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CAPÍTULO 1 PREVIDÊNCIA SOCIAL

1.2. Segurados e dependentes

1.2.2. Dependentes

1.2.2.4. Qualidade de dependente

1.2.2.4.2. Manutenção da qualidade de dependente

A manutenção da qualidade de dependente de pais, filhos e irmãos ocorre enquanto referidas pessoas estiverem com vida e enquanto possuírem os requisitos estabelecidos pela lei previdenciária.

Contudo, forçosa é a utilização do Direito Civil ao caso em tela, haja vista que, conforme já anteriormente destacado, os alimentos são irrenunciáveis. Aliás, a jurisprudência, principalmente nos últimos anos, exerceu importante papel para fixar esse entendimento.

Cônjuges e companheiros podem ter sua relação jurídica alterada com o segurado através do divórcio ou da extinção da sociedade de fato.

Durante muito tempo foi questionado se o cônjuge ou companheiro poderia ser considerado dependente após o divórcio ou extinção da sociedade de fato, com renúncia expressa aos alimentos, mesmo hoje se tendo ciência de que os alimentos são irrenunciáveis.80

Certo é que o Código Civil, no artigo 1.566 estabelece, in verbis:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos.” Grifo nosso.

Já o artigo 1.694 do mesmo diploma legal destaca, in verbis:

80“O cônjuge divorciado, separado judicialmente, ou apenas separado de fato, que recebia pensão de alimentos terá direito à pensão por morte em igualdade de condições com os demais dependentes, não havendo direito adquirido a perceber pensão previdenciária igual ao percentual da pensão alimentícia concedida judicialmente, ou objeto de homologação pelo Juiz de Família, como ocorria no direito anterior (Decreto n.º 83.080/79, arts. 69 e 127). Comprovado que o cônjuge divorciado ou separado judicialmente necessita de prestação alimentícia, faz ele jus à pensão previdenciária em razão de seu caráter assistencial, de manutenção. A dispensa convencionada na separação não pode ser interpretada como renúncia à prestação alimentar, que é irrenunciável (Súmula n.º 379 do STF).” CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 6ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 558 e 559.

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Cabe mencionar que a pensão alimentícia tem como objetivo manter, na medida do possível, o padrão de vida do cônjuge, sempre respeitando o binômio: necessidade de quem recebe os alimentos e na possibilidade de quem os fornece. Todavia, o benefício previdenciário tenta garantir renda mínima para sobrevivência.

Estabelecendo a diferença entre a pensão alimentícia do Direito Civil e a dependência econômica do direito previdenciário, necessário ressaltar:

Vê-se, assim, que enquanto a pensão alimentícia do direito civil busca manter o status econômico do cônjuge que depende economicamente, inclusive para fins de despesas com educação, a pensão por morte previdenciária tem como objetivo manter uma renda mínima de sobrevivência para a família enlutada, não havendo preocupação com a manutenção da condição econômica da época do casamento, mesmo porque, agora falecido, o mais forte economicamente e o regime geral da previdência social limita seu benefício ao ‘teto’ que não chega aos dias atuais a dez (10) salários mínimos.81

Oportuno destacar o artigo 1.707 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Mesmo com previsão expressa do Código Civil vedando a renúncia de alimentos, na prática surgiram duas correntes, sendo que a primeira defendia que a renúncia aos alimentos com a dissolução do casamento válido, nenhum benefício previdenciário seria devido; para a segunda corrente, mesmo com a renúncia dos alimentos no momento do divórcio ou extinção da sociedade de fato (União Estável), havendo necessidade superveniente, deveria o ente previdenciário deferir o pagamento do benefício.

81HORVATH, Miguel Jr. e SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. A renúncia da pensão alimentícia e seus efeitos na relação jurídica previdenciária. Revista de Direito Social, nº 20. Porto Alegre: Notadez, 2005, p. 43.

O extinto Tribunal Federal de Recursos já havia firmado jurisprudência sobre essa questão:

Súmula 64: A mulher que dispensou, no acordo de desquite, a prestação de alimentos, conserva, não obstante, o direito à pensão decorrente do óbito do marido, desde que comprovada a necessidade do benefício.

Para dirimir essa dúvida, o Superior Tribunal de Justiça formulou a súmula 336:

Súmula 336: A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente

Conforme constatado, o novo Código Civil manteve, e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça confirma, a indisponibilidade do direito à prestação alimentícia.

Contudo, diversas outras situações continuaram a ser questionadas pela doutrina e jurisprudência, sendo, uma das que mais recebeu destaque, a situação do ex-cônjuge que recebe pensão por morte e acaba casando-se novamente.

O novo casamento do dependente viúvo não é suficiente para configurar a perda da dependência econômica.

Com o mesmo raciocínio:

Como já afirmado, a base da Seguridade social é a proteção, fundada nos princípios de solidariedade social; a base para o pagamento da pensão por morte é a dependência econômica.

O fato da pessoa contrair novo casamento nem sempre excluirá o vínculo da dependência econômica.

Assim, para que o benefício seja cessado, é necessária a análise da situação econômica e não apenas o fato das novas núpcias.

Deste modo, deve ser garantida a pensão por morte à ex-cônjuge do segurado que se casa novamente, desde que a receita oriunda desta nova união não haja ampliado sua renda; caso contrário, inexistente a causa ensejadora do recebimento da pensão por morte, qual seja, dependência econômica, deve cessar o benefício.82

Portanto, comprovada a necessidade econômica superveniente, o ex- cônjuge e também ex-companheira mantém a qualidade de dependente com a percepção de pensão por morte.

A dependência econômica exigida pela norma não precisa ser exclusiva, ou seja, o simples fato do dependente possuir uma outra fonte de recursos não é suficiente para impedir à percepção da pensão por morte, desde que, por óbvio, sua renda mensal fosse complementada com ajuda financeira do segurado.

Para comprovar o alegado, passa-se a transcrever um julgado:

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO PREVISTO NO ART. 557, § 1º DO CPC. PENSÃO POR MORTE. FILHA FALECIDA. PROVA TESTEMUNHAL. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA EXCLUSIVA. IRREVELANTE. I - A comprovação da dependência econômica pode ser feita por qualquer meio probatório, não prevendo a legislação uma forma específica. Assim, a prova exclusivamente testemunhal tem aptidão para demonstrar a dependência econômica. II - O fato dos demandantes perceberem benefícios de aposentadoria por invalidez e por idade não infirma a sua condição de dependentes econômicos, uma vez que não se faz necessário que essa dependência seja exclusiva, podendo, de toda sorte, ser concorrente. No caso concreto, os referidos benefícios são equivalentes a um salário mínimo, e os autores são pessoas idosas e adoentadas. III - Agravo do INSS improvido (art. 557, § 1º, do CPC). TRF- 3 - AC: 40308 SP 2010.03.99.040308-0, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO NASCIMENTO, Data de Julgamento: 20/09/2011, DÉCIMA TURMA.”

O Enunciado 13 do Conselho de Recurso da Previdência social estabelece:

82 Martins, Ana Paula Oriola, A pensão por morte e a sua relação com a pensão alimentícia. Revista de Direito Social nº 8. Porto Alegre: Notadez, 2002, p. 43.

A dependência econômica pode ser parcial, devendo no entanto representar um auxílio substancial permanente e necessário, cuja falta acarretaria desequilíbrio nos meios de subsistência do dependente.

Ainda no que se refere à pensão por morte do ex-cônjuge:

Em matéria de pensão atribuída à ex-cônjuge , credor de .alimentos em vida do segurado/funcionário, o quantum da pensão securitária constitui- se em importante tema ainda não devidamente equacionado. Ora, se não existia mais a sociedade conjugal entre o casal, por força do divórcio ou da separação judicial, logicamente que os alimentos foram estabelecidos com base no critério principal da necessidade do credor de alimentos. Se a pensão securitária visa a substituir a pensão alimentícia que o ex- cônjuge recebia em vida, logicamente que o quantum da primeira terá que se exatamente o mesmo dos alimentos prestados em vida, sob pena de verificação de enriquecimento sem causa.

Com efeito, se as necessidades do credor de alimentos eram restritas, por exemplo, a 30% dos ganhos líquidos do funcionário em vida, não se afigura razoável, ou justificado nos fundamentos da solidariedade e da necessidade, que o ex-cônjuge passe a receber a totalidade, ou mesmo 50%, de tais ganhos, quando da morte do funcionário. No entanto, pode eventualmente correr situação diversa: quando da morte do funcionário. Na eventualidade do falecido haver deixado vários dependentes na primeira classe da ordem de vocação securitária, e se verificar que o valor resultante do rateio entre os vários beneficiários da pensão é inferior àquele recebido em vida. Nesta hipótese, não poderá ser feito para melhorar a situação do ex-cônjuge, sob pena de se lhe atribuir tratamento mais benéfico do que em relação a um familiar do falecido no momento

da morte.83

A despeito dos fundamentos invocados pelo autor acima em destaque, cabe lembrar que ainda não há solução para o problema, uma vez que em algumas situações o ex-cônjuge não receberá a mesma quantia que recebia de pensão alimentícia paga em vida pelo falecido, por ser superior ao teto do valor do benefício ou pela necessária divisão entre os demais dependentes da mesma classe previdenciária que se encontra.

Todavia, injustificada sob o ponto de vista jurídico, é a situação onde o ex-cônjuge passa a ganhar mais com o pagamento da pensão por morte do que ganhava em vida através do pagamento da pensão alimentícia, evidenciando a situação concreta onde “uma pessoa mais vale morta do que viva”.

83 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Família no Direito Securitário. Revista de Direito Social, nº 3. Porto Alegre: Notadez, 2001, p. 14 e 15.

Referida situação contraria o sentimento de zelo e cuidado que o beneficiário tem que ter com o ex-cônjuge, evidenciando interesses contraditórios, uma vez que a morte do segurado não pode estar associada a melhor qualidade de vida do ex-cônjuge, excepcionando eventual contrato de seguro particular pago pelo falecido e direitos advindos da ordem de vocação sucessória.

Os filhos e irmãos, desde que inválidos, mantêm a qualidade de dependentes enquanto durar a invalidez (física ou mental), independentemente de terem completado 21 anos de idade. A menoridade dos filhos e ausência de emancipação são fatores que determinam a manutenção da qualidade de dependente.

A invalidez de dependente deve ser apurada no momento da morte do segurado, conforme entendimento de Fábio Zambite Ibrahim.84

A Turma Nacional de Uniformização, ao analisar incidente de uniformização de jurisprudência, destaca:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELO INSS.

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. FILHO

MAIOR APOSENTADO POR INVALIDEZ. INCAPACIDADE

OCORRIDA APÓS A MAIORIDADE E ANTES DO ÓBITO DA GENITORA. POSSIBILIDADE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. PRESUNÇÃO RELATIVA. QUESTÃO DE ORDEM Nº 20 DA TNU. INCIDENTE CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

...Incidente de Uniformização de Jurisprudência conhecido e parcialmente provido para firmar o entendimento de que (i) o filho que se torna inválido após a maioridade ou emancipação, mas antes do óbito dos genitores pode ser considerado dependente para fins previdenciários; (ii) essa presunção da dependência econômica é relativa. (...). (Processo PEDILEF 50442434920114047100, Relatora Juíza Federal Kyu Soon Lee, TNU, DOU 10/01/2014). (destaque

acrescido)

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul tem reiteradamente afirmado que a invalidez superveniente de dependente previdenciário, ao óbito do segurado, não é óbice para impedir o deferimento da pensão por morte ao dependente inválido. Trata-se de entendimento minoritário.

Apesar dosimportantes argumentos, fato é que não há fonte de custeio para essa ampliada proteção social. Logo, fere a regra da contrapartida, onde nenhum benefício da seguridade social poderá ser concedido, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total, nos exatos termos estabelecidos pelo artigo 195, § 5 da Constituição da República Federativa do Brasil.

Embora equiparados aos filhos, o menor tutelado ou enteado, embora considerados como dependente de 1ª classe, deverão comprovar que dependiam economicamente do segurado.

Os pais mantêm a qualidade de dependente com a conjugação de dois fatores, primeiro a inexistência de dependentes da classe 1 e, segundo, com a comprovação da dependência econômica do segurado.

Adequado esclarecer que os pais não precisam demonstrar dependência econômica exclusiva, conforme determina a súmula 229 do extinto Tribunal Federal de Recursos:

A mãe do segurado tem direito à pensão previdenciária, em caso de morte do filho, se provada a dependência econômica, mesmo não exclusiva.

Os irmãos mantêm a qualidade de dependente, com a inexistência de dependentes das classes 1 e 2, com idade inferior a 21 anos e ausência de emancipação, e com a comprovação de sua dependência econômica do segurado. Em se tratando de irmão inválido, mantida a exigência de inexistência de segurados da classe 1 e 2, e enquanto mantiver a invalidez.

1.2.2.4.3 Perda da qualidade de dependente

A perda da qualidade de dependente significa que não há mais nenhuma relação jurídica entre o dependente do segurado e a previdência social. Logo, com a materialização de risco social coberto pelo sistema previdenciário, e reconhecida ausência da qualidade de dependente, não há pagamento de qualquer benefício.