• Nenhum resultado encontrado

2.3 O ESTUDO LONGITUDINAL DE SAÚDE DO ADULTO (ELSA-BRASIL)

2.3.3 Marcadores inflamatórios no ELSA-Brasil

A Proteína C-reativa (PCR) foi a primeira proteína reagente de fase aguda a ser descrita. Foi identificada em 1930 por sua capacidade de precipitar o polissacárido C de Streptococcus

pneumoniae. A produção da PCR resulta de uma resposta fisiológica e bioquímica

inespecífica diante da maioria dos danos teciduais como infecção, inflamação e neoplasias Sua síntese e secreção ocorrem principalmente no fígado e no tecido adiposo, em resposta principalmente a interleucina-6 (predominantemente produzida por macrófagos e adipócitos)

123

, mas a interleucina-1 e o fator de necrose tumoral parecem também auxiliarem esse processo124 (Figura 4). Além de promover a síntese da PCR, a interleucina-6 age

116 Marmot, M., Bosma, H., Hemingway, H., Brunner, E., & Stansfield, S. (1997). Contribution of job control

and other risk factors to social variations in coronary heart disease incidence. Lancet, 350, 235e239.

117

Wamala SP, Mittleman MA, Horsten M, Schenck-Gustafsson K, Orth-Gomér K. Job stress and the occupational gradient in coronary heart disease risk in women. The StockholmFemale Coronary Risk Study. SocSci Med. 2000 Aug;51(4):481-9.

118

Kuper H, Adami HO, Theorell T, Weiderpass E. Psychosocial determinants of coronary heart disease in middle-aged women: a prospective study in Sweden. Am J Epidemiol. 2006 Aug 15;164(4):349-57.

119

Huisman M, van Lenthe F, Avendano M, et al. The contribution of job characteristics to socioeconomic inequalities in incidence of myocardial infarction. SocSci Med 2008;66:2240–52.

120

Virtanen, S. V., &Notkola, V. (2002). Socioeconomic inequalities in cardiovascular mortality and the role of work: A register study of Finnish men. International Journal of Epidemiology, 31, 614–621.

121

Ferrario MM1, Veronesi G, Chambless LE, Sega R, Fornari C, Bonzini M, Cesana G.The contribution of major risk factors and job strain to occupational class differences in coronary heartdisease incidence: the MONICA Brianza and PAMELA population based cohorts. Occup Environ Med. 2011 Oct;68(10):717-22.

122

Toivanen S, Hemström O. Income differences in cardiovascular disease: is the contribution from work similar in prevalence versus mortality outcomes? Int J Behav Med 2006;13:89–100.

123

Genest J. C-reactive protein: risk factor, biomarker and/or therapeutic target? Can J Cardiol. 2010;26 Suppl A:41A-44A.

124

Jialal I, Devaraj S, Venugopal SK. C-Reactive Protein: Risk Marker or Mediator in Atherothrombosis? Hypertension 2004;44(1):6-11.

sinergicamente com a interleucina-1, com os glicocorticoides e com produtos da ativação do complemento para melhorar a eficácia da PCR125.

Figura 4 – Fatores envolvidos na produção da PCR e principais locais de síntese.

A PCR é responsável pelo reconhecimento de patógenos e por mediar a sua eliminação por meio de recrutamento do sistema complemento, de células fagocitárias e no auxilio do processo de fagocitose (opsonização), constituindo-se um componente importante da imunidade inata126. Após estímulos nocivos, a produção da PCR se inicia muito rapidamente e parte de valores inferiores a 1mg/L e atinge níveis acima de 5 mg/L em cerca de 6 horas. Alcança seu pico em aproximadamente 48 horas após o estímulo inicial e apresenta uma meia-vida plasmática de aproximadamente de 19 horas. Essa meia vida é constante, de modo que sua taxa de síntese é o único determinante de sua concentração sérica. Quando o estímulo nocivo cessa, a concentração da PCR na circulação cai rapidamente127. A proteína amilóide

125

Volanakis JE. Human C-reactive protein: expression, structure, and function. Mol Immunol. 2001;38(2- 3):189-97.

126

Volanakis JE. Human C-reactive protein: expression, structure, and function. Mol Immunol. 2001;38(2- 3):189-97.

127

sérica A é o único reagente de fase aguda que reage tão rapidamente ao estimulo nocivo quanto a PCR128.

Numerosos estudos observacionais prospectivos têm demostrando que elevados níveis de PCR predizem, em pessoas aparentemente saudáveis, doença coronariana129, acidente vascular cerebral130, doença arterial periférica131 e morte súbita132 independentemente de outros fatores de risco cardiovasculares já estabelecidos. Entretanto, estudo recente, utilizando randomização mendeliana e informações de 194.418 participantes provenientes de 47 estudos epidemiológicos de 15 países, encontrou que a presença de polimorfismo genético relacionado a concentrações elevadas de PCR não está associado à ocorrência de doença coronariana e aos fatores de risco convencionais para DCV. Devido ao grande poder estatístico desse estudo, os autores concluíram que é improvável que a PCR seja um fator causal da doença coronariana133.

Apesar de existir evidências de que a PCR não participa da cadeia causal das DCV, existe um consenso que a PCR é marcador de inflamação. É possível também que a PCR esteja refletindo outros verdadeiros determinantes das DCV134,135, o que tornaria esse indicador importante para a predição de eventos cardiovasculares como demonstrado por estudos que encontraram que o uso da PCR adiciona valor de predição ao escore de risco de

Framingham136, principalmente nos indivíduos de risco intermediário (entre 10 e <20%).

128

Libby P, Ridker PM. Inflammation and atherosclerosis: role of C-reactive protein in risk assessment. Am J Med. 2004;116 Suppl 6A:9S-16S.

129

Danesh J, Wheeler JG, Hirschfield GM, Eda S, Eiriksdottir G, Rumley A, Lowe GD, Pepys MB, Gudnason V. C-reactive protein and other circulating markers of inflammation in the prediction of coronary heart disease. N Engl J Med. 2004;350(14):1387-97.

130

Rost NS, Wolf PA, Kase CS, Kelly-Hayes M, Silbershatz H, Massaro JM, D'Agostino RB, Franzblau C, Wilson PW. Plasma concentration of C-reactive protein and risk of ischemic stroke and transient ischemic attack: the Framingham study. Stroke. 200;32(11):2575-9.

131 Ridker PM, Cushman M, Stampfer MJ, Tracy RP, Hennekens CH. Plasma concentration of C-reactive protein

and risk of developing peripheral vascular disease. Circulation. 1998;97(5):425-8.

132 Albert CM, Ma J, Rifai N, Stampfer MJ, Ridker PM. Prospective study of C-reactive protein, homocysteine,

and plasma lipid levels as predictors of sudden cardiac death. Circulation. 2002;105(22):2595-9.

133 C Reactive Protein Coronary Heart Disease Genetics Collaboration (CCGC), et al.. Association between C

reactive protein and coronary heart disease: mendelian randomisation analysis based on individual participant data. BMJ. 2011; 342:d548.

134 Jialal I, Devaraj S, Venugopal SK. C-Reactive Protein: Risk Marker or Mediator in Atherothrombosis?

Hypertension 2004;44(1):6-11.

135

Anand SS, Yusuf S. C-reactive protein is a bystander of cardiovascular disease. Eur Heart J. 2010;31(17):2092-6.

136 Yeboah J, McClelland RL, Polonsky TS, Burke GL, Sibley CT, O'Leary D, Carr JJ, Goff DC, Greenland P,

Herrington DM. Comparison of novel risk markers for improvement in cardiovascular risk assessment in intermediate-risk individuals. JAMA. 2012 Aug 22;308(8):788-95.

Níveis de PCR abaixo de 1mg/L devem ser interpretados como baixos, entre 1 e 3 mg/L moderados e acima de 3 mg/L alto risco cardiovascular 137.