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Manutenção da desigualdade

No documento fundamentos da filosofia.pdf (páginas 53-56)

Essa concepção do Estado como instrumento de dominação de uma classe sobre a outra estabelece, portanto, uma relação entre as condições mate- riais de existência de certa sociedade e a forma de Estado que ela adota. Ou seja, o Estado é determi- nado pela estrutura social de modo a atender às demandas específicas de uma forma de sociabili- dade, garantindo que essa forma se mantenha.

Isso significa que o Estado só é necessário devi- do ao “caráter antissocial desta vida civil” (MARX,

Glosas críticas ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social”, p. 513). Ou seja, o Estado existe para admi-

nistrar os problemas causados pela forma antisso- cial (desigual, excludente) da sociedade civil. E só poderia deixar de existir quando a sociedade não fosse mais dividida em classes antagônicas.

Assim, Marx e Engels diferenciaram-se de to- dos os outros autores anteriores, porque sua críti- ca ao Estado não visava atingir uma ou outra for- ma de Estado, mas a própria essência do Estado, de qualquer Estado: para eles, o Estado origina-se exatamente das insuficiências de uma sociedade em realizar em si mesma, de forma concreta, os ideais universalistas, ou seja, em garantir em sua dinâmica a igualdade de condições sociais. Por- tanto, o Estado nasce da desigualdade para man- ter a desigualdade.

Pedinte recebe donativo em rua do centro de Atenas, Grécia, em 2012. A crise econômica mundial iniciada em 2008 – uma crise do próprio sistema capitalista, dizem seus críticos – provocou o desemprego e a miséria de milhões de pessoas na Europa e nos Estados Unidos. De acordo com Marx, no Estado capitalista é necessário produzir, de forma mais ou menos permanente, um “exército de reserva”, isto é, um grupo social de desempregados, pobres ou miseráveis que aceitará trabalhar por qualquer preço e em quaisquer condições. O que você pensa sobre essa tese? Menina costura meias em confecção dos Estados Unidos, em

1913. Até as primeiras décadas do século XX, considerava- -se “normal” crianças de todas as idades trabalharem o dia inteiro junto com os adultos. Era comum que vários membros de uma família trabalhassem nas fábricas para garantir seu sustento. Mas a exploração do trabalho infantil foi sendo repudiada pelas sociedades contemporâneas. No Brasil atual, é proibida por lei, embora ainda subsista em várias regiões. Você não acha que é preciso erradicar definitivamente o trabalho infantil em nosso país?

Até aqui, não estamos longe da teoria liberal. Mas, conforme escreveu Engels em A origem da

família, da propriedade privada e do Estado, embora

o Estado tenha nascido da necessidade de conter esses antagonismos, nasceu também no meio do conflito e, por isso, acabou sendo sempre repre- sentado pela classe mais poderosa, aquela que tinha a força para reprimir a classe dominada: os escravos na Antiguidade, os servos e camponeses no feudalismo e os trabalhadores assalariados no capitalismo.

Assim, Marx e Engels concebem o Estado atu- ando geralmente como um instrumento do domí- nio de classe. Na sociedade capitalista, por exem- plo, o domínio de classe se identificaria direta- mente com a “proteção da propriedade privada” dos que a possuem, contrariando os interesses daqueles que nada têm. Proteger a propriedade privada capitalista implica preservar as relações sociais, as normas jurídicas, enfim, a segurança dos proprietários burgueses.

CORBIS/LA

TINST

OCK

ARIS MES

8. Destaque os aspectos do pensamento político de

Platão que culminam com a ideia de um rei-fi lósofo.

9. A base do pensamento político de Aristóteles é a

afi rmação de que o ser humano é por natureza um animal político. Explique:

a) como ele chegou a tal conclusão;

b) como essa conclusão vincula-se à ideia de que o objetivo da política é o bem comum, o que é o bem comum para ele.

10. A partir da Idade Média, que relação se estabele-

ceu no pensamento político entre a ideia de Deus e a de governante? Que teoria se formulou a seu respeito no início da Idade Moderna? Explique-a.

11. O realismo político de Maquiavel inaugurou uma

nova maneira de pensar a política. Que novidade foi essa? Como essa novidade se expressou?

12. Hobbes entendia que o “homem é o lobo do pró-

prio homem”. Explique essa tese e como ela o le- vou à sua concepção de Estado.

13. Locke e Rousseau também formularam suas teo-

rias contratualistas acerca da origem do Estado, polemizando em grande parte com as concepções de Hobbes. Discorra sobre essas teorias, procu- rando destacar os aspectos desse debate.

14. Que crítica faz Hegel às concepções de Hobbes,

Locke e Rousseau?

15. Como se posicionam Marx e Engels em relação

à teoria contratualista e liberal a respeito da ori- gem e do papel do Estado?

3. A importância da divisão dos poderes

Qual é a importância da separação e do equilí- brio dos poderes, propostos por Montesquieu? O que acontece se não há essa divisão? Quando isso ocorre? Mesmo que haja essa divisão, é possível que um poder interfi ra no outro? Isso ocorre ou já ocorreu no Brasil? Elabore uma refl exão a respeito e apresente-a a seus colegas.

4. Liberalismo e neoliberalismo

Pesquise sobre a versão contemporânea do li- beralismo, dirigida ao âmbito econômico, que é conhecida como “neoliberalismo”. Ela deu bons resultados? Que críticas são feitas a ela? Refl ita e forme uma opinião sobre esse tema. Depois dis- cuta a seu respeito com um grupo de colegas.

(UEL-PR) Leia os textos a seguir.

A única maneira de instituir um tal poder comum é conferir toda sua força e poder a um homem ou a uma assembleia de homens. É como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfi ro meu direito de go- vernar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isso, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado.

Adaptado de: HOBBES, T. Leviatã. Trad. de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva.

São Paulo: Abril Cultural, 1974. p.109. Coleção Os Pensadores.

O ponto de partida e a verdadeira constituição de qualquer sociedade política não é nada mais que o consen- timento de um número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se unir e se incorporar em uma tal sociedade. Esta é a única origem possível de todos os governos legais do mundo.

Adaptado de: LOCKE, J. Segundo tratado do governo civil: ensaio sobre a origem, os limites

e os fi ns verdadeiros do governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. p.141. Coleção Os Pensadores.

A partir da análise dos textos e dos conhecimentos [...] no que se refere à instituição do Estado, explique as diferenças entre o contrato proposto por Hobbes e o proposto por Locke.

Adeus, Lenin!(2003, Alemanha, direção de Wolfgang Becker)

Depois da queda do muro de Berlim, jovem tenta proteger sua fragilizada mãe do choque fatal de saber que sua amada nação, a Alemanha Oriental, não existe mais.

Ágora(2009, Espanha, direção de Alejandro Amenábar)

No Egito ocupado pelos romanos, a ascensão do cristianismo provoca mudanças políticas que dão esperanças de liberdade a um escravo e desnorteiam sua mestra e amada, a fi lósofa e matemática Hypatia de Alexandria.

Missing – o desaparecido(1982, EUA, direção de Constantin Costa-Gravas)

Relato dramático, baseado em fato real, sobre a busca empreendida pelo pai e pela esposa de um estado-uniden- se desaparecido após o golpe de Pinochet, no Chile.

O que é isso, companheiro? (1997, Brasil, direção de Bruno Barreto)

Filme baseado em livro homônimo do jornalista e político brasileiro Fernando Gabeira. Retrata a época da dita- dura militar no Brasil, quando organização política clandestina sequestra embaixador estado-unidense visando trocá-lo por presos políticos.

Persépolis (2007, França/EUA, direção de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi)

Animação baseada em romance gráfi co homônimo e autobiográfi co de Marjane Satrapi. Mostra as suces- sivas mudanças na vida da jovem iraniana desde a Revolução Islâmica (1979) e a implantação do funda- mentalismo religioso em seu país.

Reds(1981, EUA, direção de Warren Beatty)

Filme que enfoca uma parte da revolução socialista soviética, através da história do repórter estado-unidense John Reed, que fazia a cobertura dos acontecimentos. Mostra o processo revolucionário, suas tensões e suas contradições.

Testa de ferro por acaso(1976, EUA, direção de Martin Ritt)

Obra sobre a histeria do anticomunismo nos EUA na época do macarthismo.

Todos os homens do presidente(1976, EUA, direção de Alan J. Pakula)

Filme sobre a história dos dois repórteres que revelaram o escandaloso caso Watergate, o qual culminou com a renúncia de Nixon, então presidente dos EUA.

Temos em seguida dois textos que tratam da criação do Estado e de sua função. O primeiro apresenta um tre- cho do texto em que John Locke formula sua teoria contratualista acerca dessa criação. Nele, o fi lósofo procu- ra explicar por que o ser humano, possuindo uma natureza própria que lhe garante a liberdade e a igualdade, criou o Estado, que para ele deve ser liberal. No segundo texto, Friedrich Engels opõe-se a essa concepção, formulando a tese conhecida como marxista sobre a origem do Estado e sua função. Leia-os e responda às questões que seguem.

1. O Estado deve ser liberal

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que aban- donará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder?

Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a fruição do mesmo é muito incerta e está constantemente exposta à invasão de terceiros porque, sendo todos reis tanto quanto ele, todo homem igual a ele, na maior parte pouco observadores da equidade e da justiça, a fruição da pro- priedade que possui neste estado é muito insegura, muito arriscada.

Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes, e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de “propriedade”.

2. O Estado é um instrumento da dominação de classe

[...] como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, nasceu em meio ao confl ito delas, é, por regra geral, o Estado da classe mais poderosa, da classe dominante, classe que, por intermédio dele, se converte em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida.

Assim, o Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de escravos para manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o órgão de que se valeu a nobreza para manter a sujeição dos servos e camponeses dependentes; e o moderno Estado representativo é o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho assalariado.

Entretanto, por exceção, há períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal modo que o poder do Estado, como mediador aparente, adquire certa independência momentânea em face das classes.

ENGELS, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, p. 193-194. 1. O que caracteriza o primeiro texto como uma interpretação liberal do Estado?

2. O que caracteriza o segundo texto como uma interpretação marxista do Estado?

3. Como você avalia a interpretação de Locke? Em sua opinião, o Estado pode ser liberal? Deve ser liberal? Justifi que suas respostas.

4. Você concorda com a interpretação de Engels? Ela exclui a hipótese liberal do Estado ou a complementa, expondo seus limites? Justifi que suas respostas.

No documento fundamentos da filosofia.pdf (páginas 53-56)

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