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1.8 GRAMÁTICA UNIVERSAL DE CHOMSKY

1.8.2 Marcação Lingüística

Teóricos que trabalham com base na UG (White, 1987; Towell e Hawkins, 1994; Cook, 1985, 1991; Cook e Newson, 1996) afirmam que as regras gramaticais fazem parte de uma gramática principal (regras universais) ou de gramáticas periféricas (regras específicas de línguas particulares). As regras gerais da gramática principal são consideradas não- marcadas e mais fáceis de serem adquiridas; as regras das gramáticas periféricas são consideradas marcadas e mais difíceis de serem aprendidas.

65 Além disso, as regras marcadas são aprendidas depois das não-marcadas. As formas marcadas ocorrem com menos freqüência nas línguas, como é caso das stranded prepositions 27. Na teoria de Chomsky (1981), a marcação é

a propriedade das formas que requerem evidência no input para que o aprendiz as adote. Por isso, se não existir esse tipo de evidência, o aprendiz de L1 assume que a opção menos marcada é a exigida por sua língua materna. O fato de que as opções disponíveis são limitadas em número e fazem parte de parâmetros que variam de língua pra língua ajudam o aprendiz a fazer suas opções.

De acordo com Goodluck (1991), um dos objetivos da teoria lingüística é dar conta de fatores distribucionais, isto é, estudar formas freqüentes e raras nas línguas naturais. Na realidade, o fato de as formas não-marcadas aparecerem geralmente primeiro na aquisição de L1 dá força à teoria dos princípios e parâmetros da UG. Um dos problemas enfrentados pelos pesquisadores é ter critérios para dizer quais formas são marcadas e quais não são, pois nem sempre há consenso em suas respostas. Para fatos que envolvem desenvolvimento sintático, as explicações baseadas na

27 Dizemos que as preposições são desacompanhadas (stranded prepositions ou preposition stranding)

quando elas não são seguidas por seu complemento. Esse tipo de preposição é muito comum na língua inglesa e é encontrado principalmente em contextos interrogativos, orações relativas e voz passiva. Ex: - What more could a woman ask for? (O que mais uma mulher poderia pedir?) ou – The man you screamed at is my neighbor. (O homem com quem você gritou é meu vizinho). As estruturas com pied-piping, por sua vez, são aquelas em que as preposições acompanham seus complementos. Ex: - For whom you all be voting? (Em quem vocês todos votarão?) e – To what scientific field do these findings belong? (A qual área científica estas descobertas pertencem?). Para maiores detalhes, consultar Grégis, 2004.

66 marcação lingüística nem sempre oferecem respostas satisfatórias, declara a autora.

Cook (1985) afirma que, muitas vezes, a noção de marcação é utilizada como sinônimo de complexidade. Para o autor, nem sempre a marcação reflete diretamente na ordem de desenvolvimento das estruturas, embora a maior parte dos pesquisadores de L1 e L2 façam essa conexão (Eckman, 1977; Wolfe-Quintero, 1992). Assim como Goodluck (1991), Cook concorda com o fato de que é possível dizermos que estruturas não- marcadas são adquiridas antes das marcadas. Conforme Cook, os estudos sobre a marcação são importantes por tornarem mais clara a noção de interlíngua, pois todas as gramáticas que os aprendizes de L2 perpassam deveriam seguir os princípios da UG.O problema é que a gramática desses aprendizes raramente é completa e que, na maior parte dos casos, pouquíssimos aprendizes aproximam-se da competência de um falante nativo.28

Mazurkewich (1984a) fez um estudo interessante sobre a aquisição de estruturas dativas em inglês por falantes nativos de francês e de esquimó. Seus resultados mostraram que os aprendizes de L2 selecionam informações de maneira semelhante aos de L1, e que também aprendem primeiro as

28 Relembramos que as interlínguas são as gramáticas sistemáticas que aprendizes não-nativos possuem quando adquirem

uma língua estrangeira. Essas gramáticas são distintas tanto da L1 quanto da L2 e são observadas principalmente quando o aprendiz está menos preocupado com a forma. (Sharwood-Smith, 1984)

67 estruturas não-marcadas, como é o caso de “Jeff sent an email to Jane” [SN SP], e depois a estrutura marcada, como em “Jeff sent Jane an email”29 [SP

SN]. Seu estudo comprovou que os aprendizes de L2 associam as estruturas não-marcadas da L1 às da L2.

Em outro estudo sobre marcação feito por White (1987), os resultados obtidos foram um pouco diferentes. Na verdade, a autora adota a definição de marcação usada pelos teóricos da aprendizibilidade (Wolfe-Quintero, 1992), que consideram o termo ligado à complexidade, infreqüência e à falta de naturalidade. White (1987) exemplifica a noção de marcação com as

stranded prepositions do inglês. Essas preposições são consideradas

estruturas marcadas, em contraste com as estruturas em que ocorre pied-

piping, consideradas não-marcadas. Vejamos os exemplos abaixo, extraídos

do estudo de White:

(3) Who(m) did John give the book to? – stranded preposition, estrutura marcada;

(4) To whom did John give the book? – pied-piping, estrutura não marcada.

Para a autora, é necessário a ocorrência de evidência positiva para que o aprendiz adquira as estruturas marcadas. Para ela, o papel que

68 podemos atribuir à marcação em aquisição de L2 depende do fato de assumirmos ou não que um aprendiz de L2 é apto a ignorar a L1 e se concentrar inteiramente na língua-alvo. Esse papel também é influenciado pela definição de marcação que pode ser puramente formal ou que pode considerar fatores psicológicos e psicolingüísticos. A definição adotada por White (1987), e também por Mazurkewich (1984b), considera a marcação uma hipótese desenvolvimentalista. Por esse ponto de vista, os aprendizes adquirem as formas não-marcadas como um estágio necessário que precede a aquisição das formas marcadas.

Os autores Towell e Hawkins (1994) abordam a noção de marcação através de exemplos de falantes de francês como L1 adquirindo inglês. Assim como White (1987), esses autores afirmam que, se considerarmos as estruturas com sintagmas preposicionais (SPs) mais marcadas que as estruturas com pied-piping, então os aprendizes necessariamente terão que encontrar evidência positiva no input para fixar os parâmetros não fixos em francês. Assim, quando um parâmetro tiver valores inclusivos, o caso não marcado será o mais natural e mais fácil e, por isso, será a primeira escolha da criança. Towell e Hawkins consideram essa afirmação problemática por haver estudos que demonstram que nem sempre as crianças adquirem primeiro as estruturas não-marcadas.

69 importante para os estudos de aquisição de L2, eles não a consideram diretamente necessária para a noção de desenvolvimento lingüístico, que pode ser influenciado diretamente pelo input. Assim, se o input necessário para ajustar o valor paramétrico marcado surgir primeiro na língua falada, no meio em que a criança está inserida, então ela poderá adquirir o valor marcado primeiro.

Embora possamos encontrar na literatura de aquisição de L2 vários estudos que enfocam a importância das pesquisas sobre a marcação lingüística, notamos que nem sempre os autores chegam a conclusões semelhantes.

Na opinião de autores como Sharwood-Smith (1984), a noção de marcação tem relação com o input, quer dizer, se a estrutura marcada não for encontrada com freqüência no input, pode ser bem mais difícil adquiri- la.