrar a formalidade ou mudar o plano de atenção, deixando @ à vontade.

3. EXPRESSÃO DE COOPERAÇÃO

3.1. afetar interesse – Neste caso, & assegura ou pressupõe que conhece e se interessa pelas necessidades de @, pressionando-o a cooperar: “Sei que você não gosta de interrogatórios, mas este vai ser apenas uma conversa – venha!”

3.2. formular ofertas, promessas - “Vou resolver isso que você está pedindo logo depois”, demonstra a boa intenção do & em satisfazer a face pública do @ - mesmo que o pedido não tenha possibilidade de ser atendido.

3.3. demonstrar otimismo – É o outro lado da moeda da manobra “ponto de vista”: & deve dar a entender que necessidades do @ são desejadas também por ele e que o ajudará a obtê-la. É o caso de intervenções como, por exemplo, “se você vai à solenidade, ponha o terno azul. É o mais elegante que você tem”. Ou de atos que minimizam uma transação: “Você não se in- comoda se eu levar essa corda, não é?”

3.4. abusar da primeira pessoa do plural – usar ‘nós’, sempre que possível, de preferência a ‘eu’ e ‘você’. Por exemplo, “queremos um pouco de água, estamos certos?”. Na mesma linha, verificar com pedidos insignificantes o grau de cooperação atingido: “Me empresta o isquei- ro?”

3.5. afirmar reciprocidade – Sempre que pertinente, deixar evidente que se trata de uma rela- ção em mão dupla: “Farei x se você fizer y para mim”.

4. MATERIALIZAÇÃO DA SIMPATIA

Este procedimento se consubstancia com várias atitudes, desde a doação de presentes que atendem a necessidades reais ou simbólicas de @ (no entanto, com alto valor de uso mas pequeno valor de troca) até a oferta, em doses adequadas, daquilo de que @ se revela carente: cooperação, simpatia, respeito, segurança etc.

• POLIDEZ NEGATIVA (PN) – O objeto é a face pessoal do ouvinte.

Trata-se de rituais de evitação, respeito. Enquanto a polidez positiva é de livre alcan- ce, a negativa é específica e focada. Quando se fala em polidez na cultura ocidental, o que vem à mente é a polidez negativa – um conjunto de estratégias lingüísticas muito elaborado e convencional. Os livros de etiqueta falam desta polidez. O objeto é minimizar a imposição do AAF. Pressupondo distância social, o falante usa a estratégia como um atalho que suprime esse afastamento

Os mecanismos principais são cinco:

1. ser direto, indiretamente – Uso de expressões indiretas convencionais que na verdade são diretas, em lugar das mais concisas, que soariam como ordens: “Você não poderia me passar o sal? = me passe o sal”.

2. não pressupor, pretender – fazer suposições mínimas sobre as necessidades de @, sobre o que é importante para ele. Demonstrar dúvida ainda quando se tem certeza: “creio que uma gangorra é uma espécie de brinquedo”; “João parece ser um verdadeiro amigo”... “parece que João está vindo”. “fico imaginando se João viajou” (sabe-se que viajou). “depois de toda essa conversa, talvez você queira um refrigerante.”

3. dar escolhas, não fazer imposições – Valorize formas de expressão como “você poderia abrir a porta?”, “por acaso não tem um lápis?”, “talvez você não se importe em..,” Em caso de imposição indispensável, procura-se minimizar a ordem com fórmulas gentis e respeitosas: “Só dei uma passadinha para pedir a você que...”, “fico até encabulado de lhe pedir, mas o pessoal gostaria que você ...”

4. Evitar procedimentos invasivos - & indica hesitação, relutância em invadir a face pessoal do @: (a) pedindo desculpas: “Desculpe, mas...”; (b) admitindo a invasão: “sei que estou sen- do chato, mas..”; (c) confessando relutância: “normalmente não lhe pediria isto, mas...” (d)

dando um motivo maior: “não consigo imaginar ninguém mais que poderia...”; (e) desperso- nalizando o ato solicitado: “é preciso que...”; “seria desejável...”; “espera-se que (espero)”; “esta carta tem que ser digitada agora” (por você para mim); “não se deve fazer isto” (você não deve...)”; “passageiros devem usar o cinto de segurança.”

5. Oferecer compensação parcial pelo AAF. Não se deve deixar @ na condição de devedor de algum bem ou favor: “Não tem problema; eu ia mesmo que ir para lá” (ainda quando não seja o caso).