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CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3. Mapeamento das áreas de risco

A distribuição espacial do número de óbitos observados no período de 1995 a 2008 e o mapa das áreas pobres está representada através da Figura 46, contabilizando um total de 64 mortes associadas aos desastres decorrentes da precipitação em Recife. Verifica-se que a regional Noroeste apresenta 6 bairros com registros de 26 óbitos, com destaque para Nova Descoberta com 17 mortes, sendo que 16 foram registradas em 1996, especialmente no Córrego do Boleiro. Na regional Sul há incidência de mortes em três bairros totalizando 33, com destaque para o Ibura com 23 óbitos, dos quais 10 foram registrados em 1996 e 8 em 2000 (Figura 46a). Ressalta-se que nesse bairro é constante a ocorrência de escorregamentos e alagamentos em dias chuvosos. Na regional Norte observou-se os bairros Linha do Tiro com 4 mortes e Água Fria com ocorrência de uma vítima fatal. É digno de nota que estas regiões estão localizadas nas áreas de morros, ou seja, mais pobres (Figura 46b), aliadas com a falta de infraestrutura como saneamento, educação, entre outros, contribuindo para ocorrência de desastres de alta magnitude e consequentemente vítimas fatais.

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(a) (b)

Figura 46 – Distribuição espacial do número de óbitos nos bairros no período de 1995 a 2008 (a), com identificação das RPA’s, e mapa das áreas pobres (b) da cidade do Recife.

A distribuição da população e da densidade demográfica está demonstrada na Figura 47a,b, a qual revela que as regionais Sul e Noroeste são as mais populosas, representando 25% e 20% respectivamente da população, com destaque para os bairros Boa Viagem (100.388hab), Cohab (69.134 hab) e Várzea (64.512 hab) como sendo os mais populosos, e os menos habitados Pau-Ferro (336 hab) na regional Noroeste, Paissandu (538 hab) e Santo Antônio (539 hab) no Centro, considerada uma área comercial. As maiores densidades demográficas são observadas

em Alto José do Pinho com 299,59 habitantes/km2, seguido por Brasília Teimosa com 292,89

habitantes/km2 e Mangueira 290,17 habitantes/km2, localizados nas RPA-3, RPA-6 e RPA-5,

respectivamente.

Ressalta-se que essas áreas estão localizadas nas regiões com poder aquisitivo muito baixo, conforme Figura 47c,d, os quais representam o total de salários mínimos (c) e a quantidade de salários por bairro (d). Os maiores números de salários são observados próximos a região central e em Boa Viagem (d), com destaque para os bairros Jaqueira (34), Casa Forte (26) e Aflitos (24) com os maiores salários. Por outro lado, os bairros do Recife, Joana Bezerra e Passarinho recebem a menor quantidade de salários, em torno de um salário mínimo.

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(a) (b)

(c) (d)

Figura 47 – Distribuição espacial da população (a), densidade demográfica (b), salário mínimo (c) e quantidade de salário (d) nos bairros da cidade do Recife, com identificação das RPA’s.

Analisando a Figura 48, nota-se que os maiores índices de IDH (0,865 a 0,953) concentram-se próximo a região central do Recife (a), coincidindo com os melhores salários, com exceção da regional Sudoeste com predominância de valores oscilando entre 0,742 a 0,864. Os bairros que apresentaram os melhores índices foram Aflitos, Derby, Espinheiro e Graças com 0,953 indicando um índice de desenvolvimento muito alto. Por outro lado, os piores índices (0,632 e 0,699) foram observados na regional Noroeste, e em alguns bairros isolados na cidade do Recife, coincidindo com as áreas mais pobres da cidade, Figura 48b.

Em relação aos parâmetros IDH-E, IDH-R e IDH-L, apesar de apresentarem alta correlação com o IDHM (acima de 0,97) e grande similaridade visual entre os mapas, cabe

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ressaltar o bairro de Boa Viagem na regional Sul, cujo IDH-E é mais baixo em relação aos demais índices, que pode estar associado à maior população da cidade, associada aos grandes contrastes sociais e econômicos existentes dentro do bairro.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 48 – Distribuição espacial do IDH, IDH-E (Educação), IDH-R (Renda) e IDH-L (Longevidade) nos bairros do Recife, com identificação das RPA’s.

A distribuição espacial do risco a desastres e de vulnerabilidade estão demonstrados através da Figura 49, cujos riscos Muito Alto e Alto (Figura 49a) e a vulnerabilidade Muito Alta (Figura 49b) estão presentes na maioria dos bairros. Destacam-se as regionais Sul e Oeste com

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os maiores índices de riscos a desastres oscilando entre 0,373 e 1. Os bairros que apresentaram os índices de risco mais elevados foram, Ibura (1), Nova Descoberta (0,898) e Linha do Tiro (0,897), os demais inferiores a 0,87. O Ibura é considerado o bairro mais problemático em virtude da freqüência de desastres decorrentes dos escorregamentos e alagamentos, reflexo das condições sociais e econômicas da população local, associadas ao relevo acidentado. Os altos valores dos índices de risco observados em Nova descoberta e Linha do Tiro, localizados nas regionais Noroeste e Norte da cidade, são regiões com altos registros de escorregamentos, associados também a situação econômica e social dos moradores desse bairro. Em relação à vulnerabilidade, praticamente todos os bairros inseridos nas regionais Sul e Sudoeste ficaram dentro da classe Muito Alta (0,088 a 1), com Boa Viagem (1) e Várzea (0,230) com os maiores índices. Fato esse que pode ser explicado por serem os bairros mais populosos de Recife, tornando-os mais vulneráveis. Por outro lado, a regional Centro, localizada na área plana e com a menor população, apresenta os menores riscos a desastres e vulnerabilidade.

(a) (b)

Figura 49 – Distribuição espacial do índice de risco e de vulnerabilidade a desastres nos bairros do Recife, com identificação das RPA’s.

Percebe-se claramente que é comum a ocorrência de desastres na cidade do Recife com 74% dos bairros apresentando riscos Moderado a Muito Alto, tornando-a muito vulnerável aos impactos decorrentes da precipitação, em função de um conjunto de fatores como: condições sociais, econômicas, fisiográficas aliados a ausência de políticas públicas na minimização desses problemas, implicando a necessidade de um sistema de monitoramento e de alerta das chuvas na região mais eficiente, assim como, conforme Marcelino et al. (2006), a identificação das áreas menos vulneráveis a desastres para instalação de abrigos, elaboração de planos de evacuação e campanhas educativas sobre o que fazer antes, durante e após um desastre. Diante das análises, constatou-se que praticamente toda a cidade de Recife é muito vulnerável a ocorrência de desastres, com destaque para as regionais Sul e Oeste com os maiores riscos, indicando que caso ocorra um desastre estas áreas são as mais propensas a terem um grande número de pessoas

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afetadas, pois além das condições sociais, econômicas e ambientais, são nessas áreas que concentram-se a maior parte da população.

Após as discussões acima, apesar de praticamente todos os bairros dos Recife apresentarem riscos e serem muitos vulneráveis aos desastres decorrentes da precipitação, é notório que as áreas mais pobres são as mais vulneráveis e onde são registrados os maiores danos e prejuízos a população, reflexos das condições sociais e econômicas, juntamente com a ocupação irregular de áreas de morros e ribeirinhas. Neste contexto, para compreender e mitigar os impactos associados às chuvas, é evidente ter a percepção da população a respeito do tema e o conhecimento das vulnerabilades a que estão expostas as comunidades, discutida no item 4.4.

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