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Mapear informações e geoprocessar objetos e pessoas

CAPÍTULO II ORGANIZAÇÃO ESCRAVOCRATA DO BRASIL MERIDIONAL: UMA

2.8 Mapear informações e geoprocessar objetos e pessoas

A tentativa inicial em gerenciar informações de características espaciais se dá na Inglaterra e Estados Unidos nos anos 1950. Para a Inglaterra o dispêndio de energia e tempo na produção de mapas deramo ponta pé de partida para se informatizar o processo de cartografia, não obstante a precariedade da informática naquele período. Nos Estados Unidos da América, a característica principal de problema técnico esteve ligada ao controle do tráfego urbano (CÂMARA, DAVIS, 2001). Apesar das duas nações já citadas estarem empenhadas no controle sistemático das informações espaciais pelo viés tecnológico da segunda metade do século XX, é o governo canadense que apresenta ao

mundo o primeiro Sistema de formações Geográficas, no intuito de inventariar os recursos naturais de sua nação. Contudo, a disponibilidade técnica visual (visualização de gráficos) era bastante primária e não havia ofertas como temos hoje. Desta forma, os esforços para geoprocessar e georefenciar dados espaciais frutificaram na criação de softwares a partir da década de 1970. Gilberto Câmara e Clodoveu Davis (2001) afirmam que “foi também nesta época que começaram a surgir os primeiros sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design, ou projeto assistido por computador), que melhoraram muito as condições para a produção de desenhos e plantas para a engenharia, e serviram de base para os primeiros sistemas de cartografia automatizada” (CÂMARA & DAVIS, 2001, p. 02). Os anos 1980 marcam o aumento exponencial da informática. Para o geoprocessamento de informações não seria diferente. A democratização das ferramentas de informática com o processo de microinformática, ou computadorização caseira, possibilitou o crescimento de usuários e profissionais que se vinculavam às mais diversas áreas e produziam novos sistemas tecnológicos de informação espacial. Os EUA marcam o primeiro passo do geoprocessamento enquanto disciplina independente, com a criação do “National Centre for GeographicalInformation and Analysis´(1989)”. Neste sentido, a popularização da microinformática possibilitou o aumento de profissionais e tecnologias, de forma que o Geographic Information System (GIS) se ampliou, e hoje se encontra disponível em diversas abordagens; de fato, a grande maioria de informações espaciais passa pelo clivo dos governos em suas ações sociais, tendo em vista suas políticas de soberania nacional, controle de fronteiras, demografia, malha urbana, entre outras questões relativas ao controle espacial de informações (CARVALHO & DAVI, 2009).

No Brasil, as pesquisas deste tipo de informação se dão também nos anos 1980, com a vinda do pesquisador canadense Dr. Roger Tomlinson, responsável pela criação do primeiro SIG (Canadian Geographical Information System), quem incentivou o aparecimento de vários grupos interessados em desenvolver essa tecnologia. Sua visita se fez pelo esforço do professor José Xavier da Silva (UFRJ), criador do Sistema de Análise Geoambiental – (SAGA). A partir de então, uma série de outros laboratórios voltados para as mais diversas áreas de análises de informação se formam, inicialmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, concomitantemente, em outros centros de pesquisas. Ainda na década de 1980, especificamente em 1989, nasce o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Hoje, enquanto referência internacional de processamento de informações espaciais, o INPE é criado como produto de Estado voltado para o controle e desenvolvimento de ferramentas para sensoriamento remoto

(processamento de imagens) (CARVALHO & DAVI, 2001, p.03).

A aplicação do procedimento GIS em arqueologia é uma metodologia relativamente recente. Osório & Salgado (2007) afirmam que apesar desta metodologia ainda estar em desenvolvimento nas abordagens arqueológicas, a disciplina necessita de diversas informações espaciais, para variados estudos, escalas e aplicações. Análises de possíveis padrões de distribuições inter e intra-sítios, mapeamento de informações, estruturas, compreensão estratigráfica, fontes de matéria prima, rede de descarte de material e outras tantas abordagens para as quais o geoprocessamento de informações pode ser útil (OSÓRIO & SALGADO, 2007).

De fato, por estar associada ao uso territorial do espaço, a abordagem em uma arqueologia do espaço passa por uma série de crivos teóricos e metodológicos, o que pode nos informar uma gama enorme de possibilidades sobre determinado espaço investigado. Para Villafañes (2011):

[...] “Em líneas generales se puede definir la arqueología espacial como la “recuperación de información relativa a las relaciones espaciales arqueológicas y estudio de las consecuencias espaciales de las pautas de actividad homínida del pasado dentro y entre los contextos y estructuras, así como su articulación dentro de asentamientos, sistemas de asentamientos y sus entornos naturales” [...] (Clarke, 1977: 47, apud Villafañes, 2011, p. 140)

Para além de uma abordagem espacial da arqueologia, o autor acima citado sugere o uso de uma abordagem arqueológica de uma ou várias paisagens. Para se pensar arqueologia da paisagem, porém, é interessante abordar uma relação quantitativa e qualitativa das interações humanas com o espaço. Investiga-se, então, a paisagem não como mero sinônimo de meio-ambiente; mas como produto social, de forma que a mesma torna-se uma conjunção de diversos elementos capazes de produzir determinadas formas de representar o mundo. A paisagem enquanto produto de construção social é fruto das transformações físicas e simbólicas, na busca daqueles que as ocupam significarem sua presença na mesma paisagem. Assim, a paisagem, para Villafañes (2011), é o objeto de transformação e conformação cognitiva dos espaços habitados por cada geração de ocupação humana no tempo e no espaço (Villafañes, 2011, p. 143).

As aplicações e discussões mais esmiuçadas em arqueologia da paisagem e espacial compõem um leque bastante grande; vários outros autores de origem anglo-saxã e europeia discorrem sobre o tema.

A seguir, observaremos a cidade, a partir das relações comercias que a conectaram a transações regionais, continentais e transcontinentais. Para tal, traduzimos informações primárias e secundárias em mapas para ilustrar como Pelotas se relacionou

por meio do comércio com diversas partes do mundo no século XIX.

2.9 Do micro ao macro; circulação de produtos e pessoas numa