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Fonte: IBGE (2010); COPDE/SDE (2014); PMF (2012) Elaboração: Anna Emília Maciel Barbosa

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), índice que considera indicadores como educação, renda e longevidade, ratifica a melhor qualidade de vida dos habitante da Varjota e do Mucuripe (Mapa 5), bem como condições precárias de vida de muitos moradores do bairro Praia do Futuro I, acompanhado dos bairros Vicente Pinzón e Cais do Porto. Assim, o mapa

74Conforme o Censo 2010 do IBGE, Fortaleza conta com uma população de 2.452.185 residentes e com 710.066

mostra a desigualdade do IDH entre os bairros do Grande Mucuripe. Os bairros Mucuripe e Varjota se destacam com IDH alto, seguidos do bairro De Lourdes (médio) e Papicu (baixo). Os bairros Praia do Futuro 1, Vicente Pinzón e Cais do Porto possuem IDH muito baixo, estando o último em pior situação que os demais. O bairro Cais do Porto está em 96º lugar em relação aos demais bairros de Fortaleza, sendo um bairro que possui grande problemática habitacional, socioambiental e histórico de violência.

Grande parte dos bairros apresenta domicílios servidos de infraestrutura básica, como: abastecimento de água (cerca de 93% dos domicílios são ligados a rede geral de distribuição de água); energia elétrica (cerca de 99% dos domicílios possuem energia elétrica), coleta de lixo (cerca de 99% dos domicílios são atendidos pelo serviço de coleta) e esgotamento sanitário (76% dos domicílios estão ligados à rede geral de esgoto). Exceto o esgotamento sanitário, estes serviços que se encontram disponíveis para maior parte da população também em Fortaleza, caracterizando uma generalização de acesso à serviços essenciais.

Gráfico 1: Percentual de domicílios por rendimento domiciliar.

Fonte: IBGE (2010).

Os bairros apresentam entre si uma descontinuidade de paisagens, que varia conforme a distribuição de renda domiciliar entre os moradores que compõem o Grande Mucuripe. Fazendo uma análise a partir dos dados do Censo IBGE (2010), cerca de 60% dos domicílios do bairro De Lourdes possuem rendimento maior que R$ 5.100,00. Isso ocorre também em 42% dos domicílios do bairro Mucuripe e 37%, no bairro Varjota. Estes bairros apresentam-se com renda acima da média da capital, já que 10% do total de domicílios fortalezenses

apresentam este nível de renda. O gráfico 1 mostra esta diferenciação de renda entre os bairros destacados. Releva, também, uma concentração de domicílios que somam rendimentos de até R$ 510,00 nos bairro Cais do Porto, Vicente Pinzón e Praia do Futuro I.

Analisando o Mapa 5 em conjunto com Gráfico 1 percebe-se que apesar dos altos rendimentos encontrados no De Lourdes, até mesmo em relação aos bairros de IDH alto como Mucuripe e Varjota, o bairro aparece com IDH médio. Isto ocorre em razão principalmente em razão do indicador longevidade do bairro, o que altera o cálculo do índice. O De Lourdes, no entanto, possui muitas áreas vazias que vieram a ser ocupadas mais recentemente, assim seus habitantes apresentam-se compostos principalmente por população adulta e pequena quantidade de idosos.

Pequeno (2015) acrescenta que cinco dos bairros estudos, Papicu, Mucuripe, Praia do Futuro I, Vicente Pinzón e Cais do Porto se destacam quanto a presença de domicílios com até 3 cômodos, característica comum de áreas mais pobres. Ao considerar áreas com presença de serviços e infraestrutura acessíveis, assim como facilidade de mobilidade, o autor afirma que “a área do Cais do Porto / Vicente Pinzón sobressai com mais de 19% dos domicílios com até três cômodos” (p.260), seguidos de outros bairros situados mais ao sul da cidade. Ele continua destacando o processo de apropriação destas áreas pelo mercado imobiliário, o que resulta na expulsão das populações residentes.

Trata-se de áreas onde o processo de expulsão branca pelo mercado imobiliário já vem ocorrendo, todavia as remoções tendem a aumentar mediante projetos governamentais destinados a melhorar as condições de mobilidade urbana, o que indiretamente virá a abrir novas frentes para expansão do setor da construção civil (PEQUENO, 2015, p.261).

Em um passeio pelos bairros, identificou-se que no locais onde os moradores somam altos rendimentos, a paisagem é marcada pela presença de casas e prédios de apartamentos voltados para estes segmentos; prédios comerciais, variedade de serviços (comércio e prestação de serviços), infraestrutura de qualidade (distribuição de água, energia, telefonia, disposição do esgoto, rede de internet e grandes avenidas), além de shopping centers e praças bem cuidadas. Já nas porções do espaço habitadas por populações de rendimentos mais baixos encontra-se casas e apartamentos de tipologias mais simples, falta de espaços de uso coletivo, como praças e quadras em boas condições de uso, precariedade de infraestrutura e menor oferta de serviços. Existe, deste modo, uma relação direta entre a renda dos habitantes e a organização e produção do espaço urbano.

alto em alguns bairros em destaque, o gráfico 1 demonstra que há uma coexistência de moradores com diferentes rendimentos em um mesmo bairro, fato que vai além da diferenciação de paisagens. Essa é uma característica da cidade de Fortaleza já identificada por Bernal (2004) e Araújo e Carleial (2003). Trata-se de uma contradição socioterritorial da metrópole, onde moradores de diferentes níveis de renda tornam-se vizinhos e que simultaneamente desenvolvem relações conflituosas, bem como relações de vizinhança e trabalho75. Ana Maria Matos Araújo (2010) lembra que para haver a convivência são estabelecidas estratégias para permitir a coabitação no bairro, até a saída dos mais pobres: “Estratégias fazem que, em mesmo bairro, convivam pobres e ricos, até que a burguesia utilize o aparelho de Estado para retirar os pobres, ou quando parte das famílias ricas decide, pela segurança, segregar-se” (p.17).

Assim, cada bairro possui suas peculiaridades, como história, período de fundação, níveis de renda dos moradores, relevo, dentre outras. Há também o status social adquirido por aqueles que residem em determinados bairros. O crescimento vertical e horizontal da cidade vai revelando uma face de Fortaleza que se torna única na cidade, mas assemelhando-se a realidades urbanas brasileiras e internacionais.

5.1 A habitação nos bairros do Grande Mucuripe

Para entender a habitação no Grande Mucuripe percebeu-se a necessidade de caracterizar cada um dos bairros nele contidos, para assim identificar suas semelhanças e diferenças, possibilitando a construção de considerações acerca desta complexa realidade. O emaranhado de diferentes funções dadas ao espaço nesta porção da cidade permite a coexistência de belas paisagens utilizadas pelo turismo e capital imobiliário com um parque industrial, rodeado por favelas e presença marcante de prostituição e violência.

O Mapa 6 revela a proximidade dos bairros em estudo com o mar. O Porto do Mucuripe aparece como uma divisória, tendo a sua esquerda habitações de alto padrão, hotéis e restaurantes voltados para o turismo. No entanto, em razão da presença do porto a faixa de praia segue estreita por causa do comprometimento na alimentação da praia. Já a sua direita, há uma concentração de favelas que seguem do bairro Cais do Porto. No Vicente Pínzon, apresenta-se como bairro residencial na parte mais próxima ao mar, com presença de depósitos e terrenos ociosos, e no alto do morro destacam-se favelas e conjuntos

75 Esse fato de coabitação de pessoas de diferentes níveis de renda em um mesmo bairro ocorre também em

outras capitais brasileiras, como já constatado por Oliveira (2003). O autor exemplifica com a geografia do Rio de Janeiro que não permite a separação entre ricos e pobres, permitindo que todos fiquem vulneráveis a violência da cidade.

habitacionais. A área de tancagem bem próxima às grandes favelas dos bairros Cais do Porto e Vicente Pínzon transforma o local em uma área com grande potencial de risco socioambiental. Na Praia do Futuro I, há uma diversidade de usos e apropriação do espaço, com a presença de algumas barracas de praia a beira-mar, direcionadas ao público de rendas média e alta, existência de muitos vazios e uma grande área de favela, que se misturam as casas e condomínios luxuosos que se instalam no bairro. Deste modo, o tipo de apropriação dada ao litoral de Fortaleza demostra uma segregação quanto ao uso dos espaços da cidade e também um eixo de expansão imobiliária da capital.

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