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4. DISCUSSÃO

4.3. Configuração da costa na área de estudo e entorno

4.3.1. Mapa de Isobases de 2° ordem

O Mapa de Isobases de 2° ordem foi elaborado de duas maneiras: um mapa somente apresentado as escalas de cores e outro com as isolinhas, as quais foram espaçadas de 50 em 50 m, para facilitar a visualização, uma vez que um espaçamento menor poderia resultar em um mapa bastante carregado, o que dificultaria o seu entendimento. Os Mapas de Isobases (com isolinhas e com cores) estão representados na Figura 10 e Figura 11.

Conforme podemos observar pelos mapas, a paisagem representada não difere muito da realidade, uma vez que se pode observar as áreas de morros, e uma configuração de costa parecida com a atual. A Figura 12 representa a área da Ilha do Cardoso e entorno atualmente.

Nessa época, as areias da Formação Cananéia, cujo evento de Transgressão é datado de 123.000 anos A.P. aproximadamente (Suguio & Petri (1973), Petri & Suguio (1973), Suguio (2003), Tessler & Goya (2005), Suguio & Martin (1978 apud Coelho Jr (2005)), deve estar representada pelas áreas com coloração variando entre a coloração amarela e que representam as altitudes de 0 a 50 m. Os sedimentos dessa Formação recobrem a área de borda da Ilha juntamente com os depósitos marinhos holocênicos originários da Transgressão Santos (5.100 anos A.P.). As condições pluviais se mantinham elevadas (desde o término da glaciação de Würm), criando condições para o desenvolvimento de vegetções de grandes florestas e ecossistemas tropicais e subtropicais. Nessa área atualmente encontram-se terraços marinhos retrabalhados datados da Transgressão Santos variando a uma atura de 4 a 5 m (Suguio, 2003).

Petri & Suguio (1973) propõem a denominação de Formação Cananéia para uma unidade litológica composta por “areias regressivas”, tipo <<blanket sands>> ou <<sheet sands>>. Estas são reconhecidas como depósitos praiais antigos, apresentam importância preponderante na geologia regional de superfície na planície litorânea, não somente pela sua enorme persistência, mas por constituir uma importante fonte de detritos para os subambientes atuais. Além da presença da Formação Cananéia (mais recente), as montanhas localizadas na Ilha do Cardoso são formadas por rochas de origem Pré-Cambriana (Suguio & Petri, 1973).

Os autores também analisaram uma série de perfis na área lagunar da região de Cananéia-Iguape e com as amostra coletadas os autores fizeram análises de minerais pesados e inventários de microorganismos, como foraminíferos e algas. Para isso os autores dividiram as amostras em seqüências estratigráficas e as identificaram. Segundo os autores, as análises

de microorganismos serviram para avaliar diferentes ambientes de sedimentação, tendo estes sido identificados como marinhos, salobros e de água doce.

Figura 12 – Mapa atual da região da Ilha do Cardoso

Concluiu-se no estudo que houve uma sedimentação ativa ocorrida na planície costeira de Cananéia-Iguape; que a sedimentação foi conseqüência de uma fase típica transgressão marinha com um registro prévio de camada não-marinhas na fase de regressão. Concluem ainda que os depósitos provavelmente sejam resultados diretos de tectonismo epirogênico, interações de mudanças eustáticas ocorridas durante o Quaternário. Segundo os autores ainda, a instabilidade geológica da área não termina com o encerramento da deposição da Formação Cananéia. A formação foi soerguida 5 a 6 m acima do nível do mar e a costa nessa região

ainda está subindo, conforme descrevem alguns estudos de Petri e Fúlfaro (1970) para a área da Ilha do Cardoso.

A Formação Cananéia recobre a Formação Pariquera-Açu, cuja deposição, iniciada no terciário, continua até o presente, fazendo parte de um sistema deposicional que engloba fácies sedimentares mapeadas como sendo pertencentes às formações que se distribuem desde o Rio Grande do Sul até o Amapá. As fácies associadas a esse sistema deposicional ocorrem nas partes mais internas das planícies costeiras, no sopé de terras mais altas (Villwock et al., 2005), recobrindo as rochas de origem Pré-Cambrianas.

Atualmente a Ilha do Cardoso possui relevo com altitude superior a 800 m. Nessa época, no entanto, é possível observar que o ponto mais alto da Ilha chega a atingir altitude entre 600 e 700 m. Embora esta seja uma altitude estimada, é possível perceber processos de soerguimento tectônico de blocos (orientados no mesmo sentido), tanto na área da Ilha do Cardoso, como na área de entorno. Tal fato é melhor visualizado com a análise dos próximos mapas. Contudo é válido lembrar que para Suguio & Barcelos (1978), essa costa não é absolutamente estável e foi ativa tectonicamente durante a maior parte do Quaternário e Hasui et. al. (1998) salientam que o sudeste é caracterizado por planaltos, depressões, cuestas e planícies costeiras decorrentes de processos de degradação e agradação relacionados a movimentos tectônicos do Mesozóico-Cenozóico.

As antigas áreas de mangue provavelmente foram soerguidas durante a fase ativa tectônica, sendo encontradas atualmente em níveis superiores. Deixando de existir em áreas que apresentassem condições ao desenvolvimento de manguezais, esses mangues antigos perderam suas funções e passaram por processos de transformação, conferindo ao solo, atualmente, características de solos mais orgânicos e com a presença de detritos de restos vegetais. Esses solos podem ser correlacionados aos espodossolos que recobrem toda a porção interna da ilha, diferenciando-se somente dos cambissolos cascalhosos que recobrem a porção dos morros da Ilha, segundo o mapa pedológico apresentado por Oliveira et. al (1999). É válido lembrar que segundo Vidotto et al. (2007), a origem e distribuição dos manguezais são resultados da variação do nível do mar e de alterações paleoclimáticas.

Segundo o esquema elaborado por Bonetti Filho (1995) para a Evolução da região de Cananéia, a partir de estudos de Martin & Suguio (1978), a conformação da costa obtida pelos Mapas de Isobases pode ser comparada com o esquema proposto pelo autor para a conformação da Ilha durante o Período da Transgressão Santos, onde a Ilha do Cardoso ainda não se encontrava totalmente formada, a linha de costa se encontrava mais a oeste, e os canais que separam a Ilha do Cardoso do continente eram bem largos. Trata-se do quarto estádio evolutivo proposto por Martin & Suguio (1978), tendo o mar invadido as áreas rebaixadas

pela erosão, formando um extenso terreno plano (Ross, 2002). Pode-se inferir que o Mapa de Isobases de 2° ordem da Ilha do Cardoso e entorno remonta a 5.100 anos A.P., data proposta para o esquema apresentado por Bonetti Filho (1995) citado por Coelho Jr. (2003), representado na Figura 13.

Figura 13 - Esquema proposto para a conformação da Ilha do Cardoso (5.100 anos A.P.) por Bonetti Filho (1995).

Fonte: Coelho Jr. (2005)

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